Revista Brasileira de Educação do Campo
Brazilian Journal of Rural Education
ENTREVISTA / INTERVIEW
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e10143
A Pedagogia da Alternância, o caminho percorrido e o
futuro: entrevista com Pere Puig-Calvó
i
Entrevistadores: Prof. Msc. Jordi González-García
Prof. Dr. Cícero da Silva
Entrevistado: Prof. Dr. Pere Puig-Calvó
Jordi González-García
1
, Cícero da Silva
2
1
Universitat de Vic - Catalunha. Departamento de Pedagogia. UVic-UCC. C. Sagrada Família, 7, 08500 Vic - CAT. Espanha.
2
z
Universidade Federal do Tocantins - UFT. Departamento de Educação do Campo. Rua 6, s/n, Vila Santa Rita. Tocantinópolis -
TO. Brasil.
Autor para correspondência/Author for correspondence: jgonzavic@gmail.com
Introdução
Natural de Barcelona, Catalunha,
Espanha, Pere Puig-Cal é Doutor em
Ciências da Educação. Professor
universitário da Faculdade de Educação,
Universitat Internacional de Catalunya
(UIC), Barcelona, e Professor visitante da
EFPEM, Universidad de San Carlos de
Guatemala. É Secretário Geral da
Associação Internacional de Movimentos
Familiares de Formação Rural (AIMFR) e
Membro da Cátedra UNESCO Paris
(Formação por alternância e práticas
professionais) dirigida pelo Doutor Jean-
Marie Barbier. Atua como Editor
Associado Internacional da Revista
Brasileira de Educação do Campo. É
pesquisador especialista em Formação por
Alternância e Educação Rural. Possui
diversas publicações sobre esta temática,
como livros, capítulos e artigos (Puig-
Calvó, 2003, 2006; Pineau & Puig-Calvó,
2019; Puig-Calvó & García-Marirrodriga,
2011, 2019; Puig-Calvó & González-
García, 2018; García-Marirrodriga & Puig-
Calvó, 2010, 2011, 2020). Portanto, nesta
entrevista, gentilmente concedida pelo
professor Puig-Calvó em 17 de junho de
2020, ele nos conta um pouco sobre sua
trajetória formativa e profissional, sua
participação e contribuição ao movimento
da Alternância mundo afora, assim como
sua visão ou perspectiva de futuro e os
desafios do sistema pedagógico da
Alternância diante das demandas
educativas, sociais e econômicas presentes
no mundo contemporâneo.
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A entrevista
Cícero da Silva: Professor Pere, de
antemão, muito obrigado por aceitar nosso
convite, por conceder esta entrevista. O
propósito desta entrevista é trazer um
resumo de sua trajetória profissional e
especialmente em relação à alternância,
pois acreditamos que, atualmente, você é
uma das pessoas que mais conhecem sobre
o movimento em todo o mundo. Para
começar, Pere, como foi sua formação?
Pere Puig-Calvó: Bem, minha
formação foi como a de muitos jovens da
minha época. Eu sou filho de camponeses,
de agricultores. Estudei na escola pública
que havia na minha cidade, El Prat de
Llobregat, muito próxima de Barcelona.
Mais tarde, aos 13 anos, meu pai adoeceu e
tive que começar a trabalhar.
Naquela época, na Espanha, existia
um sistema educativo chamado
bachillerato. Com idade dos 10 aos 14
anos, fazia o bachillerato inicial e o
estudávamos na mesma escola, fora do
horário escolar normal, com algum
professor. E depois nós íamos fazer exame
livre na cidade de Barcelona.
Posteriormente, fiz meu bachillerato
superior em uma cidade próxima, naquela
época ia em uma pequena motocicleta,
continuava trabalhando no campo com
meu pai durante o dia e, à noite, cursava
esse bachillerato superior. Essa era uma
forma de alternância, e poderíamos
qualificá-la como não verdadeira, mas
havia uma combinação trabalho-escola,
embora sem nenhuma relação porque na
escola estudávamos o bachillerato geral,
como todo mundo, e no trabalho, todos
tinham um diferente e não havia nenhuma
relação.
Mais tarde, quando conclui o
bachillerato, eu queria entrar na
universidade, mas havia várias
dificuldades, dentre elas as carreiras que eu
gostava - medicina, etc. - exigiam uma
nota alta para ingresso, o que não era o
meu caso, e eram cursos em tempo
integral, ou seja, que te ocupavam o dia
inteiro e não permitiam trabalhar. Então,
passei um ano sem estudar nada na
universidade e depois me ofereceram a
possibilidade de trabalhar no mundo das
escolas da Alternância, das Escolas
Familiares Agrárias (EFA)
ii
da Espanha.
Eu não pude, pois tinha que continuar
trabalhando no campo por razões
familiares, tínhamos uma pequena
caminhonete para transportar os produtos
para o mercado central. Quando completei
20 anos, em 1975, comecei a trabalhar na
EFA de “El Poblado”, em el Grado,
Huesca.
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Isso me permitiu descobrir o mundo
da educação e ali me interessei pelas
necessidades das pessoas do meio rural,
seu contexto e seus problemas. Sendo eu
também do meio rural, me interessei pelos
jovens e o futuro deles, e decidi estudar
direito. Foi direito e não educação porque
queria defender os agricultores contra
aquilo que via como injustiças. Injustiças
nos preços dos produtos, nos poucos
serviços que havia nos vilarejos, nos
obstáculos de acesso a terra, nas
dificuldades dos jovens para ter uma
merecida dignidade, etc. Fui descobrindo a
importância e o valor da educação e vi que
o meio de mudar, de transformar o mundo
era através da educação. Assim, quando no
ano de 1978-79 comecei a trabalhar na
EFA Quintanes, graças à minha irmã que
podia frequentar as aulas diariamente, pude
conciliar meu trabalho com meus estudos
no curso de Pedagogia na Faculdade de
Educação da Universidade de Barcelona.
Foi interessante porque naquela
época, sem saber, de alguma forma, eu
estava fazendo outro tipo de alternância.
Era uma alternância porque eu estava
estudando algo em que estava
trabalhando, estava trabalhando no mundo
da educação e estava estudando educação
na universidade. Embora sem conexões
planejadas, mas havia alguma conexão
direta, porque os professores da
universidade muitas vezes me pediam para
colaborar ou me perguntavam. Eu
participava, mesmo que eles não me
pedissem, que eu tinha experiência
direta no que era educação, porque eu
estava lá na faculdade junto com jovens
que nunca tinham trabalhado na educação.
Essa também foi outra forma de
alternância um pouco mais relacionada que
a anterior. na Universidade de
Barcelona, estudei pedagogia durante cinco
anos, que era o tempo de duração do curso
nessa época.
Mais tarde, por razões profissionais,
mudei-me para a França para trabalhar no
centro pedagógico CNP de Chaingy
(Centre National Pédagogique das MFR
iii
)
e cursei um DURF (Diplôme
Universitaire de Responsable de
Formation), um curso universitário de pós-
graduação, uma espécie de mestrado, na
Université de Tours. E posteriormente,
alguns anos depois, fiz os cursos de
proficiência em pesquisa e o Doutorado em
Ciências da Educação, num formato
multiuso e transdisciplinar, na Universitat
Internacional de Catalunya (Barcelona), o
que me permitiu aprofundar no tema da
educação por alternância. Este é o meu
itinerário de formação.
No Sistema da Alternância você
descobre a necessidade e a importância de
ir crescendo e se formando constantemente
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em todas as situações e formas que a vida
te oferece.
Jordi González-García: Agora que
sabemos um pouco sobre como chegou ao
mundo da alternância, vamos pedir-lhe
para aprofundar em um aspecto: como e
quando você descobriu a Pedagogia da
Alternância?
P. Puig-Calvó: Eu penso que em
minha vida profissional tive vários
momentos de descobertas ou de
aproximações da Pedagogia da
Alternância. O primeiro foi aos 20 anos de
idade, quando comecei a trabalhar como
monitor na EFA de “El Poblado”. Tenho
que admitir que a desconhecia, mas ali
percebi algo espetacular: que entre os
jovens do meio rural e suas famílias, por
causa do que a EFA e a Alternância
ofereciam, notava-se neles um
crescimento, e, entre os ex-alunos, via-se
gente que, de alguma maneira,
revolucionava (transformava) os vilarejos,
uma revolução pacífica, traziam inovações,
projetos, trabalho em grupo,
cooperativismo, defendiam seus direitos
(sindicalismo) e assim estavam abrindo as
portas, vamos chamá-lo assim, um novo
ambiente rural, um novo mundo agrícola e
pecuário. Essa foi a primeira das minhas
descobertas sobre a alternância. E, embora
estivéssemos aplicando os instrumentos da
Alternância, precisávamos e recebemos
formação pedagógica nesse sentido.
Lembro que, naquela época, em serviço,
fizemos uma formação em gestão e
administração de empresas rurais, ou
empresas agropecuárias, e isso nos
permitiu ter um pouco mais de base sobre
o tema desenvolvimento rural. Essa foi
minha primeira etapa na Alternância. Eu
diria que foi uma etapa de fazer, de
realizar, de aplicar instrumentos. Uma
etapa ativa, mas talvez não muito reflexiva;
tratava-se de fazer, talvez sem
compreender o que estava fazendo, mas
que eu via que era bom.
Mais tarde, percebe-se que, no
movimento, em nível mundial das EFA ou
dos CEFFA
iv
, isto se repete muitas vezes:
faz-se, realiza-se, inova-se, mas não se
aprofunda (conceitualiza) no “como”, no
“por quê” ou no “para quê”. Essa foi minha
primeira etapa na EFA de “El Poblado”
que, bem, como eu disse, aplicava a
Alternância e mais nada, tive algumas
dúvidas, mas vi que funcionava bem ao
aplicar os instrumentos: o plano de estudo,
a visita de estudos, a participação das
famílias, a colocação em comum, e toda
uma série de coisas que estávamos fazendo
e isso foi o bastante. É que havia, eu
poderia dizer, uma pequena dificuldade,
porque você é jovem e quando você
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perguntava ao diretor da escola o “porquê”,
a resposta era muitas vezes como a que os
pais dão a seus filhos pequenos: “porque é
assim e pronto”, sem argumentos, mas
vimos que funcionava. Essa foi a minha
primeira etapa.
Então, quando chegou a segunda
etapa, estando na EFA Quintanes e
estudando a licenciatura em educação,
comecei a relacionar a teoria e a prática.
Por um lado, nas pedagogias ativas, Piaget
(1970), Decroly (1929), Montessori
(1948), Freire (2005) e Dewey (1938),
você descobre que existem elementos que
estamos aplicando na Alternância. Mas não
tínhamos uma base, vamos chamá-la
assim, científica do que estávamos
fazendo. Foi um período de “querer fazer”,
mas sobretudo foi um período de “querer
responder” às necessidades dos jovens e
das famílias, e isso nos obrigou a romper
com o esquema estabelecido no sistema
educacional do país; porque a Alternância
não era reconhecida e tivemos nossas
dificuldades. Então, quase sempre se
tratava de justificar o que estávamos
fazendo, não víamos como algo, digamos,
inovador ou melhor, mas que estávamos
em uma posição defensiva para demonstrar
às autoridades, às famílias e aos próprios
formadores que aquela não era uma
formação de meio período, era uma
formação em período integral e que se
aprendia no meio, na comunidade, na
empresa e na família. As mudanças nos
sistemas e as reformas educacionais nos
forçaram a adaptarmo-nos, tentando não
perder nossa essência. Todos esses
assuntos proporcionaram grandes
momentos de aprendizagem, de descobrir a
Alternância como algo complexo.
A terceira etapa seria o período em
que fui trabalhar no Centro Nacional
Pedagógico de Chaingy na França, o centro
de formação das Maisons Familiales, e
comecei a descobrir uma fundamentação
teórica vinculada à prática. Esse momento
foi muito importante porque, estando no
centro pedagógico e cursando o Diplôme
Universitaire de Responsable de
Formation (DURF), descobri ótimos,
vamos chamá-los assim, personagens que
influenciaram o mundo das EFA: Daniel
Chartier, que faleceu; especialmente
Jean-Claude Gimonet, que continua
colaborando e que é um dos personagens
que abriu, para dizer de alguma maneira,
ao mundo os fundamentos da Alternância.
Jean-Claude tem um livro, Réussir et
comprendre l’alternance
v
, ou seja, fazer
com êxito, aplicar e compreender a
alternância, que fundamenta o sistema de
alternância a partir da ação. Na escola
clássica, primeiro você aprende e depois
aplica; na Alternância vofaz e depois ou
em paralelo você entende o que faz, mas
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não separadamente, está articulando uma
coisa com a outra.
Nesta época passei a trabalhar para a
Solidarité Internationale des Mouvements
de Formation Rurale (SIMFR) e entrei em
contato com a AIMFR, o que me abriu um
horizonte enorme, pois pude conhecer a
realidade das escolas de Alternância em
muitos países, nos quatro continentes, onde
existem escolas. Conheci as Filipinas e o
sistema filipino, conheci a Europa. Nesse
momento eu levantei um questionamento
interessante, que era: por que havia
EFA ou CEFFA em Portugal, Espanha,
França e Itália?” Mais tarde, pesquisando,
descobri que os outros países também
tinham um sistema de alternância, como
poderia ser o sistema dual na Alemanha, o
sistema de alternância que fazem na
Bélgica ou o sistema de sanduíche inglês.
Na maioria dos países a alternância estava
sendo aplicada. Mais tarde, na América
Latina, descobri o incrível trabalho que foi
feito no Brasil e na Argentina, também
com elementos muito importantes no
mundo da pedagogia, da educação e do
desenvolvimento de territórios e pessoas.
Na América do Norte eu descobri as MFR
do Canadá, e isso me deu uma perspectiva,
eu diria ampla, e vou dizer algo que pode
parecer perigoso, uma perspectiva menos
dogmática, menos dogmática porque, às
vezes, você pensa que tem que ser assim
porque eu o fiz dessa maneira, e não é
verdade.
A Pedagogia da Alternância - que
alguns a colocaram fechada em modelos
educacionais, como o construtivismo ou
outros -, eu digo que é uma pedagogia, ou
melhor ainda, respondendo segundo
Gimonet -, que é um sistema que está em
constante construção e adaptação; não é
um método acabado, não é um modelo,
mas um sistema que está sendo construído
e estamos vendo isso neste momento, em
que o coronavírus fez mudar a visão de
todo mundo e dos que têm duas posturas
extremas: os que são a favor de que tudo
deve ser digital, e os que são contra, que
nada tem que ser digital. Voltando ao
nosso sistema de Alternância, não
podemos ser dogmáticos, não podemos
negar que devemos nos adaptar aos novos
tempos em questões sociais, em questões
econômicas, em questões educacionais, em
questões de comunicação, etc. Por isso,
estou constantemente descobrindo a
Alternância, ou seja, para mim, 2020 é
uma nova descoberta da Alternância.
Frente a uma formação puramente
virtual, que alguns chamam de “formação a
distância”, na AIMFR estamos
experimentando a formação Alternância-
Virtual, com o apoio da Fundação
ONDJYLA. Porque é verdade que existem
elementos digitais e virtuais que facilitam
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que todos os alunos em qualquer canto do
país possam ter os materiais apropriados
que os professores desejam que cheguem a
eles, seja por telefone, via informática...
Mas, por outro lado, também é verdade -
por isso chamamos de Alternância-Virtual
- que, se não houver esta tutoria, esse
acompanhamento personalizado, esses
momentos de trabalho em grupo, de
cooperação, colaboração... a partir da
realidade do contexto e também um projeto
de formação personalizado, que
acompanhe o projeto de vida dos jovens...
não haverá a liberdade do espírito crítico, a
capacidade de reflexão que queremos que
os alunos tenham para que possam
pesquisar... isto é fundamental.
Os professores não são Deus, não
somos deuses e, muitas vezes, em alguns
países, um professor de universidade se
torna um deus. Lembro-me de um período
- eu me esqueci de mencioná-lo antes,
quando contei como descobri a Alternância
- em que, graças a Gaston Pineau, fizemos
um mestrado no Brasil, juntamente com
duas universidades: a Universidade Nova
de Lisboa e a Université de Tours. Esse
também foi um período muito intenso para
mim, porque Gaston Pineau, que é um
promotor de pessoas, me confiou a
coordenação pedagógica do mestrado. Foi
muito interessante porque fazíamos uma
sessão de 15 dias presenciais a cada
trimestre, era uma forma de Alternância e
alternamos territórios, universidades, etc.
Estivemos na Bahia, estivemos em
Florianópolis, estivemos em São Paulo...,
fizemos intercâmbio com as
universidades...
Qual foi a diferença? Para mim, entre
aqueles que faziam o mestrado - que eram
aproximadamente 22 professores dos
CEFFA do Brasil - e os alunos de mestrado
de algumas das universidades, e não vou
dizer nenhum nome, com quem trocamos
experiências, a diferença foi enorme. As
citações bibliográficas e os autores de
referência dos alunos do mestrado em
Alternância foram, no mínimo, 30 ou 40
autores. Quando vimos as apresentações
dos alunos de alguma universidade, os
trabalhos deles se baseavam apenas em
referências do diretor desse mestrado e de
dois ou três colaboradores. Em outras
palavras, a pesquisa de outros autores, esse
espírito de pesquisa, era pouco visível..., e
a informática, as novas tecnologias
permitem. Por esse motivo, parece-me
muito estranho que em algumas
universidades e, em algumas redes de
escolas de algum país, eles vejam a
formação e o acesso às novas tecnologias
como um problema. Pelo contrário, as
novas tecnologias devem permitir
pesquisar, a abertura ao mundo, ao planeta,
com todas as suas opções, seus aspectos
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negativos, mas também os positivos.
Devemos salvar o planeta, devemos ter
uma visão ecológica, devemos ter uma
visão humanista e isto, graças às novas
tecnologias, podemos fazer. Porque, senão,
podemos cair na manipulação, na ditadura
de alguns professores e, então, o sistema da
Alternância, com as novas tecnologias,
deve permitir aquilo que queremos, que é
basicamente nos ensinar a pensar, ensinar a
refletir. A alternância deve sempre tornar
possível a adaptação. Bem, essa é minha
constante descoberta ou a redescoberta que
vamos fazendo da Alternância.
J. González-García: Sua
participação em todo o movimento da
Pedagogia da Alternância ficou bastante
clara, porém, em sua opinião, qual tem
sido sua contribuição pessoal para esse
movimento?
P. Puig-Calvó: Bem, eu acho que,
no sistema da Alternância, não uma
contribuição individual, mas sim que
estamos todos juntos construindo e
descobrindo coisas.
Estou pensando em intervenções
pelas quais tenho sido parabenizado
algum tempo. Lembro-me de um esquema
de participação associativa, de participação
das famílias, que o presidente do CEFFA
em que eu era diretor à época me mostrou.
Como agricultor, ele me explicou sua ideia
de uma escola que funciona comparando a
um trator: as duas rodas dianteiras são o
diretor e o presidente da associação e as
rodas traseiras são a equipe de monitores e
o conselho de administração da associação.
As duas detrás têm força, o diretor e o
presidente direcionam, mas precisam
seguir a mesma direção. Este exemplo, que
usei muitas vezes, não foi inventado por
mim. Talvez eu tenha colocado no papel e
no desenho, mas um agricultor, pai de
família, me contou.
Outro exemplo, depois de alguns
anos de mandato como presidente, ele me
disse: - devemos procurar um novo
presidente”. Eu, o diretor, coordenador
daquela escola, lhe respondi: - mas qual é
o problema?, nós nos damos bem, a escola
está indo bem e ele disse: - é por isso
que estou dizendo, eu sou presidente há
mais de 10 anos, não vou deixar o
conselho, vou ficar, mas precisamos de
sangue novo para trazer novas ideias,
novas visões das necessidades dos jovens,
do nosso território, que está mudando
muito, etc.” Bem, estes são exemplos que
explicam essa participação coletiva, que
enriqueceu minhas contribuições.
Estou convencido de que isso
também me ajudou muito, quando estava
fazendo o mestrado em Orleans e depois o
doutorado em Barcelona, onde estava
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pesquisando a viabilidade, a durabilidade
das escolas de Alternância, me
perguntando: por que em alguns países elas
continuavam e em outros não? E cheguei à
conclusão da importância da formação
inicial e continuada dos monitores, dos
professores. Penso que é isto que
unidade - não estou dizendo uniformidade
- unidade no sentido de que existe uma
visão, um denominador comum, embora o
numerador seja muito variado, cada país é
diferente e dentro de cada país cada rede é
diferente, mas existem alguns elementos
comuns.
Isso me levou a refletir que o que
aprendemos - Pedagogia da Alternância,
participação/responsabilidade das famílias
e do pequeno grupo -, esses três elementos
característicos que nos foram explicados
não eram suficientes e descobri, com a
ajuda de todos, a visão dos quatro pilares
como elementos comuns dos CEFFA, que
agora são usados em muitos lugares. Um
dos pilares é um sistema pedagógico
adequado, que é a Alternância, outro pilar
que é a vida Associativa, mas não os
pais dos alunos atuais, mas pais, ex-alunos,
empresas parceiras, sindicatos,
cooperativas, ou seja, uma associação de
base. E estes eram alguns meios para
alcançar algo mais profundo que eram as
finalidades, quer dizer: o
Desenvolvimento integral da pessoa, a
formação integral dos jovens, com seus
projetos de vida e, dentro disso, seus
projetos pessoais, projetos produtivos, etc.
E, por último, a finalidade do quarto pilar,
o Desenvolvimento dos territórios. O
bem comum da família, a comunidade, o
país, o planeta, com essa visão de defesa
da ecologia humanista.
Ao produzir a tese, entrevistei André
Duffaure, que foi um dos que materializou
a alternância aplicada na França em seus
princípios, e que ele deixou registrado em
um livro
vi
, sintetizado magistralmente de
forma escrita por Daniel Chartier, que
tinha uma mão muito boa para escrever.
André D., explicando a importância da
Alternância, disse duas frases que eu tenho
muito bem guardadas na mente e que são
úteis para a reflexão: uma, a educação
serviu até agora para expulsar do meio
rural os jovens formados”. Em outras
palavras, qualquer jovem das áreas rurais
que tinha formação migrava para a capital,
migrava para as cidades para continuar sua
carreira profissional. Acrescentei a isso
que, portanto, quem permanece no meio
rural sem formação é à força - porque não
se permanece de modo voluntário, fica
porque não tem outra opção -, é aquele que
não tem formação. Consequentemente, o
ambiente rural sesempre explorado, será
considerado de segunda ou menor
categoria.
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E outra frase que eu registrei e que
também ficou gravada na mente dizia
assim: nossas cartas de nobreza”, que
quer dizer nossa identificação como
sistema ou movimento educativo, vem
quando a universidade está interessada em
nós”, quando a universidade começa a se
interessar por um sistema fora do comum,
e na França foram a Université de Tours, a
Université d’Orléans e o professor
Georges Lerbet. Bem, parece-me evidente
que eles são dois elementos-chave. Por
isso, minhas contribuições têm sido sempre
assim, bebendo das fontes de todos.
Na Espanha, quando fui responsável
pela formação geral das escolas de
alternância, eu me encarreguei da
formação de monitores e estabeleci um
programa com algumas escolas de verão,
onde, além da formação inicial, fizemos
uma formação continuada para todos os
professores. Quando eu estava em Chaingy
sistematizei melhor o assunto e, depois,
quando fui trabalhar na Bélgica,
começamos o tema do DURF que me
permitiu ter uma visão, eu diria, muito
mais profunda da Alternância, e do
acompanhamento porque essa é a chave:
na tutoria e no acompanhamento é onde
todos nós aprendemos, os tutorandos e os
tutores.
Mais tarde, quando fui trabalhar na
Bélgica, no SIMFR, começamos a ver
coisas muito óbvias, e seria quase um
retorno, o sistema das MFR, da
Alternância, se baseava no ato de ver-
julgar-agir (voir-juger-agir, em francês),
que foi construído pelo Padre belga Joseph
Cardijn para a formação de trabalhadores e
que inspirou inúmeras organizações e
movimentos de ação social na Bélgica e no
mundo, que mais tarde foi utilizado pela
JAC (Juventude Agrícola Católica) na
França. Há uma tese de doutorado sobre
desenvolvimento rural de Jean-Louis
Ichard (2016) que o explica muito bem.
Comecei a trabalhar no âmbito da
cooperação no Brasil, Argentina e Uruguai.
No Brasil, houve muita resistência, muita
resistência porque um europeu veio da
Espanha, onde as EFA tinham uma relação
com o Opus Dei, que seria segundo eles,
de direita, capitalista... embora minha visão
política nada tenha a ver com a direita,
longe disso. Diziam que era “o capitalismo
europeu querendo invadir as EFA do
Brasil”, eu me lembro, era essa a ideia,
porque falávamos do projeto do jovem, do
projeto produtivo, profissional...
Outra questão-chave foi mostrar que,
a partir dos anos 70 e 80, os jovens das
EFA da França e da Espanha não eram
mais apenas agricultores, não era mais
apenas o campo no sentido produtivo ou
produtivista, eram outras profissões e havia
mecânica, jardinagem, turismo, saúde,
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todas as profissões do meio rural. Mas eu
explicava isso no Brasil e a resposta era
um bloqueio, era capitalismo, era...
Portanto, eu queria aplicar o ver-julgar-agir
e me propus a fazer algumas viagens para
que os monitores e os responsáveis pelas
associações das EFA do Brasil, também da
Argentina e do Uruguai, pudessem visitar
as escolas da Espanha, França e Itália.
Estas visitas romperam alguns esquemas
mentais enormes, enormes porque a
criação das EFA no Brasil estava
focalizada em uma só pessoa, em um único
movimento que havia começado e tudo o
que não era o que eles estavam fazendo,
não era apropriado, vamos dizer assim.
Lembro-me de uma frase da
Glorinha, do Espírito Santo, que nesta
viagem disse: Ao voltar ao Brasil,
cabeças vão rolar”, porque haviam
descoberto que as EFA eram muito mais
diversificadas do que eles estavam
pensando e esse é o resultado que viram
em ex-alunos e ex-alunas. Quantos ex-
alunos das EFA do Brasil atualmente não
estão trabalhando em muitas profissões!,
como carpintaria, mecânica, enfermagem,
agroturismo, etc. E as EFA brasileiras
negavam essa realidade que seus alunos
egressos estavam vivenciando. Aqui
também entramos em outros debates que
ainda hoje não foram resolvidos em alguns
países latino-americanos: a escola deve ser
orientada ou orientadora? O CEFFA tem
que obrigar a todo filho de camponês a ser
camponês ou eles têm os mesmos direitos
que outros cidadãos do país têm para
decidir seu futuro? Os CEFFA, na primeira
etapa, o primeiro ciclo dos três primeiros
anos, quando os jovens têm 13, 14, 15, 16
anos, não podem ser escolas orientadoras
em que os alunos realizam estágios em
várias profissões?, em um posto de saúde,
em um escritório de um município, em
uma cooperativa, em uma oficina
mecânica... Que eles descubram diferentes
opções ao ver o que é uma profissão na
prática.
Penso que outra das contribuições
tem sido fazer as pessoas pensarem que o
importante no sistema dos CEFFA é o
aluno e as famílias, e não a pedagogia, nem
os monitores, nem os sistemas políticos, o
importante é a pessoa. É colocar no centro
do sistema dos CEFFA os jovens, as
famílias e os adultos em formação. Porque,
às vezes, ouvindo alguns debates de
monitores ou de associações, me vem à
mente a ideia dos reis absolutistas da
França ou da Espanha: tudo para o povo
sem contar com o povo. Pensamos para os
jovens sem contar com os jovens. Aqui,
aquela frase de Gandhi, que disse aos
ingleses: tudo o que fazeis por nós, sem
contar conosco, fazeis contra nós”. Hoje
mesmo eu estava em um debate onde havia
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professores e autoridades do Ministério da
Educação, de diferentes partes da Espanha,
mas não havia alunos ou pais de família
presentes; todos nós estávamos pensando
por eles, porém eles não estavam lá, nem
foram ouvidos. Em outras palavras,
cuidado para não silenciar as vozes deles.
Ramón Flecha (1997), com o tema da
dialógica, insiste muito na igualdade das
vozes, na igualdade das diferenças, porque
somos todos diferentes, mas com os
mesmos direitos de sermos ouvidos e
respeitados.
Bem, esta é, em síntese, minha
participação e contribuição ao movimento
e à criação de equipes pedagógicas
nacionais, que estão sempre na eterna
construção da associação internacional
porque, desde o ano de 2010, sou
Secretário Geral da AIMFR e ultimamente
estamos dando um apoio muito grande à
formação Alternância-Virtual para alcançar
todos os cantos dos diferentes países, tanto
para a formação de monitores, para a
formação de famílias, quanto para a
formação de estudantes. Estamos
respondendo às necessidades de formação
digital para evitar uma nova exclusão
social: o analfabetismo tecnológico.
J. González-García: Levando em
consideração todos os elementos que
emergem da sua exposição sobre sua
participação e contribuição ao movimento
da Pedagogia da Alternância, bem como
sua visão sobre a evolução do movimento,
em uma perspectiva futura, na sua opinião,
quais são os desafios do sistema
pedagógico da alternância diante das
demandas educacionais, sociais e
econômicas presentes no mundo
contemporâneo?
P. Puig-Calvó: É um assunto muito
amplo sobre o qual devemos aprofundar.
Um dos maiores desafios é a desunião.
Tem a ver com o que eu disse antes:
unidade na diversidade. Unidade significa
fazer as coisas não de um modo egoísta,
mas como dizem os estatutos da AIMFR:
intercâmbio, compartilhamento,
solidariedade. Essa é a unidade que
queremos, não a uniformidade. Portanto,
uma das maiores dificuldades é que as
escolas se isolam e deixam cada uma fazer
o que quer ou que algumas redes se isolam
e não querem ter nada a ver com as outras
redes, talvez de seu próprio país e também
em nível internacional. Quando isto
acontece, a pessoa vive de si mesma,
“come-se a si mesma” e pode até
desaparecer ou destruir-se por não ter uma
visão externa.
Outra dificuldade é, vamos chamá-la
assim, o ter medo de que outros nos
analisem, de que outros nos questionem.
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Por isso, é importante envolver a
universidade para que ela nos ajude a
perguntar onde estamos, o que estamos
fazendo, para onde estamos indo. Este é,
para mim, um grande desafio: que se
pesquise sobre a Alternância por
Alternância e para a Alternância. Quantas
universidades dizem que estão fazendo
formação por alternância ou educação do
campo, mas o retorno aos próprios centros
(CEFFA) é muito limitado? Então,
precisamos nos questionar para podermos
nos apresentar diante do desafio político. O
desafio político é muito importante. Agora
mesmo, nesta situação de pandemia, é
possível ver que os ministérios de
educação dos diferentes países estão
perdidos e estão se reunindo e
experimentam coisas. Alguns países falam
em fazer tudo em Alternância, mas não
sabem o que é Alternância e em alguns
países não autorizam o sistema de
Alternância, outros o experimentam
através do sistema dual. A Alemanha
descobriu esse sistema no século XVIII-
XIX, e desde então a Alemanha é como um
modelo, o sistema dual.
Com Jordi González-García
vii
,
fizemos um trabalho para a Câmara de
Comércio da Catalunha e tínhamos na
mesma mesa-redonda alguém que
representava um sistema dual e nós
falamos sobre o sistema da Alternância.
Qual é a diferença? Dual, dois aspectos:
empresa e escola. Nós, na Alternância,
falamos de quatro elementos: a escola -
centro de formação; a associação, que é
sempre proativa, que não é composta
apenas pelas famílias, mas também pelos
profissionais de empresas e instituições,
etc., e temos alguns objetivos, que não se
limitam ao emprego do jovem, mas ao
desenvolvimento dos territórios e do
projeto de vida da pessoa. Algumas vezes
defini Alternância como dual+. Sim, somos
a favor do sistema dual, não somos contra
ele, mas a Alternância é mais ampla do que
o dual, é mais do que o sistema dual.
Se nossos movimentos de escolas
nos diferentes países não se fortalecerem,
eles não validam cientificamente o que
estão fazendo, qualquer pequena mudança
política, pequena ou grande, qualquer
mudança nos ministérios pode
sobrecarregar o sistema. Por isso esta
questão é importante. E é importante de
todos os lados, do lado educativo, do lado
sociológico, do lado econômico, do lado
político... Devemos estudar o sistema da
Alternância sob muitos ângulos.
aconteceu em algum país que, se a
Alternância for assumida apenas do ponto
de vista político - não me importa se é da
direita ou da esquerda - ela morrerá quando
o partido oposto chegar ao poder. Portanto,
devemos ter essa visão ampla. É claro que
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a educação é política, mas, citando Paulo
Freire (2005) e com isso gostaria de
terminar: “a escola precisa ser
transformadora e transformadora
constantemente, não adaptada àqueles que
estão ministrando a formação, nem ao que
algumas pessoas pensam politicamente.”
Penso que neste momento todos
questionamos se os partidos políticos
atuais são válidos, se não é necessário
repensar uma nova maneira de fazer
política.
É por isso que existem alguns
desafios muito importantes e, ao mesmo
tempo, uma perspectiva de futuro, penso
eu, excelente, porque uma formação onde a
vida e a realidade estejam separadas não
faz sentido. Portanto, temos que dar
sentido à educação e este pode ser um
ótimo momento.
J. González-García: Doutor Puig,
muito obrigado por compartilhar a riqueza
de sua experiência de vida e toda essa
bagagem relativa à educação e,
especificamente, ao Sistema Pedagógico
da Alternância, sempre a serviço do
desenvolvimento dos jovens, de suas
famílias e de seus diferentes ambientes
profissionais. E, referindo-me às suas
palavras, gostaria de destacar nesta
entrevista sua grande contribuição à
Pedagogia da Alternância, à pedagogia
em geral, esse seu interesse em aprofundar
na prática pedagógica, em pesquisar e em
encontrar o fundamento científico da
Pedagogia da Alternância, que lhe
permitiu sair da inércia do trabalho bem
feito por intuição, como você bem disse.
Portanto, permitam-me destacar sua
contribuição para melhorar o trabalho de
tantos formadores, de tantas famílias
envolvidas, e poder apresentá-lo com
fundamento perante as autoridades
administrativas (ministérios) e
educacionais (acadêmicas), com tudo o
que isso implicou para impulsionar o
Sistema Pedagógico da Alternância em sua
constante construção e adaptação, enfim,
em sua transformação. E, por último, como
você disse, o importante são os estudantes,
suas famílias, seu ambiente e não o resto.
Mais uma vez, obrigado por sua
generosidade e esperamos poder contar
com você em outra ocasião.
C. Silva: Professor Pere, muito
obrigado por compartilhar suas
experiências, seus conhecimentos sobre a
Alternância, a trajetória do movimento,
isto é muito importante para nós hoje e
para as pessoas que irão ler sua entrevista
amanhã e ajudá-las a entender algumas
coisas que talvez não possam ser
encontradas nos livros. Obrigado.
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P. Puig-Calvó: Nada, muito bem e
em frente. Penso que, se vocês
precisarem prolongar ou aprofundar em
algum assunto, podemos continuar
avançando em outro momento. E ocorre-
me, ouvindo isto, que talvez pudéssemos
pensar, com Jean-Claude Gimonet ou
personagens destes tão interessantes, que
ainda estão vivos, em fazer algo
semelhante. Nada mais, obrigado e em
frente.
Barcelona, 17 de junho de 2020.
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ARCIA_2018a
i
Versão em português por Cícero da Silva. Toda a
responsabilidade pela tradução é dos autores.
ii
Escuela Familiar Agraria.
iii
Maison Familiale Rurale.
iv
Termo proposto pela rede de escolas brasileiras
devido ao grande número de denominações
diferentes e utilizado com frequência desde 2004-
2005. Pere Puig-Calvó, em sua tese de doutorado
defendida na Universidade Internacional da
Catalunha, sobre os Centros Familiares de
Formação por Alternância (2006), sistematiza seu
uso. Na reunião da EPLA de outubro de 2009 na
Colômbia, foi aprovado com o significado:
CENTROS EDUCATIVOS FAMILIARES de
FORMAÇÃO por ALTERNÂNCIA, ou seja, foi
acrescentada a palavra EDUCATIVO ou de
EDUCAÇÃO para que os Ministérios dos
diferentes países compreendessem este aspecto e
não sejam entendidos como centros de orientação
familiar.
v
Ver Gimonet (2009).
vi
Ver Duffaure (1985, 1993).
vii
Ver Puig-Calvó e González-García (2018).
Informações da entrevista / Interview Information
Recebido em : 29/07/2020
Aprovado em: 10/08/2020
Publicado em: 26/08/2020
Received on July 29th, 2020
Accepted on August 10th, 2020
Published on August, 26th, 2020
Conflitos de Interesses: Os autores declararam não
haver nenhum conflito de interesse referente a esta
entrevista.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Jordi González-García
https://orcid.org/0000-0002-9087-7281
Cícero da Silva
https://orcid.org/0000-0001-6071-6711
Como citar esta entrevista / How to cite this interview
APA
González-García, J., & Silva, C. (2020). A Pedagogia da
Alternância, o caminho percorrido e o futuro: entrevista
com Pere Puig-Calvó. Rev. Bras. Educ. Camp., 4, e10143.
http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e10143
ABNT
GONZÁLEZ-GARCÍA, J.; SILVA, C. A Pedagogia da
Alternância, o caminho percorrido e o futuro: entrevista
com Pere Puig-Calvó. Rev. Bras. Educ. Camp.,
Tocantinópolis, v. 4, e10143, 2020.
http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e10143