Revista Brasileira de Educação do Campo
Brazilian Journal of Rural Education
RESENHA / REVIEW
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e10380
Tocantinópolis/Brasil
v. 5
e10380
10.20873/uft.rbec.e10380
2020
ISSN: 2525-4863
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Resenha: Granereau, A. (2020). O Livro de Lauzun: onde
começou a Pedagogia da Alternância. Fortaleza: Edições
UFC.
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Alberto Dias Valadão
1
1
Universidade Federal de Rondônia - UNIR. Departamento de Ciências Humanas e Sociais - DCHS. Campus de Ji-Paraná.
Rua Rio Amazonas, 351, Jardim dos Migrantes. Ji-Paraná - RO. Brasil.
Autor para correspondência/Author for correspondence: albertoelaine10@gmail.com
RESUMO. A Obra de Abbé Granereau, Le livre de Lauzun -
Une histoire des premières Maisons Familiales Rurales,
publicada pela Editora Gerbert à Áurillac, Paris, 1969, com
segunda edição pela Editora L’Harmattan, Paris, 2007, é fruto
do diário que produziu consecutivamente descrevendo o
processo de criação e expansão das escolas de formação em
alternância, as Maisons Familiales Rurales (MFR). O presente
trabalho é uma resenha dessa Obra publicada em 2020 no Brasil
pelas Edições UFC, que pode ser apontada como a “Certidão de
Nascimento” da Pedagogia da Alternância. Granereau discorre
como, administrativa, filosófica e pedagogicamente foi sendo
estruturada uma nova modalidade de cunho político-educacional
em favor dos agricultores historicamente até então reféns de
uma escola que decanta os valores urbanos. O livro retrata em
detalhes a gênese da Pedagogia da Alternância, através da
chamada Fórmula Pedagógica de Lauzun, enfocando: as
dificuldades de implementação de novas ideias que diferem das
fórmulas pedagógicas arraigadas; alternância de formação entre
o tempo espaço escolar e o tempo espaço familiar-comunitário;
organização didático-pedagógica interligando os dois momentos
de estudo e trabalho; e a assunção dos agricultores da gestão da
escola camponesa.
Palavras-chaves: Maison Familiale Rurale, Fórmula
Pedagógica de Lauzun, Escola Camponesa.
Valadão, A. D. (2020). Resenha: Granereau, A. (2020). O Livro de Lauzun: onde começou a Pedagogia da
Alternância. Fortaleza: Edições UFC.
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Review: Granereau, A. (2020). O Livro de Lauzun: onde
começou a Pedagogia da Alternância. Fortaleza: Edições
UFC.
ABSTRACT. The work of Abbé Granereau, Le livre de Lauzun
- Une histoire des premières Maisons Familiales Rurales,
published by Editora Gerbert à Áurillac, Paris, 1969, with a
second edition by Editora L'Harmattan, Paris, 2007, is the result
of the diary he produced consecutively describing the process of
creating and expanding alternating training schools, the Maisons
Familiales Rurales (MFR). The present work is a review of this
work published in 2020 in Brazil by UFC Editions, which can
be identified as the “Birth Certificate” of Pedagogy of
Alternation. Granereau discusses how, philosophically and
pedagogically, a new modality of political and educational
nature was being structured in favor of farmers historically
hitherto held hostage by a school that decanted urban values.
The book portrays in detail the genesis of Pedagogy of
Alternation, through the so-called Pedagogical Formula of
Lauzun, focusing on: the difficulties of implementing new ideas
that differ from ingrained pedagogical formulas; alternation of
training between school and family-community time; didactic-
pedagogical organization linking the two moments of study and
work; and, the farmers taking over the management of the
peasant school.
Keywords: Maison Familiale Rurale, Pedagogical Formula of
Lauzun, Peasant School.
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Revisión: Granereau, A. (2020). O Livro de Lauzun: onde
começou a Pedagogia da Alternância. Fortaleza: Edições
UFC.
RESUMEN. La obra del Abbé Granereau, Le livre de Lauzun -
Une histoire des premières Maisons Familiales Rurales, editada
por Editora Gerbert à Áurillac, París, 1969, con una segunda
edición de Editora L'Harmattan, París, 2007, es el resultado del
diario que producido consecutivamente describiendo el proceso
de creación y expansión de las escuelas de formación alterna, las
Maisons Familiales Rurales (MFR). El presente trabajo es una
revisión de este trabajo publicado en 2020 en Brasil por UFC
Editions, que puede ser identificado como el “Certificado de
Nacimiento” de la Pedagogía de la Alternancia. Granereau
analiza cómo, filosófica y pedagógicamente, se estaba
estructurando una nueva modalidad de carácter político y
educativo a favor de los campesinos históricamente rehén de una
escuela que decantó los valores urbanos. El libro retrata en
detalle la génesis de la Pedagogía de la Alternancia, a través de
la denominada Fórmula Pedagógica de Lauzun, centrándose en:
las dificultades para implementar nuevas ideas que difieran de
las fórmulas pedagógicas arraigadas; alternancia de formación
entre tiempo escolar y familiar-comunitario; organización
didáctico-pedagógica que vincula los dos momentos de estudio
y trabajo; y los agricultores asumiendo la dirección de la escuela
campesina.
Palabras clave: Maison Familiale Rurale, Fórmula Pedagógica
de Lauzun, Escuela Campesina.
Valadão, A. D. (2020). Resenha: Granereau, A. (2020). O Livro de Lauzun: onde começou a Pedagogia da
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Resenha
A obra “O Livro de Lauzun: onde
começou a Pedagogia da Alternância”, é
fruto do registro sequente em forma de
diário de Abbé Granereau, a partir de suas
observações, análises, projetos, encontros
com agricultores, religiosos, políticos,
técnicos, cartas, atas de reuniões,
legislações e programas didáticos, no qual
pontuou as dificuldades, frustrações, mas
principalmente, como suas ideias foram
pouco a pouco encontrando eco junto aos
agricultores, religiosos e autoridades
francesas, o que resultou na criação e
expansão das escolas da Pedagogia da
Alternância, as Maisons Familiales
Rurales (MFR).
Abbé Pierre-Joseph Granereau era
sacerdote francês e nasceu em 1885, em
Puysserampion, pequena cidade do
sudoeste da França. Filho de agricultores,
era muito ligado à terra, envolvendo-se
com questões sociais como o sindicalismo
rural e a educação dos filhos de
agricultores. Depois de muitas reflexões e
múltiplos debates com camponeses,
dirigentes sindicais, pequenos empresários,
sacerdotes, dentre outros, Granereau abriu
em 11 de novembro de 1935 a primeira
Casa Familiar Rural na casa paroquial de
Sérignac-Péboudou, com quatro jovens
alunos.
Como uma espécie de Introdução à
Obra, um dos seus revisores técnicos Paolo
Nosella, dirige Ao Leitor apresentando o
trabalho de Granereau, afirmando que para
o movimento da Pedagogia da Alternância
o livro é, metaforicamente, o ‘Evangelho’,
ou seja, o documento testemunhal do
espírito e dos acontecimentos dos anos
iniciais de uma longa, rica e complexa
história de um novo sistema escolar
fundado no regime em alternância. O livro
retrata a criação de uma escola camponesa
própria, de elevada qualidade moral e
técnica, visando formar novos dirigentes e
líderes para o campo, rompendo com a
submissão econômica, política, social e
cultural à cidade.
Além dos Capítulos, compõe o livro
uma Lista de Siglas, duas Cartas dirigidas
à Granereau e um Posfácio. A primeira
Carta é do Antigo Arcebispo de Paris
Maurice Cardeal Feltin, que fala do
pioneirismo, paciência e perseverança de
Granereau com as escolas camponesas a
partir do princípio da alternância. A
segunda é do Secretário de Estado do
Ministério dos Negócios Estrangeiros da
França Jean de Broglie, que fala do apreço
pelo trabalho de Granereau e do prazer em
elaborar o Prefácio de um livro que é a
história de uma ideia e de uma vida. No
Posfácio, Granereau aponta que tudo
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aquilo que pode realizar na primeira Casa
Familiar, era feito unicamente para
católicos, mas um empreendimento em
essência familiar não deve, apesar da
necessidade de ajuda, ser controlado pelo
Estado e nem reduzir-se a um projeto
controlado pela Igreja católica. Mostra o
avanço impressionante da sua iniciativa,
chegando em 1968 a 475 Casas Familiares.
Descreve como foi possível entregar em
1964 ao Governo francês o Plano
Completo de Escola Camponesa para uma
reforma integral do Ensino Público.
Afirma que ao criar uma escola para os
camponeses estava na verdade preparando
“... os principais elementos de uma reforma
da escola tanto urbana quanto rural, tanto
pública quanto particular” (p. 291).
A publicação dessa Obra no Brasil
depois de cinco décadas se justifica, pois,
na produção de livros, artigos, teses e
dissertações e na formação de monitores
para o trabalho nos Centros de Formação
Familiar por Alternância (CEFFAs). No
Brasil é retratada a história da Pedagogia
da Alternância, porém, muitas vezes sem
mostrar o fadigoso trabalho de Granereau,
cujas iniciativas deixaram marcas
profundas na educação do campo pelo
mundo.
Granereau divide a sua Obra, o seu
“testamento espiritual” em oito Capítulos,
numa sequência que retrata o pioneirismo
de um movimento singular para o campo,
registrando os acontecimentos que o
inquietava no mundo camponês, desde sua
infância no fim do século XIX até os anos
de 1960 do século XX. Com grande
devotamento pastoral, motivado
espiritualmente, leal à hierarquia
eclesiástica, mostra a partir dos registros
em seu diário que ao criar a Fórmula de
Lauzun, pode descobrir o princípio da
alternância tão indispensável para a Escola
Camponesa.
No Capítulo 1, sob o tulo de O
Fundador, o autor mostra que a ideia de
um novo sistema escolar está ligada a sua
vida de morador do campo, a influência de
sua família e o subdesenvolvimento do
território camponês. Descreve que ao
chegar à idade que emerge o pensamento
pessoal, recebe a influência da geração do
pai, que era homem trabalhador, cristão,
um cidadão que não hesitava no
cumprimento de seus deveres; e da mãe,
alma delicada, que teria sido maravilhosa
educadora se tivesse sido preparada para
tal. Descreve ainda a geração do irmão
primogênito, a quem o pai passou a direção
da propriedade, influenciando mudanças na
forma de pensar o trabalho no campo. Num
período em que segundo o autor Cristo o
havia marcado para o sacerdócio, aborda
alguns elementos importantes que forjarão
o sacerdote-educador: a dificuldade
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financeira para estudar no seminário, à
volta nas férias para atuar no campo
ajudando a família num contato contínuo
com a terra, o problema da educação com
professores despreparados para a tarefa, o
despertar da vocação social e de educador
do campo a partir de uma experiência com
crianças de um subúrbio meio-urbano
meio-rural, o Evangelho como livro que o
acompanha como cristão, o militante
sindicalista do campo, o conhecimento e a
participação como secretário-geral do
Secretariado Central de Iniciativa Rural
(S.C.I.R.), a chegada à casa paroquial de
Sérignac Péboudou para o trabalho
educativo com crianças órfãs e os feitos
que estão na origem da experiência em
regime de alternância.
Sob o título de Sérignac Péboudou: o
berço, no segundo capítulo o autor pontua
o início de sua experiência educativa para
as famílias agricultoras, ao transformar a
casa paroquial numa escola onde
ministrava, com a ajuda de um professor
(Sr. Cambon), aulas em tempo integral
durante oito dias seguidos, em regime de
internato, com os alunos voltando para
casa no restante do mês. Destaca a
importância de Jean Peyrat (fundador do
sindicato profissional agrícola de Sérignac-
Péboudou), com o qual as conversas
serviram para “... plantar em boa terra a
ideia que havia, tanto tempo, germinado
na minha mente: uma escola adaptada ao
meio de vida do mundo camponês” (p. 65).
Descreve ainda como as fórmulas escolares
existentes serviram de norte para a criação
de instrumentos e princípios pedagógicos
de uma proposta educativa, que prepara os
alunos para a vida, tanto humana quanto
técnica. ênfase às questões
burocráticas, administrativas e pedagógicas
dos primeiros momentos do projeto que
chamou de A Fórmula de Lauzun, embora
estivesse ainda em Sérignac-Péboudou.
Destaca a importância do S.C.I.R. e do
apoio do Ministério da Agricultura, que
contribuem para que no dia 21 de
novembro de 1935 iniciem as aulas com a
chegada dos primeiros “aprendizes
agrícolas”, responsabilizando-se as
famílias pelas despesas.
No Capítulo três, intitulado a
Fundação da Casa Familiar de Lauzun,
Granereau descreve sobre a transferência
da iniciativa para Lauzun e a ideia de se ter
uma casa para os rapazes e outra para as
moças. Mostra a preocupação dos
religiosos com o dinheiro para o projeto e
como paulatinamente as famílias vão
assumindo-o, inclusive financeiramente,
com a compra da casa para as aulas do
tempo espaço escolar. Esse foi um passo
decisivo para a criação da Maison
Familiale Rurale de Lauzun, como se
na fala Granereau: “Em 1935, encontrei 3
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pessoas que me haviam compreendido. Em
1937, encontrei 9 pessoas para salvar a
Ideia” (p. 122). O autor descreve os
primeiro momentos administrativos da
Casa Familiar a partir da criação da Secção
Regional Autônoma S.C.I.R., em cuja
assembleia se comprovava entre os
envolvidos uma atmosfera de calma e
confiança, apesar da dificuldade quanto ao
dinheiro para pagar a casa. Descreve a
alegria dos jovens pela posse da casa
finalmente paga e a mudança de professor
com a chegada do Sr. Laurent, ou seja,
“aquele que vai me ajudar a pôr de
Lauzun” (p. 135). Menciona ainda a
necessidade de ajuda financeira para dar
continuidade ao projeto, o desafio da
legalização e sua mudança para Lauzun
sem a autorização da Igreja.
No Capítulo IV, que tem como título
Vida da Casa Familiar (Primeiro Ano
1937-1938), Granereau lamenta não poder
ter adquirido ainda a casa para as moças e
fala da criação das jornadas rurais
femininas, ao oportunizar na casa o
encontro entre rapazes e moças,
propiciando a criação entre eles de “... uma
atmosfera verdadeiramente familiar de
alegria sadia, de respeito e também de
dignidade, o que bem fazia prever o
futuro” (p. 144). Fala dos jornais criados e
da importância dos mesmos para a
comunicação com as famílias e para levar a
vida da Casa Familiar ao conhecimento de
todos. Pontua o crescimento da experiência
chegando depois de dois anos a 40 alunos e
entre 20 e 25 moças participando das
jornadas femininas. Destaca como foi a
recepção e a curiosidade dos moradores de
Lauzun para com o projeto, a ocupação dos
alunos na casa, a vida interna da Casa
Familiar e como estavam distribuídas as
funções no tempo espaço escolar. O autor
mostra ainda a importância da “Jornada-
encontro”, iniciada em 1938 com os alunos
de todas as semanas reunidos. Analisa que
a publicação na imprensa do trabalho
realizado na Casa Familiar atrai muitos
visitantes para Lauzun, e que a publicação
de um artigo no jornal Action Populair em
1938 está nas origens da fundação de
diversas Casas Familiares.
No quinto capítulo, sob o tulo A
Irradiação da Casa Familiar (Segundo
Ano 1938-1939), o autor descreve a
reunião do Conselho da Seção Regional do
S.C.I.R. na Casa Familiar, em que fica
decidido que o mesmo continuará como
Educador-Diretor. Descreve a ampliação
dos quadros e a negociação para a volta do
professor Cambon a essa Casa. Retomando
uma ideia antiga, Granereau apresenta na
Assembleia Geral a proposta da Casa
Familiar feminina. O autor discute ainda,
em muitas partes da Obra, a questão do
recrutamento dos alunos para a
Valadão, A. D. (2020). Resenha: Granereau, A. (2020). O Livro de Lauzun: onde começou a Pedagogia da
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participação numa pedagogia apropriada à
realidade campesina e promotora de uma
formação integral. Afirma que com o
equilíbrio do orçamento e a superação de
desconfiança da administração diocesana,
novas Casas poderiam ser abertas. Analisa
que a convivência de jovens (rapazes e
moças) no regime de internato é uma
questão que requer cuidado desde as
primeiras iniciativas, como o “Problema do
Namoro”. Discute que o grande número de
visitantes e as correspondências recebidas
dignificavam o trabalho que vinha sendo
realizado na Casa Familiar, por isso era
preciso responder aos que escreviam. Isso
foi feito na coleção “Terre de France” com
a primeira edição de: “Um Ensaio de
Educação Campesina. A Casa Familiar de
Lauzun”, pelo próprio Pe Granereau. Por
último, aponta que o trabalho realizado em
Lauzun tinha chamado à atenção do Sr.
Georges Goyau, Secretário Perpétuo da
Academia Francesa. Escreve um dossiê
que rende para Casa Familiar de Lauzun
uma premiação em 1939, recebida somente
em 1956 pelo Institut de France.
No capítulo VI intitulado Apesar da
Guerra, A Casa Familiar Aguenta (1939-
1940), o autor inicia pontuando que a falta
de recursos persistia e chegava em 1938
com déficit financeiro, mas que apesar
disso, havia iniciativas para a fundação de
novas Casas Familiares. Isso ocorreu muito
em função da divulgação do jornal “A
Casa Familiar”. Contudo, com a declaração
da Guerra em 1939, interrompeu-se
brutalmente a expansão do movimento,
mas como “... Lauzun estava erigido no
rochedo das famílias. Lauzun resistiu à
tempestade” (p. 218), mesmo com o
afastamento do Sr. Laurent e do Sr
Cambon por causa da guerra e de doenças
na família, respectivamente. O próprio
Granereau teve que assumir a função
docente com os alunos participando da
primeira prova de diplomas, tanto teórica
quanto prática, sendo o sucesso
comprovado na fala do Diretor dos
Serviços Agrícolas: “Realmente, não os
achava tão bem formados!”, sendo
conferido aos alunos o diploma de
aprendizagem e aptidão profissional. Além
disso, o autor descreve a Jornada-encontro
comum de 1940, ao afirmar que o diálogo
ocorrido entre rapazes e moças se encontra
na base da criação do espírito da Casa
Familiar.
No capítulo VII denominado de A
Casa Familiar de Lauzun Primeira Escola
Camponesa Integral (1940-1941), o autor
discute a criação e abertura da Casa
Familiar das moças, tendo a Sra Lhoste
como primeira diretora, sendo educador-
diretor diante dos pais o próprio
Granereau. Pontua a Criação em 1941 da
União Nacional das Casas Familiares da
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França, bem como a volta do Sr. Cambon
como professor da Casa Familiar que
gozava da confiança das famílias.
Descreve a questão da inadaptação e a
indisciplina de jovens da cidade inseridos
na Casa Familiar e o ótimo desempenho
dos alunos na segunda prova oficial do
diploma de aprendizagem rural. Além
disso, questiona por que não ter no tempo
espaço escolar rapazes e moças, ao afirmar
que “Nada de geminação na nossa escola,
porque é contrária à verdadeira preparação
para a vida...” (p. 246), mas como pensa
que não pode haver também
compartimentos estanques, introduzem-se
lazeres e serões comuns. Apresenta de
forma esquemática a Fórmula de Lauzun
1940, uma verdadeira escola camponesa: a
responsabilidade geral (associação das
famílias), os três ciclos de formação, os
centros de formação, os quadros (docentes
e educador) e os lazeres comuns.
No último capítulo sob o título De
Lauzun o Fundador lança o Movimento
Nacional das Casas Familiares da França,
Granereau descreve como mesmo durante
a II Guerra Mundial, a partir de um intenso
processo de divulgação, expande-se o
movimento das Casas Familiares, iniciando
com a fundação da Casa Familiar de
Vétraz-Monthoux em 1940 e uma Casa
feminina em Lauzun. A esse respeito, “A
fundação da Casa Familiar de Vétraz-
Monthoux demonstrou também que, para
mim, tinha chegada a hora de lançar o
movimento das Casas Familiares na
França” (p. 255). Mostra que a
contribuição de France-Pierre Couvreur foi
fundamental como irradiador das ideias do
movimento pela França, trabalho coroado
na Assembleia Geral em Lauzun com a
fundação da União Nacional dos
Sindicatos das Casas Familiares da França,
segundo a Fórmula de Lauzun. Descreve o
sucesso dos alunos nas provas oficiais em
que recebem o Diploma de Aprendizagem
Agrícola, e como este exame passa a ser
realizado em outras regiões onde estavam
sendo implantadas outras experiências em
regime de alternância. O autor descreve o
apoio que para os casamentos dos
jovens alunos, ao afirmar que “Como
educador, naturalmente, tornava-me o
diretor espiritual dos noivos” (p. 264).
Descreve como em 1941 é criada a
primeira escola para monitores (escola de
quadros) e menciona o plano e programa
das jornadas de formações, organizadas em
regime de alternância em serviço. Mostra
também o processo de Fundação da União
Nacional das Casas Familiares da França
com o objetivo agrupar todos os sindicatos
regionais, visando não comprometer os
princípios que haviam motivado seu
idealizador. O autor analisa como as
famílias assumem o movimento, quando
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ele próprio esquecia que um dos seus
princípios essenciais para as Casas
Familiares era o de construí-lo sobre as
famílias e que suas decisões às vezes
comprometiam financeiramente essas
famílias, gerando inclusive o que chamou
de A Tempestade de Lauzun, com a
abertura de uma comissão de inquérito
para investigar as suas ações. Por fim,
descreve a primeira reunião do Conselho
da União Nacional das Casas Familiares da
França em Vichy em dezembro de 1941,
onde ocorre à substituição dos sindicatos
por Associações. O autor afirma ainda que
certo do dever cumprido, faz sua despedida
de Lauzun, através de uma última
“Jornada-Encontro” comum, em 8 de
fevereiro de 1942. Mostra que foi um
verdadeiro triunfo, pois 90 jovens, entre
rapazes e moças, responderam ao seu
último apelo para uma Jornada cheia de
emoções, comprovando que um trabalho
profundo tinha sido realmente realizado
com todos estes jovens.
O mergulho na Obra mostra como foi
possível à criação de uma estrutura
educativa fundada no princípio da
cooperação, do apoio recíproco entre os
envolvidos, da simplicidade geradora de
autonomia, que legou ao mundo uma
escola baseada no regime de alternância,
ligando de forma visceral, pedagógica e
administrativamente o centro educativo, as
famílias, a propriedade e a comunidade,
em defesa de um desenvolvimento amplo
pessoal e social.
i
Organização de Elenilce Gomes de Oliveira, Enéas
de Araújo Arrais Neto; revisão técnica de Paolo
Nosella, João Batista Begnami, Thierry De
Burghgrave; tradução de Antonio João Mânfio,
José Eustáquio Romão, Ático Fassini, Thierry De
Burghgrave.
Informações da resenha / Review Information
Recebido em : 28/08/2020
Aprovado em: 31/08/2020
Publicado em: 02/09/2020
Received on August 28th, 2020
Accepted on August 31st, 2020
Published on September, 02nd, 2020
Contribuições na resenha: O autor foi o responsável por
todas as etapas e resultados da pesquisa, a
saber: elaboração, análise e interpretação dos dados;
escrita e revisão do conteúdo do manuscrito e; aprovação
da versão final publicada.
Author Contributions: The author was responsible for the
designing, delineating, analyzing and interpreting the data,
production of the manuscript, critical revision of the content
and approval of the final version published.
Conflitos de interesse: O autor declarou não haver
nenhum conflito de interesse referente a esta resenha.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Alberto Dias Valadão
http://orcid.org/0000-0002-5969-935X
Como citar esta resenha/ How to cite this review
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Valadão, A. D. (2020). Resenha: Granereau, A. (2020). O
Livro de Lauzun: onde começou a Pedagogia da
Alternância. Fortaleza: Edições UFC. Rev. Bras. Educ.
Camp., 5, e10380.
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ABNT
VALADÃO, A. D. Resenha: Granereau, A. O Livro de
Lauzun: onde começou a Pedagogia da Alternância.
Fortaleza: Edições UFC, 2020. Rev. Bras. Educ. Camp.,
Tocantinópolis, v. 5, e10380, 2020.
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