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orquestrados pela classe dominante, como
apresenta Karl Marx. Muitos projetos e
programas governamentais pautados pelo
Estado e materializados na escola pública
não perspectivam redução das
desigualdades sociais pelo menos no
discurso oficial, visto que, na sociedade
capitalista, o tipo de Estado moderno que
conhecemos é influenciado por decisões de
grupos privados que desejam a ampliação
de seus domínios e manutenção do status
quo.
Para que essa gestão consiga
conduzir um trabalho coletivo – capaz de
favorecer o afloramento do espírito de
sujeitos mais autônomos e atuantes em
uma sociedade mais justa e igualitária – é
pertinente que possua algumas
características técnicas e pedagógicas.
Para tanto, é necessário que o gestor
possua algumas habilidades e
competências específicas, com a
percepção de que no ato pedagógico
se dá a reconstrução do
conhecimento; precisa manter
interlocução comunicativa com sua
equipe e usuários da escola. São
condições que vão para além de ser
um gerente profissional, porque a
escola forma, constrói cidadãos, a
partir de valores, princípios,
sentimentos e não bens palpáveis,
mercadorias, restringindo-se ao nível
da riqueza imaterial (Santos, 2007, p.
13).
Para Santos (2007), a gestão da
escola pública precisa cumprir alguns
requisitos a fim de ser considerada ponte
para a democratização das relações
humanas na defesa da coisa pública como
possibilidade de alteração no quadro de
desigualdade social típico da sociedade
capitalista. Entre os requisitos, podemos
citar: trabalho em equipe com decisões
coletivizadas envolvendo os sujeitos da
comunidade escolar; criação de colegiados
com autonomia; processos para escolha de
gestores que precisam ser os mais
democráticos possíveis; além da
construção do projeto político-pedagógico
pela comunidade escolar, do qual podem
emergir outros projetos que possibilitem a
atuação política, em especial dos alunos,
visando melhorias naquela comunidade
específica. Ainda assim, “todas essas
medidas não significam que esteja
assegurada a democracia, embora
favoreçam consideravelmente relações
mais humanas e solidárias, que podem
contribuir para o aperfeiçoamento do
homem” (Santos, 2007, p. 16).
Dessa forma, a democratização da
gestão da escola básica não pode
restringir-se aos limites do próprio
estado, — promovendo a
participação coletiva apenas dos que
atuam em seu interior — mas
envolver principalmente os usuários
e a comunidade em geral, de modo
que se possa produzir, por parte da
população, uma real possibilidade de
controle democrático do Estado no
provimento de educação escolar em
quantidade e qualidade compatíveis
com as obrigações do poder público e
de acordo com os interesses da
sociedade (Paro, 1998, p. 7).