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os empresários que se intitulam
“especialistas em educação” estão
cada vez mais presentes junto ao
governo, definindo a agenda política,
interferindo no conteúdo da proposta
das políticas, criando consenso em
torno dos problemas da educação
brasileira e, ao mesmo tempo,
negociando tecnologias e soluções
educacionais para solucionar tais
problemas. Diante do exposto, esse
movimento, que é um movimento de
classe, defende seus interesses,
estabelece um projeto de nação
(Bernardi, Uczak & Rossi, 2018, p.
48).
Para Bernardi, Uczak e Rossi (2018,
p. 32), esse movimento apropriou-se de
bandeiras de lutas históricas pela
democratização da educação e “passou a
defender a ampliação da jornada escolar, a
universalização do atendimento
educacional, as propostas de avaliação em
larga escala, os incentivos à realização de
parcerias externas que buscam apoio às
atividades educacionais, entre outras
questões”.
A inserção do MTE na sociedade
civil, defendida em nome de um
compromisso comum para o bem da nação,
representa “... uma forma inovadora de se
obter consenso para o exercício da
dominação”, conclamando cidadania,
colaboração, responsabilidade social,
repetidas intensamente na mídia e nas
propagandas empresariais e
governamentais, entranhando-se no senso
comum dos latino-americanos (Martins,
2008, p. 12). Nessa forte referência
discursiva, o empresariado atua
incisivamente no processo de formulação
de políticas educacionais, consolidando
uma agenda comprometida com os
interesses privados do capital.
Apesar de se proclamar como
organismo "autônomo" em relação ao
governo e ao Estado, esse movimento vem
construindo articulações com as instâncias
de gestão da educação pública, assumindo
grande expressão na determinação das
políticas educacionais. Essa expressão foi
legitimada, por exemplo, pelo Decreto
Presidencial n.º 6.094, de 24 de abril de
2007, que lançou o “Plano de Metas
Compromisso Todos pela Educação”, com
clara importação da nomenclatura do MTE
(Brasil, 2007). No ano de 2007, o
Ministério da Educação (MEC) apresentou
o Plano de Desenvolvimento de Educação
(PDE) e o “Plano de Metas Compromisso
Todos pela Educação” (Brasil, 2014) à
sociedade e, nesse ato, o MEC explicitou
seu compromisso com a agenda do MTE,
expressando a aliança política com o
empresariado. Em decorrência dessa
relação entre o PDE e o MTE, as
proposições do documento “Todos pela
Educação: rumo a 2022”, elaborado no
âmbito do movimento empresarial do
MTE, foram absorvidas no texto de
formalização do Plano, evidenciando a
interlocução entre ambos.