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agora’. Daí que a participação e a
reconstrução de movimentos, de grupos de
jovens, o reconhecimento de outros
saberes, que não apenas o acadêmico,
começam a apresentar outros sentidos para
ela e sua participação cada vez mais se
intensifica, adquirindo outras dimensões:
Também depois que eu entrei na
universidade, eu... eu valorizei mais
essa questão de chegar em um lugar
e... também porque a gente é uma
comunidade quilombola, (pausa), e...
eu passei a... e... eu passei a... a...
(pausa) além de valorizar mais a
minha comunidade, levar mais a...
essa identidade que a gente tem e que
é específica. Porque ser quilombola,
então, assim, até hoje a gente
encontra uma comunidade de pessoas
em que, um pouco fica retraída sem
dizer que é quilombola, e (pausa), a
gente como grupo de jovem, a gente
tá trabalhando essa questão; em
novembro a gente trabalhou com CV,
que CV é a Comunidade Viva é um
projeto que o grupo de jovens criou
dentro da comunidade, e que cada dia
que a gente realiza esse movimento,
tem mais pessoas da comunidade
participando. (Entrevista Jarid).
Jarid constrói ponderações em
relação às políticas públicas; toma
consciência de seus direitos e intervém em
sua comunidade e na escola de sua
comunidade, pois tendo observado que um
aluno riu do outro por ele ser quilombola,
ela desenvolveu um conjunto de ações para
possibilitar a discussão do ocorrido no
interior da própria instituição escolar, bem
como possibilitou uma ‘reorganização’
escolar em torno do tema, etnia,
começando pelo questionamento em
relação à alimentação (merenda escolar) e
alcançando o universo da sala de aula:
E aí, agora, é... é... no ano... no mês
de outubro, a gente teve uma segunda
reunião, e quando foi em dezembro a
gente teve um seminário com
capacitação dos professores. E ‘Jô’
sempre fala assim comigo "Jarid, cê
tem que ficar sempre... nunca deixa
de... não esqueça que você sempre
impulsionou essa luta pra dentro da
escola". E, hoje, aí... quando eu levei
essa questão, a nutricionista da escola
falou assim "Uai, mas como é que a
gente vai levar uma alimentação
específica?", aí ela me perguntou "
Jarid, como é que eu vou fazer?", eu
tô assim "Gente, eu num sei!".
(pausa) "Eu não sei", então é para
isso que existe... (pausa) mil e um
órgãos aí... mil e uma pessoas pra tá
trabalhando nessas áreas. Eu só sei...
eu tô levando a ideia, agora quem
tem que trabalhar ela são vocês.
(pausa) Porque, é... é... eu tô assim
"Eu tenho obrigação de cobrar, e
vocês têm obrigação... vocês como
funcionários públicos, você têm
obrigação de trabalhar", e... graças a
Deus, eles tiveram a capacitação na...
(pausa) na cidade de Berilo, porque
em Berilo tem a referência da... de
uma escola quilombola, de... com
muitas comunidades quilombolas,
muito organizada, (pausa) ... No mês
de dezembro, a gente fez um
seminário em Itinga, (pausa), com os
professores da minha comunidade,
pra capacitar eles pra saber como
trabalhar essa questão da etnia dentro
da comunidade. (pausa) Estava todo
mundo muito... muito... (pausa) é...
animados com o projeto, que eles vão
executar como projeto, e que já ia
começar a desenvolver agora,
(pausa), é... quando iniciar a aula,
que eles já vão trabalhar com os
alunos (pausa). (Entrevista Jarid).