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muito intensos relacionados à vergonha e à
timidez, e que na EFA pesquisada, essa
característica foi sendo trabalhada:
Um dia eu parei para pensar sobre o
processo de perder a vergonha e
começou com a apresentação de
nome, que tanto em [na primeira
EFA que estudou] e aqui [EFA
pesquisada] eu tinha que falar com
alguém, tinha que apresentar nome,
tinha que falar de onde eu era.
Depois tinha que apresentar todo
mundo na sala, aí eu não ia estar
falando sozinha, ia ter mais gente pra
falar comigo. Foi assim que comecei
a perder a vergonha, porque
querendo ou não eu ia ter que falar,
se eu quisesse ganhar nota, alguma
coisa assim, eu tinha que falar
alguma coisa. (Iolanda, 2019)
Essa fala revela a importância das
estratégias pedagógicas propostas pela
EFA, em que se procura incentivar a
inserção e a participação coletiva pautada
na autonomia dos educandos. Com esse
processo de desconstrução da timidez, a
estudante também mostra seu processo de
redescoberta de sua identidade e negritude
e sobre a compreensão de si no mundo e
em relação ao mundo, em um contexto
onde demais estudantes negras
impulsionaram umas às outras,
constituindo um espaço de grande
diversidade e possibilidades.
... antes eu alisava o cabelo, não sabia
nem o que era afrodescendência. A
EFA [pesquisada] ajudou muito na
minha vida, em coisas que eu não
tinha noção. Igual, trança, nunca me
imaginei de trança. Foi através da
Carolina, aí um dia eu e Ana
falamos: “vamos colocar tranças?
vamos!”. A Ana colocou primeiro,
ela também não gostou muito no
primeiro dia… Só que depois ela
gostou, aí foi a minha vez. Eu fiquei
pensando “será que eu coloco?”,
então fui e coloquei, gostei, e estou
aqui até hoje. Tudo por causa da
Carolina. Ela imaginou que no dia
em que eu colocasse, eu ia tirar na
hora (risos), que eu não iria gostar.
Eu disse que também pensei o
mesmo. Imaginei que eu iria querer
tirar no mesmo momento, e agora
não quero tirar mais. (Iolanda, 2019)
A desconstrução da vergonha e o
fortalecimento da identidade e da negritude
também estão presentes nos relatos de
Margarida, originária de uma comunidade
quilombola localizada em outro município
de MG: “a EFA ajudou muito a fortalecer
minha identidade. Eu era uma das pessoas
que tinha preconceito por ser quilombola,
mas depois da EFA nos fazer buscar nossa
origem, eu percebi que não tem nada de
vergonhoso nisso, muito pelo contrário.”
(Margarida, 2019). Isso também confirma
a proposta educativa que a EFA defende,
incentivando que os estudantes se
aprofundem sobre sua história, origem e
ancestralidade por meio de dinâmicas onde
essas temáticas são frequentemente
inseridas.
... mudou basicamente tudo em mim
desde que entrei aqui na EFA
[pesquisada], porque aqui a gente não
forma só na vida acadêmica, mas
formamos como cidadãos também.
Eu não conhecia nenhum dos
movimentos sociais, hoje conheço,