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Na história da urbanização, tivemos
configurações diferentes do urbano e do
rural vindas de especificidades derivadas
das condições econômicas que
determinaram cada época. Nesse sentido,
Reis (2006) descreve como construções
também refletiam a interdependência entre
esses espaços:
Durante séculos as diretrizes para
construção e organização das formas
das cidades estiveram baseadas em
esquemas que previam seu
crescimento do centro para periferia,
com núcleos urbanos que distavam
entre si 20 quilômetros ou mais.
Entre estes, estendia-se o campo,
como espaço de produção rural. Com
frequência, as cidades eram muradas
e de modo regular estabeleciam-se
oficialmente os limites da área de
competência administrativa de seus
governantes. Havia o campo e a
cidade, como dois universos
perfeitamente definidos, mas
interdependentes. (Reis, 2006, p. 20,
grifo nosso).
Essa interdependência é o que
buscamos trazer à tona como forma de
dissuadir o estereótipo e a visão pejorativa
que comumente se sobressaem na
representação do meio rural pelo cinema.
Apesar das diferentes configurações de
campo e de cidade constituídas
historicamente e movidas pela economia
predominante, sempre houve uma relação
de dependência mútua e não de
contraposição entre esses espaços.
Como podemos constatar quando
Whitaker (2009) demonstra em seus
estudos o quanto a mídia contribuiu para a
depreciação da imagem do campo, as
condições materiais de cada ambiente,
urbano ou rural, resultam em estereótipos
negativos que descaracterizam todo o
trabalho e as lutas sociais dos
trabalhadores de ambos. Para enfrentar e
contrapor essa imagem negativa, a autora
trabalha com dados do Censo
Agropecuário do IBGE que confirmam a
importância da pequena propriedade na
produção de alimentos. De maneira oposta
a essa visão e como forma de desqualificar
a relevância do pequeno camponês, “foi
encomendada uma ‘pesquisa’ para negar os
dados do IBGE e a mídia, subserviente ao
poder, deu voz aos representantes do
latifúndio, que saíram a campo chamando
os assentamentos de Reforma Agrária de
Favelas Rurais” (Whitaker, 2009, p. 35).
As produções são divulgadas nos
meios digitais e se tornam um forte
instrumento de comunicação de massa,
facilitando ainda mais o acesso da
população. Todo trabalho, principalmente
quando voltado à linguagem, tem uma
intencionalidade e, por conseguinte, uma
ideologia favorável a uma posição e oposta
à outra. A língua é a “expressão das
relações e lutas sociais, veiculando e
sofrendo o efeito desta luta, servindo ao
mesmo tempo de instrumento e de
material” (Bakhtin, 1997, p. 17). Assim,