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manifestações culturais de cada povo.
Dos instrumentos musicais com
sonoridades próprias de cada
contexto, da postura pedagógica
sensível a cada realidade social com
seu conteúdo musical. (Brasil &
Silva, 2019, p. 119).
Esses encontros, essas janelas me
permitiram alcançar outros conceitos
presentes no modo de pensar, fazer e
ensinar a música de tradição afro-
brasileira, indígena, campesina e urbana
preta ou amarela, branca ou vermelha. A
abraçar e imergir nas lutas de diferentes
atores do campo e das cidades brasileiras
como nos traz à lembrança o Prof. Carlos
Brandão:
Da floresta para o campo, e do
campo para a cidade, diferentes
atores sociais apagados,
desconhecidos, mal-conhecidos,
demonizados ou folclorizados, sobem
ao palco da história e entram em
cena. E sem máscaras elas e eles
“mostram a sua cara”. São
camponeses, caiçaras, seringueiros,
castanheiros e outros “povos da
floresta”, povoadores de quilombos,
de terras-de-santo, de faxinais, de
fundos de pasto, ao lado dos
inúmeros povos e das tribos
indígenas das etnias do Brasil saem a
campo. E saem organizados em suas
frentes de luta. E a partir de suas
difíceis, lentas, mas sucessivas
conquistas nos ajudam a reinventar o
“mapa do Brasil”, e a recriar uma
nova e real cartografia social.
(Brandão, 2020, p. 12).
A partir da abertura destas janelas e
do diálogo com estes marcadores teóricos
o ensino de música para mim passou a ter
uma ligação umbilical com o lindô de
Santa fé do Araguaia-TO, com a violinha
de buriti que canta o quilombo, a capoeira
que joga a roda do mundo. A música para
mim se retroalimenta nos reisados, ela é o
menino Jesus que vai de casa em casa, é o
senhor do Bonfim cantado nas ruas da
Bahia, é a festa da rainha do mar, é o
Porta-estandarte do maracatu, é fanfarra
que desperta a escola, é Manacapuru
cirandando, sãos os bois em seus Brasis,
são as matracas santificando as minas, são
os marujos rufando nas águas. É o Divino
em festa, são as quebradeiras bailando com
os seus cocos, são os brincantes do
Marabaixo, são as batidas das espadas do
maculelê, a roda que nos faz sambar, é o
círio, o frevo tecendo, colorindo suas
orquestras, é o suor do carimbó, é o
folguedo do cavalo marinho, a sússia
fazendo tremer o chão tocantinense, o
terecô cortando a madrugada, o tambor de
crioula aquecido pelo fogo, é o tambor de
mina, são os atabaques e os agogôs do
candomblé, o pulsar do mangue, do
igarapé, são as fanfarras, é a voz que
emana dos morros cariocas, é o carnaval, a
lamentação das almas na Bahia, é o soluço
do cavaco, o xote e o xaxado do velho Lua,
são os caboclinhos, é a seresta faceira..., é
o balanço, o jongo, a zabumba que nos
chama para congada, o coco, são os afoxés
em sua plenitude, em suas eternidades, os