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Eu fico pensando se não fosse por
esse viés da arte e da literatura na
minha formação que atrelou a língua
no caso, eu não sei qual seria o outro
recorte que eu faria para trabalhar
dessa forma. Porque eu só acho que
eu consigo trabalhar com esse viés,
com essa entrada. Porque eu faço
entrada pela arte ou pela literatura,
porque senão eu faria por onde?
Quando eu fui abordar os gêneros,
que eu tentei trazer as festas
populares, você vê que os meninos
são daqui e não conhecem a cultura
daqui, e eles estão no nono ano e
ninguém falou antes, ou falou de uma
forma que eles não entenderam.
Então, assim, se não fosse por esse
viés, se não fosse pela arte, ou pela
literatura, que estava atrelada à
linguagem, por onde que eu ia
conseguir essa entrada. (Camila –
falando sobre trabalho com arte e
cultura)
A ação interdisciplinar de Camila
também nos propicia a inserção das
práticas artísticas como forma de
possibilitar que os alunos construam um
conhecimento histórico, indo ao encontro
da perspectiva de prática artística proposta
por Bosi (1986), na qual a prática artística
herda e dialoga com referências históricas
e culturais, já que o criador artístico não
está “imune das interpretações que os
demais homens fazem sobre o universo e
sobre si mesmos” (Bosi, 1986, p. 42). Por
compreender a necessidade de criação e
reflexão de práticas artísticas que
conheçam as referências históricas do
município de Rubim, notamos que Camila
busca articular em suas aulas um
conhecimento histórico e cultural como
forma de trazer para a arte elementos da
memória cultural.
Nos trechos abaixo, destacamos
atividades observadas em várias aulas, nas
quais se pode notar que a temática das
festas populares da região foi abordada
com base na metodologia de trabalhos em
grupo, em que os alunos fizeram pesquisas,
entrevistas com os artistas e posteriormente
apresentaram o material para a turma:
Ela é uma festa que está no
calendário, tanto que nos centros
urbanos ela não tem a relevância que
tem para nós em Rubim, porque ela
está em nós. As comidas típicas, a
tradição da fogueira, os padres que
têm aquela tradição de pular a
fogueira e virar compadre, o jeito de
se vestir, as músicas. Assim, desde
que a gente compreende isso aqui,
que não tem aula no 23 e 24, que é
considerado o período junino, não é?
(Camila – contando sobre as festas
juninas)
O que é que o grupo faz? Tem reza,
tem cantoria e tem toda uma
encenação e alegoria. A entrevistada
contou para vocês a tradição de ir ao
cemitério? Todo primeiro de janeiro,
eles iam até o cemitério e era do
cemitério que eles deveriam sair para
fazer as andanças pela cidade. É uma
festa por 6 dias consecutivos.
Antigamente eles andavam pela
fazenda, pela área rural, eles
passavam pelas escolas do campo.
Eles iam nas casas, eles passavam e
falavam que era o reisado com as
bandeiras. Aqui em Rubim, temos o
grupo Teto das Estrelas e o grupo
Coquis, eles têm como base as duas
famílias. (Camila – sobre Folia de
Reis)
Ele é apaixonado com arte e com
cultura, não é? Ele tem músicas da