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Brennand situa nos anos 1970, na
tendência da produção cultural que seguiu
resistindo à ditadura por meio da produção
da arte popular engajada, sem aderir à
indústria cultural, uma fonte central de
influência para a atuação cultural do MST.
Os movimentos sociais passaram a
ter uma produção cultural intensa,
compondo músicas e versos, ousando
através da arte denunciar e propor
novas formas de organização social,
porém, quase sem os meios de
produção artística. A maior parte
desta produção ficou limitada aos
seus espaços de atuação, sendo que a
reprodução dos produtos,
principalmente canções, cartazes e
poemas, eram realizados de forma
artesanal. Esta produção transitava e
era produzida pelos movimentos
populares e Comunidades Eclesiais
de Base (CEB’s), dentro de uma
prática comunitária e com o objetivo
de contribuir na formação das bases
populares. O importante é identificar
que muita arte foi produzida, ecoou
desde os seringais do Acre, nas áreas
de conflito no Bico do Papagaio, nas
periferias urbanas, entre indígenas,
quilombolas, caboclos e também
transpassou os limites do país. Se
esta produção artística não foi
conceituada como arte pelos setores
hegemônicos da indústria cultural,
não é isso que importa. A intenção
desta produção era e continua sendo
uma contribuição nos processos de
formação política e cultural para
contestação dos padrões
hegemônicos, a fim de fortalecer a
sustentação de uma proposta contra-
hegemônica na luta contra o capital.
E esta expressão não abdicou e nem
se abdica de sua finalidade, da
formação de novos sujeitos para a
luta pela transformação social.
(Brennand, 2017, p. 49).
Também no campo da produção
simbólica a tradição da mística do MST
assimila legados de tradições socialistas,
como o teatro épico, formas estéticas de
agitação e propaganda, além da
assimilação de tradições religiosas
vinculadas às lutas populares. Segundo
Costa: “O segundo capítulo do agitprop no
Brasil, ainda em andamento, vem sendo
escrito pelo MST desde os anos 1980,
quando inventou seu próprio teatro de
agitprop (a mística) e já tem seu principal
teórico, que é Ademar Bogo, autor de “O
vigor da mística” (2015, p. 32). Ainda de
acordo com Costa, o primeiro capítulo da
experiência do teatro de agitprop em
território nacional teria ocorrido com o
Centro Popular de Cultura (CPC) da União
Nacional dos Estudantes (UNE), processo
interrompido pela ditadura iniciada em
1964. O trabalho teatral e cultural do MST
seria, portanto, de acordo com a
pesquisadora, um segundo momento de
produção de cultura política em
perspectiva contra-hegemônica e anti-
capitalista.
De acordo com Juliana Bonassa
Faria, integrante da Brigada e autora de
pesquisas sobre a práxis cultural do MST
escritas durante a formação da militante
em Cuba:
En el caso del MST el teatro ocupó
desde el comienzo un importante
papel dentro del campo cultural y