Revista Brasileira de Educação do Campo
Brazilian Journal of Rural Education
ARTIGO/ARTICLE/ARTÍCULO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e12478
Tocantinópolis/Brasil
v. 6
e12478
10.20873/uft.rbec.e12478
2021
ISSN: 2525-4863
1
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Impactos e mudanças causados pela pandemia de Covid-
19 no fazer da biblioteconomia: cenário da biblioteca
escolar do campo
Daniela Carla de Oliveira
1
, Leilah Santiago Bufrem
2
, Marcos Gehrke
3
1
Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Avenida Água Verde, 2140, Vila Isabel. Curitiba - PR. Brasil.
2
Universidade
Federal do Paraná - UFPR.
3
Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná - UNICENTRO.
Autor para correspondência/Author for correspondence: dani.lela.com@gmail.com
RESUMO. Este artigo apresenta dados sobre o impacto e as
mudanças causadas pela Pandemia de Covid-19 no fazer da
biblioteconomia, no cenário da biblioteca escolar do campo.
Apresenta o trabalho em bibliotecas como um fazer especial,
cujo sentido só é valorizado se contextualizado. Questiona o
papel da biblioteca e das práticas bibliotecárias na atual
conjuntura, com o cenário da pandemia de Covid-19. Objetiva
atualizar o debate sobre o fazer bibliotecário em Escolas do
Campo na conjuntura da pandemia. Faz uso de pesquisa
bibliográfica e exploratória em campo, mediada pela aplicação
de questionário. Conclui apontando a situação de precariedade,
impeditiva de ações e atividades de incentivo à leitura e
disseminação de recursos pedagógicos de apoio às bibliotecas
escolares e escolares-comunitárias.
Palavras-chave: biblioteca escolar do campo, pandemia,
bibliotecário.
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Impacts and changes caused by the Covid-19 pandemic in
librarianship: the rural school library scenario
ABSTRACT. This article presents data on the impacts and
changes caused by the Covid-19 pandemic on librarianship
within the context of rural school libraries. We understand the
work in libraries as a special activity that is only valued if
contextualized. Thus, we question the role of the library and the
librarian practices in the current pandemic scenario with the
purpose of updating the debate on librarianship in rural schools.
To this end, we conducted a bibliographic and exploratory field
research mediated by the application of a questionnaire. We
conclude by highlighting the precarious situation that prevents
actions and activities to encourage reading and the
dissemination of pedagogical resources to support school and
school-community libraries.
Keywords: rural school library, pandemic, librarian.
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Impactos y cambios causados por la pandemia de Covid-19
en el hacer de la biblioteconomía: escenario de la
biblioteca escolar del campo
RESUMEN. Este artículo presenta datos sobre el impacto y los
cambios causados por la Pandemia de Covid-19 en el hacer de la
biblioteconomía, en el escenario de la biblioteca escolar del
campo. Coyuntura el trabajo en bibliotecas como un hacer
especial, cuyo sentido solo es valorado si contextualizado.
Cuestiona el papel de la biblioteca y de las prácticas
bibliotecarias, en la actual coyuntura, con el escenario de la
pandemia de Covid-19. Objetiva actualizar el debate sobre el
hacer bibliotecario en escuelas del campo en la coyuntura de la
pandemia. Hace uso de investigación bibliográfica y
exploratoria en campo, mediada por la aplicación de
cuestionario. Concluye apuntando la situación de precariedad,
impeditiva de acciones y actividades de incentivo a la lectura y
diseminación de recursos pedagógicos de apoyo a las bibliotecas
escolares y escolares-comunitarias.
Palabras clave: biblioteca escolar del campo, pandemia,
bibliotecario.
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Introdução
O trabalho em bibliotecas é um
fazer especial, cujo sentido é valorizado
se contextualizado. Torna-se, então, uma
práxis, configurando-se como ato político,
reconhecido pelo seu poder de
transformação e pelo significado dessas
transformações segundo as especificidades
de cada contexto. O fazer bibliotecário
i
é
um trabalho de natureza do bibliotecário,
mas que se transforma e transgride no fazer
bibliotecário de diversos outros atores,
como professores, militantes, estudantes,
agentes de leitura, entre outros
profissionais que ainda acreditam e
apostam na atualidade da biblioteca na
formação humana.
No caso específico da Biblioteca
Escolar do Trabalho (BET), no contexto da
Escola do Campo (Caldart et al., 2012),
compreendida como mais um dos espaços
de produção, ordenação e circulação da
informação, do conhecimento e da cultura
camponesa, o sentido dessa práxis se
adquire no encontro do trabalho com as
contradições peculiares do contexto do
campo. Seja pela ausência de bibliotecas,
sua inadequação ou seu isolamento, seja
pela distância das cidades, seja pelo
precário acesso aos livros e ao fazer da
biblioteca pública. Essas contradições
decorrem da ausência de políticas públicas
de produção e publicação dos saberes e
conhecimentos locais, assim como da falta
de profissionais aptos a ocuparem esses
espaços e dos limites na formação de
leitores por falta de acervo, de locais e de
serviços especializados. Todos os pontos
elencados acabam por restringir as
condições minimamente propícias à
formação do gosto pela leitura, relacionada
“... às experiências culturais e intelectuais,
à inserção da pessoa num universo de
relações complexas” (Britto, 2009, p. 26).
Passados dez anos (2012) da nossa
primeira visita coletiva as bibliotecas de
escolas de acampamentos e de
assentamentos do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),
participamos de uma palestra cuja pergunta
movente, instigada pelo evento virtual
alusivo ao dia do bibliotecário, questionava
sobre quais as possibilidades do fazer
bibliotecário diante dos impactos e
mudanças causados pela Pandemia de
Covid-19 no Cenário da Biblioteca Escolar
(BE) do campo. A partir dessa provocação
realizamos uma investigação afim de
revisitar impressões e dados reunidos em
2012.
Para tanto, usamos como método de
pesquisa questões orientadoras para a
reflexão, tais como: qual o papel da
biblioteca e das práticas bibliotecárias na
atual conjuntura? As práticas estariam
sendo realizadas? Quem estaria
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desenvolvendo as atividades, ou, qual o
perfil de quem trabalha na biblioteca? Qual
a posição do Estado, no caso da Secretaria
de Estado da Educação e do Esporte
ii
(SEED) no Paraná, em relação a essa
atuação no período de 2020 a 2021? Esses
questionamentos impulsionaram a proposta
de analisar as possibilidades do fazer
bibliotecário diante dos impactos e
mudanças causados pela pandemia de
Covid-19 no cenário da BE do campo.
Na sequência realizamos a pesquisa
bibliográfica em fontes diversas como
possibilidade de fundamentar teoricamente
o trabalho. Aplicamos ainda um
questionário aos responsáveis pelas BE do
campo localizadas em áreas de
assentamento da Reforma Agrária. Para
isso, definimos quatro questões,
considerando-se a proposta de estudo: o
que vem acontecendo com a BE no cenário
pandêmico? O Estado produziu alguma
instrução aos diretores? Se ela vem
realizando algum trabalho, quais as
práticas que sua escola propôs e
desenvolveu com os livros? Quem tem
atuado como trabalhador da BE do campo
nesse período e qual o perfil desse sujeito?
Objetivamos nesse trabalho analisar
os impactos e mudanças causados pela
pandemia de Covid-19 no fazer da
bibliotecário em Escolas do Campo e
identificar o perfil de quem nela atua.
Assim, o artigo articula o percurso
realizado em pesquisas anteriores, atualiza-
se desde o questionário aplicado em
Escolas Campo e se materializa nas
reflexões produzidas em palestras
realizadas e na escrita colaborativa deste
texto.
O trabalho está organizado em três
seções. Inicialmente, o estudo exploratório
que nos aproxima da biblioteca no
contexto do campo (2012). Na segunda
seção refletimos acerca do fazer
bibliotecário no contexto das Escolas do
Campo. Na terceira seção realizamos a
análise dos dados do questionário e o
contexto da pandemia na atualidade da BE
do campo. Por fim, as considerações finais
e referências utilizadas.
Estudo exploratório: pesquisa em
contexto do campo
As viagens para a realização dos
estudos exploratórios de Gehrke e Oliveira
(2012), então, doutorandos do Programa de
Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal do Paraná (UFPR),
pautaram-se em trajeto abrangendo
Cascavel e Rio Bonito do Iguaçu, para
conhecer Escolas do Campo localizadas
em áreas de assentamentos e
acampamentos da Reforma Agrária do
MST, no Paraná.
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Retomando essa trajetória, trazemos
as memórias do campo, do nosso percurso,
dos sujeitos da luta pela escola, das BE do
campo e de suas dependências, algumas
forjadas no improviso e limitadas pelas
condições estruturais, aliadas à falta de
pessoal especializado. Esse cenário aos
poucos foi sendo por nós reconhecido,
graças aos esforços de Gehrke (2014), cujo
trabalho de quatro anos com a tese foi
propulsor não de conhecimentos e
adoção de modos de organização e uso dos
acervos, como de práticas criativas, de
transformação de atitudes em relação às
bibliotecas e aos processos de leitura e
escrita. Assim, essa ação, deliberada e
intencional, aos poucos teve seus
resultados reconhecidos e ampliados. Os
principais produtos dessa história foram
duas teses defendidas, de Gehrke (2014) e
Oliveira (2014).
A tese de Gehrke (2014), analisa as
BE da Rede Estadual de Ensino do Campo
do estado do Paraná, na relação com a
conjuntura do Movimento da Educação do
Campo (Caldart et al., 2012), por meio de
um estudo de caso, encaminhado por
intermédio das categorias da análise de
conjuntura e da análise de conteúdo. Ao se
dirigir às contradições perceptíveis nesse
cenário, realiza uma análise de conjuntura,
para defender a tese de que escrever é um
modo de lutar e trabalhar.
Reconhecido o avanço da ciência da
informação e o aperfeiçoamento dos
sistemas a ela relacionados, com destaque
para as tecnologias educacionais e o livro
digital, entre outros acessórios midiáticos,
a tese aponta possibilidades para a BE no
contexto educativo do campo, assim como
para a formação de intelectuais orgânicos,
ledores escrevedores na escola e na BET;
apresenta contribuições à práxis para
transformar a BE em BET no contexto da
Educação do Campo; compreende a
relação entre a conjuntura da Educação do
Campo, as políticas públicas e a produção
do acervo dessa luta (1998 a 2013);
caracteriza a BE paranaense, seu espaço
físico e político, acervo e o trabalho dos
atores; concebe matrizes formativas para
os atores que atuam na BET e indica
princípios para produção da BET. Ao
ordenar o referencial bibliográfico a partir
das bases de dados da Brapci, Capes,
Unicamp e Unespar, o trabalho é
organizado em categorias teóricas BE,
BET, Educação do Campo, Cultura,
Conhecimento, Organização Coletiva e
Trabalho.
No campo empírico, produz os dados
a partir da análise dos documentos forjados
no Movimento da Educação do Campo
(1998 a 2013) e com o inventário da
realidade desenvolvido em 355 BE.
Verifica um crescente investimento em
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pesquisa e políticas públicas na área de
ciência da informação e produção de
tecnologias de informação, em contradição
com o que ocorre no campo educacional e
escolar, no qual a marginalização ainda é
frequente.
Considera os avanços na formulação
de políticas e legislações para o livro e a
BE, porém identifica contradições na sua
implementação, destacando de forma mais
efetiva a não universalização das
bibliotecas nas escolas públicas
paranaenses, como previa a Lei 12.244
de 24 de maio de 2010 (BRASIL, 2010).
Argumenta que a contribuição dos
movimentos sociais, sobretudo do MST, e
a produção do acervo ordenado na
Biblioteca da Educação do Campo
apontam para consideráveis contribuições
na projeção da BET, entre elas a práxis da
escrita coletiva com protagonismo dos
sujeitos em luta, os processos de
sistematização de experiências, a
publicação e circulação dos documentos
produzidos e a escrita com propósito de
vários gêneros do discurso.
A investigação evidencia elementos
desfavoráveis a uma práxis nas BEs e, ao
mesmo tempo, possibilita a criação e a
transgressão, ou seja, precisa-se fazer a BE
na realidade e dentro da conjuntura
possível. Para tal, se faz necessário o
envolvimento de todos os atores de uma
comunidade educativa participando, ainda
que esse envolvimento seja raso; ordenar a
BE da forma possível e que seja uma
ordenação adequada, com planejamento
próprio e pertinente e, ainda, ser pauta
permanente dos movimentos sociais do
campo e da escola. A tese de Gehrke
(2014) cumpriu um papel transformador,
evidenciando a impossibilidade da
inocuidade de uma pesquisa desse tipo,
portanto compreendemos como
acontecimento, em relação à práxis nas
bibliotecas das Escolas do Campo.
A tese de Oliveira (2014), utiliza
como metodologia dois questionários
destinados aos coordenadores pedagógicos
das Escolas Itinerantes e aos educadores
que lecionavam nos anos finais do Ensino
Fundamental e Médio, totalizando 40
indivíduos participantes da pesquisa e nove
escolas.
Desenvolvido no período de 2011 a
2014, o estudo identificou as concepções e
as práticas de leitura realizadas na
Educação Básica da Escola Itinerante que
migraram para o acampamento e as
práticas de leitura no acampamento que
migraram para a escola, demonstrando que
as práticas culturais da leitura se inter-
relacionam no interior do acampamento. A
observação focalizou as relações
estabelecidas, a partir da leitura, na escola
e no acampamento. Partindo de estudo
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exploratório voltado às Escolas do Campo
localizadas em áreas de acampamento da
Reforma Agrária do MST no Paraná, ela
revela, num resgate histórico acerca das
Escolas Itinerantes em seus aspectos
políticos e pedagógicos, um processo de
luta pela escola e pela educação, a
organização político-pedagógica e a
implementação dos Ciclos de Formação
Humana e dos Complexos de Estudo.
Ao analisar concepções e estratégias
de leitura, biblioteca, acervo e outros
elementos, a pesquisadora favorece a
compreensão do processo de leitura na
Escola Itinerante a partir de quatro
categorias: o educador e sua relação com a
leitura; a formação dos educadores para
estimular a leitura; as condições de
ocorrência de práticas da leitura; e o
significado da leitura na escola e no
acampamento. Os dois trabalhos doutorais
convergem para o movimento de
construção dos saberes e práticas escolares,
destacando as práticas de leitura, no
contexto da escola e da biblioteca.
As reflexões que podemos
depreender é que a partir das práticas
sociais realizadas no cotidiano do
Movimento, a construção dos saberes e das
práticas escolares, como a prática de leitura
e da escrita, ocorrem em ambiente cercado
por incertezas, pressões sociais, políticas e
econômicas. Isso se verifica, como
observaram os autores, a partir das práticas
sociais, da luta pela terra, pela educação e
pela escola, realizadas no cotidiano do
Movimento, como mostraremos na seção a
seguir.
Fazeres bibliotecários: do trabalhador e
seu perfil, às práticas na biblioteca da
Escola do Campo
Entendemos que a biblioteca é uma
construção social e humana, movida pelo
trabalho (Marx & Engels, 1986). Formas
de trabalho realizadas na BE, fazeres
bibliotecários ou os quefazeres (Freire,
1987), são conceitos que sustentam nossa
perspectiva de construção e luta pela BE
no contexto do campo (Caldart et al.,
2012). A pesquisa indica que no cenário
das BE atuam como trabalhadores desse
espaço um conjunto de atores:
“profissional específico”, “bibliotecário”,
“agente de leitura”, “secretário”,
“atendente de biblioteca”, “pessoa
responsável”, “funcionário”, “pedagogo”,
“diretor”, “professor”, “professor
readaptado”, “agente educacional”,
“trabalhador voluntário”.
A Lei 12.244 de 24 de maio de
2010, que dispõe sobre a universalização
das bibliotecas, em seu art. 3º determina
que “... os sistemas de ensino do País
deverão desenvolver esforços progressivos
para que a universalização das BEs, nos
termos previstos nesta Lei, seja efetivada
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num prazo máximo de dez anos, respeitada
a profissão de Bibliotecário” (Brasil,
2010).
O prazo, ao qual se refere a Lei
citada, não foi cumprido. Foram escassas
as ações dirigidas ao seu cumprimento,
como também faltam às escolas
infraestrutura e profissionais para a criação
das BE e sua efetiva gestão, como constata
Pereira (2018). Foi possível perceber,
segundo o autor, concepções
fundamentadas sobre o papel das
bibliotecas na escola, sobretudo em relação
ao processo de leitura e letramento.
Entretanto, elas não encontram respaldo ou
sustentação política para sua
materialização nos ambientes das escolas.
Dados empíricos e a própria
legislação comprovam que o professor é
contratado para sala de aula, o pedagogo e
o diretor para gestão pedagógica e
administrativa, respectivamente, assim
como todos os demais profissionais, cada
qual para uma função específica.
Questionamos: por que não ocorre a
contratação de profissionais para a
biblioteca da escola blica paranaense?
Teriam os atores hoje presentes na
biblioteca da escola preparo político-
técnico para exercer tal função? Não existe
legislação na área?
A esse respeito, verificamos que a
SEED, após a implantação do Sistema da
Rede de Bibliotecas Escolares Públicas
(Paraná, 2011), redige, no ano seguinte, a
Resolução 4534/2012, implementando o
sistema da rede por meio do programa
Pergamum, com o objetivo de informatizar
os acervos e os colocar em relação. Fez a
seleção de 500 escolas no estado para
participarem do projeto piloto e para tal
realizou três cursos à distância, visando
implantar o sistema e estabelecendo
demanda para contratação de agentes de
leitura para todos os turnos de
funcionamento das BEs (Paraná, 2011).
Segundo o documento, o agente de leitura
deveria apresentar habilidades e prazer
pela leitura, fazer parte do quadro
funcional da escola, um agente
administrativo ou um professor readaptado,
e participar da formação do programa. A
página eletrônica da SEED anunciou a
realização de três cursos de formação, em
2012, após os quais nada foi ofertado para
atender à Resolução. A implementação do
Sistema foi abandonada em seguida, sem
explicações para as escolas. A fim de
constatar se houve alguma iniciativa, entre
2013 e 2021, que retomasse a discussão a
respeito das BEs no âmbito da SEED,
realizamos uma breve consulta ao Canal do
Professor (2020), atual ferramenta online
que intenta promover o diálogo, a troca de
experiência e a formação continuada de
professores da rede estadual de educação
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do Paraná em tempos de pandemia, e
constatamos que, em 2020, dos incontáveis
vídeos postados diariamente no Canal
apenas um - Conexão Professor: A BE
engajada no incentivo da leitura - abordou
o fazer bibliotecário na escola. Trata-se de
um relato de experiência, organização e
promoção da leitura em uma BE no
Colégio Estadual José de Anchieta,
localizado na cidade de União da Vitória.
Essa constatação demonstra a ausência de
políticas para o trabalho e o trabalhador da
BE. Assim, iniciamos demarcando a
necessidade de estabelecer o perfil de
quem trabalha na BE. Um trabalhador que
articula no seu fazer educativo a escola e a
vida, o trabalho-estudo, a informação, o
saber e o conhecimento.
Todavia, lutar pela definição do
perfil desse sujeito e sua atuação na BE
precisa ser uma ação dos trabalhadores da
educação, dos movimentos sociais, das
Instituições de Ensino Superior (IES) e dos
atores da BE. Seu perfil atual, no contexto
escolar da Escola do Campo, está
amplamente diversificado, o que significa
indefinição. A BE vem sendo um espaço
educativo da escola sem a presença de
profissionais formados para tal fim, com
isso, desprestigiada e desvalorizada no
sistema educativo.
Assumir esta ação como um dos
princípios de produção da BET implicou
trazer para análise de conjuntura o
contexto investigado, ou seja, a realidade
da biblioteca da Escola do Campo, a partir
dos enunciados levantados na pesquisa, na
voz de quem trabalha na biblioteca da
escola, e os dados da literatura da área.
Esse trabalho gerou um quadro para
análise, o Quadro 1. Na primeira coluna,
apresentamos e nomeamos os atores que
trabalham na BE do campo, com dados do
questionário desenvolvido nas 355 BE das
Escolas do Campo, em 2014. Na segunda
coluna, indicamos o perfil desses atores,
sua formação e função na escola pública
paranaense, com base nos documentos da
SEED e nas respostas dos trabalhadores da
BE do campo ao questionário (2021).
Convém observar que nenhum deles é
oficialmente contratado no sistema para
atuar na BE do campo, mas todos
desempenham práticas/habilidades
indicadoras de um perfil possível. Por fim,
na terceira coluna, produzimos uma síntese
ou caracterização do que seriam traços do
perfil do trabalhador da BET, a partir da
literatura estudada e da projeção da BET.
O perfil do trabalhador da BET teria
três grandes dimensões em sua formação
como desafio, a dimensão profissional e
seu reconhecimento enquanto classe
trabalhadora; a dimensão política que
demarca seu trabalho nessa esfera da
formação humana; a dimensão pedagógica,
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um formador no campo cultural e escolar.
Esse trabalhador passa por um processo
formativo na prática cotidiana da
biblioteca, na formação inicial e
continuada nas universidades públicas e
assumido pelo Estado como trabalhador da
BE.
Quadro 1 - Relação entre o ator da BE e seu perfil e o perfil do trabalhador da biblioteca escolar do trabalho.
Ator da BE
investigada
Perfil dos atores da BE
Perfil do trabalhador da BET
Atendente de
biblioteca
Funcionário
Agente
educacional II
Secretário
Trabalhador. Profissional.
Profissão reconhecida no
sistema público. Concurso
público. Técnico na área.
Trabalhador
Profissional reconhecido no sistema público
Concursado
Técnico ou Graduado na área
Dirigente
Liderança
Pessoa Experiente
Educador
Educador Popular
Agente político
Animador cultural
Bibliotecário escolar
Mediador de leitura
Conhecedor da leitura
Pedagogo
Coordenador
Técnico e intelectual
Guia intelectual do leitor
Conhecedor do usuário ou comunidade de
usuários
Conhecedor do aparelho escolar.
Alfabetizador
Informador
Formador
Bibliotecário
Trabalhador. Profissional.
Graduado na área. Preparação
técnica. Mediador de leitura.
Agente de
leitura
Trabalhador. Experiência na
área. Conhecedor da leitura.
Mediador de leitura.
Pedagogo
Trabalhador. Profissional.
Profissão reconhecida no
sistema público. Coordenador.
Graduado na área. Concurso
público.
Diretor
Trabalhador. Dirigente.
Liderança. Cargo reconhecido
no sistema público.
Professor e
Professor
readaptado
Trabalhador. Profissional.
Mediador de leitura. Alguém
que ensina. Pessoa Experiente.
Profissão reconhecida no
sistema público. Graduado na
área. Concurso público.
Trabalhador
voluntário
Militante
Trabalhador. Voluntário.
Militante. Alguém da
comunidade.
Fonte: Gehrke (2014).
Esse princípio quer reafirmar a
necessidade da formação de um
profissional específico para na BE do
campo ou da cidade. Ele assume funções
do bibliotecário, mas se ressignifica na
função de um bibliotecário escolar que,
para Silva (2003), incorpora características
de pedagogo, por isso, pedagogia da
leitura. A relação entre biblioteca e leitura,
logo, no trabalho intelectual e leitor de
quem trabalha na biblioteca é frequente em
obras de Silva (1986; 1988; 2003),
Milanesi (1986) e Arguelles e Zapata
(2002), que insistem na qualificação deste
trabalho e do trabalhador. Essa
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qualificação pode ser a linha tênue entre a
formação ou não do gosto pela leitura.
Desse modo, essa função precisa ser
exercida por um profissional, formado
academicamente, com reconhecimento no
sistema público e com concurso específico
na área. A literatura analisada expõe esse
trabalhador como bibliotecário, pedagogo,
educador, também nas obras de Llano
(1997) e Freire (1984; 2001).
Campello et al. (2005), entre outros,
destaca em suas produções características
do perfil desse trabalhador, que são
amplas, complexas e desafiadoras.
Permeiam o trabalho técnico, pedagógico e
político, caracterizando o profissional
como um agente político, leitor,
coordenador, técnico e intelectual, guia
intelectual do leitor, conhecedor da
comunidade de usuários e do aparelho
escolar, animador cultural, informador.
Para Souza (2009), Maroto (2009) e
Campello et al. (2005), o trabalhador da
biblioteca precisa compreender seu
trabalho inserido no espaço do fazer
educativo ou da prática educativa. Sua
realização demanda planejamento e
condições de execução, para que seu fim -
a pesquisa escolar, a leitura, o trabalho
socialmente necessário, o autosserviço,
seja possível.
Para a BET, outros aspectos marcam
e incorporam a definição do perfil desse
trabalhador. Destacamos seu compromisso
político e militância na causa da BE do
campo, a capacidade de ser dirigente, líder
e educador popular, pois a BET se coloca
como espaço aberto à comunidade
(Rigobelo & Di Giorgi, 2009),
transgredindo o estabelecido, atende alunos
e se faz espaço da informação, do
conhecimento e da cultura no sentido
amplo (Milanesi, 1986; Maroto, 2009),
para o conjunto de atores da escola e seu
entorno.
Sobre o trabalho ou o fazer
bibliotecário exemplificamos práticas
executadas nas BE do campo (Gehrkw,
2014), como: ordenar o espaço possível na
escola e denominá-lo BE; escolher um
nome significativo para ela e fazer a
inauguração com uma grande festa;
ordenar o acervo de alguma forma e
orientar os estudantes e professores para o
uso; informatizar os dados; planejar o
trabalho em parceria com os atores-
sujeitos, acolhendo necessidades e
interesses; fazer o processo de auto-
organização dos estudantes e dividir o
trabalho da BET; mapear os interesses de
leitura; produzir e aprovar em assembleia o
regimento da BE; divulgar o acervo junto à
comunidade; pautar e reivindicar acervo
junto aos órgãos competentes; reivindicar
recursos para publicar produção local;
vivenciar práticas de leitura - seminários,
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recitais, rodas de leitura, contação de
histórias; fazer a contação de causos do
local; trazer escritores e pessoas que
escrevam para dar depoimentos nas BEs;
trazer os mais velhos para BE, torná-los
contadores de histórias; ensinar a pesquisa
escolar na BE e nas salas de aula; fazer a
memória da ocupação, por meio da escrita
e da imagem; transformar a BE em BET.
Mas, fundamentalmente, esse
trabalhador precisa estar aberto a
transgredir com a forma da BE,
produzindo, a partir do planejamento, a
BET, que precisa articular na sua ação a
escolarização e desescolarização do seu
trabalho. Aspectos ainda colocados
enquanto desafio no tempo da pandemia. O
que teriam realizado as BEs do campo
nesse tempo?
A Covid-19 como um acontecimento:
impactos e mudanças
Ao estabelecermos o elo entre os
dados apresentados nas teses citadas, o
questionário e o contexto da
pandemia como acontecimento gerador de
transformações, entendemos que
ela provocou percepções e reações, como
respostas às necessidades dos atores,
dentro das possibilidades reduzidas nas
Escolas do Campo, tornadas ainda mais
escassas em tempos de pandemia. Estes
tempos e cenário fertilizam as forças
orientadas pelas desigualdades sociais e
econômicas.
Inspirados em análise de conjuntura
(Souza, 2009), temos o cenário das Escolas
do Campo, de modo especial as de
assentamentos, onde transitam atores
atuantes na escola e nas bibliotecas,
professores, alunos, pessoal de apoio e
órgãos institucionais, chamados de atores-
sujeitos, com destaque para a SEED do
Paraná, no caso atual.
Em palestra, exatamente um ano,
Silva (2020) realizou um apanhado
histórico acerca do tema e debateu sobre
novos formatos para conquistar e atrair o
público, em prol da preservação da
imagem das bibliotecas como células vivas
de conhecimento. De acordo com o
palestrante, não faria sentido uma BE sem
estudantes e professores e o grande desafio
naquele momento, e acreditamos ser ainda
hoje, teria sido encontrar uma interface
possível para atrair o público no período de
pandemia, isso porque, segundo argumenta
o autor “a leitura não deve ser relacionada
apenas com o livro escrito” e ele identifica
outros formatos e suportes possíveis como
cordéis, imagens e áudios. O encontro
suscitou reflexões sobre os impactos da
pandemia nos trabalhos educativos e
mostrou a necessidade da virtualização das
atividades por meio de softwares,
tecnologias digitais e mudanças nas
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interações sociais entre professores,
bibliotecários e alunos. Embora suas
sugestões tenham sido previstas para um
período de pandemia, no nosso imaginário,
elas valem para hoje e têm sido pensadas
durante um ano, período de construção de
práticas diferenciadas e do repensar dessas
práticas em cenário de reclusão e
confinamento, tal qual o cenário de um
acampamento, no qual a provisoriedade se
destaca como ocorre na pandemia.
Esse repensar em relação às
possibilidades de interações híbridas em
espaços organizados de leitura e criação de
conhecimento pode sugerir formas de
adaptações e reconfigurações nas BE,
“transformando-as em espaços de inclusão
tanto para ações tradicionais ligadas à arte
e cultura, como também para conteúdos
digitais”, conforme sugere Silva (2020).
Além das ações tradicionalmente
realizadas, passíveis de se tornarem
remotas e previstas para os tempos de
pandemia, ele apresentou modos de
organização do conteúdo impresso com
absorção de possibilidades das ferramentas
oferecidas pela tecnologia, cujo potencial
para conquistar os alunos tem se ampliado
a ponto de incentivar práticas de iniciação
científica, de incentivo à leitura, da cultura
e da cidadania.
Se o estudo nas Escolas do Campo
sempre demandou e continua demandando
esforços e persistência, pois suas condições
não têm sido favoráveis para quem busca
aprender as letras e os números, imagine-se
em tempos de pandemia, quando as
bibliotecas perdem seu espaço de atuação,
para se tornarem virtuais. Nesse sentido, há
situações em que os professores de Língua
Portuguesa, na tentativa de estimular a
leitura e o acesso aos livros virtuais,
organizam links, que denominam de
“bibliotecas virtuais”, que contêm obras de
variados gêneros selecionados por cada
professor, e que ficam disponíveis em seu
Drive particular, aproveitando o momento
em que editoras e autores liberam o acesso
às suas produções de forma gratuita.
Na perspectiva das Escolas do
Campo é preciso dizer, também, que nos
últimos anos essas escolas no Brasil vêm
deixando de funcionar e muitas crianças e
adolescentes migraram para escolas
distantes de suas casas, num movimento
chamado de nucleação ou fechamento de
escolas. Hammel et al. (2021) traz dados
atuais sobre o fechamento de escolas
públicas municipais e estaduais no Paraná
e indica que o período mais intenso dessa
prática foram as décadas de 1980 e 1990, e
vincula o mesmo com o fenômeno do
êxodo rural para o urbano e a política do
transporte escolar que favoreceu a política
de fechamento de escolas rurais. Quando
elas não são fechadas sofrem a nucleação,
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enturmação, multisseriação, entre outros
meios utilizados pelo governo para
otimizar o sistema de educação pública.
Pesquisa similar aponta que de 1997 a
2017 no estado do Paraná foram
fechadas 4.083 Escolas do Campo
(Reichenbach, 2019), nos sistemas
municipais e estadual, sendo que no Brasil
superou 55 mil escolas fechadas.
Outra dificuldade não restrita às
práticas de ensino no campo é a exclusão
digital, situação favorável à desigualdade
social. Segundo pesquisa TIC Domicílios
2019, lançada pelo Comitê Gestor da
Internet no Brasil (CGI.br), por meio do
Centro Regional de Estudos para o
Desenvolvimento da Sociedade da
Informação (Cetic.br) (2020) do Núcleo de
Informação e Coordenação do Ponto BR
(NIC.br), três em cada quatro brasileiros
utilizam a internet, ou seja, o Brasil conta
com 134 milhões de usuários de internet,
representando 74% da população com 10
anos ou mais.
Apesar do aumento na proporção da
população brasileira usuária da internet,
cerca de um quarto dos indivíduos (47
milhões de pessoas) seguem
desconectados. Pela primeira vez na série
histórica da pesquisa, mais da metade da
população vivendo em áreas rurais
declarou ser usuária de internet alcançando
o patamar de 53%, entretanto, contingente
significativo segue desconectado: 35
milhões de pessoas em áreas urbanas
(23%) e 12 milhões em áreas rurais (47%).
Entre a população quase 26 milhões
(43%) de não usuários.
O celular é o principal dispositivo
para acessar a internet, usado pela quase
totalidade dos usuários da rede (99%). A
pesquisa ainda ressalta que 58% dos
brasileiros acessam a rede exclusivamente
pelo telefone móvel, proporção que chega
a 85%. O uso exclusivo do telefone celular
também predomina entre a população preta
(65%) e parda (61%), diante de 51% da
população branca. De acordo com a TIC
Domicílios houve um crescimento no uso
da rede pela televisão (37%), um aumento
de sete pontos percentuais em relação ao
ano de 2018. A Cetic.br. ainda pontua que:
Com o isolamento social, medida de
prevenção a Covid-19, milhões de
brasileiros passaram a depender
ainda mais da Internet e das TIC de
maneira geral para realizar atividades
de trabalho remoto, ensino à
distância e até mesmo para acessar o
auxílio emergencial do governo. Mas
a falta de acesso à Internet e o uso
exclusivamente por celular,
especialmente nas classes D e E,
evidenciam as desigualdades digitais
presentes no país, e apresentam
desafios relevantes para a efetividade
das políticas públicas de
enfrentamento da pandemia. A
população infantil em idade escolar
nas famílias vulneráveis e sem acesso
à Internet também é muito afetada
neste período de isolamento social. A
pandemia revela de forma clara as
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desigualdades no Brasil (Cetic.br.,
2020).
O estudo também destaca que 43%
das Escolas do Campo afirmaram não
contar com a internet por falta de estrutura
na região e 24% apontaram o alto custo da
conexão, enquanto, na zona urbana, 98%
das escolas têm ao menos um computador
com acesso à internet, mas nas escolas
rurais o índice cai para 34%. A mesma
pesquisa apontou que entre a população
analfabeta ou que frequentou a
educação infantil, 83% nunca acessaram a
rede. Quando se olha para pessoas que
tiveram o ensino fundamental, o índice
cai, mas ainda assim é elevado: 35%.
Uma pesquisa realizada em
Borborema (SP), pela Associação de
Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-
PTA) (2020), apresenta dados de um
estudo em campo, sobre a situação do
ensino remoto em 11 municípios. Os
depoimentos corroboram: professoras
cansadas do aumento de atividade e com a
lida com a tecnologia que muitas não
tinham tanta intimidade, pais estafados por
assumirem também o papel de
intermediação nos estudos dos filhos,
quando muitos nem tem estudo para isso.
É uma situação muito delicada. Os
pais se viram numa pressão. Eles não
têm obrigação de ensinar e sim de
oferecer a escola e oportunidade de
os filhos estudarem. E o ensino
remoto não é a mesma coisa, não tem
o mesmo rendimento. As
videochamadas são desgastantes
demais. Algumas vezes, perguntamos
às crianças e escutamos uma pessoa
dizendo a ela a resposta. É uma
delicadeza gigante que temos que
lidar. Confessa a professora Jaqueline
Moreira de Brito, que ensina 16
anos em escolas do campo (AS-PTA,
2020).
Nesse sentido, algumas instituições
foram contribuindo na superação dessa
problemática enfrentada pelas famílias e
escolas. Fundada 25 anos, a Recode é
uma sociedade civil presente em nove
países com 1.152 centros de
empoderamento digital e atingiu mais de
1,752 milhão de pessoas. Atua em parceria
com centros comunitários, escolas públicas
e bibliotecas para desenvolver nos jovens
habilidades digitais e competências
socioemocionais, estimulando o
protagonismo e o potencial da nova
geração como agentes de transformação
social. O desafio da organização é ampliar
oportunidades de jovens em situação de
vulnerabilidade social por meio do uso
qualificado e consciente da tecnologia,
pois acredita na biblioteca como um local
receptivo, permanecendo de portas abertas
para envolver a comunidade em atividades
literárias e educacionais. Mesmo com a
chegada da pandemia, onde os espaços
precisaram ficar fechados ou passar por
adaptações, os trabalhos não pararam.
Instituições demonstraram muita
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criatividade no engajamento online por
meio do Desafio Bibliotecas em Casa da
Recode
iii
.
Em outro cenário específico, a
comunidade quilombola Moinho Velho,
localizada no município de Senhora do
Porto (MG), também foi alvo de pesquisas
neste período, como se pode observar na
leitura de Gomes (2021), que traz o relato
de Laisa Soares, de 18 anos: “Disseram
que eu formei. Na verdade, ano passado
todo eu só recebi algumas atividades da
escola. Acabou o ensino médio para nós.
Agora, a gente fica à espera de um
emprego como babá ou faxineira”. Como
podemos analisar na trajetória de Laisa,
enquanto muitos se preparam para entrar
em universidades, a realidade dela e dos
demais jovens que vivem no quilombo é
oposta.
Essa comunidade foi uma das três
visitadas pela Federação das Comunidades
Quilombolas do Estado de Minas Gerais
(N’Golo)
iv
e pelo Jornal Brasil de Fato. A
jovem quilombola relata sua preocupação
com os estudos: “Como vou me preparar
para o Enem? O terceiro ano eu
praticamente não fiz. Simplesmente me
mandaram algumas atividades e me
aprovaram”, explica Laisa Soares.
Em razão da pandemia, as escolas
optaram por aulas online, inacessíveis em
Moinho Velho e em tantas outras
comunidades quilombolas do estado em
razão da falta de internet adequada. “A
gente acessa a internet aqui pelo celular.
Às vezes para ver alguns vídeos no
YouTube e para mexer no WhatsApp.
Só”, conta a estudante.
A pandemia acentuou um velho
problema na comunidade: a não
continuidade nos estudos. Na região as
escolas não preparam estudantes, como
Laisa, para ingressar na graduação, ela
desconhecia seu direito à política de cotas
e aos auxílios financeiros concedidos pelas
universidades para estudantes de baixa
renda.
A realidade descrita por Laisa
infelizmente não é uma exceção, ao
contrário, em tempos de pandemia parece
ter se tornado a regra. Essa constatação se
faz presente em relatos de professores, em
mídias digitais, que a partir de observações
empíricas, no fazer pedagógico cotidiano
em sala de aula virtual no modelo
videochamada, constatam que àqueles que
têm acesso à internet, em sua maioria
residem na cidade, já no caso dos pequenos
municípios a rede de internet, de modo
geral, não chega a todos os cantos e a
qualidade do sinal deixa a desejar,
sobretudo no campo. Para esses estudantes
restam as atividades impressas e os livros
didáticos como únicos suportes. Além
disso, os alunos que vivem no e do campo
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durante a pandemia foram segregados da
cidade, pois muitos dependem do
transporte escolar para se deslocarem até
ela e, sendo assim, o têm meios de
acessar a BE e nem a biblioteca municipal.
Ao refletirmos acerca da fala de
Laisa, na questão do trabalho, é possível
afirmarmos que em muitos casos,
sobretudo nesse período da pandemia, o
emprego vem antes mesmo da conclusão
do Ensino Médio. A pandemia tem
contribuído com o fato dos adolescentes do
campo e da cidade serem cooptados pelo
mercado de trabalho informal, nos
pequenos municípios isso é facilmente
verificado. Eles formam a mão de obra
barata, não especializada e carente, pois
buscam uma fonte de renda para auxiliar
sua família que agora, por exemplo, não
pode participar de feiras do produtor para
vender o excedente da produção no campo,
outros passam a se dedicar aos trabalhos
dentro da propriedade, enquanto outros
buscam a tão almejada independência
financeira. Por esses motivos acabam
optando pelo trabalho e não pela escola. O
tempo do trabalho tem roubado de muitos
jovens que vivem no/do campo o tempo da
escola e, portanto, da leitura.
Em vista dessas considerações, a
pandemia como acontecimento trouxe para
o cenário novos desafios para escola com o
trabalho remoto e para a BE a exigência de
um novo fazer. Como pressuposto para
justificar e articular a práxis da BET,
elegemos o alerta de Milanesi (1986, p.
233) ao apontar para a dimensão da
serventia de uma biblioteca, dada pela
forma como atua nos movimentos
coletivos da população. Ela é pública, a
serviço do público e poderá ser útil no
instante em que se relacionar
dialeticamente com esse público.
A ideia de elaborar uma entrevista
relâmpago foi gerada a partir das
dificuldades de contato com os
trabalhadores das bibliotecas, as pessoas
encarregadas de organizar e coordenar
atividades relativas ao fazer bibliotecário,
em meio às condições de cada uma das
escolas, precarizadas ainda mais pela
pandemia. Assim, foi enviado ao
trabalhador da BE do campo, ou para
direção da Escola do Campo, o pedido de
colaboração com a pesquisa sobre “as
possibilidades do fazer bibliotecário diante
dos impactos e mudanças causados pela
Pandemia de Covid-19 no Cenário da BE
do campo”. Solicitamos a resposta por
escrito, às questões a seguir expostas, com
o compromisso de que os dados serão
socializados por meio de relatório
investigativo e artigo científico.
As respostas à primeira pergunta
reforçam o observado em relação à
situação crítica das bibliotecas. Quando
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questionado o que vem acontecendo com a
BE do campo no cenário pandêmico, as
respostas são várias, mas o fundamento é o
mesmo: o Colégio 1 refere-se apenas à
troca dos livros de leitura quando os
estudantes vinham buscar a merenda ou
material impresso, durante o ano de 2020;
o Colégio 2 destaca que a biblioteca está
fechada, porém, os educadores estão
organizando leituras e livros para cada
criança ler em suas casas; no Colégio 4 a
biblioteca permaneceu fechada no período
pandêmico. Alguns professores de
Português fizeram discussões com alunos
de obras virtuais, mas a biblioteca esteve o
tempo todo fechada.
O Colégio 3 destaca muita
dificuldade com a organização da
biblioteca, a disposição do governo de
terceirizar os funcionários, aliada à
pandemia, levou a não contratação de
profissionais administrativos, de maneira
que todos os funcionários foram realocados
para a impressão, separação e entrega de
atividades para o ensino remoto e, também,
para a distribuição da merenda às famílias.
Essa é uma forma atual ou moderna de
deixar de lado a BE na organização do
trabalho pedagógico. o Colégio 5 traz
um elemento novo, “não houve procura
dos alunos e nem projetos por parte da
direção e coordenação para incentivar a
leitura neste período”, aspecto que mostra
que a BE do campo ainda não foi assumida
como espaço educativo na escola. Houve
grande investimento em impressões de
atividades, e os livros didáticos guardados,
nem mesmo este documento, com tanto
poder na escola e na biblioteca, teve força
de uso nesse momento pandêmico.
No Colégio 7, “não houve
encaminhamentos para leitura, ou os
empréstimos de livros. Foi uma falha. Mas
podemos fazer esse ano”. A pesquisa
colaborou com um despertar para a
possibilidade de contribuição da biblioteca
e seu acervo num contexto como esse, ou
seja, a biblioteca precisa se atualizar e se
especializar em cada contexto ou realidade.
Quanto à posição do Estado na
orientação das escolas para o uso ou não da
BE, verificamos a falta de orientação. O
Colégio 1 destaca “Não tocou no assunto a
não ser pra dizer que era pra ficar
fechada”; Colégio 2 afirma que “Não teve
nenhuma instrução do estado ou
município”.
No campo da atuação da BE durante
a pandemia, interrogamos às Escolas do
Campo se elas vêm realizando algum
trabalho educativo, pedagógico e
formativo. O Colégio 1 destaca que “Na
escola todo ano mudam os funcionários/as
e os que vêm não m formação em
biblioteconomia, trabalham conforme as
orientações e demandas da escola”,
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evidenciando que segue a velha
problemática. O Colégio 3 descreve como
procede “[...] a cada envio de atividades,
de 15 em 15 dias durante todo o ano letivo
de 2020, os estudantes levaram um livro
para casa, levavam também uma ficha de
leitura para fazer breves observações sobre
a leitura”, e acrescenta, “no entanto, devido
à pandemia, não permitimos a escolha do
livro por parte do estudante, que era
impossível a assepsia do material e não
temos luvas para fornecer aos estudantes
para o manuseio do material”. O Colégio 6
mostra que a biblioteca está sendo pouco
utilizada, como demonstram as respostas
anteriores, pois apenas são usados “livros
de pesquisa e literatura escolhidos pelos
professores e encaminhados para as
crianças. Os professores estão utilizando
da internet, pois como o ensino está sendo
orientado via WhatsApp, são colocadas
sugestões de leituras, links para pesquisas e
vídeo”. Já o Colégio 7 aproveita a pesquisa
para uma denúncia: “Seria interessante
colocar aqui que não temos bibliotecário e
que essa função de estímulo e incentivo
fica a cargo das educadoras. A equipe
pedagógica e a secretária na maioria das
vezes organizam o espaço bibliotecário
com o auxílio da comunidade”.
Em relação à pergunta sobre quem
tem atuado como trabalhador da BE do
campo nesse período pandêmico, com
trabalho remoto, os colégios são unânimes
em dizer que não contam com
bibliotecários e quem realiza o trabalho, na
atualidade, é um funcionário da escola (o
agente II), noutros casos os próprios
professores ou a direção da escola. São
unânimes, também, em dizer que, com o
ensino remoto, esses sujeitos são
realocados no trabalho de impressão de
atividades e a biblioteca fica fechada.
Podemos ver o limite de compreensão
(Freire, 1987) de quem faz a gestão da
escola para com o acervo da biblioteca e
seu uso pelos usuários. O conhecimento
sistematizado fica trancado mais uma vez,
e as atividades ‘soltas’ ganham lugar. A
leitura do livro espaço para “leitura de
folhas” e, o mais grave, mesmo depois da
aprovação da lei de obrigatoriedade da
biblioteca em escolas, a escola segue sem
trabalhadores específicos para BE.
Como podemos ver, a pandemia se
colocou como forte impeditivo de um fazer
bibliotecário, permanecendo os desafios
das políticas e das práticas escolares com
livros e leitura em contextos específicos.
Considerações
Se a conjuntura era desfavorável
para as Escolas do Campo, com as
ameaças de fechamento, nucleação,
agrupamento de turmas e turnos, a
pandemia com o trabalho remoto síncrono
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e assíncrono foi na atualidade um dos
maiores impactos causados na vida de
quem ensina e de quem aprende. A escola
foi fechada certamente para outras tantas
dimensões do processo educativo e
formativo.
O trabalho remoto trocou a sala de
aula pela tela de aula e, pela solidão
daqueles que têm acesso ao material
impresso como único meio de garantir o
ano letivo e a aprendizagem. Sem dúvida,
todas essas novas situações de
“aprendizagem” têm um grande impacto
nos modos de ensinar e aprender.
Professores e estudantes que têm acesso,
mesmo que precário, foram desafiados ao
uso das tecnologias virtuais de modo
exaustivo.
Quanto aos professores, é preciso
cumprir com a carga horária de trabalho
seja 40, 30 ou 20 horas, além de cumprir
com uma série de outras tarefas de carácter
burocrático que tiram o foco do trabalho
pedagógico. As tecnologias virtuais,
também, adquiriram outras funções, para
além de promover o acesso à educação em
tempos de pandemia, elas têm servido
como forma de controle, pois ao emitir
dados colocam em questão a autonomia
dos professores e a veracidade do tempo
trabalhado e do aprendizado dos alunos.
Nas Escolas do Campo a dinâmica do
ensino remoto síncrono é quase
impossível, colocando os estudantes que
vivem e estudam no campo novamente em
situação de exclusão.
O incentivo ao uso das tecnologias
virtuais seria positivo se as políticas
públicas e educacionais tivessem criado as
condições para tal. A denúncia dos
questionários destaca justamente os limites
impostos pela falta de uma internet de
qualidade nos contextos rurais que
impactam fortemente a vida dos escolares
camponeses, indígenas, quilombolas, entre
outros tantos contextos e sujeitos
periféricos.
A análise da situação, diante da
documentação e das referências
relacionadas à problemática do trabalhador
da BE, permitiu inferir o agravamento da
situação da BE do campo com a pandemia.
Agora nem mesmo o agente II permanece
nesse espaço atuando, pois foi realocado
para o trabalho de impressão e organização
das atividades remotas, entre outras tarefas
impostas pela falta de funcionários e pela
pandemia, como o controle dos portões das
instituições. O apostilamento precarizado
do material didático ocupou inclusive o
lugar do livro didático, que ficou guardado
em algumas situações e que em outras é o
único recurso que os estudantes têm para
realizarem suas atividades impressas. As
obras literárias tiveram mais espaço e, em
muitas experiências, elas foram
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distribuídas para o trabalho de leitura. Ler
no celular ou no computador ocupou
fortemente o lugar de ler o impresso,
aspecto que pode favorecer a formulação
de políticas para produção de livros
digitais para o acervo da biblioteca, logo, o
fazer bibliotecário.
Diante dos resultados reunidos após
a análise do questionário e do comparativo
com os dados apresentados nas teses
citadas, fica explícito que passados dez
anos da nossa visita às Escolas do Campo
e, apesar da Lei 12.244, a realidade das
BE, no que diz respeito ao fazer
bibliotecário e à situação do bibliotecário
no estado do Paraná permanece sem
alterações quanto aos aspectos estruturais e
à ausência de políticas efetivas de apoio às
práticas de leitura. Embora o contexto de
isolamento social e o ensino mediado por
tecnologias possa sinalizar para a criação
de condições alternativas no sentido de
assegurar o papel das bibliotecas como
veiculadoras da informação e do
conhecimento, isso não ocorre, apesar do
empenho de alguns entrevistados.
Percebemos como se acentua a situação de
precariedade, impeditiva de ações e
atividades capazes de incentivar a leitura e
disseminar recursos pedagógicos de apoio
às BEs e escolares-comunitárias. A
pandemia, com todas as medidas
necessárias para o bem coletivo,
evidenciou fragilidades e, dentre elas, as
das práticas na BE.
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Vozes.
i
Fazer bibliotecário, aqui entendido como o
trabalho do bibliotecário. No caso das escolas
paranaenses, não existe a presença desse sujeito na
biblioteca escolar.
ii
A referência à Secretaria de Educação do Estado
do Paraná ocorre de duas formas neste texto:
Secretaria de Estado da Educação e do Esporte,
nomenclatura atual, a partir da gestão 2019, e
Secretaria de Estado da Educação, denominação
utilizada anteriormente a 2019. Ambas são
identificadas com a mesma sigla - SEED.
iii
https://recode.org.br/
iv
A N’Golo visitou o quilombo para finalizar um
projeto de gestão territorial e ambiental, executado
em parceria com o Centro de Agricultura
Alternativa do Norte de Minas (CAA) e a
organização Dedicated Grant Mechanism for
Indigenous Peoples and Local Communities,
resultando em uma cartilha sobre os direitos
quilombolas.
Informações do Artigo / Article Information
Recebido em : 19/06/2021
Aprovado em: 18/08/2021
Publicado em: 30/10/2021
Received on June 19th, 2021
Accepted on August 18th, 2021
Published on October, 30th, 2021
Contribuições no Artigo: Os autores foram os
responsáveis por todas as etapas e resultados da
pesquisa, a saber: elaboração, análise e interpretação dos
dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito
e; aprovação da versão final publicada.
Author Contributions: The author were responsible for
the designing, delineating, analyzing and interpreting the
data, production of the manuscript, critical revision of the
content and approval of the final version published.
Conflitos de Interesse: Os autores declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Avaliação do artigo
Artigo avaliado por pares.
Article Peer Review
Double review.
Agência de Fomento
Não tem.
Funding
No funding.
Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Oliveira, D. C., Bufrem, L. S., & Gehrke, M. (2021).
Impactos e mudanças causados pela pandemia de Covid-
19 no fazer da biblioteconomia: cenário da biblioteca
escolar do campo. Rev. Bras. Educ. Camp., 6, e12478.
http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e12478
ABNT
OLIVEIRA, D. C.; BUFREM, L. S.; GEHRKE, M. Impactos
e mudanças causados pela pandemia de Covid-19 no
fazer da biblioteconomia: cenário da biblioteca escolar do
campo. Rev. Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 6,
e12478, 2021. http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e12478