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Esse ‘lugar do saber’ que também é
lugar de proteção e encontro é mais do que
tudo um sítio de pertencimento para estes
sujeitos sociais:
Ainda assim, os atores locais buscam
formas de conexão de modo a
continuarem a jogar o jogo da vida
emergencial. Essas variadas formas
cambiantes de colaboração “atuam
tanto de forma reativa como proativa
em relação a decisões de instâncias
de governo, continuadamente
posicionando e reposicionando as
localidades no sistema urbano como
sítios de pertencimento comunitário”.
(Bartholo et al., 2014, p. 34).
Aqui são nossos protagonistas os
educadores musicais, esses que são os
senhores de seus destinos e se
disponibilizam de forma desnuda para
cuidar de maneira irmanada do futuro dos
demais que ali coexistem. Por isso, é
preciso propormos um outro olhar para
estes mundos existenciais, um olhar para
além do noticiário, para além do saber raso
do aspecto geográfico como nos chama
atenção Meirelles e Athayde (2014, p.
135):
Em trânsito pela imensa rede de
favelas nacionais, um observador
atento encontrará mais operários,
comerciantes, guardas noturnos,
office boys, diaristas, motoristas,
cabeleireiras, auxiliares de escritório
e costureiras do que bandidos
profissionais. São estes últimos, no
entanto, que servem como referências
icônicas das comunidades. A
reprodução obsessiva desse
estereótipo se deve, sobretudo, ao
roteiro do noticiário policial
espetacularizado. Na falta de
conhecimento profundo sobre o
assunto, apela-se ao modelo raso de
representação, já impresso na
memória coletiva.
Por isso, é premente alargar as
temáticas da pesquisa em música,
buscando perceber algumas práticas
musicais por vezes invisibilizadas e
marginalizadas. Um olhar mais amplo
pode levar a obter diferentes
entrecruzamentos do saber musical
interposto nestas localidades, como
esclarece Meirelles e Athayde (2014, p.
22):
E sempre foi sobretudo o espaço
onde se produziu o que de mais
original se criou culturalmente nesta
cidade: o samba, a escola de samba, o
bloco de carnaval, a capoeira, o
pagode de fundo de quintal, o pagode
de clube. Mas onde se faz outro tipo
de música (como o funk), onde se
escrevem livros, onde se compõem
versos belíssimos ainda não
musicados, onde se montam peças de
teatro, onde se praticam todas as
modalidades esportivas, descobrindo-
se novos significados para a capoeira,
misto de dança, esporte e luta
ritualizada.
Estes lugares que gestam outras
maneiras de aprender e ensinar música
acabam por permitir a manutenção de uma
outridade pedagógica, como descreve
Brasil (2019, p. 41):
Diante dessa preferência dos jovens
pela prática musical, cresce ainda
mais a nossa responsabilidade não só