Revista Brasileira de Educação do Campo
Brazilian Journal of Rural Education
ARTIGO/ARTICLE/ARTÍCULO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e12486
Tocantinópolis/Brasil
v. 6
e12486
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2021
ISSN: 2525-4863
1
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Práticas e saberes no ensino blico superior no
Recôncavo baiano
Francisca Helena Marques
1
, Jorge Luiz Ribeiro de Vasconcelos
2
, Sólon de Albuquerque Mendes
3
1, 2, 3
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB. Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas
(CECULT). Rua General Argôlo, Centro. Santo Amaro - BA. Brasil.
Autor para correspondência/Author for correspondence: franciscahelena@ufrb.edu.br
RESUMO. Apresentaremos neste artigo três recortes de
atividades relacionadas ao Centro de Cultura, Linguagens e
Tecnologias Aplicadas (CECULT/UFRB), através da atuação de
três docentes do referido Centro (Francisca Helena Marques,
Jorge Luiz Ribeiro de Vasconcelos e Sólon de Albuquerque
Mendes). Todas as atividades têm em comum a preocupação
com o processo de interiorização do ensino público superior e a
inserção dos saberes do meio rural articulados através de ensino,
pesquisa e extensão. Vale ressaltar que o CECULT possui
muitos discentes oriundos de comunidades rurais dos municípios
do Recôncavo Baiano, sendo oportuno nos debruçarmos sobre
estas práticas e trocas de saberes que ocorrem no processo de
interiorização do ensino público superior. Adotamos uma
abordagem metodológica mista, envolvendo aspectos da
pesquisa experimental, bibliográfica, fenomenológica,
qualitativa, quantitativa. Em relação aos resultados, podemos
observar mais de perto o perfil dos nossos discentes, e através
disto, construir uma relação mais dialógica entre educadores e
educandos.
Palavras-chave: educação, música popular, práticas educativas.
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Practices and knowledge in public higher education in the
Bahia Recôncavo
ABSTRACT. In this article we will present three excerpts of the
activities related to the Centro de Cultura, Linguagens e
Tecnologias Aplicadas (CECULT/UFRB), through the
performance of three professors of this Center (Francisca Helena
Marques, Jorge Luiz Ribeiro de Vasconcelos and Solon de
Albuquerque Mendes). All the activities have in common the
concern for the process of bringing public higher education to
the interior of the country and the insertion of knowledge from
the rural environment, articulated through teaching, research and
extension. It is noteworthy that CECULT has many students
from rural communities in the municipalities of Recôncavo
Baiano, and it is appropriate to deepen these practices and
exchanges of knowledge that occur in the process of
internalization of public higher education. We adopt a mixed
methodological approach, involving aspects of experimental,
bibliographical, phenomenological, qualitative, quantitative
research. Regarding the results, we can observe more closely the
profile of four students, and through this, build a more dialogic
relationship between educators and students.
Keywords: education, popular music, educational practices.
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Prácticas y conocimientos en la educación superior pública
en el Recôncavo de Bahia
RESUMEN. En este artículo presentaremos tres extractos de las
actividades relacionadas con el Centro de Cultura, Linguagens e
Tecnologias Aplicadas (CECULT/UFRB), a través de la
actuación de tres profesores de ese Centro (Francisca Helena
Marques, Jorge Luiz Ribeiro de Vasconcelos y Solon de
Albuquerque Mendes). Todas las actividades tienen en común la
preocupación por el proceso de llevar al interior del país la
educación superior pública y la inserción de saberes del medio
rural, articulados a través de la docencia, la investigación y la
extensión. Es de destacar que CECULT tiene muchos
estudiantes de comunidades rurales en los municipios de
Recôncavo Baiano, y es oportuno profundizar en estas prácticas
e intercambios de conocimiento que se dan en el proceso de
interiorización de la educación superior pública. We adopt a
mixed methodological approach, involving aspects of
experimental, bibliographical, phenomenological, qualitative,
quantitative research. Regarding the results, we can observe
more closely the profile o four students, and through this, build a
more dialogic relationship between educators and students.
Palabras clave: educación, música popular, practicas
educativas.
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Introdução
O presente trabalho tem por objetivo
descrever e relacionar as ações
desenvolvidas por três docentes do
CECULT/UFRB, através de recortes de
suas pesquisas, que possuem relações
intrínsecas com a temática da educação no
campo. Através destes relatos, as ações
demonstram aspectos em comum, como o
diálogo entre ensino, pesquisa e extensão,
como forma de entender as vicissitudes e
demandas da interiorização do ensino
superior no Brasil. Por se tratar de um
centro interdisciplinar, o CECULT
possibilita aos seus docentes e discentes
trabalharem dentro de uma perspectiva
dialógica e abrangente, sendo assim,
podemos dizer que utilizamos várias
abordagens metodológicas, que
eventualmente foram utilizadas de maneira
mista. Dentre as abordagens
metodológicas, podemos citar as seguintes:
experimental, bibliográfica,
fenomenológica, qualitativa e quantitativa.
Quando o campo é o campo:
perspectivas etnográficas para a
educação em artes
As presentes reflexões deste item são
advindas de experiências de pesquisa e
prática nas artes musicais com ênfase e
aprofundamentos na ideia de etnografia.
Como método de trabalho baseado na
observação de realidades culturais e grupos
sociais, com ênfase na obtenção de dados
específicos através da ferramenta do
trabalho de campo, a etnografia é tema de
constantes debates e reflexões nos
territórios acadêmicos em que é utilizada,
principalmente embora não
exclusivamente naqueles da antropologia
e da etnologia. Em uma área de
investigação correlata, a etnomusicologia,
observam-se intersecções e interstícios
entre os campos disciplinares citados e os
que se debruçam sobre materiais sonoros e
musicais como objeto de pesquisa. Um dos
protagonistas nos estudos
etnomusicológicos, o cientista norte-
americano (que se notabilizou através de
estudos de indígenas amazônicos, os
Kisêdjê, inicialmente chamados por ele de
Suyá), afirma que:
Etnografia é o escrever sobre o povo
[do grego ethnos: gente, povo, e
graphien: escrita] (Hultrakrantz,
1960). A etnografia deve ser
diferenciada da antropologia, uma
disciplina acadêmica com
perspectivas teóricas sobre as
sociedades humanas. A etnografia da
música não deve corresponder a uma
antropologia da música, que a
etnografia não é definida por linhas
disciplinares ou perspectivas teóricas,
mas por meio de uma abordagem
descritiva da música, que vai além do
registro escrito de sons, apontando
para o registro escrito de como os
sons o concebidos, criados,
apreciados e como influenciam
outros processos musicais e sociais,
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indivíduos e grupos. A etnografia da
música é o escrever sobre as
maneiras de como as pessoas fazem
música. (Seeger, 2004, p. 7).
Como poderíamos, de maneira
análoga (como inspiração e ilustração,
jamais como forma de sugerir que o que se
observa numa ciência ou disciplina possa
ser “mecanicamente” transposto a outras)
pensar sobre as etnografias da educação e,
mais especificamente, de etnografias da
educação e do Campo? Ou, mais ainda,
como cultivar a ideia de que a mirada
etnográfica possa ser útil, não só para a
observação, mas também para construção
de ações educativas? Para tanto, buscamos
também inspiração e indícios em outra
metodologia intimamente relacionada a
variadas áreas de conhecimento e estudo,
aquela que se efetua cumprindo objetivos
de obtenção de dados empíricos. No caso
das etnografias, essa etapa é nomeada de
forma bastante significativa como trabalho
de campo
[1].
Embora, como afirma um
antropólogo que se dedicou à análise dessa
prática nos estudos sobre as religiões afro-
brasileiras: na definição da antropologia
como ciência da alteridade ou da crítica
cultural, o trabalho de campo
desempenha papel fundamental. (Silva,
2000, p. 28, grifos do original), ainda
muitas discussões e indefinições em suas
dimensões conceituais e de utilização
metodológica. Podemos ver algumas
dessas controvérsias nas observações de
outro cientista social e antropólogo, a
seguir:
O fato de que o trabalho de campo
apareça frequentemente como
essencial à antropologia não significa
que haja muita clareza a seu respeito.
... as definições do trabalho de campo
antropológico frustram ora pela
carência, ora pelo excesso. De um
lado, encontram-se definições que
perpetuam o modo pelo qual o
trabalho de campo originalmente se
constitui, ou seja, por oposição à
pesquisa conduzida em laboratório
ou no gabinete ... De outro lado,
descrições que parecem utópicas ou
ao menos idealizadas quando
aproximadas das condições que
presidem a maior parte das
experiências de trabalho de campo.
(Giumbelli, 2002, n./p.).
No entanto, apesar das questões e
contradições, quase não se discute a
necessidade de que uma vez feitas as
tentativas de solucionar os problemas
levantados - essa etapa dos processos de
investigação científica seja devidamente
efetuada, quando a metodologia de
pesquisa assim o exige. Ou seja, que o
trabalho de campo seja realizado da
maneira mais representativa e integrada
aos grupos estudados. Principalmente pelos
aspectos da alteridade e crítica cultural,
citadas por Vágner Silva, mas também por
questões éticas e de responsabilidade social
e política das pessoas que pesquisam em
relação aos resultados apresentados sobre
aquelas que são pesquisadas. Surge, então,
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uma outra inspiração e outros
questionamentos quando pensamos, no
âmbito da Educação do Campo: como
esses dois sentidos de uma mesma palavra,
que poderiam gerar uma turvação do
entendimento, pelo contrário, podem nos
levar a promissoras iniciativas? Ou seja,
quando ganham fertilidade pelo dado aqui
ineludível: quando o campo é o campo. Ou
ainda, quando a realidade, as culturas, as
pessoas que estudamos etnograficamente
são aquelas envolvidas com a produção na
terra, com a luta por sua propriedade e pela
sua plena e sustentável utilização para a
geração e distribuição de alimentos,
recursos e conhecimentos? Um primeiro
passo é nos situarmos nos vários pontos de
intersecção, as encruzilhadas e veredas dos
caminhos epistêmicos e de ação. Em um
deles, cruzam-se questões oriundas da
pedagogia com outras que vêm da esfera
dos movimentos comunitários,
considerando a exclusão e invisibilização
de sujeitos e grupos subalternizados no
jogo de forças do capital e das estruturas
de organização política e social decorrentes
de tal jogo. Os ambientes de reprodução e
manutenção dos conhecimentos escolares e
acadêmicos não são diferentes:
A superação do paradigma da
Educação Rural para o da Educação
do campo é urgente e emergente para
que se possa efetivar uma educação
de direito ao sujeito de direito, pois
no decorrer da história, os saberes
dos camponeses foram silenciados e
ocultados por meio de uma educação
descontextualizada, em que o urbano
se sobrepôs sobre o rural, mantendo
controle sobre o processo de ensino e
aprendizagem. (Costa & Cabral,
2016, p. 194).
Nesse ponto, podemos observar as
convergências com situações bastante
similares nos terrenos das ações de
patrimonialização e das pesquisas sobre as
culturas tradicionais, com suas mestras e
mestres e outros sujeitos singulares que
foram por muitos anos e em muitos
processos de levantamentos e investigação
científica considerados objetos de
pesquisa, sem voz, sem agência e com
saberes meramente “folclóricos”. Muitos e
muitas deles, inclusive, com suas
existências intrinsecamente ligadas ao
campo e à produção rural.
Dessa forma, nos parece um objetivo
comum, tanto para a Educação do Campo
quanto para as ações de pesquisa
etnográfica não predatórias, a devida
partilha de saberes entre todos os agentes
envolvidos nos processos, buscando a
equidade e inclusão epistêmica. Tal
objetivo pode ser almejado como projeto
de produção de conhecimento e de sua
difusão, seja através das variadas formas
de publicação e relato, seja através de sua
aplicação como formas singulares de
conhecer o mundo e ensinar e aprender.
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Constitui-se como um projeto
pedagógico da educação formal; é
uma luta pelo acesso ao
conhecimento produzido pela
sociedade, mas afirmando a sua
identidade e é, ao mesmo tempo, uma
luta de resistência paradigmática da
produção de conhecimento científico
que impõe o mesmo como absoluto,
desconsiderando os saberes populares
produzidos pelos sujeitos que moram
e vivem no e do campo. (Idem,
ibidem).
Os tão citados três pilares da atuação
universitária pesquisa, ensino e extensão
podem e devem ser agentes das
transformações necessárias para que esses
objetivos sejam alcançados. É possível
destacarmos iniciativas realizadas como
também pensar outras, no âmbito de
projetos sonhados e desejados. Tomemos,
portanto, algumas amostras como forma de
tornar mais palpáveis as ideias que
discutimos.
Uma primeira amostragem traz
elementos de um projeto de pesquisa de
Jorge Vasconcelos, professor adjunto do
Centro de Cultura, Linguagens e
Tecnologias Aplicadas da Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia (CECULT
UFRB). O projeto em questão, registrado
junto à Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-
Graduação, Criação e Inovação PPGCI -
da referida universidade, da qual esse
pesquisador faz parte, lotado no centro
universitário igualmente mencionado
acima que se localiza na cidade de Santo
Amaro da Purificação, tinha o título
Identidades e Singularidades Musicais do
Recôncavo da Bahia: Capoeiras e
Candomblés. Esse projeto teve vários
desdobramentos, um deles, a participação
do pesquisador no processo que culminou
no registro como patrimônio imaterial
nacional de um bem cultural da cidade que
acolhe o CECULT, a Festa do Bembé do
Mercado de Santo Amaro (para maiores
informações, ver Bembé (2021). Mas o que
gostaríamos de enfocar aqui é a vertente de
tal projeto que se debruça sobre a
investigação e levantamento da capoeira da
cidade e localidades próximas, (para
informações sobre mestres santamarenses
renomados no contexto da capoeira da
Bahia, ver ABIB, 2013 e para um
panorama dos grupos e mestres e mestras
da cidade, ver Castro (2019). Mais
especificamente, sobre a modalidade de
capoeira angola (para as disputas de
sentido e narrativas no campo da capoeira,
principalmente em sua dicotomização nas
modalidades “angola” e regional”, ver
Magalhães Filho (2012) e Zonzon (2017).
E, mais especificamente ainda, sobre um
grupo e seu mestre: o Grupo Cultural de
Capoeira Angola Cativeiro e Mestre Adó.
No trabalho etnográfico com Mestre Adó,
um dos desdobramentos, também surgido
em meio a fertilíssimas partilhas de
saberes, foi a possibilidade de fruir de seus
imensos conhecimentos sobre os recursos
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naturais, por uma série de enfoques, muitos
deles intrinsecamente ligados a seus
também enormes conhecimentos musicais
e da confecção de instrumentos,
principalmente os utilizados na capoeira.
Assim sendo, frequentes idas a matas e
propriedades rurais próximas da sede do
grupo foram integradas como uma das
etapas do trabalho de campo. São incursões
aos locais onde vicejam os espécimes
vegetais com ampla utilização nas práticas
da capoeira, por exemplo, as biribas
utilizadas como vergas dos berimbaus e
grimas de maculelê. São locais onde
também é possível encontrar uma série de
troncos apropriados para construção de
atabaques (troncos de árvores caídas,
como dendê, coqueiros e mesmo ticum).
Tornam-se momentos de aprendizagem e
observação, sobre a maneira como o
Mestre se relaciona com a identificação
dos materiais, sua sustentabilidade, a forma
e tempos corretos de sua coleta, os
processos para manejo e preparação, as
maneiras singulares de passar seus
conhecimentos, de enfatizar a necessidade
de atenção e memorização dos detalhes. É
um momento privilegiado de constatar
como o campo (o território de floresta e
agricultura) torna-se campo (de observação
participante, de olhar etnográfico) pautado
pela certeza de os saberes ali franqueados
além de não serem “silenciados e ocultados
por meio de uma educação
descontextualizada”, deverão ser
plenamente identificados em sua autoria,
propriedade intelectual e potência de
inclusão e transformação.
Nosso desafio, no momento, é
criarmos estruturas que possibilitem a
institucionalização desses processos de
inclusão epistêmica (Carvalho, 2020, p.
29). Uma das mais destacadas até agora
postas em curso em nosso país é o projeto
Encontro de Saberes, que teve sua
implantação em várias instituições de
ensino superior brasileiras a partir do ano
de 2010 (Carvalho et al., 2016, p. 204). É
preciso, portanto, que essas soluções
institucionalizadas implantem políticas e
ações que não dependam apenas das boas
intenções e preocupações éticas de
indivíduos no âmbito das instituições de
ensino (qualidades que, obviamente,
devem estar sempre presentes na atuação
dos profissionais acadêmicos em qualquer
vereda de suas atuações). Mas sim, que se
estabeleçam criando possibilidades
concretas e perenes. Dentre elas,
destacamos ainda as recentes proposições
de titulação de Notório Saber a pessoas
portadoras de: “saberes acadêmicos,
científicos, artísticos e culturais
presentes da Universidade, e de outras
tradições científicos e artísticos e culturais,
tais como indígenas, afro-brasileiros,
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quilombolas, das culturas populares e
demais tradições”. (Brasil, 2020).
Tendo havido, nesse sentido, uma
primeira iniciativa da UFMG, de cujos
documentos extraímos o trecho acima, foi
encetado posteriormente processo similar
que vem se desdobrando na elaboração
pela Universidade da Integração
Internacional da Lusofonia Afro-brasileira
(UNILAB) de minuta para titulação de
“Notório Saber em Artes, Ofícios e
Cosmologias Tradicionais” (Brasil, 2021).
Essa institucionalização se faz completa se
também se capilariza, a partir de
normatizações e de práticas efetivas para a
educação básica, em constantes processos
de construção de conhecimentos que
possam circular entre as escolas básicas, as
IES e os campos, nos sentidos aludidos
acima.
Além disso, acreditamos que, dessa
maneira, se nos permitem ainda uma
licença entre poética e
epistemológica/pedagógica, é possível
expandir ainda mais os campos, agora nos
referindo aos seus sentidos de campos de
atuação de educadoras e educadores, de
forma ampla.
Interiorização de ensino e possibilidades
de ensino, pesquisa e extensão
A proposta de interiorização do
ensino está estreitamente ligada à criação
da UFRB, uma universidade multi campi,
sendo o mais recente o campus de Santo
Amaro, o Centro de Cultura, Linguagens e
Tecnologias Aplicadas (CECULT/UFRB).
As cidades de Santo Amaro e Cachoeira
possuem cerca de 50% de sua população
oriunda do meio rural, e isto se reflete nos
cursos da UFRB nestas duas cidades,
podemos dizer que uma porcentagem
considerável de alunos é oriunda de
comunidades rurais destes dois municípios
(além de discentes oriundos do meio rural
de municípios vizinhos). Neste contexto,
os projetos de extensão têm tido grande
importância para travar um diálogo e
estabelecer relações com as comunidades
rurais. O projeto de extensão Coletivo
Novos Cachoeiranos foi criado com o
objetivo de se relacionar com a pesquisa e
ensino, e travar um diálogo com músicos
oriundos das filarmônicas locais e terreiros
de candomblé.
O projeto reúne atualmente vinte e
dois músicos (2 flautas, 1 clarinete, 2
saxofones alto, 2 saxofones tenor, 5
trompetes em sib, 1 trombone, 2 tubas, 3
percussionistas, 1 baterista,1
baixista/guitarrista, 1 tecladista e 1
regente) oriundos das filarmônicas Lyra
Ceciliana e Minerva Cachoeirana (ambas
de Cachoeira BA), União São Felixta
(São Felix), terreiro Icimimó (terreiro mais
antigo de Cachoeira), além de professores
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do CECULT/UFRB. Iniciamos em março
de 2016 com duas reuniões semanais, que
duravam cerca de 4 horas, (terças e
sábados), totalizando oito horas semanas e
além da prática de conjunto,
desenvolvemos atividades
interdisciplinares dentro da música,
abordando aspectos relativos a técnicas de
composição e arranjo, além de explorar
exercícios de harmonia, contraponto e
análise musical.
No que se refere ao aspecto estético,
temos como base a cultura musical do
recôncavo baiano, através das sonoridades
dos músicos das filarmônicas, do
candomblé e do samba de roda,
sonoridades do meio rural destas
localidades, em constante diálogo com as
sonoridades contemporâneas,
desenvolvidas através das oficinas de
arranjo, harmonia e composição, e em
diálogo com os participantes. O projeto,
além de ter a participação ativa de
membros da comunidade, incluindo
pessoas oriundas do meio rural, serve
como laboratório dos cursos de música
(Produção Musical e Licenciatura em
Música Popular Brasileira - o primeiro teve
sua primeira entrada em 2019.1, e o
segundo em 2018.2). O compositor e
professor de composição da Escola de
Música da UFBA, Paulo Costa Lima,
comenta em seu livro “Teoria e Prática do
Compor II” (2014, p. 76), que boa parte do
sucesso do curso de composição da UFBA
desde os anos 1960 se deve ao fato de
desde sua criação, terem grupos
disponíveis para os estudantes terem suas
obras executadas, fato este que se tornou
um diferencial do curso de composição da
UFBA em relação a outros cursos de
composição de outras regiões do Brasil,
formando gerações de compositores
consagrados, tanto no âmbito da música
erudita, quanto no âmbito da música
popular.
Dentre as riquezas culturais do
Recôncavo Baiano, podemos destacar as
filarmônicas, o samba de roda, o
candomblé, a capoeira, e mais
recentemente, o reggae. O Coletivo Novos
Cachoeiranos desenvolve um trabalho com
a comunidade musical da região do
recôncavo baiano, sobretudo as vertentes
das filarmônicas, do samba de roda e
também percussionistas de candomblé,
através de oficinas avançadas de arranjo,
contraponto, harmonia, composição,
regência (tradicional e soundpainting
[2]
). O
diálogo entre os saberes acadêmicos e
populares representa a maneira que está
estruturado este projeto, através da
articulação direta com membros da
comunidade, que ajudaram a construir esta
proposta. Um dos pressupostos
pedagógicos que permeia este projeto é a
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ideia de que a teoria seja uma reflexão da
prática, num processo de constante diálogo
e aprimoramento entre teoria e prática, e
que esta práxis reflexiva tenha origem no
diálogo entre educador e educandos, que
estes papéis se diluam e se crie um grande
ambiente de aprendizagem compartilhada.
Sobre isto, Paulo Freire comenta: “É
fundamental diminuir a distância entre o
que se diz e o que se faz, de tal maneira
que num dado momento a tua fala seja a
tua prática” (1997, p. 38). A improvisação
livre, o atonalismo e o soundpainting são
ressignificados aos elementos da
musicalidade do recôncavo baiano.
Aspectos didáticos também serão
explorados, visto que serão ministradas
aulas consorciadas aos ensaios, de aspectos
da música como arranjo, harmonia,
contraponto aplicado à música popular,
análise e composição musical.
Em relação às filarmônicas,
constituem sociedades culturais de extrema
importância, sendo responsáveis pela
educação de centenas de jovens, muitos
oriundos do meio rural. Este diálogo com
esta parcela da comunidade pode ser de
extremo interesse para a academia, as
ligações entre os saberes populares e
saberes acadêmicos. A sede do presente
projeto é na antiga casa do maestro Manoel
Tranquilino Bastos, o que torna o projeto
emblemático, pois a maioria dos
integrantes é da Lira Ceciliana, filarmônica
fundada pelo maestro supracitado. As
filarmônicas sempre desempenharam papel
fundamental na vida social e cultural da
cidade: “Eram instituições que, para além
da execução musical, representavam
espaços de convívio social para o exercício
da atividade intelectual, algumas mantendo
bibliotecas e salões para a declamação de
poesia e até para atividades dançantes”
(Ramos, 2011, p. 54). Desta forma, a
tradição das filarmônicas irá dialogar
diretamente com outros saberes
contemporâneos.
Em relação aos objetivos e
organização da execução do projeto,
podemos destacar os seguintes pontos:
Organização do espaço dos ensaios,
definição de horários e materiais
necessários para o funcionamento do
projeto (já realizado); Definição dos
membros do projeto através de visitações e
conversas com membros e líderes da
comunidade e em espaços delimitados,
como filarmônicas (já realizado), grupos
de samba de roda e casas de candomblé
(realizado/parcial); Definição dos
parâmetros estéticos com os participantes
(revisão constante); Utilização de
metodologias mistas, como pedagogias
ativas, métodos de práticas musicais
coletivas adaptadas à realidade local,
práticas pedagógicas de criação coletivas,
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novas abordagens no ensino das artes, mais
especificamente no ensino da música;
Introduzir os participantes em aspectos
técnicos relativos à harmonia avançada,
forma musical e sonoridades expandidas,
improvisação livre e soundpainting,
através das aulas articuladas aos ensaios;
Realizar diálogo com o projeto de pesquisa
“Contraponto Aplicado à Música Popular”,
desenvolvendo nos arranjos a fusão entre
claves de matriz africana com técnicas
avançadas de arranjo e composição;
Ensaiar semanalmente procurando discutir
e analisar criticamente os resultados,
através de gravações e audições analisadas,
dialogando com os participantes as
necessidades e anseios do grupo; Produção
de arranjos e composições de autoria dos
participantes, dentro das propostas que
serão determinadas pelos participantes,
sujeito a mudanças no decorrer do
processo.
Em relação ao diálogo com o projeto
de pesquisa Contraponto Aplicado à
Música Popular, tivemos alguns bolsistas
de PIBIC e PIBIC ensino médio que eram
oriundos do meio rural, e desenvolvemos
com eles alguns recortes entre estes
podemos citar, tais como: 1) contraponto
no choro; 2) polifonia baseada nas claves
de matriz africana do Recôncavo Baiano;
3) polifonia ou contraponto de riff’s; 4)
contraponto de “blocos” em arranjos de big
band; 5) contracantos subordinados na
música popular; 6) contraponto por
funções instrumentais nas Filarmônicas do
Recôncavo.
Em relação ao contraponto no choro,
um dos objetos de estudo são os
contrapontos de sax tenor e flauta de
Pixinguinha. Neste tópico, os estudantes
poderão desenvolver o fator vertical do
contraponto ligado ao sistema tonal.
Apesar do fato de muitos destes
contrapontos terem sido criados de
improviso por Pixinguinha, é possível
distinguir certos padrões e escolhas de
notas que tornam este contraponto
harmônico, fundamentalmente tonal, assim
como era o contraponto de Johann
Sebastian Bach e descrito por Diether de
La Motte como “Contraponto Harmônico”.
No exemplo abaixo, podemos observar a
maneira como o contraponto em
Pixinguinha é diretamente associado ao
aspecto vertical, ou seja, aos acordes e
progressões harmônicas que ocorrem em
decorrência da fraseologia musical e
sintaxe tonal:
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Figura 1 - Exemplo 1: Transcrição dos compassos iniciais do contraponto entre tenor e flauta de “André de
Sapato Novo”, de Pixinguinha.
Fonte: Pesquisa dos autores.
Mesmo sendo improvisado,
percebemos elementos motívicos no
contracanto, assemelhando-se com
elementos do contraponto Bachiano,
sobretudo aqueles encontrados nas
invenções a duas vozes.
É importante frisar que o projeto de
extensão “Coletivo Novos Cachoeiranos”,
orquestra popular com 22 instrumentistas,
existe como espaço de experimentação e
suporte para a pesquisa em Contraponto
aplicado à música popular, e também para
atividades de ensino, sendo, portanto, uma
parceria entre ensino, pesquisa e extensão.
Trata-se de um processo educativo
experimental, com o intuito de explorar
possibilidades didático-pedagógicas
relativas ao ensino de técnicas avançadas
de arranjo e composição na música
popular. Os resultados aqui apresentados
referem-se a um recorte da pesquisa, com o
intuito de buscar (e também criar)
referenciais teóricos que embasem uma
prática docente atualizada para
componentes que tratem da polifonia e/ou
contraponto aplicada à música popular.
Através de análise de partituras,
observamos a semelhança no tipo de
construção motívica/polifônica utilizada
por Johann Sebastian Bach em suas
invenções a duas vozes, porém no caso de
Pixinguinha, existem relações
politemáticas entre as duas partes
(saxofone tenor e flauta). No caso da
música intitulada “Proezas de Sólon”, de
Pixinguinha, observamos as seguintes
situações (que foram organizadas em
forma de regras e aplicadas em exercícios
de contraponto). Nesta música, o
contraponto de saxofone tenor utiliza seis
figuras rítmicas que se recombinam e se
alternam (com exceção da figura rítmica
6), além disso, em 90% do tempo utiliza
regras contrapontísticas condizentes com a
técnica Bachiana, e quando diverge é
através de estereótipos de utilização, como
a aplicação de dissonâncias não preparadas
através de 4as e 7as como suspensões, e
aparecimento de 5as diretas.
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Existe uma abundância de arpejos
(em torno de 50% do trecho musical),
aparecem oito sincopas (ver exemplo 2,
figura rítmica 1 de semicolcheia colcheia
- semicolcheia); seis figuras de 4
semicolcheias (figura rítmica 3), sendo
quatro arpejos direcionais e dois arpejos
quebrados. Figuras de Notas do acorde
(figura rítmica 2, colcheia pontuada com
antecipação de semicolcheia) em torno
de 14%. A figura rítmica 5 aparece com
25% das proporção temporal da música, e
a figura rítmica 6 aparece somente uma
vez, sendo a única figura não recorrente.
No exemplo abaixo transcrevemos o
contraponto de saxofone tenor da primeira
parte da composição “Proezas de Sólon”,
de Pixinguinha.
Figura 2 - Exemplo 2: Contraponto de saxofone tenor Proezas de Sólon.
Fonte: Pesquisa dos autores.
Através destas análises realizamos
uma série de exercícios que resultaram em
algumas composições que apresentam
características musicais recorrentes em
aspectos morfológicos do repertório
abordado. O exemplo abaixo demonstra
um trecho de uma das composições criada
por discentes, que inclusive chegou a ser
apresentada em concertos diferentes
estados do Brasil e também em concertos
na Colômbia, executados pelo Coletivo
Novos Cachoeiranos, projeto de extensão
do CECULT/UFRB que tem parceria com
a nossa pesquisa, servindo de laboratório
para os experimentos composicionais
frutos das pesquisas desenvolvidas no
âmbito do contraponto aplicado à música
popular.
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Figura 3 - Exemplo 3: Trecho de composição realizada por discentes da UFRB utilizando as técnicas
desenvolvidas no presente trabalho.
Fonte: Pesquisa dos autores.
Através da pesquisa desenvolvida,
conseguimos realizar um recorte
importante dentro do Âmbito da música
popular brasileira, pois os mesmos
parâmetros de contraponto tonal utilizados
por Pixinguinha continuaram sendo
desenvolvidos por importantes
arranjadores da indústria cultural ligados à
música popular brasileira, sendo, portanto,
técnicas seminais para o desenvolvimento
de uma abordagem teórico para o estudo
do /contraponto aplicado à música popular.
Retomando a nossa percepção como
docente ou seja, a lacuna citada na
introdução deste que apontava a ausência
de referenciais teóricos que embasem uma
prática docente atualizada para
componentes que tratem da polifonia e/ou
contraponto; bem como a falta de modelos
pedagógicos adaptáveis à realidade e
musicalidade dos discentes (tanto do curso
de Licenciatura em Música Popular
Brasileira da UFRB, assim como alunos de
extensão do projeto “Coletivo Novos
Cachoeiranos”, podemos considerar que a
elaboração de exercícios direcionados a
técnica específica da música popular
brasileira trouxe resultados positivos. Os
discentes alcançaram resultados musicais
com alto grau de maturidade em pouco
tempo se comparado com o
desenvolvimento dos métodos de
contraponto tradicionais baseados em
FUX. Ademais, as bases do contraponto do
choro são aplicáveis à boa parte da música
popular brasileira, inclusive esteticamente
contrastantes, pois lida com tonalismos e
relações verticais associadas a relações
horizontais.
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Etnomusicologia como prática de
educação comunitária
Do ponto de vista pedagógico todo
processo educativo pode difundir práticas
emancipadoras. E existem muitas por aí,
algumas descritas nesse trabalho, outras
germinando na ação de anônimas(os) em
coletivos, associações, pequenas
comunidades, tribos, laboratórios de
pesquisa, e escolas das periferias mais
distantes nas grandes cidades.
A invisibilidade dessas ações
educativas e o desconhecimento da
existência delas, às vezes na própria
comunidade onde atuam, não interferem na
realização e alcance de bons resultados.
Projetos educativos marcam as vidas das
pessoas; marcam os rumos existenciais e
profissionais delas. Mas é preciso uma boa
dose de resistência e coragem para esses
empreendimentos. A realização e
longevidade de projetos que envolvem
educação comunitária e popular percorre
um caminho de amadurecimento longo
com aprendizagens cheias surpresas.
Na essência, a razão desses projetos
existirem é a produção de conhecimento
coletivo e a experimentação de meios e
métodos para que seja uma produção
dialógica, consciente. Isso é emancipador,
intenso, libertador. Experimentar e viver o
conhecimento poder às pessoas, às suas
ideias, traz realizações pessoais e coletivas.
Conhecer dá às pessoas novas formas de
ver e se relacionar com o mundo.
É por isso que é importante iluminar
essas ações na potência que elas têm, falar
delas, e quando possível, compartilhar
esses projetos e enfatizar as possibilidades
que eles trazem para uma educação
decolonial e que esteja na contramão do
patriarcado. A educação sem mordaça nem
máscaras, uma educação que inclui formas
diversas de aprendizado e epistemologias.
Paulo Freire (1998, p. 80) nos leva a
pensar na práxis educativa como um ato de
esperança. Esperança de que juntas(os)
possamos resistir a tudo o que seja
obstáculo à alegria do conhecimento e dos
saberes com liberdade e autonomia. Ele
intui e demonstra que a educação traz
entendimento de reparação para a
igualdade quando aprendemos juntas(os).
Pesquisar, refletir, dialogar, intervir,
compartilhar, recriar ou “ensinar-
aprendendo” - é vivenciar meios de
celebrar a vida, as ciências e as artes.
Resistir e superar a opressão (e a
burocracia) sem tornar-se o opressor é o
maior desafio no desenvolvimento de uma
educação dialógica.
Quando o oprimido hospeda em si
um opressor e o nutre, ele não desperta
para a autenticidade de sua libertação
(Freire, 1987, p. 22-23). Segundo Paulo
Freire, os oprimidos-opressores:
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... Sofrem uma dualidade que se
instala na “interioridade” do seu ser.
Descobrem que, não sendo livres,
não chegam a ser autenticamente.
Querem ser, mas temem ser. São eles
e ao mesmo tempo são o outro
introjetado neles, como consciência
opressora. Sua luta se trava entre
serem eles mesmos ou serem duplos.
Entre expulsarem ou não ao opressor
de “dentro” de si. Entre se
desalienarem ou se manterem
alienados. Entre seguirem prescrições
ou terem opções. Entre serem
espectadores ou atores. Entre atuarem
ou terem a ilusão de que atuam, na
atuação dos opressores. Entre
dizerem a palavra ou não terem voz,
castrados no seu poder de criar e
recriar, no seu poder de transformar o
mundo.
Nesse texto trago algumas
considerações sobre o desenvolvimento de
projetos de ensino, pesquisa e de extensão
realizados pelo Laboratório de
Etnomusicologia, Antropologia e
Audiovisual (LEAA/Recôncavo) e que tem
como proposta uma educação
emancipadora.
O LEAA é um espaço de educação
comunitária dentro da Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia, e desde
2014, faz parte do Centro de Cultura,
Linguagens e Tecnologias Aplicadas
(CECULT/UFRB). Os projetos
desenvolvidos são feitos majoritariamente
na Bahia e no Recôncavo, mas o LEAA
colabora também na realização de
consultorias e na documentação
audiovisual para projetos de outros grupos
de pesquisa no Brasil e no exterior.
Desde 2003, o LEAA faz projetos de
pesquisa participativa e engajada com as
culturas populares. Os primeiros trabalhos
foram voltados à formação de
pesquisadores entre adolescentes
sambadores e sambadeiras, músicos das
filarmônicas e de terreiros de candomblé
de Cachoeira, Bahia.
Ao vivenciar o processo de auto-
pesquisa, esses jovens aprenderam a
desenvolver ideias e escrever projetos para
editais; a fazer documentação em áudio,
vídeo e fotografia, o que também os
estimulou a produzir, organizar e manter os
acervos de suas próprias comunidades.
Desse grupo inicial de pesquisadores
do LEAA, destaco a participação da
sambadeira Any Manuela Freitas, hoje
pós-graduada na UFRB, e gestora do Ponto
de Cultura Casa do Samba de Dona Dalva.
Any fez parte do Laboratório de
Etnomusicologia, Antropologia e
Audiovisual durante muitos anos, e atuou
como pesquisadora e educadora em ações
voltadas tanto ao Samba de Roda
Suerdieck e Samba de Roda Mirim Flor do
Dia, como em projetos de documentação e
inventário de referências culturais - Rotas
da Alforria: trajetórias da população
afrodescendente em Cachoeira, Bahia
(parceria entre o LEAA, Centro Nacional
de Folclore e Cultura Popular e
Coordenação Geral de Pesquisa e
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Documentação, IPHAN, 2004-2005); e
projetos de audiovisual e educação
patrimonial como o Young Digital
Creators (parceria entre o LEAA e a
UNESCO, 2004-2007).
A participação no Programa DigiArts
UNESCO Young Digital Creators,
trouxe à equipe do LEAA e às crianças e
adolescentes do Samba de Roda Mirim
Flor do Dia e do Educandário À Jesus por
Maria, a interação temática e educativa
com outros grupos, coletivos e escolas que
simultaneamente trabalhavam em vários
lugares do mundo. The Sound of Our
Water (2004; 2007); Scenes and Sounds of
My City (2005-2006) e Youth
Communicating on HIV Aids (2006) foram
atividades que uniram o trabalho de campo
e de laboratório, a produção de músicas e
artes digitais e o uso de plataformas
educativas na internet.
Essas vivências pedagógicas e
formativas facilitaram o envolvimento das
pessoas das culturas populares na produção
de conhecimento com autonomia em lidar
com os seus próprios saberes para fazer
projetos para si e para os seus. Também, o
desenvolvimento de uma metodologia de
trabalho voltada à etnografia das práticas
musicais e ao protagonismo de jovens
durante a colaboração do LEAA no Young
Digital Creators resultou em três
premiações:
* ida de um sambador mirim a San
Jose, Califórnia, EUA, representando o
Brasil como embaixador mundial da
juventude pela UNESCO; treinamento na
ADOBE no Vale do Silício e apresentação
dos trabalhos produzidos pelo LEAA e
outras escolas e coletivos no Simpósio
Internacional de Artes Eletrônicas (San
Jose, Califórnia, 2005);
* trabalhos do LEAA apresentados
no stand da UNESCO na Bienal de
Sharjah, Emirados Árabes (2006);
* produção e publicação do livro
didático Being Young Digital Creators: a
practical booklet for educators que
sistematiza a experiência de participação
do LEAA no programa YDC UNESCO. O
livro, publicado pela UNESCO (2007), foi
traduzido em três idiomas e distribuído
para 65 países.
Em 2008 e 2010, o Laboratório de
Etnomusicologia, Antropologia e
Audiovisual trabalhou projetos em
conjunto com a Universidade de Leipzig e
o Transcultural Music Studies da
Universidade de Música Franz Liszt,
Weimar, recebendo estudantes alemães
para vivências de pesquisa e trabalho de
campo no Recôncavo baiano. Uma
oportunidade de integração de culturas e
saberes compartilhados.
Em 2012, com a premiação da
Associação Cultural do Samba de Roda
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Dalva Damiana de Freitas no Edital
1/2012 Mapeamento, Documentação e
Apoio ao Patrimônio Cultural Imaterial
(IPHAN), o Laboratório de
Etnomusicologia passou a realizar com a
Casa do Samba de Dona Dalva produtos
audiovisuais para salvaguarda e difusão do
Samba de Roda do Recôncavo. O filme
Dalva, biografia musical sobre a trajetória
da Doutora Honoris causa (UFRB, 2012),
a sambadeira Dalva Damiana de Freitas,
foi o primeiro de outros produtos entre
documentários e clipe musical.
vinculado ao CECULT/UFRB, em
2014, o LEAA continuaria realizando a
documentação do calendário de festas de
Cachoeira e região, e passaria à
organização de acervos para o projeto de
extensão Arquivo de Som e Imagem Dalva
Damiana de Freitas. Com a premiação no
Edital de Apoio Financeiro para a
Pesquisa-Ação de Acervos de Interesse
Memorial para a Cultura Afro-Brasileira,
realizado pelo MinC, a UFPE, a Fundação
Joaquim Nabuco (Fundaj), a Rede
Memorial e a Associação Cultural do
Samba de Roda Dalva Damiana de Freitas,
o LEAA organizou uma equipe
interdisciplinar, naquele momento com
discentes da UFRB. O artigo de Moacir
Maia, Museus brasileiros e a
hiperconectividade: a experiência com a
plataforma Tainacan no acesso ao
patrimônio Afro-Digital fala um pouco
sobre esse momento.
O repositório digital por nós
analisado, também apresenta coleções do
Arquivo de Som e Imagem “Dalva
Damiana de Freitas”, instituição que
homenageia destacada sambadeira da
cidade baiana de Cachoeira, tendo como
missão a valorização e pesquisa do samba
de roda da Bahia, reconhecido como
Patrimônio Cultural Brasileiro e Obra
Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da
UNESCO desde 2005. Arquivo
comunitário abrigado pela Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia e pela
Associação Cultural do Samba de Roda
Dalva Damiana de Freitas. Nas coleções e
registros digitais disponibilizados, o
usuário tem acesso à diversidade de
imagens que retratam distintos momentos
das comunidades do recôncavo, como, por
exemplo, do samba de roda e sua presença
nas Folias de Reis, Terno do Acarajé, Festa
de Iemanjá, Festa da Ajuda, Festa do 13 de
maio, Festa de Santo Antônio e São João e
a tradicional festa da Irmandade negra da
Boa Morte da cidade de Cachoeira (Maia,
2018).
A experiência do LEAA com
pesquisa, documentação, arquivo e
educação comunitária vem do exercício de
autonomia e protagonismo com jovens, e
também do cuidado e escuta dos Mestres e
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Mestras. O envolvimento com as pessoas
das comunidades e essa pedagogia de
realizar resultou no convite para a
colaboração do LEAA no projeto de
formação do South East Asia Music
Museum; uma proposta de Museu Vivo de
Instrumentos dos países do Sudeste da
Ásia realizada pela Universidade de
Mahidol, Tailândia (2016).
Entre 2015 e 2018 o Laboratório de
Etnomusicologia, cleo de Memória e
Documentação do Recôncavo e Casa do
Samba de Dona Dalva realizaram vários
projetos educativos voltados ao ensino
fundamental e médio; Pesquisa e
Documentação para Sambadores e
Sambadeiras Mirins foi um deles.
Ainda nessa linha de auto-pesquisa, o
LEAA colaborou para a formação da
primeira equipe de pesquisadores(as) e
produtores(as) do Centro de Referência do
Samba de Roda (Santo Amaro) para
trabalho no projeto Samba de Roda
Patrimônio Imaterial da Humanidade: 15
anos de salvaguarda e conquistas
(IPHAN/ASSEBA). O objetivo desse
trabalho foi a avaliação da aplicação do
plano de salvaguarda do Samba de Roda
entre 2005 a 2020 para o processo de
revalidação do título do Samba de Roda do
Recôncavo como Patrimônio Cultural do
Brasil.
O trabalho focou na formação e
treinamento de equipe por meio de um
curso introdutório de Metodologia e
Prática de Pesquisa (20h) e uma oficina de
Produção para Documentação Audiovisual
(8h) oferecidos pelo LEAA/Recôncavo a
sambadores e sambadeiras da Associação
de Sambadores e Sambadeiras do Estado
da Bahia (ASSEBA). Também foi
realizada uma Caravana de Pesquisa e
Documentação que visitou municípios e
localidades no Recôncavo, Portal do Sertão
e Região Metropolitana de Salvador.
Foram documentados os grupos e
realizadas entrevistas e gravação de
performances.
Atualmente as atividades do grupo
de estudos e do grupo de pesquisa do
Laboratório de Etnomusicologia,
Antropologia e Audiovisual são virtuais e
envolvem discentes e pesquisadores(as) da
UFRB e outras de instituições (UFBA,
UFSB, UESC). Fisicamente o Laboratório
está instalado no Núcleo de Memória e
Documentação do Recôncavo
(NUDOC/UFRB), em Cachoeira, Bahia.
Mais do que nunca Paulo Freire nos
instiga a pensar a educação nesses tempos
pandêmicos e dos ambientes remotos,
síncronos, assíncronos ou híbridos.
Percebe-se que os conceitos postulados por
Freire, ainda na década de 60, vêm sendo
explicitamente apropriados às novas
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concepções pedagógicas que enfatizam o
estímulo à autonomia dos discentes para
que entre experiências de sala reversa,
pesquisa e estudos dirigidos, mapas
conceituais e leituras audiovisuais
encontrem e trilhem os seus caminhos para
a construção de um conhecimento próprio
e autêntico.
O LEAA, assim como muitos outros
laboratórios, associações, grupos e
coletivos espalhados pelo Brasil, resiste
pela consciência de que fazer educação,
artes e ciência nesse país vale a pena. O
tempo exige muitas adaptações e falta
investimento para a manutenção desses
espaços e projetos. Não sabemos o que o
futuro nos reserva com relação à pesquisa e
a educação, mas sabemos que temos que
continuar.
Conclusão
Observamos, através destes três
recortes, a importância da interiorização do
ensino superior e ao mesmo tempo a
necessidade dessa troca de saberes,
sobretudo com as comunidades rurais
oriundas da região do Recôncavo baiano,
berço de núcleos culturais muito
importantes para a cultura local e nacional,
como o samba de roda, os candomblés, as
filarmônicas, as rodas de capoeira e os
grupos de reggae. A relevância do presente
trabalho reside na possibilidade de dialogar
sobre ações que vem sendo desenvolvidas
no CECULT/UFRB, promovendo, desta
maneira, uma reflexão sobre a importância
de ações como estas, assim como a
importância da interiorização do ensino
superior e as possibilidades de relacionar
ensino, pesquisa e extensão de maneira
dialógica.
Assim, a interiorização, com sua
atestada importância para a
democratização dos conhecimentos e para
a acessibilidade a eles, além de cumprir a
função de levar tais processos para
localidades e regiões as quais
anteriormente eram desprovidas de
equipamentos de ensino em nível superior,
também possibilita outros desdobramentos.
O desdobramento que enfatizamos aponta
para aquela vereda que nos abre caminhos
que propiciam e potencializam que tais
núcleos e centros de promoção e difusão
do conhecimento não sejam mais
mecanismos de silenciamento e ocultação
de saberes subalternizados por processos
descontextualizados, de hegemonia do
urbano sobre o rural (como mencionado
acima, inclusive pelas autoras já citadas,
Costa & Cabral, 2016). Que não sejam
dispositivos da reprodução da imposição
do “científico” sobre o “folclórico”, do
acadêmico sobre o popular e outras formas
de poder que redundam na exclusão
epistêmica e mesmo das existências ligadas
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a esses saberes. Que permita que os
campos, com todos seus sentidos e
significações se fecundem mutuamente,
aprendendo a grande lição das pessoas que
vivem diretamente no Campo e do Campo:
semear, cultivar, respeitar os tempos de
cada muda e cuidar para que floresça. E
colher seus frutos.
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10.20873/uft.rbec.e12486
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ISSN: 2525-4863
23
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[1] Considerando possíveis ambiguidades e mesmo
a polissemia da palavra (ainda mais nos contextos
que estamos propondo) procuraremos deixar
sempre bastante explícito de que “campo”
estaremos tratando.
[2] Soundpainting é uma técnica de regência
criativa, criada nos anos 1970 pelo performer
Walter Thompson.
Informações do Artigo / Article Information
Recebido em : 21/06/2021
Aprovado em: 25/08/2021
Publicado em: 30/09/2021
Received on June 21th, 2021
Accepted on August 25th, 2021
Published on September, 30th, 2021
Contribuições no Artigo: Os autores foram os
responsáveis por todas as etapas e resultados da
pesquisa, a saber: elaboração, análise e interpretação dos
dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito
e; aprovação da versão final publicada.
Author Contributions: The author were responsible for
the designing, delineating, analyzing and interpreting the
data, production of the manuscript, critical revision of the
content and approval of the final version published.
Conflitos de Interesse: Os autores declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Avaliação do artigo
Artigo avaliado por pares.
Article Peer Review
Double review.
Agência de Fomento
FAPESB.
Funding
FAPESB.
Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Marques, F. H., Vasconcelos, J. L. R., & Mendes, S. A.
(2021). Práticas e saberes no ensino público superior no
Recôncavo baiano. Rev. Bras. Educ. Camp., 6, e12486.
http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e12486
ABNT
MARQUES, F. H.; VASCONCELOS, J. L. R.; MENDES, S.
A. Práticas e saberes no ensino público superior no
Recôncavo baiano. Rev. Bras. Educ. Camp.,
Tocantinópolis, v. 6, e12486, 2021.
http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e12486