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indivíduos e grupos. A etnografia da
música é o escrever sobre as
maneiras de como as pessoas fazem
música. (Seeger, 2004, p. 7).
Como poderíamos, de maneira
análoga (como inspiração e ilustração,
jamais como forma de sugerir que o que se
observa numa ciência ou disciplina possa
ser “mecanicamente” transposto a outras)
pensar sobre as etnografias da educação e,
mais especificamente, de etnografias da
educação e do Campo? Ou, mais ainda,
como cultivar a ideia de que a mirada
etnográfica possa ser útil, não só para a
observação, mas também para construção
de ações educativas? Para tanto, buscamos
também inspiração e indícios em outra
metodologia intimamente relacionada a
variadas áreas de conhecimento e estudo,
aquela que se efetua cumprindo objetivos
de obtenção de dados empíricos. No caso
das etnografias, essa etapa é nomeada de
forma bastante significativa como trabalho
de campo
[1].
Embora, como afirma um
antropólogo que se dedicou à análise dessa
prática nos estudos sobre as religiões afro-
brasileiras: “na definição da antropologia
como ciência da alteridade ou da crítica
cultural, o trabalho de campo
desempenha papel fundamental”. (Silva,
2000, p. 28, grifos do original), ainda há
muitas discussões e indefinições em suas
dimensões conceituais e de utilização
metodológica. Podemos ver algumas
dessas controvérsias nas observações de
outro cientista social e antropólogo, a
seguir:
O fato de que o trabalho de campo
apareça frequentemente como
essencial à antropologia não significa
que haja muita clareza a seu respeito.
... as definições do trabalho de campo
antropológico frustram ora pela
carência, ora pelo excesso. De um
lado, encontram-se definições que
perpetuam o modo pelo qual o
trabalho de campo originalmente se
constitui, ou seja, por oposição à
pesquisa conduzida em laboratório
ou no gabinete ... De outro lado, há
descrições que parecem utópicas ou
ao menos idealizadas quando
aproximadas das condições que
presidem a maior parte das
experiências de trabalho de campo.
(Giumbelli, 2002, n./p.).
No entanto, apesar das questões e
contradições, quase não se discute a
necessidade de que – uma vez feitas as
tentativas de solucionar os problemas
levantados - essa etapa dos processos de
investigação científica seja devidamente
efetuada, quando a metodologia de
pesquisa assim o exige. Ou seja, que o
trabalho de campo seja realizado da
maneira mais representativa e integrada
aos grupos estudados. Principalmente pelos
aspectos da alteridade e crítica cultural,
citadas por Vágner Silva, mas também por
questões éticas e de responsabilidade social
e política das pessoas que pesquisam em
relação aos resultados apresentados sobre
aquelas que são pesquisadas. Surge, então,