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antes do culminar do primeiro movimento do qual falamos nesse subtítulo, alguns entraves,
embates e resistências ainda ocorreriam.
A primeira Lei de Diretrizes e Bases brasileira (de 1961) pouco ou em nada contribuiu
para a implementação de políticas educacionais para o Campo. Logo, com o golpe militar de
1964 houve extensa desarticulação e perseguição dos movimentos que vinham ganhando
forças. No ápice desses embates, dá-se início a implementação da Pedagogia da Alternância
no estado do Espírito Santo em 1968, com o Movimento de Educação Promocional do
Espírito Santo. A Pedagogia da Alternância havia surgido já na década de 1930 ao sul da
França com a primeira Maison Familiare Rurale e representou, no Brasil (a partir de 1968),
um foco de resistência durante a ditadura (Freitas, 2011). Já a Lei de Diretrizes e Bases de
1971 implementa diferentes programas voltados para o Campo, porém e apesar de levantar a
bandeira de combater o analfabetismo, o projeto de impulsionar a chamada revolução verde
trazia novamente a proposta de “educar” o sujeito do Campo para viver na e segundo os
padrões da cidade.
Já na década de 1980, com o surgimento dos movimentos sociais do campo, entra em
cena a luta pelos direitos dos povos do campo de modo mais intenso. Afinal, a luta pela
Educação do Campo denunciava a realidade de exclusão a qual a população camponesa no
Brasil havia sido imposta historicamente por meio da distribuição desigual de terra e renda
(Jesus, 2004). Afinal, no Brasil, “a realidade agrária é marcada pela concentração de terras e a
permanência do grande latifúndio, em articulação com a adoção do modelo agrário-
exportador, através do avanço da monocultura, do agronegócio e da mineração” (Bicalho,
Macedo & Rodrigues, 2021, p. 44).
A exclusão social e educacional dos moradores do campo tem que ser entendida
historicamente. No Brasil, a força da ideologia dominante, composta pelas oligarquias
agrárias que imperam desde o Brasil colonial, defendia o discurso de que aprender a ler e a
escrever para os camponeses era inútil e supérfluo. O argumento era o de que a natureza do
trabalho camponês (produção de alimentos a partir do manejo com a terra para a subsistência
e venda de excedentes para a população urbana) não prescindia de formação escolar
nenhuma...O que a ideologia das classes dominantes do campo pretendia com este
argumento era naturalizar as desigualdades sociais e mascarar as diferenças de condições de
acesso à educação formal (Camacho, 2014, p. 324).
Nesse contexto, a luta pelo campo como espaço de vida digna e a continuação da
cultura e modo de vida camponês passa a incluir a luta pelo direito a educação. A Educação
do Campo traz uma nova concepção de campo, do camponês e de um recorte de classes para a
educação (Souza, 2008). A figura 01 mostra o primeiro encontro dos trabalhadores