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mina, onde as minas já secaram, onde
tinha mina cercada e onde não tinha.
A gente passou isso para os
estudantes da EJA, da situação, e os
meninos pediram para fazer um
projetinho para eles, pra recuperar as
nascentes deles... (Bebé, 2018, p. 4)
A iniciativa de Bebé revela a
disposição e o compromisso em inserir no
currículo da escola as preocupações e
contradições do campo e do espaço em que
a escola está inserida. Essa postura
qualifica o debate dos educandos na escola,
que têm a oportunidade de problematizar e
atuar em seu espaço, frente às necessidades
coletivas de produção e de vida. Esse é um
projeto com inserção na realidade, a escola
e as crianças encontram-se com a
problemática da comunidade, visando a
sua transformação. Nele, percebe-se uma
questão relevante: mais do que levar as
práticas do campo à escola, esta vai ao
campo e sai de seu círculo restrito ao se
integrar com essas práticas educativas, que
estão na organização do assentamento.
Além da discussão da agroecologia, Bebé
relatou o desenvolvimento de outros
projetos, que indicam a presença do debate
sobre a questão agrária na escola, e que
desenvolvem nos educandos uma relação
de identificação com seu espaço de vida.
Um desses trabalhos foi denominado
“Lugar de Memória”, que objetivou a
inserção dos educandos em seu meio,
desenvolvido no período de 2016 a 2017,
abordando temas relativos ao meio
ambiente, agroecologia e literatura.
Tendo em vista os temas que
norteiam os projetos pedagógicos
desenvolvidos na “Escola 1” e na “Escola
2”, podemos afirmar que ambas as escolas
têm construído o movimento de inserir a
escola em seu território. Ambas abordam e
problematizam temas importantes de seu
meio, com potencial para desenvolver a
relação entre a realidade e o estudo teórico,
com os feitos oriundos da prática e de
saberes advindos do mundo do trabalho.
Conforme Freitas (2009), quando se
apreende a realidade e a complexidade dos
fenômenos se remete à vida e, esta, às
questões do trabalho, tem-se a
possibilidade do estudo da natureza e da
sociedade em conexão com o trabalho.
Já citamos Caldart (2015) quando
afirmamos que um passo importante para
transformar a escola do campo é partir do
que temos, isto é, da escola concreta.
Compreendemos que a escolha das escolas
em trabalhar com a pedagogia de projetos é
um ponto de partida, pois essa é uma
metodologia, notadamente, mais conhecida
entre professores. No entanto, precisamos
problematizá-la, para que a crítica possa
contribuir, conduzindo para passos mais
largos nesse caminho de mudanças.
Devemos reconhecer que o trabalho
com a pedagogia de projetos tem potencial