Revista Brasileira de Educação do Campo
Brazilian Journal of Rural Education
ARTIGO/ARTICLE/ARTÍCULO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e12819
Tocantinópolis/Brasil
v. 6
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2021
ISSN: 2525-4863
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Perspectivas dos egressos do Curso de Licenciatura em
Educação do Campo, Campus Arraias/Tocantins
Helena Quirino Porto Aires1, Luiz Bezerra Neto2
1 Universidade Federal do Tocantins - UFT. Colegiado do Curso de Pedagogia. Avenida Juraídes de Sena Abreu, s/n. Setor
Buritizinho. Arraias - TO. Brasil. 2 Universidade Federal de São Carlos - UFSCar.
Autor para correspondência/Author for correspondence: hequirino.uft@mail.uft.edu.br
RESUMO. O presente texto é um recorte da tese de Doutorado em
Educação pela Universidade Federal de São Carlos-UFSCAR, em que
apresenta um estudo sobre o Curso de Licenciatura em Educação do
Campo (LEdoC) da Universidade Federal do Tocantins, Campus de
Arraias, analisando em que medida as condições de sua materialização
contribuem para a formação da classe trabalhadora. Este texto teve
como objetivo analisar a materialização do Curso de Licenciatura em
Educação do Campo sob a ótica dos egressos. Para tanto,
empreendemos uma investigação que buscou responder a seguinte
problematização: Quais as perspectivas dos egressos da LEdoC da
UFT/campus de Arraias, Tocantins? Para tal buscamos desvelar o
objeto de estudo a partir da realidade concreta, procurando relacioná-
lo com a sociedade na busca da compreensão desse movimento da
formação humana em sua totalidade. A coleta de dados ocorreu por
meio de entrevistas semiestruturadas com 20(vinte) egressos da
LEdoC no ano de 2019. Os resultados indicam que em relação aos
egressos, o número de estudantes que concluíram ainda não é
expressivo, dado que somente 37 (trinta e sete) sujeitos o fizeram. Por
outro lado, os egressos revelam que o curso proporcionou
contribuições importantes à formação pessoal, uma vez que muitos
hoje têm outra visão da “Educação do Campo”. Quanto à inserção ao
mundo trabalho, o curso (e suas especificidades) ainda não está sendo
contemplado em editais de seleções e concursos, municipais e
estaduais, o que exige uma atenção sobre essas questões por parte
principalmente dos interessados. Diante dos dados apresentados nesse
estudo, é possível perceber que a LEdoC se empenha para que de fato
sua proposta se materialize de forma satisfatória, no entanto, possui
muitos desafios.
Palavras-chave: curso de licenciatura em educação do campo,
egressos da educação do campo, perspectivas da educação do campo.
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Graduates’ perspectives of the Undergraduate program in
Rural Education, Arraias Campus/Tocantins
ABSTRACT. This text is an excerpt of the Doctoral thesis in
Education at the Federal University of São Carlos-UFSCAR, in which
it presents a study on the Undergraduate program in Rural Education
(LEdoC) at the Federal University of Tocantins, Arraias Campus,
analyzing in to what extent the conditions of its materialization
contribute to the formation of the working class. This paper aimed to
analyze the materialization of the Undergraduate program in Rural
Education from the perspective of its graduates. Therefore, we
undertook an investigation that sought to answer the following
question: What are the LEdoC graduates’ perspectives at UFT/Arraias
campus, Tocantins? For this, we seek to unveil the object of study
from the concrete reality, seeking to relate it to society in the search
for understanding this movement of human formation in its entirety.
Data collection took place through semi-structured interviews with 20
(twenty) LEdoC graduates in 2019. The results indicate that, in
relation to the graduates, the number of students who completed it is
still not expressive, given that only 37 (thirty-seven) of them
completed the course. On the other hand, the graduates reveal that the
course provided important contributions to their personal formation,
since many now have another vision of “Rural Education”. In relation
to insertion in the labor world, the course (and its specificities) is still
not being contemplated in selection and competition edicts, both
municipal and state, which demands attention to these issues,
especially on the part of those interested. Given the data presented in
this study, it is possible to see that LEdoC strives to make its proposal
materialize in a satisfactory way; however, it has many challenges.
Keywords: undergraduate program in rural education, graduates of
rural education, rural education perspectives.
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Perspectivas de los egresados del Curso de Licenciatura en
Educación Rural, Campus Arraias/Tocantins
RESUMEN. El presente texto es un extracto de la tesis de Doctorado
en Educación de la Universidad Federal de São Carlos-UFSCAR, en
el que se presenta un estudio sobre el Curso de Licenciatura en
Educación Rural (LEdoC) de la Universidad Federal de Tocantins,
Campus de Arraias, analizando en qué medida las condiciones de su
materialización contribuyen a la formación de la clase trabajadora.
Este texto pretende analizar la materialización de la Licenciatura en
Educación Rural desde la perspectiva de los egresados. Por lo tanto,
emprendimos una investigación que pretendía responder a la siguiente
problematización: ¿Cuáles son las perspectivas de los egresados de
LEdoC de la UFT/campus de Arraias, Tocantins? Para ello buscamos
desvelar el objeto de estudio desde la realidad concreta, buscando
relacionarlo con la sociedad en la búsqueda de la comprensión de este
movimiento de formación humana en su totalidad. La recogida de
datos se produjo a través de entrevistas semiestructuradas a 20 (veinte)
egresados de la LEdoC en el año 2019. Los resultados indican que, en
relación con los egresados, el número de estudiantes que han
completado no es todavía expresivo, dado que sólo 37 (treinta y siete)
sujetos lo han hecho. Por otro lado, los egresados revelan que el curso
brindó importantes aportes a la formación personal, ya que muchos
tienen ahora otra visión de “Educación Rural”. En cuanto a la
inserción en el mundo laboral, el curso (y sus especificidades) aún no
está contemplado en los edictos de las selecciones y concursos
municipales y estatales, lo que requiere atención sobre estas
cuestiones, especialmente por parte de los interesados. Dados los
datos presentados en este estudio, es posible darse cuenta de que la
LEdoC se esfuerza para que de hecho su propuesta se materialice de
forma satisfactoria, sin embargo, tiene muchos retos.
Palabras clave: curso de licenciatura en educación rural, graduados
en educación rural, perspectivas de la educación rural.
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Introdução
Nas últimas décadas, o Brasil
passou por grandes mudanças nos aspectos
políticos, econômicos e educacionais. Um
dos principais marcos e talvez o mais
importante foi a promulgação da
Constituição Federal de 1988,
especialmente por proporcionar uma nova
reorganização da educação que, por sua
vez, suscitaram muitas reformas
educacionais que permitiram a uma grande
parte da população brasileira o acesso à
educação como um direito social.
Todavia, nos termos em que prevê
uma educação para “todos”, ainda não foi
possível a sua efetivação plena, tendo em
vista os milhares de brasileiros que ainda
se encontram fora da escola, inclusive
aqueles que vivem no campo. Ademais, as
problemáticas existentes vão desde as
questões de infraestrutura àquelas
relacionadas à formação humana que
assolam as escolas públicas brasileiras na
garantia ao acesso , à permanência e a
qualidade da educação, maiormente
naquelas situadas no campo.
Apesar dos entraves para a
efetividade das reformas educacionais no
Brasil, é notório que o Ministério da
Educação (MEC) vinha efetivando nas
últimas décadas, várias políticas/ações
educacionais voltadas para o campo.
Dentre elas, podemos destacar as
Diretrizes Operacionais para a Educação
Básica do Campo (Brasil, 2002b) que
abrangem toda organização da educação
das escolas localizadas no campo e o
Programa de Apoio à Formação Superior
em Licenciatura em Educação do Campo
(Procampo), cujo objetivo é apoiar e
implementar os cursos de licenciatura em
educação do campo nas instituições
públicas de ensino superior de todo o país,
voltados especificamente para a formação
de educadores para a docência nos anos
finais do ensino fundamental e ensino
médio nas escolas rurais.
Vale mencionar que essa conquista
no âmbito da Educação no Campo veio
como uma resposta às reivindicações dos
movimentos sociais desde a década de
1980, por uma educação que atenda às
necessidades das populações do campo.
Em outras palavras, essa luta foi
justamente para compensar um pouco das
mazelas que existiam e ainda permanecem
nas escolas brasileiras localizadas no
campo.
Sobre essas considerações, Oliveira
(2017) faz alguns apontamentos
importantes sobre as políticas públicas para
a Educação no Campo, enfatizando que a
criação de uma determinada política
corresponde a um conjunto de demandas
gerais para o campo. Todavia, as ações e
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programas são determinados pelo governo
daquele contexto, podendo cumprir tais
objetos de diversas formas, bem como,
pode atender a uma formação apenas
de mão-de-obra mantendo a ordem
vigente; pode ser para ampliar a
alienação do trabalhador de seu
resultado de trabalho; pode ainda
servir à recriação camponesa e a
construção de ações de autonomia
para essas comunidades; pode servir
simplesmente a uma formação para a
inserção do agricultor familiar no
mercado. (Oliveira, 2017, p. 16).
Partindo dessas premissas, ficam
evidentes as caraterísticas da sociedade
capitalista que estamos inseridos, e
algumas questões sobre
políticas/programas/ações que sempre
serão estabelecidas nesse viés: quem
controla (Estado) e quem é controlada pelo
Estado (classe trabalhadora).
Mesmo com esse intuito da
sociedade capitalista, convém mencionar
que, em termos de legislação, muitos
avanços ocorreram no que se refere à
garantia da educação como um direito
social (Locatelli, Nunes & Pereira, 2013).
No entanto, é importante lembrar que,
ainda se faz necessário a determinação
das/nas lutas de classes para o
aperfeiçoamento e a manutenção desses
avanços, visto que, o panorama atual das
políticas públicas educacionais se encontra
instável, sobretudo, após o golpe
parlamentar de 2016
i
, momento em que a
elite política e econômica se voltou para a
destruição dos direitos duramente
conquistados pela classe trabalhadora.
No que tange à Educação Superior,
destaca-se a criação (a partir de 2006) a
expansão de cursos de Licenciatura em
Educação do Campo em várias
universidades brasileiras. Dentre essa
ampliação, o Estado do Tocantins foi
contemplado com o curso de Licenciatura
em Educação do Campo com habilitação
em Artes e Música nos campus de Arraias
e Tocantinópolis (2014), com o mesmo
objetivo dos demais: formar profissionais
para atuar em escolas localizadas no
campo.
Para atendimento dessa população
composta majoritariamente de
trabalhadores do campo, a proposta do
curso de Licenciatura em Educação do
Campo no Brasil funciona por meio da
Alternância, e seu processo de ensino e
aprendizagem ocorre em alternância de
espaços e saberes: Tempo Universidade
(TU), compreendidos como espaços onde
se trabalha parte da carga horária do curso,
envolvendo atividades mais de teor teórico
tendo como ponto de partida a ementa de
cada disciplina; e, Tempo Comunidade
(TC), entendido como espaço onde se
continuidade aos estudos com a outra parte
da carga horária de vinte horas do curso
com atividades de teor mais práticas.
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Ademais, a Educação por Alternância
possibilita a conexão de conhecimentos
nesses espaços, permitindo também a
valorização das histórias, dos saberes, das
culturas dos sujeitos envolvidos nesse
processo, tendo em vista que essa dinâmica
do curso corrobora para que o sujeito
consiga estudar e, ao mesmo tempo,
continuar trabalhando e residindo em suas
comunidades (muitas delas distantes do
município onde se localiza a universidade).
Portanto, este texto tem como
objetivo analisar a materialização do Curso
de Licenciatura em Educação do Campo
sob a ótica dos egressos. Para tanto,
empreendemos uma investigação que
buscou responder a seguinte
problematização: Quais as perspectivas dos
egressos da LEdoC da UFT/campus de
Arraias, Tocantins? Para tal buscamos
desvelar o objeto de estudo a partir da
realidade concreta, procurando relacio-lo
com a sociedade na busca da compreensão
desse movimento da formação humana em
sua totalidade.
Perspectivas teóricas e metodológicas
No que tange aos caminhos teóricos
escolhidos, o materialismo histórico
dialético é uma vertente que contribui para
desvelar a realidade, busca entender o
contexto a partir de suas contradições e
relações entre a singularidade,
particularidade e universalidade. Em outras
palavras, caracteriza-se pelo movimento do
pensamento por meio da materialidade
histórica da vida do ser humano em
sociedade. Nesse sentido, Masson (2012)
ressalta que essa corrente tende a
compreender o real a partir do
desenvolvimento histórico e de sua origem,
apreendendo os indicadores que
possibilitam sua compreensão na
totalidade, e isso ocorre porque o “método
dialético leva em conta essa ação recíproca
e examina os objetos e fenômenos
buscando entendê-los numa totalidade
concreta” (Gadotti, 2001, p. 24). E, nesse
desiderato, para estudo dos egressos do
curso de Licenciatura em Educação do
campo que é importante pesquisar o lugar,
as categorias e os contextos que emergem a
sua materialização.
A parir dessas considerações, a
perspectiva teórica foi associada a outro
instrumento como entrevistas
semiestruturadas com 20 (vinte) egressos
do curso de Licenciatura em Educação do
Campo (LEdoC) no campus de Arraias,
realizadas no ano de 2019. As respostas
dos entrevistados foram gravadas em áudio
e depois transcritas. Trata-se de uma
metodologia que permite que se descubra e
se relacione rios acontecimentos durante
a realização do estudo, tornando assim,
mais precisas as informações pesquisadas e
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necessárias para o alcance dos objetivos da
pesquisa.
Na mesma linha de compreensão,
Martins (2006, p. 10-11) aponta que:
... se queremos descobrir a essência
oculta de um dado objeto, isto é,
superar sua apreensão como real
empírico, não nos bastam descrições
acuradas (escritas, filmagens,
fotografias etc. !!), não nos bastam
relações íntimas com o contexto da
investigação, isto é, não nos bastam
fazer a fenomenologia da realidade
naturalizada e particularizada nas
significações individuais que lhes são
atribuídas. É preciso caminhar das
representações primárias e das
significações consensuais em sua
imediatez sensível em direção às
descobertas múltiplas determinações
ontológicas do real.
Para a apresentação das análises,
utilizamos trechos das conversas ou
recortes dos protocolos das transcrições
das entrevistas, contidos nos registros
verbais para elucidar a fundamentação
teórica. A partir das análises, os resultados
foram organizados de forma a possibilitar a
verificação e contemplação dos objetivos
estabelecidos para esta pesquisa.
Os maiores desafios do curso de
Licenciatura em Educação do Campo da
UFT/Arraias
Aqui será apresentada uma síntese
dos maiores desafios vivenciados pelos
sujeitos da LEdoC. Evidentemente que não
é uma tarefa muito fácil trabalhar com
formação de educadores, ainda mais
quando pensamos a educação que é
ofertada nos moldes da sociedade
capitalista. Isso porque, trabalhar de
maneira contra-hegemônica é algo muito
complexo, como diz Saviani (2008),
principalmente pelo fato de a classe
dominante não dar importância a uma
escola que provoque uma transformação
desse status quo. Pelo contrário, empenha-
se para a manutenção dela em seu poder.
Nesse sentido, são muitos desafios
postos à educação da classe trabalhadora:
A impossibilidade da universalização
efetiva da escola, a impossibilidade
de todos ao saber; a impossibilidade
de uma educação unificada, o que
leva a se propor um tipo de educação
para uma classe e outro tipo para
outra classe ou então uma mesma
educação para todos, porém,
internamente, de fato diferenciada
para cada classe social, e assim
sucessivamente. (Saviani, 2008, p.
255).
E, quando analisamos a escola do
campo, a formação do sujeito que vive
tanto no processo de escolarização da
educação básica como na educação
superior, esses desafios se tornam maiores.
A legislação prevê que o acesso é para
todos, no entanto, contradições em sua
efetivação, justamente pelas características
intrínsecas à sociedade.
Essas contradições também são
evidenciadas na materialização do curso da
LEdoC quanto temos as seguintes
situações:
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1) Dificuldades de acesso à
universidade e às comunidades
integradoras (transporte);
2) Enfrentamentos na conciliação
entre o trabalho e o curso de Licenciatura
em Educação do Campo;
3) Problemas na acomodação no
período do tempo universidade;
4) Ausência ou inadequação de
acomodação no tempo comunidade;
5) A construção da proposta de
Educação por Alternância que atenda o
curso, a formação do indivíduo a partir da
realidade dos envolvidos;
6) Ausência de recursos financeiros
para realização das atividades no tempo
comunidade, pois os custos para realização
dos encontros são feitos por estudantes e
professores; e,
7) A falta de oferta de disciplinas no
curso para atender os estudantes com
pendências.
É possível verificar nessa pesquisa os
desafios que o sujeito da classe
trabalhadora enfrenta para ter o acesso, a
permanência com qualidade no curso.
Dessa forma, Saviani (2008) enfatiza que
os desafios perante a educação, serão
superados se houver uma superação deste
modo de sociedade.
As perspectivas do curso de
Licenciatura em educação do Campo da
UFT-Arraias
De acordo com Aires (2020), o curso
da LEdoC Arraias/UFT possui diversos
enfrentamentos, principalmente por ser
novo e estar em busca constante por sua
existência e consolidação. No entanto,
conquistou espaços e possui elementos que
demonstram sua importância para a classe
trabalhadora por possuir/prever/garantir:
O acesso do sujeito da
classe trabalhadora à educação superior;
A proposta do curso de
formação de professores via Educação por
Alternância, além de ser uma forma
metodológica, pedagógica e
epistemológica que viabiliza a grande parte
da classe trabalhadora estudar e trabalhar;
elementos em sua
materialização que indicam uma formação
humana pautada na transformação a partir
da realidade, isso implica em pensar que
tal concepção será levada para atuação no
campo ou na cidade;
Concebe a teoria e prática
numa via de mão dupla na mediação do
conhecimento nos tempos/espaços de
aprendizagem-universidade e comunidade;
A efetivação de atividades
nos tempos da universidade e nos tempos
da comunidade numa perspectiva contra
hegemônica;
Perspectivas de professores
atuando em escolas no campo com
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formação superior, contribuindo para com
os sujeitos que residem no campo;
Consolidação do curso de
formação de professores para que de fato
este se institucionalize nas universidades e
institutos federais; e,
O curso em análise recebeu
avaliação do MEC (2019) com nota de
Excelência, nota 5.0 (numa escala de 1 a
5), fato muito importante diante do
momento político delicado que estamos
vivendo.
Nesse sentido, compreendemos que a
LEdoC não assegura uma formação aos
sujeitos em sua totalidade, por apresentar
limitações em sua materialização dadas às
condições da estrutura. No entanto,
sabemos que sem ela, setores da classe
trabalhadora que trabalha e vive no campo,
tampouco teria a oportunidade de
frequentar uma universidade, porque
entendemos que a educação projetada pela
burguesia para seu uso próprio é
inseparável do modelo de sociedade
burguesa. Ela contribui para amenizar os
conflitos, incutir leis e normas, fazer
cumprir a ordem e assim, para que os
trabalhadores aceitem as relações sociais
de exploração às quais estão submetidos
(Ribeiro, 2013, p. 307).
Perspectivas dos egressos do curso de
Licenciatura em Educação do Campo
Neste subitem versaremos sobre as
perspectivas dos egressos do curso de
Licenciatura em Educação do Campo,
verificando suas contribuições pessoais e
em relação a sua inserção no mundo do
trabalho, especificamente nas áreas de
formação - Artes Visuais e Música.
Para essa compreensão, faz-se salutar
mapear as entradas de alunos (quantidades
e em quais semestres) para visualizar
quantos possuem tempo mínimo para
integralização do curso e quantos
concluíram seus estudos.
Registra-se que o edital que a LEdoC
da UFT/Arraias concorreu junto ao MEC e
previa que, ao final de um triênio, 360
matrículas fossem efetivadas. Deste modo,
a primeira turma ingressou no primeiro
semestre de 2014 com um total de 120
alunos; no ano seguinte (2015) foram
realizadas duas seleções para 60 vagas
cada; e, no ano (2016), outras 120 vagas
foram disponibilizadas em única seleção
novamente, fechando o previsto/pactuado.
Após esse período, o número de vagas e
entradas foi reduzido para 60 por ano, e,
em 2018/2º para 40 ingressantes anuais.
O tempo mínimo para integralização
do curso é de 4 (quatro) anos (8 semestres).
Em virtude da greve que ocorreu em 2015,
o curso atrasou um semestre e as primeiras
turmas acresceram um semestre no
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cômputo para sua integralização. Vejamos
os números do curso no ano de 2019.
Tabela 1- Alunos matriculados na LEdoC da UFT/Arraias.
Ano/Semestre
Ingressantes
Matriculados
Formados
Semestre mínimo
previsto para
integralização do curso
2014/1º
120
50
34
2018/1º
2015/1º
60
39
03
2019/1º
2015/2º
60
37
-
2019/2º
2016/2º
120
52
-
2020/2º
2017/1º
59
43
-
2021/1º
2018/1º
60
49
-
2022/1º
2018/2º
41
41
-
2022/2º
Total
520
311
37
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados formatado pela Secretaria Acadêmica em 06/02/2019 e
Secretaria LEdoC, UFT/Arraias em 12/12/2019.
De acordo com os dados
disponibilizados pela Secretaria
Acadêmica em 06/02/2019 e Secretaria
LEdoC da UFT/Arraias, em 12 de
dezembro de 2019, do total de ingressantes
dos editais de processos seletivos de 2014
e 2015/1º, somente 37 sujeitos
conseguiram concluir o curso. Ou seja, de
180 ingressantes, apenas 20% se formou
nos prazos previstos. Esse número merece
atenção.
Devido ao formato do curso e da
oferta das disciplinas (nas férias, feriados e
finais de semana), quando um aluno
reprova, possui poucas chances de cursar a
disciplina em período distinto. Essa
situação contribui para essa realidade de
não integralização do curso dentro do
prazo mínimo, como registrado pelo
estudante L (LEdoC, 2019) a seguir:
... em relação às disciplinas que não
consegue passar: teria um período
para você vir fazer elas. Não só agora
em julho ou janeiro ... você tem
outras disciplinas pra fazer e nesse
período você choca e não pode fazer.
Então eu acho que nesse ponto é uma
conversa assim que eu penso.
Conversei com alguns alunos que
estudam na UNB e tem um período
para você ir isso aqui, essa via,
pode ser com outra matéria, mas tipo
cinco, dez dias condensados; não
esse problema de chocar horário com
disciplinas; deveria ser melhor.
Além desse choque de horários de
disciplinas no período do Tempo
Universidade, as características dos
estudantes não permitem cursar disciplinas
em outros cursos, pois como dito em
outras partes do texto, moram distantes da
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cidade de Arraias, como também possuem
disciplinas muito específicas do próprio
curso de Educação do Campo nas áreas de
Artes e Música que não são ofertadas por
outros cursos. Ademais, como estão
matriculados em um semestre anterior
devido ao atraso de calendário por uma
greve ocorrida no mês de atividades
intensivas que não foram repostas, o
sistema da universidade não permite a
matrícula em dois semestres letivos
concomitantemente.
Nesse sentido, uma das possíveis
sugestões para aumentar o quantitativo de
concluintes do curso seria pensar numa
organização sistematizada para a oferta
pelo próprio curso de disciplinas aos
estudantes que não conseguissem
aprovação, nos períodos regulares e/ou em
dias e horários especiais, como por
exemplo, no período noturno. Além desses,
certamente existem outros fatores que
levaram a não integralização dos estudos
desses alunos no período mínimo do curso
e que necessitam de estudos mais precisos
sobre essa questão.
Dando continuidade à pesquisa,
indagarmos aos egressos sobre o tempo de
conclusão no curso de Licenciatura em
Educação do Campo, e obtivemos as
seguintes respostas:
- mais de um ano, a colocação de
grau foi dia 30 de novembro de 2018.
(Egresso A, LEdoC, 2019).
- Tem um ano. Eu colei grau em
novembro de 2018. (Egresso B,
LEdoC, 2019).
- Eu colei grau dia 30 de outubro de
2018. (Egresso C, LEdoC, 2019).
- um ano. (Egresso D, LEdoC,
2019).
- Há pouco mais de um ano. (Egresso
E).
- Sou formada no curso de
Licenciatura em Educação do Campo
um ano e um mês. (Egresso F,
LEdoC, 2019).
- Sou formada desde a primeira
colação de grau, ou seja, desde
outubro de 2018 (Egresso G, LEdoC,
2019).
- Um Ano. (Egresso H, LEdoC,
2019).
- Sou formado 1 e 2 meses.
(Egresso I, LEdoC, 2019).
- Eu sou formado no Curso de
Licenciatura em Educação do Campo
há mais de 1 ano. (Egresso J, LEdoC,
2019).
Quando analisamos o tempo de
conclusão do curso pelos egressos,
percebemos que todos já se formaram
mais de um ano na LEdoC. E, muitos deles
poderiam estar contribuindo para com a
formação de sujeitos do campo, no sentido
de atender uma das propostas do curso, que
é colaborar com formação dos povos que
vivem no campo.
Questionamos os egressos do curso
de Licenciatura em Educação do campo
para sabermos se estão atuando como
profissionais da Educação no Campo ou se
continuam com seus trabalhos fora da
educação. Assim, eles se manifestaram:
Estou atuando sim, como professora
de Libras, contrato temporário.
(Egresso A, LEdoC, 2019).
Aires, H. Q. P., & Bezerra Neto, L. (2021). Perspectivas dos egressos do Curso de Licenciatura em Educação do Campo, Campus Arraias/Tocantins...
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Não. Eu trabalho na Secretaria
Municipal, estou na supervisão
escolar, mas atuando na educação
infantil com turmas de ao ano.
(Egresso B, LEdoC, 2019).
Eu atuei como voluntária,
desenvolvendo projetos. Agora não.
Mas já atuei. Atualmente estou
somente estudando para concursos
mesmo. (Egresso C, LEdoC, 2019).
Atuo em algumas partes. Quando eu
estou trabalhando, aproveito as
discussões para a elaboração de
algum material para as escolas,
aquelas que estão situadas no campo.
Mas atuando na área mesmo, não. Na
coordenação pedagógica nas escolas
do campo. Então, a gente aproveita
algumas leituras, alguns textos pra
discutir algumas questões que voltam
para as questões das políticas
públicas. (Egresso D, LEdoC, 2019).
Indiretamente sim, mas como
coordenador de duas escolas da área
rural. Ainda não tive a oportunidade
de exercer a docência das
habilitações pelas quais fui formado
no curso. (Egresso E, LEdoC, 2019).
Ainda não atuo na área da Educação
do Campo. (Egresso F, LEdoC,
2019).
Não atuo na área. (Egresso G,
LEdoC, 2019).
Não. (Egresso H, LEdoC, 2019).
Não. (Egresso I, LEdoC, 2019).
Não. Desde que conclui o curso o
atuo na área da Educação, trabalho
apenas com vendas. (Egresso J,
LEdoC, 2019).
Pelas respostas dos egressos, do total
de 10 participantes, somente 04 dos
entrevistados estão atuando mesmo que
indiretamente com a formação dos
sujeitos que vivem no campo. Um dado
importante nas respostas dos egressos é
que alguns deles estão atuando na área da
Educação não propriamente em escolas
localizadas no campo, mas estão em
funções de coordenação/supervisão em
secretarias municipais que contribuem para
a Educação no Campo.
Essas informações geraram outros
questionamentos a partir dos que
apontamos na introdução desta pesquisa:
Nesse sentido, seria importante saber se o
curso atende às necessidades dos povos do
campo? Como inserir os egressos no
mundo do trabalho, se a proposta do curso
é por área de conhecimento e a realidade
das escolas públicas o contempla essa
perspectiva? Como participar de seleções
de contratos e concurso públicos com uma
formação “Curso de Licenciatura em
Educação do Campo com Habilitação em
Artes Visuais e Música”? Será que o curso
contribuirá para a formação profissional
dos sujeitos da classe trabalhadora de fato?
Nesse sentido, os egressos foram
questionados se concursos públicos que
contemplem a sua área de formação, e com
base nas informações deles foi possível
verificar que a Educação do Campo e o
curso de Educação do Campo com
habilitação em Artes Visuais e Música
ainda encontra barreiras nesses processos
de seleção. A partir das respostas pudemos
perceber que isto ainda é um desafio a ser
enfrentado no sentido de assegurar na
prática algumas das conquistas obtidas
pelos sujeitos da classe da trabalhadora e
do campo. Essa preocupação também é
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relatada por Brito e Molina (2016, p. 1742)
ao destacarem que:
Outro ponto importante a ser
trabalhado é a inserção no mundo
do trabalho e especificamente nas
áreas de formação da Licenciatura
em Educação do Campo uma questão
que suscita o aprofundamento é quais
as estratégias que devem ser adotadas
por esses egressos para inserção nas
escolas do campo especificamente na
área para o qual foram formados
(Ensino Fundamental maior e
Médio).
A inserção dos egressos no mercado
de trabalho via seleções e concursos
públicos é uma inquietação dos egressos,
como relata um deles ao ser questionado
sobre isso: “Ainda não. Os concursos que
saíram, nenhum, que vimos tem pra
área de Educação do Campo” (Egresso A,
2019). Essa situação nos faz retomar a
questão da formação de professores por
área de conhecimentos visto que, nesse
formato, os egressos enfrentarão alguns
desafios.
As nossas análises acerca disso
coadunam com as falas dos egressos:
Não. Nenhum concurso que eu já
pesquisei (até com interesse de me
candidatar nessas vagas) não possui
vagas nessa área. Acredito que falta
de divulgação para o público, para os
municípios, para as secretarias de
educação tanto estadual como
municipal. Então, assim, a falta de
divulgação, não essa divulgação.
Então muitos municípios, muitas
secretarias de educação desconhecem
esse curso. (Egresso B, LEdoC,
2019).
saiu somente na área de Artes. Na
Educação do Campo não.
Contemplam somente professores de
Artes Visuais, não vem esclarecendo
se é Educação do campo e Artes
Visuais. (Egresso C, LEdoC, 2019).
Quando partimos para as questões de
concursos públicos, as habilitações do
curso do curso se tornam um entrave, pois
nas seleções que surgiram, tais
habilitações o foram contempladas. E
mais uma vez, as especificidades da
Educação do Campo não são consideradas.
O Egresso I (2019) enfatiza que esse
campo de conhecimento ainda muitos
entraves, as oportunidades para atuar nessa
área são poucas pelo menos até o
momento”. De fato, ainda são muitos
desafios acerca da efetivação das políticas
públicas para o sujeito da classe da
trabalhadora do campo.
Vale relembrar que, os estudantes do
Curso de Licenciatura em Educação do
Campo não participaram do último
ENADE, porque as provas não
contemplam as duas habilitações. Elas são
específicas ou para Artes Visuais ou para
Música.
Um breve levantamento dos editais
de seleção lançados na região em que estão
localizados alguns dos estudantes
comprova as observações feitas pelos
alunos. Apresentemos sinteticamente os
editais e as áreas previstas: A Prefeitura
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Municipal de Paranã lançou edital (nº
01/2019) de concurso público para
preenchimento de 120 vagas em cargos de
todos os níveis de escolaridade
(fundamental, médio, cnico e superior)
na Secretaria Municipal com os seguintes
cargos para a área da Educação: Auxiliar
de Professor e Assistente Administrativo
(nível médio/técnico) e Professor de
Pedagogia (nível superior). Os editais não
contemplam o curso de Educação do Campo,
pois na minha cidade, Paranã ... houve um
concurso e, no entanto, não pude fazer, pois na
minha área não tinha absolutamente nada”.
(Egresso G, LEdoC, 2019).
Outro Concurso Público foi realizado
em 2019, unificado para as Prefeituras de
Jaú do Tocantins Palmeirópolis/TO e São
Salvador do Tocantins/TO. As vagas na
área da educação foram: Professor Nível II
(formação mínima em Pedagogia e/ou
Normal Superior), Professor Nível II
(formação em Letras com habilitação em
Inglês), Professor Nível II (formação em
Educação Física). Os municípios
supracitados que realizaram concursos
públicos no ano de 2019, são municípios
que atendem estudantes da LEdoC e são
circunvizinhos a Arraias - TO, onde situa o
Campus Universitário.
Além desses, mais um edital
01/2020 de concurso blico da Prefeitura
Municipal de Arraias saiu em
(15/01/2020), e não considerou tais
habilitações em suas vagas. As vagas na
área da educação para nível superior
foram: Professor de Língua
Portuguesa/Letras e humanas/zona rural;
Professor de Matemática e humanas/zona
rural Professor Pedagogo/zona rural.
Diante dessa realidade, nos
questionamos: como ficam as expectativas
de trabalho dos egressos? As respostas dos
egressos sobre conhecimento de editais de
campo de trabalho na área demonstram
suas frustrações:
Não tenho conhecimento. Dos editais
mais recentes que tive a oportunidade
de ler eram de concursos municipais
os quais não disponibilizaram vagas
para áreas específicas, sendo na sua
maioria ofertadas nas áreas de
Pedagogia. Espero que sejamos
contemplados com vagas em
concursos estaduais. (Egresso E,
LEdoC, 2019).
Sim. No ano de 2019 teve um
processo seletivo, em área específica,
disponibilizado pelo governo do
Estado de Goiás, e nele estava vaga
para artes visuais. (Egresso H,
LEdoC, 2019).
Dessa forma, acreditamos que os
cursos de licenciaturas no Brasil serão
vistos e reconhecidos com essas
habilitações se houver por parte dos
interessados principalmente estudantes e
professores discussões acerca disso com
os gestores municipais e estaduais de
educação, bem como prefeitos e
governadores, explicitando a necessidade
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de reconhecê-los nesse processo por meio
de leis e decretos.
As legislações educacionais preveem
desde 2008 (Lei nº 11.769/2008) a inclusão
da Música na Educação Básica, no entanto,
não houve sua obrigatoriedade como
disciplina e sim como conteúdo, o que não
impacta também na obrigatoriedade em
concursos para licenciados em Música.
Ademais, o Programa de Apoio à
Formação Superior em Licenciatura em
Educação do Campo (Procampo), que
apoia e implementa os cursos de LEdoC
nas Instituições de Ensino Superior (IES)
de todo o país, prevê especificamente a
formação de educadores para a docência
nos anos finais do ensino fundamental e
ensino médio nas escolas rurais. Sendo
assim, em muitos concursos para os anos
iniciais do ensino fundamental, essas
habilitações não são discutidas e inseridas,
e sim a formação de Pedagogia que nem
sempre consegue contemplar os elementos
para o trabalho com música nessa fase.
Para além dessa iniciativa, talvez
fosse interessante o colegiado pensar em
principiar uma discussão sobre as
habilitações. Uma ideia seria os estudantes,
na metade do curso, poderem optar por
uma habilitação de seu interesse: Artes
Visuais ou Música. Dessa forma, os
egressos teriam uma oportunidade maior
na inserção e aprofundar seus estudos na
habitação para qual escolheu. É uma
proposta possível, dado que existem outras
Licenciaturas em Educação do Campo no
Brasil que trabalham nessa perspectiva,
como por exemplo, o Curso de
Licenciatura em Educação do Campo
ofertado na Universidade Federal do
Triângulo Mineiro, que possibilita ao
estudante a escolha de duas habilitações
Licenciatura em Matemática e/ou
Licenciatura em Ciências da Natureza.
Segundo o Projeto Pedagógico do
curso (PPC) da referida IES (2019), a
escolha da habilitação é realizada no
terceiro semestre do curso, podendo haver,
ao término desta etapa a complementação
para a segunda habilitação. Nessa
estruturação, o estudante tem a
oportunidade, caso seja do seu interesse, de
ter outra habilitação por meio da
complementação dentro da própria
instituição e curso, obtendo duas
habilitações específicas e/ou podendo se
dedicar a uma que possua mais afinidade.
No que se refere à contribuição do
curso para a vida dos sujeitos da classe
trabalhadora, tanto para os estudantes
como egressos, é explícito como este
possibilita a construção do conhecimento.
Podemos verificar isso na fala de um dos
egressos:
O curso de Educação do Campo, pra
mim foi um divisor de águas na
minha vida, pois me emancipei como
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pessoa, como profissional. Antes do
curso, eu era uma pessoa que tinha
vergonha da minha origem, não
gostava de falar que era do campo,
que morava no campo, então, tinha
vergonha de assumir a própria
identidade. E hoje tenho orgulho da
minha origem, me conscientizei a
partir do aprendizado que adquiri no
curso, porque o curso, nos
ensinamentos, estava focado na
valorização das tradições, da cultura
né, dos conhecimentos populares,
então aquilo foi fazendo com que eu
fosse me emancipando e fosse
deixando de lado a vergonha que eu
tinha de assumir a minha própria
identidade. Hoje, me considero uma
pessoa apta a ensina e também a
aprender com meus alunos, uma
troca mútua de conhecimentos
populares como científicos; que no
caso, essa junção é de grande valia
para o meu crescimento profissional
e pessoal. (Egresso A, LEdoC, 2019).
Uma das vantagens desse curso de
Licenciatura em Educação do Campo
consiste na possibilidade de construção do
conhecimento de maneira contra-
hegemônica, pois a materialização do
curso nessa perspectiva pode colaborar
muito para que os sujeitos possam
observar, ver, pensar e agir de forma
diferente em relação aos vários conceitos
arraigados na história da humanidade.
Conceitos estes, por exemplo, sobre sua
própria identidade, a educação e as
contradições existentes em nossa
sociedade.
Como dito em outras partes desta
pesquisa, o processo de escolarização da
educação, principalmente a básica, camufla
muitas verdades às vezes
inconscientemente, por falta de
conhecimento dos educadores e isso de
certa forma, interfere na formação do
sujeito como um todo, contribuindo para
que ele continue sendo passivo, aceitando
tudo, como se fosse algo natural da própria
sociedade.
Vejamos a análise da importância
nas palavras de outro egresso:
Ele veio a somar. Aumentar ainda
mais os meus conhecimentos porque
antes de ingressar no curso eu
tinha feito alguns cursinhos sabe,
principalmente voltados para
Educação do Campo, porque muitos
tem uma visão errônea da Educação
do Campo... eles começam a
confundir isso. Coloca educação
rural, educação urbana, educação do
campo e para o campo. Então,
arruma uma confusão muito grande.
Quando eu comecei a fazer o curso, a
primeira semana que teve aquele
seminário integrado começou
aquele impacto muito grande porque
eu tive essa diferença da Educação
do Campo. Então teve vários
questionamentos a respeito disso, aí e
abriu muito a minha mente ... hoje,
quando alguém me pergunta assim:
educação do campo é somete o que?
É somente onde você vai mexer com
área rural, com animais?... muitas
pessoas têm a mente fechado nessa
questão. A disciplina você vê,
começando com seminário integrado
onde você começa a ver ali, a história
do homem do campo e aquela
imagem que está toda distorcida de
quem é o homem do campo é assim.
O pessoal da educação do campo
precisa ter isso em mente que a
educação do campo não é uma coisa
que somente vou mexer com animal
ali e tal. Não é isso aí. Ela engloba
um todo, é muitas coisas juntas.
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Então veio somar para o meu
crescimento, para meus
conhecimentos, aumentar minha
bagagem de conhecimento. E assim,
quanto mais eu aprofundar nesse
tema pra mim é melhor porque se
uma pessoa chegar e perguntar para
mim. Karine fale um pouco de
educação do Campo, Educação para
o Campo; Educação no Campo e eu
vou ter todas as respostas. É algo que
quanto mais a gente puder
aprofundar, só veio a somar. (Egresso
C, LEdoC, 2019).
Essas considerações mostram o
quanto essas informações em relação aos
sujeitos que vivem no campo acerca do
próprio campo e suas características
pairam nas ideias das pessoas de maneira
equivocada. Muitas delas ainda acreditam
que as pessoas que vivem no campo não
precisam de estudos, somente da terra para
trabalhar. Em relação a essa questão,
ouvimos várias frases do tipo: “Se você
não quiser estudar, vai voltar para roça pra
trabalhar”; “Estudar não é para pobre”;
entre outras que permeiam a realidade dos
camponeses.
A fala de um egresso entrevistado
expressa com pontualidade essa questão:
Embora não esteja atuando
profissionalmente na área do curso de
Licenciatura em Educação do
Campo, ressalto algumas
contribuições, que afirmo ser de
valor inestimável. Durante o meu
percurso, enquanto aluna do curso
referido, uma gama de
conhecimentos até então
desconhecidos, ou até mesmo,
informações que perpassavam
despercebidas, ou mesmo
“maquiadas”, me foram apresentadas.
Obtive a oportunidade de conhecer a
alguns fatos históricos sobre a
educação, desde o seu surgimento,
até a sua organização e aplicação;
compreendi como ocorreram e
ocorrem até a atualidade algumas
injustiças sociais, tais como: a
defasagem no ensino, em relação a
maneira como a educação em nosso
país é imposta. Sendo assim, se fez
notável, em alguns casos, o
desconhecimento e a falta de
criticidade, em relação as lutas dos
movimentos sociais e sindicais, suas
conquistas e ainda a defasagem do
ensino para alguns das classes menos
favorecidas, provocada por diversos
fatores e entre eles se encontra a falta
de apoio por parte dos governantes
do nosso país. (Egresso F, LEdoC,
2019).
As falas de alguns egressos
demonstram que o curso possibilitou a
elevação do conhecimento por vários
ângulos, e, os estudantes que participaram
das entrevistas relataram que práticas
pedagógicas proporcionam a construção de
conhecimentos a partir da realidade em
vivem: O curso trouxe grandes benefícios
para minha vida pessoal, onde pude
adquirir uma visão de mundo mais ampla
tanto da área da educação quanto politica,
acreditando sempre que o conhecimento
pode transformar pessoas e mudar
realidades”. (Egresso J, LEdoC, 2019).
Os egressos revelam que o curso da
LEdoC proporcionou contribuições
importantes à formação pessoal e
profissional deles. Muitos disseram que
hoje possuem outra visão da “Educação do
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Campo”, compreendem que o campo
perpassa a ideia equivocada de “lugar
atrasado”, de “povo atrasado”, dentre
outros termos muito comuns nos discursos.
Entendem, por exemplo, que o Campo é
lugar de conhecimento, cultura,
diversidade, aprendizado, identidade,
enfim da construção de novas
possibilidades.
Para Fernandes et al. (2004, p. 137),
o campo é:
... lugar de vida, onde as pessoas
podem morar, trabalhar, estudar com
dignidade de quem tem o seu lugar, a
sua identidade cultural. O campo não
é o lugar da produção
agropecuária e agroindustrial, do
latifúndio e da grilagem de terra. O
campo é espaço e território dos
camponeses e dos quilombolas.
Essa compreensão é fundamental
para a formação de professores visto que,
não contribui para o reconhecimento da
sua identidade, mas pode promover
mudanças na formação de pessoas, na
medida em que eles forem atuar em escolas
localizadas no campo e colocarem em suas
práticas pedagógicas conteúdos e
discussões sobre esses assuntos,
possibilitando que os sujeitos que estão
compreendam sua história, sua identidade,
sua cultura.
Esses apontamentos podem ser
verificados também nas palavras do
Egresso H (2019): “o curso me ofereceu
subsídios para compreender o processo
histórico que envolve a complexidade do
Campo Brasileiro, e mais autonomia e
segurança para profissionalmente
desenvolver um bom trabalho a favor dos
direitos do homem que vive no campo”.
Registramos aqui outras falas que
também reforçam essa questão:
Contribuições o relevantes. Pra
minha questão profissional foi um
curso que me ajudou muito nessa
questão de eu voltar, de eu entrar
novamente pra pesquisa e também
assim trabalhar essa questão da
extensão, que até então, nas outras
licenciaturas não tive essa
oportunidade de ir para o processo de
extensão universitária nas pesquisas.
E o curso de Educação do Campo me
propiciou essa questão da extensão,
das pesquisas. Na questão também da
entrada no mestrado, ajudou bastante.
É um curso que tive a oportunidade
de pesquisar e participar de vários
congressos, apresentar vários
trabalhos, publicar artigos, publicar
um capítulo de livro ... (Egresso D,
LEdoC, 2019).
O curso de Licenciatura em
Educação do Campo contribuiu
significativamente para a minha
formação pessoal e profissional. Eu
venho de uma primeira Licenciatura
em Matemática (2008). Porém, eu
vim entender o que é um artigo, uma
resenha e até mesmo uma monografia
no curso de Educação do Campo,
onde eu tive professores bem
capacitados. Além disso, o contato
com as artes visuais e com a música
despertaram em mim um outro lado
que não conhecia. Apreciar uma tela
e ouvir uma boa música passaram a
fazer parte da minha vida desde
então. Sem falar no gosto pelo violão
que pra mim é como se fosse uma
terapia. (Egresso E, LEdoC, 2019).
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Por outro lado, egressos que
perceberam a lacuna na formação de
professores por área de conhecimento ao
tentar se inserir no mundo do trabalho,
como podemos verificar na fala a seguir:
... o curso é muito bom, trouxe
muitas contribuições enquanto
pessoa, mas como profissional
infelizmente não tem área de atuação
no mercado de trabalho; eu
particularmente tive que tentar uma
pós para ver se consigo algum
emprego, pois não tem demanda no
mercado de trabalho. (Egresso G,
LEdoC, 2019).
Concordamos com o egresso em
relação às contribuições do curso para vida
pessoal, no que se refere à demanda de
atuação nas áreas de habilitação Artes
Visuais e Música, discordamos em partes;
necessidade (demanda) desse
profissional visto que, na maioria das
escolas públicas essas áreas são
trabalhadas por outros profissionais (com
licenciaturas em Letras, Geografia,
História e outras). O que falta de fato é o
reconhecimento dos professores na
Educação do Campo e o cumprimento da
exigência da formação específica dos
docentes para atuarem com a área da Arte.
Ademais, é importante registrar que a
região é um polo educacional e que onde
existe um determinado curso, tão logo as
primeiras turmas se formam, preenchem
a demanda local. Além das 360 (trezentas e
sessenta) vagas que obrigatoriamente
teriam que ser ofertadas, de acordo com o
edital da LEdoC, outras 200 (duzentas)
vagas foram ofertadas, totalizando 560
até final de 2019. Esse número ultrapassa
qualquer demanda local e regional.
Sobre as contribuições, outro egresso
também destaca:
São várias contribuições, por mais
que seja um campo de estudo novo e
também onde o mercado de trabalho
para essa área ainda é pouco, esse
curso é bastante produtivo e agrega
vários conhecimentos e
oportunidades futuras para a vida
profissional e pessoal; além de
oferecer duas habilitações no caso
Artes Visuais e Música. Mas no geral
é um curso excelente; a única questão
que deixa a desejar são as poucas
opções no mercado de trabalho.
(Egresso I, LEdoC, 2019).
Esses relatos mostram que conseguir
reconhecimento e trabalhar na área de
formação ainda é uma das grandes
dificuldades dos egressos e, isso demanda
dos interessados, iniciativas para colocar
esse assunto em pauta nas discussões com
o objetivo de construir ações concretas
para os formados não somente do curso de
LEdoC da UFT/Arraias, mas também para
os de outras LEdoCs de todo o Brasil.
Tecendo algumas considerações
A partir das discussões realizadas na
presente pesquisa, foi possível
constatarmos que a educação brasileira é
Aires, H. Q. P., & Bezerra Neto, L. (2021). Perspectivas dos egressos do Curso de Licenciatura em Educação do Campo, Campus Arraias/Tocantins...
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desenvolvida em muitos espaços e
perspectivas nos moldes dos interesses
da lógica do sistema neoliberal, e não
consegue ainda ser de fato o principal
instrumento para reverter esse modelo
hegemônico. Todavia, deve ser
compreendida como uma ferramenta de
enfrentamento contra o capital que se
alastra na sociedade, aumentando o abismo
social existente entre pobres e ricos. Esse
enfrentamento dar-se por meio da
reflexão dos sujeitos sobre as condições
materiais de sua realidade e ao relacioná-
las para compreender e interferir de
maneira consciente que não basta conhecer
as relações sociais da sociedade capitalista;
é preciso intervir nela para que haja
transformação social (Marx, 1973).
Assim sendo, a Educação no Campo
deve ser pensada e praticada como uma
proposta que possibilita a difusão do
conhecimento acumulado pela
humanidade, em que estabelece práxis
pedagógicas relacionadas a partir dos
interesses dos sujeitos do campo,
contrapondo-se aos da classe dominante e
ao modo de produção capitalista.
A falta de algumas condições
basilares para a efetivação da educação de
qualidade (como transporte estudantil
precário, número insuficientes de
professores qualificados, currículo dos
programas não ideais às diferentes
realidades, quantidade não satisfatória de
materiais pedagógicos, problemas com a
qualidade na merenda escolar etc.), são
características que ainda permeiam a
realidade dos sujeitos que vivem no
campo. Embora tenham ocorrido
algumas mudanças, a efetivação das
políticas públicas ainda não se consolidou
para esse espaço, repercutindo
negativamente na vida desses sujeitos.
No que concerne aos avanços
alcançados, insere-se o curso de
Licenciatura em Educação do Campo
Educação que, a priori, não resolverá todos
os problemas e mazelas que ocorrem na
vida da classe trabalhadora do campo. No
entanto, constitui-se como uma ação
efetiva para o atendimento desses sujeitos,
no sentido da acessibilidade de
conhecimentos construídos pela
humanidade, buscando a consciência de
classe, contribuindo para sua emancipação
a partir da realidade concreta.
A Educação da classe trabalhadora a
partir dessas posturas não possibilita
uma formação mais concreta, como
também contribui para a construção de
uma sociedade menos desigual.
O curso possui como pressuposto
uma formação de educadores ancorada na
contextualização e transformação a partir
da realidade. Sobretudo, concebe o
processo de ensino e de aprendizagem a
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partir de pressupostos da Educação por
Alternância, evidenciando aspectos de
formação humana numa perspectiva
emancipadora capaz de interferir na vida
dos sujeitos que vivem no e do campo,
contribuindo assim para a transformação
da sociedade local.
Nesse sentido, os resultados dessa
pesquisa nos permitem tecer algumas
considerações sobre os estudantes que
compõem a LEdoC. A primeira é que o
modelo que o curso adota atualmente,
como pontuado pelos entrevistados,
permite a dinamicidade da mediação e
interlocução/compartilhamento do
conhecimento no curso e se aproxima de
fato de uma Educação por Alternância.
Isso porque, o processo de articulação dos
saberes nos TU e TC está se consolidando,
possibilitando assim, uma apreensão maior
dos conteúdos propostos como, elaborado
no PPC (UFT, 2013) de curso em análise.
É inegável que o curso de
Licenciatura em Educação do Campo
possibilita a classe trabalhadora do campo
o acesso à educação superior. No entanto, a
expansão de cursos voltados para essa
população que é diversa em vários
aspectos apresenta alguns entraves
inerentes ao perfil dos alunos, uma vez que
muitos desses estudantes são mães e pais
de famílias que necessitam do trabalho
para sua sobrevivência. Diante disso,
conciliar o trabalho e estudo é o desafio
para muitos para se chegar até o diploma.
Quando retomamos o
questionamento da introdução desta
pesquisa: Quais são perspectivas dos
egressos da LEdoC da UFT/campus de
Arraias, Tocantins? Em relação aos
egressos da LEdoC, analisamos que o
número de estudantes que concluíram
ainda não é expressivo, pois de acordo com
os dados coletados, somente 37 (trinta e
sete) sujeitos concluíram o curso. Por outro
lado, os egressos revelam que o curso da
LEdoC proporcionou contribuições
importantes à formação pessoal, uma vez
que muitos disseram que hoje têm outra
visão da “Educação do Campo”. Nessa
nova percepção, compreendem que o
campo perpassa a ideia equivocada de
“lugar atrasado”, de “povo atrasado”,
dentre outros termos negativos e
preconceituosos. Entendem que o Campo é
lugar de conhecimento, cultura,
diversidade, aprendizado e identidade,
afinal é o lugar da construção das novas
possibilidades.
Quanto à inserção ao mundo
trabalho, o curso (e suas especificidades)
ainda não está sendo contemplado em
editais de seleções e concursos, tanto
municipais como estaduais, o que exige
uma atenção sobre essas questões por parte
principalmente dos interessados.
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Diante dos dados apresentados nesse
estudo, é possível perceber que a LEdoC se
empenha para que de fato sua proposta se
materialize de forma satisfatória, no
entanto, possui muitos desafios ainda. Esta
pesquisa também nos possibilitou
compreender que a educação é
condicionada a vários fatores, dentre eles,
os que se referem à questão de estrutura e
infraestrutura da sociedade.
Assim, entendemos que o curso de
Licenciatura em Educação do Campo
apresenta essas condicionalidades bem
mais enfáticas para sua materialização por
se tratar de pessoas da classe trabalhadora
e, ainda, do campo, bem como serem de
localidades diversas da sede do campus
universitário.
É importante ressaltar que o cenário
atual é incerto (2021) pelo fato de algumas
políticas públicas educacionais estarem
sendo ameaçadas nesses últimos anos e
isso, por sua vez, afeta diretamente a
consolidação das LEdoCs. Entende-se que
as lutas da classe trabalhadora foram
importantes para a conquista de alguns
direitos, no entanto, é preciso mais do que
urgente resistir às ações contrárias a essa
classe (como foi a extinção da
SECADI/MEC), no sentido de pelo menos
garantir a conservação de alguns direitos
sociais, dentre eles o do acesso (e da
permanência) à educação com qualidade.
Nesse desiderato, pode-se dizer que a
realização desta pesquisa foi de grande
importância para compreender melhor a
concepção histórica, política e
epistemológica na dinâmica de formação
de professores para atuarem em escolas no
campo, além de contribuir com as
discussões sobre os desafios e perspectivas
da educação superior no âmbito da
Educação no Campo. Em síntese, este
texto não tem a pretensão de esgotar a
análise em curso, mas suscitar inquietações
na busca para a melhoria de sua qualidade.
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i
Deposição da Presidente da República Dilma
Rousseff pelo Congresso Nacional.
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ISSN: 2525-4863
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Informações do Artigo / Article Information
Recebido em : 04/08/2021
Aprovado em: 12/10/2021
Publicado em: 13/11/2021
Received on August 04th, 2021
Accepted on October 12th, 2021
Published on November, 13th, 2021
Contribuições no Artigo: Os(as) autores(as) foram
os(as) responsáveis por todas as etapas e resultados da
pesquisa, a saber: elaboração, análise e interpretação dos
dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito
e; aprovação da versão final publicada.
Author Contributions: The author were responsible for
the designing, delineating, analyzing and interpreting the
data, production of the manuscript, critical revision of the
content and approval of the final version published.
Conflitos de Interesse: Os(as) autores(as) declararam
não haver nenhum conflito de interesse referente a este
artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Avaliação do artigo
Artigo avaliado por pares.
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Double review.
Agência de Fomento
Não tem.
Funding
No funding.
Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Aires, H. Q. P., & Bezerra Neto, L. (2021). Perspectivas
dos egressos do Curso de Licenciatura em Educação do
Campo, Campus Arraias/Tocantins. Rev. Bras. Educ.
Camp., 6, e12819.
http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e12819
ABNT
AIRES, H. Q. P.; BEZERRA NETO, L. Perspectivas dos
egressos do Curso de Licenciatura em Educação do
Campo, Campus Arraias/Tocantins. Rev. Bras. Educ.
Camp., Tocantinópolis, v. 6, e12819, 2021.
http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e12819