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representações que podem ser
objetivamente 'reguladas' e
'regulares', sem que, por isso, sejam
o produto da obediência a regras,
objetivamente adaptadas a seu
objetivo sem supor a visada
consciente dos fins e o domínio
expresso das operações necessárias
para atingi-las e, por serem tudo
isso, coletivamente orquestradas sem
serem o produto da ação combinada
de um maestro (Bourdieu, 2001, p.
94).
Partindo dessas considerações,
entendemos que práticas relacionadas com
o habitus são passíveis de serem
estudadas, mesmo que essas disposições
que orientam as práticas se deem na
condição simbólica, haja vista que as ações
dos agentes manifestam estratégias que
estão em concordância com as
representações que fazem sentido em seu
meio cultural. Isso nos leva às elaborações
de Certeau (1998) acerca das
possibilidades de, dentro de uma cultura de
massas, os sujeitos comuns serem capazes
de agir não só contra essa ordem, mas
inclusive de maneira alheia à ordem, por
estarem obedecendo às próprias
determinações culturais. Tais maneiras de
fazer só são possíveis no momento que são
forjadas numa arte de utilizar, o que sugere
que também existe nelas uma formalidade
material, encontrada e criada na relação do
homem com o Outro, em ocasiões reais.
Entender quais as condições que
essas práticas insurgem e que desafiam a
maioria como limite de ação desses
grupos, é o que faz com que o trabalho de
Certeau (2011) ganhe relevância e
notoriedade no cenário científico, uma vez
que estavam instaurados nos estudos da
sociedade apenas análises que tornavam
visíveis os meios de dominação. Quando
se faz uma ciência engajada com a
transformação social, é necessário
perceber brechas nos processos de
dominação, elaborações singulares que
produzem um fazer desobediente,
ancorado na quebra do puro repetir. O
autor pretende acompanhar o indivíduo
ordinário em ação, às vezes reproduzindo a
estrutura, às vezes quebrando ou limitando
as possibilidades de reprodução. Para
tanto, conta com a distinção de dois
conceitos: estratégia e tática.
Chamo de estratégia o cálculo das
relações de forças que se torna
possível a partir do momento em que
um sujeito de querer e poder é
“isolável’ em um ambiente. Ela
postula um lugar capaz de ser
circunscrito como um próprio e,
portanto, capaz de servir de base a
uma gestão de suas relações com
uma exterioridade distinta . . .
denomino, ao contrário, tática, um
cálculo que não pode contar como
um próprio, nem portanto que
distingue o outro como totalidade
visível. A tática só tem por lugar o
do outro . . . ela não dispõe de base
para capitalizar os seus proveitos,
preparar suas expansões e assegurar
uma independência em face das
circunstâncias. (Certeau, 2011, p.
46).