22
Só que a partir da hora que a gente
começa a entrar nessa vida de
acadêmico da educação do campo, ai
você começa a ver que você tem que
fazer a diferença, que você tem que
fazer alguma coisa, as coisas vão
começando a incomodar ... eu estudei
em uma escola coberta de palha, a
parede era de palha, mas aquilo
também não me incomodava. A
partir daí, isso passou a me
incomodar porque a gente começa a
ver que aquilo não é justo (Luana.
Município Pacajá. Turma 2 Ed do
Campo. Entrevista/julho de 2019).
Eu tinha uma visão muito assim do
campo, por a gente sofrer tanto
preconceito, eu já sofri, porque
mesmo sendo criança do campo, eu
já estudei aqui no município de
Altamira ... sofri muito bullying na
escola, que veio da roça, que falava
errado .... Então o curso ele abriu
assim entendimento, eu acho que ele
fez perceber nosso valor né, como
pessoa do campo, como agricultora,
acho que despertou aquele
sentimento, como é a palavra?
Pertencimento. Me sentir pertencente
àquela comunidade, aquele local, a
questão de identidade mesmo, eu me
identifiquei a partir do curso, como
pessoa do campo (Mara. Município
Pacajá. Turma 2 Ed do Campo.
Entrevista/julho de 2019).
Entre os agentes mediadores
com pouca relação política com os quadros
institucionais da ação coletiva, podemos
observar uma timidez nas representações
sobre si e menor atuação sociopolítica
antes e após o curso. Há uma repercussão
política e identitária dos cursos de ensino
superior nesses casos; os cursos teriam
funcionado como meios de formação de
uma possível condição camponesa
positivada, sobretudo, por conta da
construção de uma auto representação
sobre si e seu corpo (sua forma de
expressar-se), e do seu lugar de voz
pertencente a uma causa, principalmente
quando interage com o mundo citadino.
Superação de algo próximo ao que
Bourdieu (2004, p. 117) fala acerca do
cuerpo empaysanit, acampesinado: “...
como cuerpo de campesino tiene uma
percepción negativa ... No es exagerado
afirmar que la toma de consciencia de su
cuerpo es para él la ocasión privilegiada
de la toma de consciência de su condición
campesina”.
Esta auto percepção enquanto
camponês, sobretudo entre os egressos do
curso Educação do Campo, é bastante
forte, certamente por conta do discurso
curricular cuja presença do debate entre
campesinato e a luta por direitos
educacionais específicos é uma constante.
Isso tem influenciado deslocamentos
identitários, senão ampliação destes, tal
como é possível identificar nos
posicionamentos de Lívio. Especialmente
nos trechos: “Eu não me canso de dizer
que sou um camponês com todo orgulho...
a gente pensava de lutar nas causas,
melhorar cada vez mais nesse processo de
desenvolvimento rural...”. Estes conteúdos
identitários repetem-se nas representações
de si, manifestas por Elaine e Ismael. Esses
três egressos são ribeirinhos (sua relação