Revista Brasileira de Educação do Campo
Brazilian Journal of Rural Education
ARTIGO/ARTICLE/ARTÍCULO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e12974
Tocantinópolis/Brasil
v. 6
e12974
10.20873/uft.rbec.e12974
2021
ISSN: 2525-4863
1
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Cursos de Licenciatura em Educação do Campo no Piauí e
a utopia que ajuda a caminhar
Marli Clementino Gonçalves
1
, Lucineide Barros Medeiros
2
, Enayde Fernandes Silva Dias
3
1
Universidade Federal do Piauí - UFPI. Departamento de Fundamentos da Educação (DEFE) / Centro de Ciências da
Educação (CCE). Avenida Universitária, S./N. Bairro Ininga. Teresina - PI. Brasil.
2, 3
Universidade Estadual do Piauí - UESPI.
Autor para correspondência/Author for correspondence: marliclementino@yahoo.com.br
RESUMO. O artigo em tela tem por objetivo analisar
oportunidades de continuidade no processo de formação
acadêmica de pessoas egressas dos cursos de Licenciaturas em
Educação do Campo da Universidade Federal do Piauí (UFPI),
única instituição do Estado que oferta os cursos de modo regular
e permanente. A discussão foi produzida a partir da análise de
documentos contendo resultados de pesquisas a respeito das
experiências de egressos e de notícias publicadas no site oficial
da UFPI. O arcabouço teórico está amparado em Batista e Silva
(2020); Molina (2017); Paz, Arrais e Mota (2017); Silva,
Bendini, et al (2020). As notícias e livros analisados sugerem
uma relação entre a proposta educativa das Licenciaturas em
Educação do Campo e a continuidade da vida acadêmica dos
egressos, uma vez que nelas são ressaltados aspectos singulares
da proposta formativa destas licenciaturas tais como a
Pedagogia da Alternância e o envolvimento com ações
extensionistas nas comunidades rurais.
Palavras-chave: egressos, formação, licenciatura em educação
do campo.
Gonçalves, M. C., Medeiros, L. B., & Dias, E. F. S. (2021). Cursos de Licenciatura em Educação do Campo no Piauí e a utopia que ajuda a caminhar...
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Degree courses in Rural Education in Piauí and the utopia
that helps you walk
ABSTRACT. The article on screen aims to analyze
opportunities for continuity in the academic training process of
people who have graduated from the Undergraduate courses in
Rural Education at the Federal University of Piauí (UFPI), the
only state institution that offers courses on a regular and
permanent basis. The discussion was produced from the analysis
of documents containing research results about the experiences
of graduates and news published on the official website of UFPI.
The theoretical framework is supported by Batista and Silva
(2020); Molina (2017); Paz, Arrais and Mota (2017); Silva,
Bendini and et al (2020). The news and books analyzed suggest
a relationship between the educational proposal of Degrees in
Rural Education and the continuity of the graduates' academic
life, since singular aspects of the training proposal of these
Degrees are highlighted in them such as the Pedagogy of
Alternation and involvement with extension actions in rural
communities.
Keywords: graduates, formation, degree in rural education.
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Cursos de grado en Educación de Campo en Piauí y la
utopía que te ayuda a caminar
RESUMEN. El artículo en pantalla tiene como objetivo analizar
las oportunidades de continuidad en el proceso de formación
académica de las personas egresadas de los cursos de
Licenciatura en Educación en el Campo de la Universidad
Federal de Piauí (UFPI), única institución estatal que ofrece
cursos de manera regular y regular base permanente. La
discusión se produjo a partir del análisis de documentos que
contienen resultados de investigaciones sobre las experiencias
de los egresados y noticias publicadas en el sitio web oficial de
la UFPI. El marco teórico es apoyado por Batista y Silva (2020);
Molina (2017); Paz, Arrais y Mota (2017); Silva, Bendini y et al
(2020). Las noticias y libros analizados sugieren una relación
entre la propuesta educativa de los Grados en Educación Rural y
la continuidad de la vida académica de los egresados, ya que se
destacan aspectos singulares de la propuesta formativa de estos
Grados en como la Pedagogía de la Alternancia y la
participación en acciones de extensión en comunidades rurales.
Palabras clave: graduados, formación, licenciada en educación
rural.
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Introdução
A utopia está no horizonte. Me
aproximo dois passos, ela se afasta
dois passos. Caminho dez passos e o
horizonte corre dez passos. Por mais
que eu caminhe, jamais alcançarei.
Para que serve a utopia? Serve para
isso: para que eu não deixe de
caminhar.”
(Fernando Birri)
As marcas da Educação do Campo
fazem parte da vida e do caminhar de
parcela significativa da população
brasileira que vive e se (re)constrói no
lugar historicamente reservado ao
isolamento e à extração de riquezas
necessárias à reprodução das
desigualdades. Eduardo Galeano, em sua
obra Las palavras andantes, tomando por
empréstimo as palavras de Fernando Berri,
expressa muito bem o desafio implicado
nessa andarilhagem.
Parte desse processo de desafiar o
destino imposto pode ser enxergado nas
experiências de formação escolar. Assim, o
objetivo dessa discussão consiste em
analisar oportunidade de continuidade no
processo de formação acadêmica de
pessoas egressas dos cursos de
Licenciatura em Educação do Campo
promovidos pela Universidade Federal do
Piauí (UFPI).
Os dados analisados foram
coletados em pesquisa documental junto à
três obras bibliográficas produzidas por
docentes pertencentes aos quadros das
Licenciaturas em Educação do Campo do
Piauí, com dados de pesquisa sobre os
egressos dos cursos; bem como
informações obtidas no site da UFPI,
Instituição de Ensino Superior (IES)
pública que oferta de modo permanente a
Licenciatura. Na busca, realizada no mês
de agosto de 2021, utilizou-se os
descritores “egressos da Licenciatura em
Educação do Campo, UFPI” e “egressos
Licenciatura em Educação do Campo -
LEdoC UFPI e os resultados obtidos
foram refinados e selecionados a partir da
demanda indicada no objetivo do trabalho.
Silva, Almeida, Guindani (2009)
apontam a diversidade de nomes que se
à pesquisa documental, também chamada
de análise documental, método ou técnica
documental. Neles, o documento vai além
da ideia do texto escrito, podendo se referir
também a filmes, vídeos e outros. No
campo conceitual, o documento pode ser
também qualquer objeto que registre um
determinado acontecimento. De tal
maneira, a opção pelas notícias
disponibilizadas no site da UFPI permite
identificar as congratulações dadas aos
alunos egressos das LEdoC que
conseguiram aprovação a nível de pós-
graduação. O anúncio, realizado na página
oficial da Universidade, é uma prática
comum das diferentes LEdoC, destacando-
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se a intencionalidade da produção do
mesmo, pois ressalta os resultados de um
trabalho pautado na garantia das condições
de que os povos do campo possam decidir
seu futuro acadêmico.
Compreendemos como Triviños
(2008) que na pesquisa qualitativa a ideia
de busca dos materiais relacionados ao
fenômeno em estudo é mais adequada do
que a busca de dados, pois esta remete, de
modo geral, a um produto e não a uma
construção que pressupõe intencionalidade
e limites estabelecidos na concepção que o
fenômeno em estudo se apresenta a partir
de uma dimensão do real que precisa ser
explorado em seu movimento,
considerando o que revela e o que esconde.
Neste sentido, o processo de
aproximação, apreensão e análise exige
aproximações sucessivas, considerando as
especificidades históricas do fenômeno,
tendo a dimensão do específico como
ponto de partida para compreender as
dinâmicas de totalização em situações
estruturais e conjunturais. A análise a partir
da categoria egresso exigiu situar essa
condição no contexto da complexidade
implicada quando se trata de estudante
egresso de um curso que se constitui em
determinado processo sociopolítico-
econômico e cultural, carregando consigo
o conflito que promove a existência de um
curso como o de Licenciatura em
Educação do Campo, expresso em
exclusões educacionais históricas das
populações do meio rural e na política de
escolarização predominantemente
existente.
Seguindo nessa linha concordamos
com Zemelman (1992) que a produção do
conhecimento é mais que uma construção
cognitiva, pois exige assumir uma atitude
frente à realidade. Por isso, estudar sobre
os passos dos egressos na continuidade dos
estudos implica também perguntar sobre
como isso soma para acelerar de modo
eticamente qualificado o processo de
conquista do direito à educação também
dos povos do campo, como parte da
construção de um projeto de sociedade
livre e justa.
Na composição da discussão em
primeiro momento situamos o processo de
criação dos quatro cursos permanentes de
Licenciatura em Educação do Campo da
UFPI, considerando alguns antecedentes e
situando-os no contexto territorial dos
campi em que se realizam. No passo
seguinte discutimos a realidade do ensino
superior no Piauí, considerando a tensão
entre a oferta em Instituições de Ensino
Superior (IES) públicas e privadas,
destacando também aspectos relacionados
à qualidade. Na sequência, com o suporte
da pesquisa documental, destacamos os
dados sobre a inserção de egressos das
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licenciaturas na pós-graduação em
diferentes instituições no país,
evidenciando os processos que
pavimentaram acessar outros espaços
acadêmicos a partir de aspectos mais
amplos que compõem a inserção.
Desenvolvimento
Em 2005 foi lançado o Programa de
Apoio à Formação Superior em
Licenciatura em Educação do Campo
(PROCAMPO), tendo como objetivo
apoiar a implementação de cursos de
Licenciatura em Educação do Campo em
instituições públicas de ensino superior por
todo o país (MEC, 2012); participaram da
experiência inicial as Universidades
Federais da Bahia, de Minas Gerais, de
Sergipe e de Brasília. Na sequência, nos
anos de 2008, 2009 e 2012, segundo
registros de Molina (2017), foram criados
42 cursos de caráter permanente de
Licenciatura em Educação do Campo
(LEdoC). Neste contexto estão as LEdoC
da UFPI, que também integram o processo
de expansão da instituição, atualmente
estruturada em 5 campi, sediados nos
municípios de Teresina (Campus Ministro
Petrônio Portella”); Picos (Campus
“Senador Helvídio Nunes de Barros);
Parnaíba (Campus Ministro Reis
Velloso); Bom Jesus (Campus
Professora Cinobelina Elvas) e Floriano
(Campus “Amílcar Ferreira Sobral”), com
oferta de graduação e pós-graduação
presencial e à distância.
A oferta de cursos de licenciaturas
para as populações do campo na UFPI
antecede o PROCAMPO; no período de
2006 a 2012 realizou o Curso Arte-
Educação, com o apoio do Programa
Nacional de Educação na Reforma Agrária
(PRONERA), em parceria com o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST). Nesse período a
Universidade foi contemplada nos editais
do Ministério da Educação (MEC), por
intermédio da então Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização,
Diversidade (SECAD), 02/2008 e
09/2009, com 2 turmas de licenciatura em
Ciências da Natureza e matemática,
contemplando 110 estudantes (UFPI,
2012).
A importância dessa iniciativa se
revela na história e nas características
estruturais do Estado, marcadas pelo
processo de colonização de modo
diferenciado em razão de sua localização,
que assegurou certo distanciamento em
relação à metrópole. De acordo com Mott
(1978) pelo fato de possuir parte do seu
território nos biomas caatinga e cerrado,
contar com poucos rios perenes e baixa
pluviosidade, foi considerado de baixo
potencial para o desenvolvimento da
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agricultura exportadora e, desse modo, o
território foi utilizado principalmente para
atividades pastoris, sendo considerado por
culos como “o curral e açougue das áreas
canavieiras.” (p. 61).
Nesse processo a escola tardou a ser
uma preocupação. Costa Filho (2012)
destaca com base em investigações
ancoradas na produção do professor e
historiador piauiense Odilon Nunes, que
nos séculos XVIII e XIX o ensino público
se desenvolveu paralelo ao ensino privado;
a falta de iniciativa dos administradores
fomentou a criação de escolas particulares
patrocinadas pelos fazendeiros para ensinar
as primeiras letras aos seus familiares.
Informa que a partir do final da cada de
1930 o Governo da Província "promulgou
leis estabelecendo pensões para aqueles
que quisessem estudar fora do Piauí”,
especialmente Medicina, Engenharia e
Direito, para suprir o quadro de
necessidade do serviço público (p. 180).
Costa Filho (2012) ressalta que desde os
primórdios a escola foi instrumentalizada
pelas demandas do trabalho e que a
produção sobre a história da educação no
Piauí também começou a ser sistematizada
tardiamente; ganhou corpo nos anos
1990, quando da criação do curso de
Mestrado em Educação na UFPI e
posteriormente com o curso de Doutorado
na mesma Instituição.
Essa dinâmica se repete em relação à
história da educação das populações do
meio rural, que passou a ser efetivamente
inventariada e visibilizada a partir das
primeiras ações de Educação do Campo
nas Instituições de Ensino Superior (IES)
do Estado. Lima e Lopes (2017), em
estudos sobre as origens dos cursos de
formação de professores, informam que a
escola rural e seus docentes são objeto de
ação do governo a partir da década de 1950
mobilizados pelo objetivo de substituir
professores leigos pelos regentes de ensino
formados pela na Escola Normal.
Avançamos na formação de
professores, a partir das lutas pelo direito e
qualidade da educação, com protagonismo
destacado de articulações como o Fórum
Nacional em Defesa da Escola Pública,
com sua incidência decisiva no processo de
elaboração e aprovação da Constituição
Federal de 1988 e da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação 9394/94, na qual ficou
estabelecida a década da educação, contada
a partir da publicação da Lei, prazo para
que professores fossem habilitados em
nível superior ou formados por capacitação
em serviço.
A formação inicial de professores é
uma necessidade permanente,
considerando o crescimento populacional
no país, dentre outros fatores. O Estado do
Piauí, apesar de vir passando por queda,
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teve no ano de 2021, pela estimativa do
IBGE, 0,25% de crescimento em sua
população, conforme noticiado pelo Portal
de notícias GP 1 (2021)
i
. Esse fenômeno
demanda novos professores. Para esse
enfretamento é necessário além de
formação continuada, a formação
permanente que possibilita uma reflexão
sobre a prática na busca pelo ser mais
(Freire, 1969).
No meio rural essa necessidade se
evidencia ainda mais, especialmente
quando consideramos as orientações e
princípios da política de Educação do
Campo a partir do reconhecimento dos
prejuízos ocasionados no processo de
promoção cultural dos povos do campo e
de seus territórios, advindos de uma escola
que historicamente tem em seus quadros
docentes professores deslocados das zonas
urbanas, carregando consigo a cultura
urbanocêntrica de reforço à ideia de
hierarquização entre campo e cidade que
localiza escola do meio rural como
residual e pouco exigente de qualidade.
O enfrentamento a essa compressão
compõe a base de formação da Educação
do Campo e junto com ela da criação da
escola do campo, uma construção própria
anteposta ao ideário e à experiência que
criou e vem reproduzindo historicamente a
escola rural, que compartilha com o
território camponês a mesma condição, de
modo que mesmo quando por meio do
agronegócio a ideia de desenvolvimento se
instala no meio rural, se faz mantendo a
diferenciação entre os territórios
camponeses e da agricultura familiar.
Nessa construção de
desenvolvimento, baseada no crescimento
econômico, característica do agronegócio,
a escola não tem importância, pois o
território é meramente um suporte para a
extração de riqueza. É pela educação do
Campo que a escola se torna um direito e
uma possibilidade de afirmação de valores
próprios e de superação das exclusões
históricas. Daí a centralidade da luta do
Movimento Por uma Educação do Campo
para assegurar uma política que dentre seus
componentes situa a formação de docentes.
Como parte da política da Educação
do Campo instituída no Decreto
7.352/2010 e em resposta à necessidades
evidenciadas a partir das primeiras
experiências construídas nas licenciaturas e
submetidas à discussão crítica do
Movimento da Educação do Campo,
conforme destaca Molina (2017), foi
lançado no ano de 2012 o Edital
SESU/SETEC/SECADI, porém com a
condição de as universidades e institutos
federais ofertarem, de modo regular e
permanente, os cursos de Licenciatura em
Educação do Campo.
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A UFPI aprovou quatro cursos: três
em Ciências da Natureza para os Campi
Ministro Petrônio Portella, Amílcar
Ferreira Sobral e Senador Helvídio Nunes
de Barros e um em Ciências Sociais para o
Campus Cinobelina Elvas. A partir daí o
curso de Licenciatura em Educação do
Campo (LEdoC) foi formalmente criado e
reconhecido por meio da Resolução
UFPI/CEPEX 05/2014 e Portaria
MEC/SRSES 584/2019. (UFPI, 2020)
Ainda no ano de 2014, por ato da Reitoria,
foi realizado concurso público de Provas e
Títulos para provimento de 29 vagas para
docentes nas Licenciaturas em Educação
do Campo (UFPI, 2014).
Cada curso é orientado por Projeto
próprio, porém com uma base comum no
tocante a duração de quatro anos,
organizados em oito etapas, com processo
de formação em alternância entre o
Tempo-Universidade (TU) e o Tempo-
Comunidade (TC), tendo como prioridade
a formação de pessoas que compõem o
público da Educação do Campo, em
conformidade com o Decreto 7.352/2010,
incluindo professores que atuam nas
escolas do e no campo, nos anos finais do
Ensino Fundamental e no Ensino dio
que não tenham formação em nível
superior ou somente em bacharelado;
preenchido esse quadro, as vagas
remanescentes são redistribuídas entre
candidatos vinculados a prática produtivas
no campo.
Quadro 1 - Características gerais dos Cursos de Licenciatura da UFPI.
Curso
Campus
Carga
Horária
Corpo docente
(anuário UFPI
2018)
Oferta anual
autorizada
pelo MEC
Curso Educação do
Campo/Ciêcias da Natureza
Ministro Petrônio
Portela
3.320 horas
16
120
Curso Educação do
Campo/Ciências da
Natureza
Senador Helvídio
Nunes de Barros
3.320 horas
14
120
Curso Educação do
Campo/Ciências da
Natureza
Amilcar Ferreira Sobral
3.260 horas
12
120
Curso Educação do
Campo/Ciências Humanas e
Sociais
Cinobelina Elvas
3.200horas
14
120
Fonte: Organização das autoras baseada nos Projetos de Curso (2021).
O Estado do Piauí, de acordo com
dados do IBGE (2021), possui 3,3 milhões
de habitantes e 224 municípios e através da
Lei Complementar 87, de agosto de
2007, atualizada pela Lei 6.967/2017,
instituiu o planejamento das políticas
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públicas, inclusive a educacional, a partir
de 12 Territórios de Desenvolvimento
Sustentável em 4 macrorregiões: Litoral;
Meio-norte; Semiárido e Cerrado.
Os campi da UFPI que ofertam
atualmente as licenciaturas em Educação
do Campo, estão distribuídos em três das
quatro macrorregiões; somente a do Litoral
não conta com LEdoC; além disso, estão
mais diretamente vinculados aos territórios
de desenvolvimento em que se encontram
os respectivos campi.
O Curso de Educação do Campo,
Ciências da Natureza pertence ao Campus
Ministro Petrônio Portela, situado na
Capital do Piauí, Teresina. Do ponto de
vista da organização regional está
localizado no Território Entre Rios, que
tem em sua composição 30 municípios, a
maior parte contando com população
superior a 5.000 habitantes. Quando
comparamos aos das demais regiões,
podemos afirmar que a taxa de urbanização
média do Território é alta, especialmente
devido à de Teresina que é de 94,7%,
apesar disso têm forte tendência rural da
economia, o que justifica a existência do
Curso; no município há, de acordo com o
Censo de 2010, 145 projetos de reforma
agrária, 32.619 estabelecimentos, 6.698
famílias beneficiadas e 96.205 pessoas
envolvidas com atividades da agricultura
familiar.
O curso de Licenciatura em
Educação do Campo nessa região em que
se concentra a maior parte das escolas da
educação básica do Estado oferece resposta
ao problema grave da falta de docentes da
área de ciências naturais na rede pública de
ensino. O índice de desenvolvimento
Humano (IDH) do território Entre Rios é
superior ao do Estado que é de 0,656,
enquanto o do território é de 0,709. (MDA,
2006). Os dados do Censo Demográfico
2000 e 2010, revelam que a população
total do Território Entre Rios passou
1.034.398 em 2000 para 1.158.747 em
2010, uma variação de 12,02% e que
apesar do elevado índice de urbanização
houve um acréscimo de 6,46% na
população rural (MDA, 2015a). O campus
conta com o Núcleo de Estudos e
Pesquisas em Educação do Campo
(NUPECAMPO), que se apresenta como
espaço de incentivo à pesquisa de docentes
e discentes.
O curso do campus Senador
Helvídio Nunes de Barros está situado no
município de Picos (PI), que compõe a
macrorregião do semiárido e pertence ao
Território Vale do Rio Guaribas, formado
por 39 municípios, a maior parte de
pequeno índice de densidade demográfica
e urbana, tendo nas atividades
agropecuárias e extrativistas sua maior
fonte de geração de trabalho e de renda. O
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PIB per capita do Território, devido ao
contingente populacional, não ultrapassa
na atualidade 67,5% do PIB estadual. A
primeira turma de egressos do Curso foi
constituída por 16 alunos que colaram grau
em agosto de 2018. O projeto inicial do
Curso passou por uma avaliação de sua
comunidade acadêmica resultando em
alterações, dentes essas a substituição do
sistema de bloco para o sistema de crédito;
a ampliação da carga horária de 3.260h
para 3.320h; a recomposição do quadro de
disciplinas e ementário, com supressão e
acréscimo em relação a disciplinas; a
alteração no quadro de disciplinas
obrigatórias e optativas; a alteração nas
disciplinas de estágios e de práticas e a
inclusão de Atividades Curriculares de
Extensão (UFPI, 2021).
Floriano é o município em que se
situa o campus Amílcar Sobral, onde se
encontra o Curso de Educação do Campo,
Ciências da Natureza do Campus. Conta
com uma população de 155.256 mil
habitantes, 58.346 vivendo na zona rural,
51 projetos de reforma agrária; 2.532
famílias assentadas e 39.040 pessoas
ocupadas com atividades da agricultura
familiar. Pertence ao Território Vale dos
Rios Piauí e Itaueiras formado por 19
municípios e de acordo com dados do
Censo Demográfico de 2010, contava
naquele ano com uma população 155.256,
resultando de uma variação de 3,03% em
relação ao ano 2000, período em que
houve uma redução de 5,53% da população
do meio rural (MDA, 2015b).
O campus Cinobelina Elvas abriga
o Curso de Ciências Humanas e Sociais e,
de acordo com dados do Censo
Demográfico do ano de 2010 atualizados
pelo Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (INCRA), em 2014 o
município tinha uma população total de
192.690 mil habitantes, sendo que 83.077
residia no meio rural, contando com 42
projetos de reforma agrária, envolvendo
2.532 famílias e 56.640 pessoas ocupadas
com atividades da agricultura familiar. o
território Chapada das Mangabeiras, de
acordo com dados do Censo Demográfico
de 2000 e de 2010, teve um aumento da
população total, passando de 173.929 em
2000 para 192.670 em 2010, uma variação
de 10,78%, sendo observada no período
uma redução de 9,24% no total da
população rural (MDA, 2015c).
No município de Bom Jesus, onde
se encontra esse campus, há um dos 15
maiores PIB do Piauí, contribuindo para a
alavancagem do Estado no cenário
nacional no último período, em que teve o
terceiro maior crescimento do PIB no
Nordeste, e isto se deve, em especial, às
atividade do agronegócio na região,
envolvendo extensas faixas territoriais com
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monocultivos, adquiridas em grande parte
por migrantes do sul e sudeste do país, o
que vêm atraindo investimentos do
governo do Estado em infraestrutura e
também causando um processo intenso de
desterritorialização das populações
originárias.
O Ensino Superior integra o
contexto de desafios existentes na
educação brasileira e suas singularidades
comunicam muito fortemente sobre o
processo histórico de negação do direito à
educação aos setores populares e de modo
particular às populações que vivem no
meio rural. Um desses diz respeito a um
tipo de expansão de matrículas baseado no
aumento do número de IES privadas,
associado ao crescimento da modalidade
de ensino à distância.
Tabela 1 - Matrículas em IES do Piauí por categoria administrativa e modalidade de ensino.
Ano
IES públicas
presenciais
IES pública à distância
IES privadas presenciais
IES privadas à
distância
2018
42.310
11.928
60.546
14.375
2017
41.902
13.706
60.849
10.800
2016
41.187
9.658
57.085
9.344
2015
43.145
11.400
55.579
8.117
2014
44.623
10.306
53.339
6.801
2013
42.367
6.693
52.674
4.754
2012
41.682
8.245
46.702
4.619
2011
38.737
4.843
44.752
3.566
Fonte: Laboratório de Dados Educacionais (LBE/UFPR), (2021).
No período indicado na tabela
crescimento no mero de matrículas em
instituições públicas presenciais na ordem
de 8,4%, se comparado o primeiro e o
último ano da série, enquanto na
modalidade à distância, no mesmo período
de referência, a matrícula cresceu em
59,3%. A realidade da matrícula em cursos
presenciais em instituições privadas mostra
um crescimento de 26,0%, enquanto na
educação à distância foi de 75,2%.
Convém ressaltar que em cursos à
distância o crescimento no número de
matrículas tanto ocorreu nas públicas como
nas privadas. Nestas também houve
aumento relevante na matrícula presencial,
enquanto nas públicas o aumento
significativo ocorreu somente em cursos à
distância, pois nos presenciais foi somente
de 8,4%.
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Outro dado importante a ser
analisado diz respeito ao número de IES
existentes no estado do Piauí. No período
de 2010 a 2018 o Estado perdeu uma IES,
o Instituto Superior de Educação Antonino
Freire, uma escola tradicionalmente
voltada à formação de professores em nível
médio que foi transformado em instituição
de ensino superior por curto período e em
2010 perdeu essa condição. Em
contrapartida, no mesmo período foram
criadas 8 IES privadas no Piauí.
Tabela 2 - IES públicas e privadas no Piauí (2010 a 2018).
Ano
IES públicas
IES privadas
2018
3
42
2017
3
41
2016
3
38
2015
3
35
2014
3
36
2013
3
36
2012
3
36
2011
3
34
2010
4
34
Fonte: Laboratório de Dados Educacionais (LBE/UFPR), (2021).
Nesta direção, o governo do Piauí,
através de matéria jornalística publicada no
site oficial da Secretaria de Estado da
Educação (SEDUC/PI) informou que a
estratégia de expansão do Ensino Superior
no Estado é prioridade e se dará por meio
do ensino à distância. O Reitor da
Universidade Estadual do Piauí comunicou
na oportunidade que atualmente a
Universidade Aberta do Piauí chega a
abrigar 7 mil alunos e que viabiliza
mecanismos alternativos para o fomento, a
implantação e execução de pós-graduação,
especialmente em municípios distantes da
capital e com baixos índices de IDH.
Na última terça-feira (17), a
Universidade Aberta do Piauí (Uapi)
oficializou o lançamento da terceira
etapa de sua ampliação ofertando
3.150 vagas para 63 polos. Com esta
iniciativa, a Uapi aumenta seu
número de polos, que estão em 120
municípios e passa a atingir 183
cidades. Em outras 41 cidades do
Piauí, sedes físicas das
universidades Estadual (Uespi) e
Federal (UFPI), do Instituto Federal
do Piauí (IFPI), faculdades privadas e
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polos da Universidade Aberta do
Brasil (UAB). Com isso, a cobertura
de ensino superior agora estará
presente em todo o Piauí (Piauí,
2021).
Vale salientar que esse quadro
representa séria ameaça à política de
Educação do Campo e ao processo de
superação da exclusão escolar da
população do campo, pois o as IES
públicas que vêm, apesar da política de
desmonte, demonstrando a capacidade de
prover o direito à educação dos povos do
campo, considerando não somente as
questões de natureza econômica mas
também a capilaridade com cursos
presenciais; além da UFPI, a Universidade
Estadual do Piauí (UESPI) e o Instituto
Federal de Educação do Piauí (IFPI) são
instituições multicampi que se fazem
presente em diferentes regiões do Estado.
Outro dado importante diz respeito à
natureza da oferta que no caso das IES
públicas, notadamente os cursos da UFPI e
UESPI, são ofertados em regime de
alternância, considerando a construção
coletiva com envolvimento dos
movimentos sociais do campo, conforme
preconiza as bases fundacionais da política
de Educação do Campo.
Reiterando, apesar da
regressividade que vem marcando a
política pública do Ensino Superior, é nas
Universidades públicas que vêm sendo
possível assegurar um processo de
formação como ação afirmativa do direito
dos povos do campo e por isso, integrado a
um conjunto de ações que visam corrigir
distorções e ampliar oportunidades, como é
o caso de Projetos de Extensão voltados à
suprir dificuldades de leitura de escrita,
produzidas pela baixa qualidade da escola
básica do meio rural, geralmente
financiados por programas de Bolsas,
como é o caso do Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC)
que se volta à atividades de Pesquisa na
graduação; o Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID),
voltado à prática pedagógica durante a
graduação que também cumpre a função de
aproximar o estudante da realidade da
escola; o Programa de Educação Tutorial
(PET) e diferentes projetos promovidos por
docentes, com o apoio de estudantes,
financiados com recursos públicos, que se
mostram fundamentais à formação inicial e
à permanência na graduação.
É neste cenário que atualmente se
produz a formação inicial dos educadores
graduados nas Licenciaturas em Educação
do Campo (LEdoC) no Piauí. Os docentes
vêm empreendendo um esforço de
sistematizar reflexões sobre os egressos
dos cursos. Podemos destacar o livro
organizado pelos professores Fábio Soares
da Paz; Gardner de Andrade Arrais e Lauro
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Araújo Mota, que traz o título Experiências
em Educação do Campo, lançado pela
editora EDUFPI, no ano de 2017 (Livro 1).
O livro também organizado pelos
professores Alexandre Leite dos Santos
Silva; Juliana do Nascimento Bendini;
Melise Pessoa Araújo Meireles e Michelli
Ferreira dos Santos, com o título
“Educação do Campo: Sujeitos, Saberes e
Reflexões” lançado pela editora EDUFPI,
no ano de 2020 (Livro 2) e o Livro dos
professores Ozaias Antonio Batista e Maria
do Socorro Pereira da Silva intitulado “O
perfil socioeducacional dos discentes da
licenciatura em educação do campo:
impasses e desafios na luta dos
camponeses pela democratização da
universidade.” lançado pela Editora
Phillos, em 2020 (Livro 3). Além do
material bibliográfico, coletamos
informações em matérias jornalísticas
publicadas no site da Universidade Federal
do Piauí (UFPI).
Em notícia publicada em 12 de
dezembro de 2017, na página oficial da
UFPI matéria informando e celebrando
o êxito de uma discente egressa de uma das
LEdoC da UFPI.
A discente do Curso de Licenciatura
em Educação do Campo/Ciências da
Natureza, campus Senador Helvídio
Nunes de Barros (CSHNB), Lenice
Sales de Moura, foi a primeira aluna
da licenciatura a conseguir aprovação
na seleção para o Curso de Mestrado
Acadêmico em Educação, na linha de
pesquisa Formação e
Desenvolvimento Profissional em
Educação, do Programa de Pós-
graduação em Educação (PPGE -
conceito CAPES 4), da Universidade
Estadual do Ceará (UECE).
(Universidade Federal do Piauí,
2017).
A busca pelo nome da estudante na
Plataforma LATTES informou que Lenice
concluiu o Mestrado em Educação em
2020 e atualmente é professora formadora
do Centro Nacional de Estudos Sindicais e
do Trabalho e professora da Secretaria
Municipal da Educação de Picos (PI). Em
sua dissertação, pesquisou sobre
Formação docente por Alternância:
Estudo de caso de professores egressos do
curso de Licenciatura em Educação do
Campo/Ciências da Natureza da UFPI em
Picos, Piauí”. A estudante foi bolsista da
Fundação Cearense de Apoio ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(FUNCAP).
Os estudantes José Ledy Carvalho
Santos, Railson Borges, José WylkBrauna
da Silva e Thiago Batista do campus
Professora Cinobelina Elvas, em Bom
Jesus, foram aprovados no ano de 2021 em
seleções de mestrado acadêmico:
... Os quatro celebram agora mais
uma grande conquista: foram
aprovados para a pós-graduação,
nível mestrado, em duas grandes
universidades. Railson Borges, José
WylkBrauna da Silva e Thiago
Batista foram aprovados para o
mestrado em Meio Ambiente e
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Desenvolvimento Rural PPG
Mader na Universidade de Brasília
(UnB) e José Ledy Carvalho Santos
foi aprovado para o mestrado em
Educação na Universidade Federal da
Paraíba (UFPB).
Para eles, essa trajetória é marcada
por desafios, pelo compromisso com
a ciência e com suas comunidades e o
reconhecimento de que a educação é
transformadora. Os estudantes
destacam, ainda, o papel decisivo da
UFPI, incentivo dos professores,
integração aos núcleos de estudo e
pesquisa, e apoio familiar para a
permanência e continuidade na
academia. (Universidade Federal do
Piauí, 2021).
Em suas falas, os estudantes
reconhecem os desafios enfrentados até
conseguirem essa conquista, ressaltando o
papel das políticas de assistência, a
vinculação a grupos de pesquisa e o apoio
de familiares e professores. Batista e Silva
(2020), no Livro 2, analisado neste artigo,
apontam que 60% dos alunos entrevistados
em sua pesquisa declararam receber uma
ajuda da coordenação da LEdoC/Campus
Professora Cinobelina Elvas. No entanto, o
valor recebido depende da quantidade de
recursos que o curso dispõe. Desta forma,
destacam a importância das políticas de
assistência estudantil na garantia das
condições mínimas de permanência dos
sujeitos do campo na universidade”.
(Batista & Silva, 2020, p. 68).
Em março de 2021, estudantes do
Campus Amílcar Ferreira Sobral, de
Floriano (PI), foram parabenizados por
suas aprovações a nível de pós-graduação,
entre eles, Francisco Danilo Carvalho
Costa selecionado no Mestrado do
Programa de Pós Graduação em
Biodiversidade e Conservação (UFPI),
egresso da LEdoC. Ao fazer um resgate da
trajetória acadêmica a notícia pontua que:
Na graduação, Danilo desenvolveu,
durante os momentos de intervenção
nas comunidades, trabalhos
relacionados ao ensino de biologia
das escolas do campo e pesquisas
sobre identidade e memória dos
povos do Campo. Foi bolsista PIBEX
atuando no projeto de extensão
Preparatório para o Enem na área de
Ciências da Natureza", sendo
premiado no SEMEX pelo trabalho
desenvolvido neste projeto.
Participou de diversos congressos
como apresentador de trabalhos. No
seu TCC desenvolveu um trabalho
voltado à área de biodiversidade de
peixes. Além desta caminhada na
pesquisa e extensão, Danilo também
atuou no C.A. do Curso, sendo
Diretor de Eventos Esportivos e
Culturais. Também atuou como
membro discente do colegiado do
Curso. (Universidade Federal do
Piauí, 2021).
A notícia revela o envolvimento do
egresso em atividades de extensão e
pesquisa que, além do ensino,
proporcionou acesso ao conhecimento
sobre os conteúdos da Biologia e também
sobre a identidade dos povos camponeses.
Para Molina (2017), a proposta da
Educação do Campo propicia formação em
diferentes dimensões do ser humano, não
apenas o preparo de mão de obra
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qualificada como preconizado pela ótica
neoliberal.
O egresso Raimundo Nonato de
Sousa Silva, do campus Ministro Petrônio
Portela, foi selecionado em janeiro de 2021
para o Mestrado em Desenvolvimento e
Meio Ambiente, da UFPI. Durante o
período como licenciando, Raimundo
desenvolveu projetos de intervenção na
comunidade em que morava. O destaque
também está na distância entre a localidade
em que vive, no município de Batalha/PI e
o campus em que fez a licenciatura: 164
km.
A trajetória acadêmica de Raimundo
Nonato comprova que os projetos de
Tempo Comunidade e os de Extensão
são oportunidades ricas de
aprendizagem que a LEdoC oferece,
pois contribuem para formar
professores ativos em suas
comunidades, que assumem uma
responsabilidade não somente pelos
processos escolares, mas também
comunitários, visando a melhoria da
qualidade de vida das pessoas.
(Universidade Federal do Piauí,
2021).
O egresso destaca a dimensão
envolvida nos trânsitos permanentes e
sistemáticos entre o espaço acadêmico da
Universidade e os da comunidade,
favorecidos pela Alternância (Gimonet,
2007; Nosella, 2014), um componente
politico-pedagógico constituinte dos
processo da Educação do Campo
incorporado ao projeto político-pedagógico
das Licenciaturas em Educação do Campo,
favorecendo uma determinada qualidade
na formação, orientada pelo enraizamento
na realidade dos territórios em que vivem,
tornando-os capazes de agir sobre a
manutenção e ampliação dos direitos dos
povos do campo.
Esse enraizamento pode orientar a
postura ética-política e epistemológica
adotada pelos egressos no prosseguimento
dos estudos, assim como pode incidir nos
projetos da Pós-graduação da própria
Universidade, a exemplo do que vem
acontecendo com a realização de cursos de
pós-graduação lato sensu e a criação de
linhas de pesquisa em mestrados e
doutorados.
Se tratando de pós-graduação lato
sensu, no ano de 2018 foi publicado o
Edital 1/2018, para a seleção de
candidatos ao Curso de Especialização em
Educação do Campo, sem ônus para os
estudantes, a ser realizado pela UFPI, em
regime de alternância, no Campus
Professora Cinobelina Elvas, no município
de Bom Jesus, voltado para educadores,
pesquisadores, docentes e gestores das
escolas rurais e sujeitos envolvidos com
processos formativos da Educação do
Campo. Foram ofertadas e preenchidas 30
vagas (UFPI, 2018). Houve interrupção no
calendário do Curso devido ao período
pandêmico por Covid-19, contudo, no
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momento de finalização deste artigo os
estudantes se encontravam em processo de
apresentação de seus trabalhos de
conclusão de curso.
Considerações finais
As Licenciaturas em Educação do
Campo no Brasil vêm se constituindo não
apenas como a garantia de um direito para
que as pessoas do campo acessem a
educação escolar, mas sobretudo se
diferenciam na proposição e
implementação da política. Ao analisar as
oportunidades de continuidade no processo
de formação acadêmica de pessoas
egressas dos cursos de LEdoC da UFPI as
notícias veiculadas em meios de
comunicação e a produção acadêmica em
livros produzidos por docentes e discentes
dão pistas sobre a continuidade nos estudos
acadêmicos após o término da graduação.
Esta continuidade, pelo que indicam
os dados, é resultado de políticas
desenvolvidas ainda no decorrer dos cursos
de Licenciatura em Educação do Campo,
seja nas ações de pesquisa, extensão e
também de permanência na Universidade.
Todos estes aspectos pavimentam a
possibilidade de vislumbrar a inserção na
pós-graduação e na docência nas redes de
ensino.Pelos achados da pesquisa no Piauí
sobre os egressos, a partir da pesquisa
documental foi possível depreender que
para além de acessarem o ensino superior,
os estudantes desenvolvem pesquisa e
extensão, possibilitando a inserção nas
pós-graduações. Assim, podemos afirmar
que o objetivo foi alcançado, pois os dados
permitiram afirmar que existe
oportunidade de continuidade no processo
de formação acadêmica de pessoas
egressas dos cursos de Licenciatura em
Educação do Campo promovidos pela
Universidade Federal do Piauí (UFPI).
Contudo, a discussão também
indicou a persistência de uma realidade
estrutural excludente dos setores populares
que vivem no meio rural do Brasil e do
Estado do Piauí, tendo em vista a escassez
de oportunidades na política educacional,
com a ampliação do número de IES
privadas e de cursos à distância,
contrapostos à cortes de recursos nas IES
públicas, afetando sobremaneira os cursos
de Educação do Campo, dado a exigência
de um financiamento diferenciado, que se
traduz para os gestores como ampliação de
gastos.
Apesar disso, é possível afirmar que
a Educação do Campo no Piauí é uma
realidade que participa efetivamente da
cultura acadêmica das universidades do
Estado e a inserção de seus egressos em
Instituições de formação renomadas e
programas qualificados permite vislumbrar
a ocupação de novos espaços, inclusive nos
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mestrado na unb e na ufpb. Teresina:
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Gonçalves, M. C., Medeiros, L. B., & Dias, E. F. S. (2021). Cursos de Licenciatura em Educação do Campo no Piauí e a utopia que ajuda a caminhar...
Tocantinópolis/Brasil
v. 6
e12974
10.20873/uft.rbec.e12974
2021
ISSN: 2525-4863
21
Informações do Artigo / Article Information
Recebido em : 30/08/2021
Aprovado em: 12/10/2021
Publicado em: 13/11/2021
Received on August 30th, 2021
Accepted on October 12th, 2021
Published on November, 13th, 2021
Contribuições no Artigo: As autoras foram as
responsáveis por todas as etapas e resultados da
pesquisa, a saber: elaboração, análise e interpretação dos
dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito
e; aprovação da versão final publicada.
Author Contributions: The author were responsible for
the designing, delineating, analyzing and interpreting the
data, production of the manuscript, critical revision of the
content and approval of the final version published.
Conflitos de Interesse: As autoras declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Avaliação do artigo
Artigo avaliado por pares.
Article Peer Review
Double review.
Agência de Fomento
Não tem.
Funding
No funding.
Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Gonçalves, M. C., Medeiros, L. B., & Dias, E. F. S. (2021).
Cursos de Licenciatura em Educação do Campo no Piauí
e a utopia que ajuda a caminhar. Rev. Bras. Educ. Camp.,
6, e12974. http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e12974
ABNT
GONÇALVES, M. C.; MEDEIROS, L. B.; DIAS, E. F. S.
Cursos de Licenciatura em Educação do Campo no Piauí
e a utopia que ajuda a caminhar. Rev. Bras. Educ.
Camp., Tocantinópolis, v. 6, e12974, 2021.
http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e12974