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A realidade de R-5 corresponde à de
grande parte das pessoas que vivem no
campo, o que nos ajuda a compreender a
relação entre três expressões-chave nas
falas dos/as respondentes, a saber: o sonho,
a realidade e o ensino superior gratuito.
Vê-se, nitidamente, um depoimento que
denuncia as poucas condições do espaço
campo. Porém, mesmo com dificuldades, o
sonho perdurou e essa pessoa conseguiu
concluir o ensino superior. Certamente a
resposta ajuda a entender a importância do
respeito aos povos do campo, a começar
pelos próprios sistemas educacionais.
Outra fala revela o envolvimento
coletivo para busca de melhorias para o
campo:
Fazia parte do sindicato e já
trabalhava na luta por uma
educação do campo e quando surgiu
essa oportunidade, imaginávamos
que não iriamos conseguir por
sermos jovens e a princípio as vagas
seriam para atender somente os
professores que não possuíam
graduação. Quando abriu a
oportunidade para os filhos de
agricultores, fiz minha inscrição para
fazer o vestibular da LEDUCARR,
(R-14).
Aqui aparece uma proposição
interessante, o sujeito que tem
engajamento político e reflexivo consegue
entender melhor o papel da escola e do
estudo em sua comunidade, o que o
encorajou a fazer o vestibular e ingressar
no ensino superior. E novamente a
expressão “oportunidade” é mencionada,
por se tratar de algo raro dentro do
contexto em que esses sujeitos estão
inseridos.
Nesse sentido, ressaltamos a
importância das instituições públicas de
ensino superior no campo – e para o campo
– como caminho para a criação
oportunidades e desenvolvimento do
campo. Delors (2012) elenca as
contribuições que a universidade pode
oferecer. Segundo o autor, essa instituição
serve:
— como local de ciência, como fonte
de conhecimentos, com vista à
pesquisa teórica ou aplicada, ou à
formação de professores;
— como meio de adquirir
qualificações profissionais,
conciliando ao mais alto nível, o
saber e o saber-fazer, em cursos e
conteúdos constantemente adaptados
às necessidades da economia;
— como recinto privilegiado da
educação ao longo de toda a vida,
abrindo as portas aos adultos que
desejem retomar seus estudos,
adaptar e enriquecer os seus
conhecimentos, ou satisfazer seu
gosto de aprender em qualquer
domínio da vida cultural;
— como parceiro privilegiado de
uma cooperação internacional,
permitindo o intercâmbio de
professores e alunos e facilitando,
graças a matérias de caráter
internacional, a difusão do que de
melhor se faz no campo do ensino
(Delors, 2012, p. 24, grifo nosso).
Observe-se que o entendimento do
autor ratifica a fala dos/as respondentes,
especificamente quando atribuem à