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Mas, sem um acordo sobre esse simples fato, os caminhos dividem-se nitidamente. Pois caso
não se valorize um determinado modo de produção da sociedade como necessário quadro de
intercâmbio social, são admitidos, em nome da reforma, apenas alguns ajustes menores em
todos os âmbitos, incluindo o da educação. As mudanças sob tais limitações, apriorísticas e
prejulgadas, são admissíveis apenas com o único e legítimo objetivo de corrigir alguns
detalhes defeituosos da ordem estabelecida, de forma que sejam mantidas intactas as
determinações estruturais fundamentais da sociedade como um todo, em conformidade com
as exigências inalteráveis da lógica global de um determinado sistema de reprodução.
A pedagogia do movimento, em sua gênese, não quer reformas paliativas ou, pior, que
sejam definitivas, ela quer mudança, ela quer a revolução. É por isso que, complementarmente
à abordagem de Mészáros, Gohn (2016) fala da gênese da luta social, a favor da escola
pública, e não deixa de registrar que “... os movimentos pela educação têm caráter histórico,
são processuais e ocorrem, portanto, dentro e fora de escolas e em outros espaços
institucionais ...” (Gohn, 2016, p. 1).
As questões centrais que os seres sociais trazem para a problematização e ação concreta
na escola dos assentamentos e acampamentos, na luta em prol da escola pública, são,
portanto, o estímulo à participação popular e o destaque que precisa ser conquistado para se
valorizar o sentido ideopolítico da educação. Tais lutas ideopolíticas envolvendo os seres
sociais precisam trazer à frente questões que abordem, ao mesmo tempo, as práticas
pedagógicas de onde derivam os conhecimentos universais e a prática educativa, em que as
pessoas recusam-se a ignorar as questões de gênero, de etnia, de nacionalidade, de religiões,
dos portadores de necessidades especiais, do meio ambiente, da qualidade de vida, da paz, dos
direitos humanos, dos direitos culturais, visto que, é dentro desse quadro de diversidades
humanas, com suas lutas, muitas vezes, parcelares, que se compõem os sujeitos que fazem o
movimento de luta pela terra e pela educação.
Na acepção de Gohn (2016), esses movimentos sociais que carreiam tantas
diversidades, agindo em prol da escola pública, tornam-se fontes e agências de produção de
saberes revolucionários. Endógena e exogenamente, inclusive, as ações concretas que
ocorrem dentro e fora dos acampamentos e assentamentos demandam trabalho nos setores da
educação, trabalho este desenvolvido através de práticas pedagógicas e educativas que
respondem a processos de aprendizagem advindos de saberes reconhecidos como formais e
não formais e saberes provenientes da experiência ou de exercícios mais estruturados dos
movimentos sociais; ações que são condicionadas por pores teleológicos emancipatórios e que
objetivam a formação das pessoas em determinado campo de habilidade, dentro e fora das
grades curriculares, certificadoras de graus e níveis de ensino (Gohn, 2016).