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conforme a sua necessidade”. Na outra ponta, em que os seringueiros recebiam capacitação
política do sindicato de trabalhadores rurais e outras instituições laicas, eles refletiam a partir
de textos clássicos do marxismo e aprendiam que
A história de todas as sociedades até agora tem sido a história das lutas de classe. Homem
livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, membro das corporações e aprendiz, em
suma, opressores e oprimidos, estiveram em contraposição uns aos outros e envolvidos em
uma luta ininterrupta, ora disfarçada, ora aberta, que terminou sempre com a transformação
revolucionária da sociedade inteira ou com o declínio conjunto das classes em conflito.
(Marx, 2008 p. 10).
No que diz respeito à crítica da sociedade burguesa que oprime o trabalhador e a
trabalhadora, havia convergências entre o que pregava a igreja católica e aquilo que o
sindicato defendia. As divergências surgiam quando se tratava de projetar uma sociedade
futura. A igreja devido ao seu conservadorismo e atavismo buscava influenciar no sentido de
propor uma sociedade em que se respeitasse o direito à propriedade, defendendo que essa
cumprisse funções sociais, e, sobretudo que se construísse uma sociedade livre do ateísmo,
que é, na opinião das instituições religiosas, o maior mal e a característica mais marcante do
comunismo, dado o seu materialismo. Contraditoriamente, a Teologia da Libertação adotara o
método marxista. Conforme escreve Löwy, refutando análises feitas por políticos de direita
que atribuíam a penetração do marxismo na igreja católica em razão de uma estratégia do
comunismo internacional, o autor argumenta o seguinte:
Ora, um mínimo de senso comum e de análise sócio-histórico seria suficiente para qualquer
observador honesto reconhecer que a Teologia da Libertação e a convergência do
cristianismo e do marxismo em certos setores da Igreja – não foi resultado de nenhuma
conspiração, estratégia, tática, infiltração ou manobra por parte de comunistas, e sim uma
evolução interna da própria Igreja e originando-se de sua própria cultura e tradição. (Löwy,
2006, p. 123).
Nasce o Projeto Seringueiro
A situação política e social do Acre naquele momento conforme já referido neste texto,
era de intensos conflitos e ameaças aos seringueiros e seringueiras que viviam premidos por
latifundiários, expropriadores dos territórios tradicionais das populações amazônicas.
Agregada a essa situação, agravando-a, havia o predomínio do analfabetismo. Em fase da
intensa adesão dessas populações ao sindicalismo, a diretoria do STR de Xapuri procurou
alternativas para implantar um programa autônomo de educação escolar. O governo era
francamente contrário aos interesses das trabalhadoras e trabalhadores. Um projeto de