Feliciano chimbutane – Nós temos duas situações: uma é usando a língua como língua
de ensino, e outra é usar a língua local, a língua da criança como auxiliar à aprendizagem, nos
contextos em que o português é a língua de ensino. Então, nas duas situações, a criança que
tem as línguas bantu como suas línguas maternas sente-se mais à vontade na sua comunicação
com o professor; porque ele domina a língua, conhece a cultura em que se ensina essa língua.
Assim, ele pode falar mais ou menos no mesmo nível que o seu professor. Logo, na sala de
aula significa que tem maior liberdade; não só de comunicar, como também de aprender
melhor a matéria, porque compreende a língua que é usada para a comunicação. Mas,
também, nos casos em que o ensino é em português, a utilização da língua da criança é muito
importante para auxiliar a compreensão do discurso do professor em português, como também
para tornar o ambiente da sala de aula mais amigável. Porque, quando se usa apenas a língua
portuguesa, em maior dos nossos contextos em que as crianças chegam à escola sem saber o
mínimo da língua portuguesa, a criança sente-se constrangida. Por isso, usa-se a língua
portuguesa como língua do ensino ou de disciplina, mas com a liberdade de fazer
esclarecimentos, aceitar que a criança fale na sua língua materna para responder a
determinados aspectos, e com o reforço do professor na língua alvo que é a língua portuguesa
ou a língua inglesa. Deste modo, é um pouco de mudança, sob o ponto vista da didática da
língua. Se, antes, o ensino de uma língua estrangeira ou língua segunda implicava a inibição
da língua materna da criança, porque ela podia interferir na aprendizagem, agora trata-se de
uma nova abordagem, uma mudança do paradigma em que a língua materna não é um entrave
à aprendizagem de outra língua, mas um recurso. Essa abordagem é uma mudança do
conceito de língua local como problema, para língua local como recurso.
Autor – Hoje, nos centros urbanos dificilmente encontramos uma grande
homogeneidade linguística e cultural, de que as salas de aulas são um reflexo. Como é que
nesses contextos, pode ser administrado um ensino em línguas maternas dos alunos?
Feliciano Chimbutane – Está a falar de Ensino Bilíngue? Esse é, também, outro
argumento que é colocado para fazer recuo ao Ensino Bilíngue. A ideia de que nas cidades
não funciona não é verdadeira. É importante saber que, nessas cidades, a oferta sob ponto de
vistas das línguas locais tem que ser maior; diferente das zonas rurais onde a situação é mais
homogênea. Nas zonas rurais, você se preocupa com uma ou duas línguas locais; mas, nas
zonas urbanas, você deve abrir mais as ofertas; pois, as pessoas poderão optar par uma escola
ou par uma turma onde se ensine na língua que fala. Assim sendo, a diversidade linguística