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2022
ISSN: 2525-4863
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Revista Brasileira de Educação do Campo
Brazilian Journal of Rural Education
ARTIGO/ARTICLE/ARTÍCULO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e13617
Percepção da juventude rural sobre a apicultura
desenvolvida em comunidades rurais do semiárido
piauiense
Josefa Andréia de Carvalho Rodrigues1, Patrícia Sara Lopes Melo2, Michelli Ferreira dos Santos3, Maurício
Fernandes da Silva4, Juliana do Nascimento Bendini5
1, 2, 3, 5 Universidade Federal do Piauí - UFPI. Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, s./n., Junco. Picos - PI. Brasil.
4Centro de Educação Aberta e a Distância - CEAD/UFPI.
Autor para correspondência/Author for correspondence: jbendini@ufpi.edu.br
RESUMO. No estado do Piauí a apicultura se apresenta como
uma alternativa de geração de renda para as famílias
campesinas, mais precisamente na região semiárida, que permite
o reconhecimento e valorização dos saberes camponeses. O
presente trabalho teve como objetivo analisar a visão dos jovens
em relação à apicultura praticada no município de Massapê do
Piauí. Para tanto, foi aplicado um questionário semiestruturado
direcionado a 48 estudantes de comunidades rurais. Observou-se
que os jovens, de maneira geral, não se identificam com as
atividades rurais, embora muitos tenham algum grau de
parentesco com apicultores. A maioria dos jovens apresentaram
pouco conhecimento sobre a apicultura, principalmente no que
se refere à prevenção de acidentes com as abelhas (ferroadas).
Vale ressaltar, que muitos deles consideram as ferroadas como o
maior empecilho para o ingresso na atividade. Embora saibam
da importância social, econômica e ambiental da apicultura, bem
como dos impactos negativos que o desaparecimento das
abelhas causaria em suas comunidades, a maioria dos jovens não
demonstrou interesse em participar de capacitações para iniciar-
se na apicultura. Diante da notável apatia dos alunos em relação
à apicultura, sugere-se ações voltadas para o conhecimento e
sensibilização da juventude em relação a atividade como
importante ferramenta de inclusão social e econômica para os
agentes da comunidade rural.
Palavras-chave: atividade apícola, conservação das abelhas,
educação do campo.
Rodrigues, J. A. C., Melo, P. S. L., Santos, M. F., Silva, M. F., & Bendini, J. N. (2022). Percepção da juventude rural sobre a apicultura desenvolvida em
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Rural Youth's perception of beekeeping developed in rural
communities in the semiarid region of Piauí
ABSTRACT. In the state of Piauí, beekeeping presents itself as
an alternative to generate income for peasant families, more
precisely in the semiarid region. This study aimed to analyze the
perception of young people in relation to beekeeping practiced
in the city of Massapê do Piauí. Therefore, a semi-structured
questionnaire was applied to 48 students from rural
communities. It was observed that young people, in general, do
not identify with rural activities, although many have some
degree of kinship with beekeepers. Most young people had little
knowledge about beekeeping, especially with regard to the
prevention of accidents with bees (stinged). It is noteworthy that
many of them consider the stings as the biggest obstacle to
entering the activity. Although they know the social, economic
and environmental importance of beekeeping, as well as the
negative impacts that the disappearance of bees would cause in
their communities, most young people did not show interest in
participating in training to start beekeeping. Given the notable
apathy of students in relation to beekeeping, it is suggested
actions aimed at knowledge and awareness of youth in relation
to the activity as an important tool for social and economic
inclusion for agents in the rural community.
Keywords: beekeeping, bees conservation, rural education.
Rodrigues, J. A. C., Melo, P. S. L., Santos, M. F., Silva, M. F., & Bendini, J. N. (2022). Percepção da juventude rural sobre a apicultura desenvolvida em
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Percepción de la juventud rural sobre la apicultura
desarrollada en comunidades rurales de la región
semiárida de Piauí
RESUMEN. En el estado de Piauí, la apicultura se presenta
como una alternativa para generar ingresos para las familias
campesinas, más precisamente en la región semiárida. Este
estudio tuvo como objetivo analizar la percepción de los
jóvenes en relación con la apicultura que se practica en la
ciudad de Massapê do Piauí. Para ello, se aplicó un
cuestionario semiestructurado a 48 estudiantes de comunidades
rurales. Se observó que los jóvenes, en general, no se
identifican con las actividades rurales, aunque muchos tienen
algún grado de parentesco con los apicultores. La mayoría de
los jóvenes tenían pocos conocimientos sobre apicultura,
especialmente en lo que respecta a la prevención de accidentes
con abejas (aguijón). Es de destacar que muchos de ellos
consideran las picaduras como el mayor obstáculo para
ingresar a la actividad. Si bien conocen la importancia social,
económica y ambiental de la apicultura, así como los impactos
negativos que causaría la desaparición de las abejas en sus
comunidades, la mayoría de los jóvenes no mostró interés en
participar en capacitaciones para iniciar la apicultura. Dada la
notable apatía de los estudiantes en relación a la apicultura, se
sugiere acciones dirigidas al conocimiento y sensibilización de
los jóvenes en relación a la actividad apícola como una
herramienta importante para la inclusión social y económica de
los agentes de la comunidad rural.
Palabras clave: actividad apícola, conservación de las abejas,
educación rural.
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Introdução
A produção de mel no Piauí tem criado oportunidades de trabalho e renda para famílias
de pequenos e médios produtores. Para Carvalho et al. (2019), a apicultura fortalece a
economia no semiárido e oportuniza condições de permanência dos apicultores e de suas
famílias no campo. Além disso, o baixo custo de implantação de apiários e o reduzido
impacto ambiental associado à conservação das matas são características importantes da
apicultura (Veloso-Filho et al., 2012).
Entre os Estados nordestinos, o Piauí é o maior produtor de mel e ocupa a 3ª colocação
na produção apícola nacional (IBGE, 2021), tendo excelente aceitação do produto no mercado
e uma promissora ascensão, haja vista a sua potencialidade de produção.
Embora o sucesso da apicultura seja crescente, especialmente na região semiárida do
Estado, as altas temperaturas e baixa umidade relativa do ar (UR), aliadas a escassez de
plantas em florescimento e, consequentemente, de alimento para as abelhas durante o período
de estiagem, representam um grande desafio para a apicultura desenvolvida no semiárido
piauiense (Melquíades, Bendini & Moura, 2020). Santos et al. (2017) apontam esses fatores
climáticos como negativos à manutenção das colônias de abelhas africanizadas, Apis
mellifera L. Dessa maneira, o clima adverso do semiárido, aliado a um manejo inadequado
dos apiários, pode ocasionar grandes perdas na produção, abandono ou até a morte das
colônias.
Diante desse quadro, a assistência técnica configura-se como uma promissora
alternativa para reverter os prejuízos oriundos das questões climáticas. Porém, as
comunidades rurais do semiárido na maioria das vezes, não têm acesso a essa assistência
(Vidal, 2020), dispondo exclusivamente dos saberes tradicionais transmitidos entre as pessoas
e de iniciativas isoladas de projetos de extensão rural.
Amorim e Vieira (2016), sublinham que a falta de assistência técnica direcionada aos
pequenos produtores constitui-se um dos mais sérios problemas da apicultura brasileira.
Segundo os autores, é preciso, sobretudo, capacitar os jovens na apicultura que, para Matos
(2005) são menos rígidos em relação às mudanças tecnológicas, podendo ser disseminadores
de técnicas apropriadas às melhorias dos índices de produtividade na atividade.
Adicionalmente, Amorim e Vieira (2016) entendem a apicultura como uma possibilidade de
afirmação profissional para os jovens que vivem com pouca, ou quase nenhuma, expectativa
de desenvolvimento econômico no meio rural do qual fazem parte.
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No entanto, as atividades apícolas não se reduzem apenas a geração de renda para os
camponeses, seu desenvolvimento articulado com a Educação do Campo, entendida como um
modelo de educação que contempla o modo de vida dos trabalhadores rurais, viabiliza a
valorização dos saberes, articulação com o conhecimento científico, (re)conhecimento da
identidade camponesa, vínculo com o território de origem, identificação das potencialidades
locais e o fortalecimento da juventude camponesa no enfretamento de práticas que levam a
destruição ambiental.
(Re)conhecer as atividades econômicas e culturais do meio em que vive colabora para a
valorização do trabalho e a afirmação da identidade camponesa, que historicamente carregou
o estereótipo do atraso. Para a superação dessa desvalorização, temos no cenário brasileiro o
projeto educativo de Educação do Campo, pensado e construído com a participação dos
movimentos sociais, educadores e camponeses, levando em consideração o vínculo com a
terra na produção de conhecimentos. Para Caldart (2009, p. 155):
A educação do campo é intencionalidade de educar e reeducar o povo que vive no campo, na
sabedoria de se ver como “guardião da terra” e não apenas como seu proprietário ou quem
trabalha nela. Ver a terra como sendo de todos que podem se beneficiar dela. Aprender a
cuidar da terra e aprender deste cuidado algumas lições de como cuidar do ser humano e de
sua educação.
Ser “guardião da terra” ultrapassa o controle do espaço geográfico, pois alcança o
espaço do conhecimento tradicional e científico, a luta pela garantia de políticas públicas, o
enfretamento as práticas de extermínio do agronegócio, que impacta na preservação dos
biomas. Ser guardião é um ato de resistência, afirmação do modo de vida agroecológico, da
conservação dos ecossistemas e do enriquecimento da diversidade biológica.
Compreender a relevância social da Educação do Campo significa repensar o trabalho
do campo, não apenas como geração de renda, mas como cidadania ambiental de preservação
do meio ambiente e, nele está incluído, a pauta de conservação das abelhas. Nessa interface
das atividades camponesas com a Educação do Campo, percebe-se a relevância social das
instituições de ensino, da assistência técnica especializada, das políticas públicas, no
ressignificar o olhar sobre os valores do trabalho no campo, com vistas à transformação da
percepção sobre campo como espaço de possibilidades.
O município de Massapê do Piauí, cenário deste estudo, está inserido na região
semiárida do Estado e apresenta a apicultura como uma atividade econômica importante para
as comunidades rurais. Os produtores estão reunidos na Associação de Apicultores da Data
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Boa Vista (ABOMEL) que facilita a aquisição de insumos e a comercialização do mel
produzido.
Embora existam condições favoráveis (floradas abundantes e a organização social) à
produção apícola, o município apresenta também problemas relacionados à baixa
profissionalização dos apicultores. Tais problemas trazem impactos que levam a uma baixa
produtividade das colmeias e um incipiente aproveitamento dos demais produtos das abelhas,
como a própolis e o pólen apícola, por exemplo.
Considerando a potencialidade do Piauí na apicultura, emergiu o seguinte
questionamento: Qual o olhar dos jovens sobre a apicultura praticada no município de
Massapê do Piauí, tendo em vista que residem em comunidades que desenvolvem essa
atividade? Diante da questão delineou-se como objetivo central: analisar as percepções de
jovens camponeses sobre a apicultura no município de Massapê do Piauí.
Material e métodos
Inicialmente, vale ressaltar que uma das autoras deste trabalho reside comunidade rural,
lócus desta pesquisa, e possui familiares apicultores. Assim, o ponto de partida para esta
investigação se deu mediante a preocupação das autoras e dos apicultores com a manutenção
e futuro da atividade na região. Diante do cenário de realização desta pesquisa elegeu-se como
método de pesquisa o Estudo de Caso, por se tratar de uma realidade geográfica e social
específica de uma região. Segundo Chizzotti (2017, p. 125):
O estudo de caso é uma caracterização abrangente para designar uma diversidade de
pesquisas que coletam e registram dados de um caso particular ou de vários casos, a fim de
organizar um relatório ordenado e crítico de uma experiência, ou avaliá-la analiticamente,
objetivando tomar decisões a seu respeito ou propor uma ação transformadora.
A pesquisa foi realizada em escolas públicas do município de Massapê do Piauí. O
instrumento utilizado para o levantamento dos dados foi um questionário semiestruturado
aplicado aos alunos, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) e quanto aos menores de idade, os pais foram procurados para terem ciência do
Termo de Assentimento. A escolha desse instrumento deu-se com base nas explicações de
Chizzotti (2017, p. 8-69) que diz: “o questionário consiste em um conjunto de questões pré-
elaboradas, sistemática e sequencialmente dispostas em itens que constituem o tema de
pesquisa ...”.
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Antes da aplicação do questionário, os participantes foram convidados a participar
voluntariamente do estudo informados, receberam explicações sobre os objetivos da pesquisa,
da relevância do estudo tanto para a comunidade acadêmica, como para a comunidade rural e
informados das garantias conferidas pelo TCLE, no que diz respeito aos aspectos éticos da
pesquisa.
Depois da aplicação dos questionários, concentrou-se esforços na análise dos dados
produzidos, bem como a sua organização. A análise dispôs da sistematização das
informações, acrescidas pela fundamentação teórica, que permitiu a descrição do perfil dos
jovens e da percepção deles em relação a atividade apícola.
Resultados e discussão
O questionário foi aplicado a 48 jovens entre 14 e 21 anos, sendo 31 mulheres e 17
homens, de escolas públicas que recebem estudantes de 17 comunidades rurais do município
de Massapê do Piauí. Constatou-se que o número de mulheres (31) foi superior ao número de
homens (17). Vale ressaltar que esse aspecto pode influenciar no resultado da pesquisa, haja
visto que em alguns meios rurais, muitos entendem que certas atividades agrícolas são mais
adequadas para homens (Peixe & Canonica, 2020). Souza et al. (2018) identificando
elementos gerais da divisão sexual do trabalho apícola em dois municípios piauienses
concluíram que a participação da mulher na apicultura é reduzida por fatores socioculturais e
históricos relacionados ao lugar do trabalho feminino rural.
A maioria dos alunos participantes da pesquisa estava matriculada no ensino
fundamental, especialmente entre o 8º e 9º anos (Figura 1).
Figura 1 - Escolaridade dos alunos participantes da pesquisa.
Fonte: Dados da pesquisa (2019).
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Quando questionados sobre a ocupação, somente um dos entrevistados se identificou
como trabalhador rural. Assim, pode-se considerar raro o exercício de outra atividade além
dos estudos na região estudada. Além disso, em relação ao nível de escolaridade, observou-se
um número maior de entrevistados cursando o último ano do ensino fundamental, período de
transição para o ensino médio, nível este, que segundo Duk (2006), apresenta maior taxa de
abandono escolar, principalmente na região Nordeste. Tal achado corrobora o estudo de
Wanderley (2007) sobre as perspectivas de jovens rurais em relação ao futuro. A autora
observou que, de maneira geral, para todos os jovens rurais, o principal projeto de vida é
vencer o isolamento e ter acesso à educação.
Quando questionado aos participantes se alguém de sua família desenvolve a apicultura,
observou-se que 54,2% dos jovens têm algum grau de parentesco com apicultores, sendo que
destes, 6 são filhos. Para Wanderley (2007), o ambiente familiar exerce grande influência na
escolha profissional dos jovens do campo. No entanto, entre os jovens da zona rural de
Massapê do Piauí o ambiente familiar parece não exercer influência nesse sentido, já que
nenhum deles afirmou possuir experiência com a atividade apícola.
Lopes e Carvalho (2015) consideram aspectos da sucessão familiar na sustentabilidade
de um empreendimento, onde a atuação da juventude rural é considerada uma espécie de elo
entre o passado e o futuro do empreendimento. Ao estudar a dinâmica temporal de um
assentamento rural organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST),
em Teresina, Piauí, os autores observaram que a compreensão da dinâmica temporal aponta
para a importância dos mediadores sociais na construção dos projetos de vida da juventude.
Na apicultura do Piauí, diferentemente do observado pelos autores supracitados, não é
comum a presença de mediadores sociais para o engajamento da juventude na atividade e foi
possível observar que apenas 16,4% conhecem a associação de apicultores (ABOMEL). Entre
esses estudantes, 6 eram filhos(as) de apicultores e embora não desempenhem a atividade
apícola por influência da família, acabam tendo contato com o associativismo existente em
suas comunidades devido a participação de seus pais.
Situação distinta é observada entre os apicultores da Cooperativa Mista de Apicultores
de Simplício Mendes, onde a atividade foi incentivada e organizada por meio de atividades
promovidas pela Igreja Católica (Martins; Caldas, 2009). Na região de Simplício Mendes
atualmente, por meio da Fraternidade de São Francisco, a Igreja Católica desempenha entre a
juventude o papel de mediação social.
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Quando questionados sobre possíveis impactos positivos e/ou negativos da apicultura,
23 alunos (47,9%) identificaram prejuízos no exercício da atividade representados, segundo
os entrevistados pelas ferroadas das abelhas. Ainda em relação a pergunta, foi solicitado que
os jovens dessem uma justificativa e as respostas foram bastante diversificadas. Em síntese, a
Tabela 1 ilustra as afirmações dos entrevistados.
Tabela 1 - Justificativas dadas pelos entrevistados sobre os impactos da atividade apícola.
A ATIVIDADE APÍCOLA APRESENTA IMPACTOS
NEGATIVOS PORQUE
A ATIVIDADE APÍCOLA APRESENTA
IMPACTOS POSITIVOS PORQUE
...o veneno pode matar
... ajuda as pessoas a sobreviver
...se trabalha sem proteção
... traz mel e cera
...porque uma picada de abelha pode fazer mal à saúde
... faz bem a natureza
...porque é perigosa
...dá sustentabilidade as criações
... é um trabalho leve
... não prejudica em nada
Fonte: Dados da pesquisa (2019).
Observou-se que as justificativas dadas em relação aos impactos negativos da apicultura
estão relacionadas unicamente às ferroadas das abelhas o que nos permite inferir que os
apicultores da zona rural de Massapê do Piauí não têm seguido adequadamente as
recomendações técnicas relativas à proteção individual no manejo de seus apiários, sendo
necessários maiores estudos referentes aos acidentes com abelhas na região.
Silva et al. (2017) estudando os acidentes com abelhas entre apicultores do semiárido
paraibano, afirmam que as exposições relativas aos riscos decorrentes do desenvolvimento da
atividade apícola podem levar à acidentes de trabalho caso as medidas preventivas não forem
adequadamente implementadas e incorporadas no cotidiano dos apicultores. Os autores
ressaltam a importância da utilização adequada dos equipamentos de proteção individual
(EPI) bem como, o respeito aos limites de distância entre os apiários e as residências e/ou
escolas.
Ao que parece, a falta de aprimoramento técnico dos apicultores apontada por Amorim
e Vieira (2016) foi deflagrada pela aparente não utilização de técnicas que garantam a
proteção em relação aos acidentes com as abelhas entre os apicultores de Massapê do Piauí,
posto que tais acidentes foram apontados pelos jovens entrevistados como o único impacto
negativo da apicultura, o que pode explicar a apreensão e desânimo para a participação e
ingresso na apicultura.
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Os jovens foram questionados sobre a possibilidade da realização de uma capacitação
gratuita ministrada pela equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Piauí e sobre o
interesse em participar. Os resultados revelaram que 5 (10,4%) dos entrevistados
demonstraram interesse de se capacitarem para atividade apícola. Esse percentual é
compreensível se levarmos em consideração o currículo das instituições de ensino, que não
contemplam as especificidades do modo de vida camponês e a precariedade da educação
escolar da população do campo, como exposto no Panorama da Educação do Campo:
Os diagnósticos da educação do campo têm apontado como principais questões: a
insuficiência e a precariedade das instalações físicas da maioria das escolas; as dificuldades
de acesso dos professores e alunos às escolas, em razão da falta de um sistema adequado de
transporte escolar; a falta de professores habilitados e efetivados, o que provoca constante
rotatividade; currículo escolar que privilegia uma visão urbana de educação e
desenvolvimento; a ausência de assistência pedagógica e supervisão escolar nas escolas
rurais; o predomínio de classes multisseriadas com educação de baixa qualidade; a falta de
atualização das propostas pedagógicas das escolas rurais; baixo desempenho escolar dos
alunos e elevadas taxas de distorção idade-série ... (Brasil, 2007, p. 8).
Todas essas questões impactam na (des)valorização das práticas camponesas e esse
desinteresse em relação à atividade apícola observado na presente pesquisa pode ser atribuído
à fatores múltiplos ou ainda, ser reflexo de uma apatia dos jovens de maneira geral quanto a
seu futuro profissional também observada por Caetano (2018) e Sousa-Junior e Martins
(2019). Troian e Breitenbach (2018) afirmam que os estudos sobre as juventudes do meio
rural ainda são pouco expressivos e que há muito a ser descoberto acerca das percepções,
anseios e motivações dos jovens rurais. De qualquer forma, essa apatia observada nos jovens
de comunidades rurais que têm na apicultura uma de suas principais atividades econômicas,
pode comprometer sua manutenção na região.
Por outro lado, embora a juventude não tenha demonstrado interesse em participar e/ou
exercer a atividade apícola, quando questionados quanto à importância da apicultura, os
jovens responderam de acordo com o exposto (Figura 2).
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Figura 2 - Importância da apicultura segundo os jovens entrevistados.
Fonte: Dados da pesquisa (2019).
Os resultados revelaram que os entrevistados, em sua grande maioria, reconhecem a
apicultura como uma atividade de alto potencial, pois atribuem a esta, valores social,
econômico e ambiental. Lourenço e Cabral (2016) destacam que a apicultura é uma atividade
que contribui positivamente com as dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica,
porque gera renda e apresenta uma lucratividade relativamente superior, se comparada a
outras atividades agropecuárias; a social, porque é fonte de ocupação no campo, contribuindo
com a redução do êxodo rural; e a ambiental, porque não degrada e enaltece a importância da
preservação da natureza.
Lara et al. (2021), estudando um grupo de jovens agricultores no Rio Grande do Sul
sublinham que são necessárias ações de fortalecimento projetando os jovens nas
possibilidades existentes no município. Assim, necessário se faz compreender quais são as
ações realizadas pela Associação de Apicultores de Massapê do Piauí para o engajamento da
juventude na atividade apícola, posto que, de acordo com o presente estudo, os jovens têm
informação quanto à contribuição das abelhas em relação à sustentabilidade ambiental e para
o fortalecimento da agricultura familiar.
Embora extremamente importantes para a manutenção dos ecossistemas (Ollerton, et
al., 2011), as abelhas estão em processo de desaparecimento (Brown & Oliveira, 2014). De
acordo com Pires et al. (2016), as causas desse problema estão relacionadas principalmente
aos efeitos de agrotóxicos, às deficiências nutricionais, à falta de manejo adequado e à
ocorrência de patógenos e parasitas. Vale ressaltar que o enfrentamento dessa problemática
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envolve a promoção de processos de sensibilização das comunidades rurais acerca da
conservação desses insetos.
Quando questionados em relação aos impactos que o desaparecimento das abelhas
poderia causar em suas comunidades, os jovens, em sua maioria (52,8%) afirmaram que o
maior impacto estaria relacionado a diminuição da renda familiar. Porém, 36,4% dos jovens
consideram que não haveria nenhum impacto para suas famílias. De acordo com Rosso et al.
(2003), embora as abelhas sejam parte importante da biodiversidade dos agroecossistemas,
sua existência ainda passa despercebida pelas pessoas que vivem e trabalham no campo.
Conclusões
Observou-se que os jovens, de maneira geral, não se identificaram com as atividades
rurais e embora muitos tenham algum grau de parentesco com apicultores, a maioria dos
jovens desconhece a presença de uma associação de apicultores e as ações relacionadas à
apicultura em suas comunidades. E embora saibam sobre a importância social, econômica e
ambiental da apicultura, bem como dos impactos negativos que o desaparecimento das
abelhas causaria em suas comunidades, não demonstram interesse em participar de
capacitações para se iniciar-se na apicultura.
Esse desinteresse impacta também na negação dos saberes, da cultura e da identidade
camponesa constituída pelos laços sociais. O projeto de escolarização dos povos do campo,
orientados pela proposta de Educação do Campo é uma alternativa para articulação entre
saberes camponeses e saberes científicos, além do (re)conhecimento do campo como espaço
de possibilidades na geração de renda. Portanto, há a necessidade em repensar o processo
formação dos camponeses e desenvolver práticas que promovam reconhecimento das
potencialidades do campo.
Dessa maneira, sugere-se ações voltadas para a sensibilização e o engajamento da
juventude em relação à atividade apícola como importante ferramenta de inclusão social e
econômica para os agentes da comunidade rural, bem como a discussão e divulgação de
pesquisas sobre o assunto.
Referências
Brasil. (2007). Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP.
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Informações do Artigo / Article Information
Recebido em: 12/12/2021
Aprovado em: 03/09/2021
Publicado em: 19/12/2022
Received on December 12th, 2021
Accepted on September 03th, 2021
Published on December, 19th, 2022
Contribuições no Artigo: Os(as) autores(as) foram os(as) responsáveis por todas as etapas e resultados da pesquisa, a
saber: elaboração, análise e interpretação dos dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito e; aprovação da versão
final publicada.
Author Contributions: The author were responsible for the designing, delineating, analyzing and interpreting the data,
production of the manuscript, critical revision of the content and approval of the final version published.
Conflitos de Interesse: Os(as) autores(as) declararam não haver nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Avaliação do artigo
Artigo avaliado por pares.
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Double review.
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Não tem.
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APA
Rodrigues, J. A. C., Melo, P. S. L., Santos, M. F., Silva, M. F., & Bendini, J. N. (2022). Percepção da juventude rural sobre a
apicultura desenvolvida em comunidades rurais do semiárido piauiense. Rev. Bras. Educ. Camp., 7, e13617.
http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e13617
ABNT
RODRIGUES, J. A. C.; MELO, P. S. L.; SANTOS, M. F.; SILVA, M. F.; BENDINI, J. N. Percepção da juventude rural sobre a
apicultura desenvolvida em comunidades rurais do semiárido piauiense. Rev. Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 7,
e13617, 2022. http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e13617
