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Diante do exposto, assumimos a ideia de princípios como leis ou fundamentos gerais de
uma determinada racionalidade que implicam, necessariamente, o conhecimento e a tomada
de decisão individual do sujeito sobre a realidade e o mundo (Freire, 1987), mas com posições
políticas, éticas e estéticas, produzidas na coletividade maior, a sociedade e a cultura
(Williams, 1969), permeadas pela conjuntura, para produzir uma nova estrutura. Assim, a
Escola da Terra assume o conjunto de funções definidas para uma escola e amplia, transforma
e transgride essa função, forjando sua ação na perspectiva do ser mais (Freire, 1987).
A Escola da Terra se faz pelo trabalho e no trabalho de coletivos organizados de
estudantes e professores, crianças e adultos, num determinado espaço, a escola pública,
vinculada ao contexto do campo. Uma Escola da Terra que assume as circunstâncias
históricas do seu tempo e contexto, o campo brasileiro, os camponeses, para fazer o trabalho
formativo e educativo. Um trabalho educativo que será sustentado por princípios formativos
que trazem o verbo Ser como catalizador de uma ideia-força, como escreve Freire (1987) e,
assim, Ser a escola da criança, do estudante; Ser a escola do conhecimento; Ser a escola da
cooperação; Ser a escola da agroecologia; Ser a escola do trabalho. Cada ‘Ser’ está ligado a
um princípio gestado na relação com a terra e com a vida na terra.
Ser a escola da criança, do estudante, da infância
A natureza da escola hegemônica no Brasil, inclusive no campo, não dá um espaço de
destaque para crianças na escola. Nessa escola a sala de aula é o cenário principal, onde a vida
da escola acontece. Visualizamos classes enfileiradas em que todos permanecem sentados;
alunos seriados são ensinados sempre entre os pseudoiguais; olhar fixo para a lousa ou cópias
de fragmentos de informação dos livros didáticos; aulas expositivas que exigem o
silenciamento; o tempo rígido dividido em aulas, disciplinas, parco tempo para brincar; a
avaliação pautada na nota e na subordinação infantil. Essa é a escola do aluno e não da
criança, é a escola do professor e não de um educador.
A Escola da Terra, da criança, é uma escola pensada com elas. O espaço educativo é o
pátio, o parque, o campo, a horta, o jardim, a agrofloresta, a biblioteca, o laboratório, a
cozinha, também a sala de aula e tantos outros espaços educativos potenciais. Atualmente as
telas do celular e do computador foram inseridas no trabalho pedagógico. As ferramentas de
aprendizagens são os cadernos, as calculadoras, os computadores e os celulares, a lousa, os
livros didáticos, as enciclopédias, os dicionários, as obras literárias, os diários, os gravadores,
dentre tantas outras.