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Ainda segundo Freire (1982), por meio da descodificação da codificação, com a
mediação do educador, “os camponeses analisam sua realidade e expressam, em seu discurso,
os níveis de percepção de si mesmos... Revelam os condicionamentos ideológicos a que
estiveram submetidos em sua experiência na ‘cultura do silêncio’, nas estruturas do
latifúndio” (p. 28). Um exemplo dessa passagem é-nos apresentado por Freire (1982) no
relato de uma conversa com camponeses chilenos que lutavam por reforma agrária. O
camponês afirmou que antes desta (da reforma agrária) as letras eram desnecessárias porque
não pensavam; o pensamento não era deles, mas do patrão; as letras não tinham finalidade.
Nesse sentido, o ato de ler ganha novo significado; ele não se resume à decodificação da
palavra, por isso a leitura do mundo precede a leitura da palavra. “A compreensão do texto a
ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre texto e contexto”
(Freire, 1989, p. 9). No movimento do mundo à palavra e desta ao mundo, a palavra dita é a
leitura que dele (do mundo) se faz. Assim, a leitura da palavra não só é precedida pela do
mundo, mas por um determinado modo de escrevê-lo e/ou reescrevê-lo, de transformá-lo por
meio da prática consciente.
Desse modo, antes mesmo da leitura da palavra, os alfabetizandos leem o mundo outra
vez, agora criticamente, e nessa releitura constroem uma nova percepção da sua situação
perante as injustiças e se percebem enquanto classe. A leitura crítica da realidade se constitui,
dessa maneira, em instrumento de ação contra-hegemônico.
A alfabetização de adultos, segundo Freire (1989), é, ao mesmo tempo, um ato criador
por ser político e um ato de conhecimento e tem como sujeito o alfabetizando. Assim sendo,
não pode reduzir-se ao ensino da palavra, sua divisão em sílabas e letras. O aprendizado da
leitura e da escrita torna-se significativo para o alfabetizando quando, junto com o domínio do
processo de formação vocabular, ele compreende o sentido da linguagem, a sua inter-relação
com o pensamento, com a realidade e com a estrutura social (Freire, 1982). Essa inter-relação
nem sempre é estabelecida na prática pedagógica. A busca pela superação do distanciamento
entre a educação escolar e a realidade camponesa deu origem à pedagogia da alternância.
A pedagogia da alternância visa à formação humana integral, tem o trabalho como
princípio educativo e realiza, dialeticamente, a articulação entre trabalho produtivo e ensino
formal (Ribeiro, 2010). Em suas origens históricas, a pedagogia da alternância advém do
significado da escola para os filhos dos agricultores franceses. Conforme Martins (1981), a
escolarização no meio rural se dá concomitantemente ao trabalho produtivo. O trabalho é um
valor social e, como tal, se coloca como normativa na educação da criança, do jovem ou do