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indivíduos se tornem contemporâneos a seu tempo, tem como lócus principal a escola, uma
vez que é nessa instituição que esse conhecimento, incluindo-se o que é produzido pela
própria ciência, é sistematizado, reverberando-se nos conteúdos escolares.
Contudo, como prática social, a formação humana é determinada historicamente, isso
significa, segundo Carvalho, Marques e Teixeira (2020, p. 27), assumir os contornos do seu
tempo, em que a conduta dos indivíduos, “... a humanização ou a desumanização, forma e se
transforma na dialética com as transformações históricas ... a forma e o conteúdo da formação
humana são determinados pela forma e pelo conteúdo das relações sociais em determinada
sociedade”.
Por conseguinte, não é nenhuma surpresa que o conteúdo da formação humana
proporcionado à população do campo, ao invés de humanizar, desumanize os indivíduos, seja
negando-a, seja ofertando-a de forma precária, afinal, não é de interesse da lógica do capital
presente no meio rural, por meio do agronegócio, proporcionar uma educação de qualidade.
Essa última, compreendida aqui como capaz de instrumentalizar os indivíduos para
compreender a realidade de forma crítica.
Saviani (2016, p. 28), citando Sanches (1922, p. 111), denuncia a exclusão da população
camponesa do acesso à educação escolar, ainda nos primeiros movimentos de discussão da
sua ampliação às classes populares na Europa no século XVIII. A alegação para essa
exclusão, conforme o autor, seria que o tipo de trabalho a ser desenvolvido no campo não
necessitava de formação escolar, e ainda poderia causar problemas, pois, uma vez que os
indivíduos tivessem acesso a essa formação, afastar-se-iam do trabalho no campo. “O rapaz
de doze ou quinze anos, que chegou a saber escrever uma carta, não quererá ganhar a sua vida
a trazer uma ovelha cansada às costas, a roçar desde pela manhã até a noite, nem a cavar”. A
concepção de que as pessoas do meio rural, pela natureza do trabalho que desenvolvem, não
precisam de educação, ou quando muito, apenas seus rudimentos, parece se fazer presente
ainda hoje.
No Brasil, as primeiras iniciativas para ofertar educação à população do meio rural
foram marcadas por contradições. Conforme Molina e Antunes-Rocha (2014), o início das
preocupações com a educação para o campo remonta às discussões pela implantação da escola
pública na década de 1920. Contudo, conforme as autoras, existiam discursos em disputa. De
um lado, os defensores de uma escola voltada para a valorização do meio rural, o amor a terra,
depreciando o modo de vida urbano e sua escola; do outro lado, signatários do Movimento
dos Pioneiros da Educação Nova, como Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, dentre outros,