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humanidade mundo afora. As pesquisas no campo da Etnomatemática têm se debruçado em
estudar e compreender as diferentes matemáticas produzidas em diversas comunidades
tradicionais (Khidir & Coelho, 2019).
A esse respeito, Mendes e Farias (2014) escrevem que:
Conceber a matemática como um conhecimento produzido socialmente pressupõe que é na
investigação da história da humanidade que podemos encontrar a origem das explicações
naturais e experimentais nas interações sociais e imaginárias, fazendo surgir daí a cultura
matemática como um conhecimento que é justificado a partir do surgimento de vertentes
explicativas, ou seja, o exercício do pensamento da cultura (p. 39).
Cada sociedade imprime elementos culturais locais em suas práticas, os quais são
denominados como práticas socioculturais (Mendes & Farias, 2014). Para alcançar esse
objetivo, faz-se necessário entender de que modo as práticas, mobilizadas na dinâmica
sociocultural, podem constituir objetos de problematização a serem incorporados aos saberes
e fazeres escolares. Esse movimento de tomar as práticas socioculturais como elo entre o
mundo e os seres humanos caminha no processo de desenvolvimento da consciência.
Acreditamos que não se pode ensinar algo a um sujeito sem levar em consideração seu
mundo e sem problematizar tal mundo. Esse processo acontece quando trabalhamos com
temas geradores.
Os temas geradores são um dos princípios da pedagogia de Freire.
Será a partir da situação presente, existencial, concreta, refletindo o conjunto de aspirações
do povo, que poderemos organizar o conteúdo programático da educação ou da ação política.
O que temos de fazer, na verdade, é propor ao povo, através de certas contradições básicas,
sua situação existencial, concreta, presente, como problema que, por sua vez, o desafia e,
assim, lhe exige resposta, não só no nível intelectual, mas no nível da ação ... É na realidade
mediatizadora, na consciência que ela tenhamos, educadores e povo, que iremos buscar o
conteúdo programático da educação. O momento deste buscar é o que inaugura o diálogo da
educação como prática da liberdade. É o momento em que se realiza a investigação do que
chamamos de universo temático do povo ou o conjunto de seus temas geradores (Freire,
1987, p. 86-87) grifos do autor.
Pernambuco (1994) produziu e desenvolveu características dialógicas, com base na
teoria de Paulo Freire, utilizadas em situações educativas. Apresentamos a seguir uma síntese
dessas características:
Ao organizar uma aula, uma sequência de conteúdos, uma reunião com pais, estamos sempre
atentos à situação inicial que gera o passo seguinte. É o momento de compreender o outro e
o significado que a proposta tem em seu universo e ao mesmo tempo permitir-lhe pensar,
com certo distanciamento, sobre a realidade na qual está imerso. É o momento da fala do
outro, da descodificação inicial proposta por Paulo Freire, quando cabe ao professor, ou ao