Revista Brasileira de Educação do Campo
Brazilian Journal of Rural Education
ARTIGO/ARTICLE/ARTÍCULO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e14290
As transformações na realidade agrária e as escolas do
campo do núcleo regional de educação de Dois Vizinhos -
PR
Leandro Turmena1, Marcos Vinicius Pereira Ribeiro2, Sidemar Presotto Nunes3,
1 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR. Campus Dois Vizinhos. Curso de Licenciatura em Educação do
Campo. Estrada para Boa Esperança - Km 04 - Comunidade de São Cristóvão. Dois Vizinhos. Paraná - PR. Brasil
2Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE. 3 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR.
Autor para correspondência/Author for correspondence: leandroturmena@utfpr.edu.br
RESUMO. As escolas do campo, no estado do Paraná, é uma
proposta educacional que se propõe a, além de garantir educação
de qualidade, considerar as especificidades da realidade do
campo. O Núcleo Regional de Educação de Dois Vizinhos
(NRE-DV) é responsável por sete municípios e atende, no total,
quinze Escolas do Campo, do ensino fundamental (anos finais) e
ensino médio. A pesquisa foi desenvolvida mediante consulta
em séries históricas do Censo Agropecuário do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do NRE-DV,
além de entrevista com a professora gestora das escolas do
campo do referido Núcleo. A situação das escolas do campo está
vinculada à questão agrária, isto é, ao conjunto de problemas
inerentes ao desenvolvimento do capitalismo no campo. Assim,
o artigo analisa a diminuição no número de matrículas nas
Escolas do Campo nos últimos anos, movimento que tem
ocorrido devido à diminuição da população residente na área
rural, à concentração de terras e às mudanças ocorridas na
agricultura.
Palavras-chave: questão agrária, educação do campo, escolas
rurais, núcleo regional de educação, Dois Vizinhos-PR.
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The transformations in the agricultural reality and the
rural schools of the regional nucleus of education of Dois
Vizinhos - PR
ABSTRACT. The “country schools”, in the state of Paraná, is
an educational proposal that, in addition to guaranteeing quality
education, considers the specificities of the rural reality. The
Regional Education Nucleus of Dois Vizinhos (NRE-DV) is
responsible for seven municipalities and serves, in total, fifteen
Rural Schools, elementary school (final years) and high school.
The research was developed by consulting historical series of
the Agricultural Census of the Brazilian Institute of Geography
and Statistics (IBGE) and the NRE-DV, in addition to an
interview with the manager teacher of the rural schools of the
referred Nucleus. The situation of rural schools is linked to the
agrarian question, that is, to the set of problems inherent to the
development of capitalism in the countryside. Thus, the article
analyzes the decrease in the number of enrollments in Rural
Schools in recent years, a movement that has occurred due to the
decrease in the population residing in rural areas, the
concentration of land and changes in agriculture.
Keywords: agrarian question, countryside education; rural
schools; regional education center, Dois Vizinhos-PR
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Las transformaciones en la realidad agropecuaria y las
escuelas de campo del núcleo regional en Dois Vizinhos
PR
RESUMEN. Las “escuelas de campo”, en el estado de Paraná,
es una propuesta educativa que, además de garantizar una
educación de calidad, considera las especificidades de la
realidad rural. El Núcleo Regional de Educación de Dois
Vizinhos (NRE-DV) es responsable por siete municipios y
atiende, en total, a quince Escuelas Rurales, primaria (últimos
años) y secundaria. La investigación se desarrolló a partir de la
consulta de series históricas del Censo Agropecuario del
Instituto Brasileño de Geografía y Estadística (IBGE) y del
NRE-DV, además de una entrevista con el profesor gerente de
las escuelas rurales del referido cleo. La situación de las
escuelas rurales está ligada a la cuestión agraria, es decir, al
conjunto de problemas inherentes al desarrollo del capitalismo
en el campo. Así, el artículo analiza la disminución del número
de matrículas en las Escuelas Rurales en los últimos años,
movimiento que se ha producido debido a la disminución de la
población residente en las zonas rurales, la concentración de la
tierra y los cambios en la agricultura.
Palabras clave: cuestión agraria, educación de campo, escuelas
rurales, núcleo regional de educación, Dois Vizinhos-PR.
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Introdução
No estado do Paraná, a educação do campo, materializada nas escolas do campo, é uma
política pública instituída por meio da resolução 4783/2010-GS/SEED e tem como objetivo,
segundo esta resolução, “oferecer educação de qualidade aos sujeitos do campo, no lugar onde
vivem, de forma participativa e condizente com suas necessidades humanas, culturais e
sociais” (Paraná, 2010, s/p).
Diante de um longo processo histórico de fechamento de escolas no campo no Estado
do Paraná e no Brasil, a partir dos anos 90, com vistas, principalmente, à redução de custos, a
positividade desta política consiste em reconhecer a necessidade de educação de qualidade
para todos, inclusive no campo, de “forma participativa e condizente”.
A referida política foi antecedida pelas Diretrizes Curriculares da Educação do Campo,
de 2006, que afirma que o campo deve ser compreendido pelas “particularidades dos sujeitos
e não apenas sua localização espacial e geográfica” (Paraná, 2006, p. 22). Entra em questão
aqui “o reconhecimento da identidade da escola do campo e, consequentemente, dos diversos
sujeitos que vivem no campo” (Souza, Fontana & Marcoccia, 2012, p. 106).
Um conjunto diverso de autores têm desenvolvido críticas à concepção e à prática da
educação do campo, questionando seu real potencial transformador. Trata-se de críticas que
partem da análise da educação do campo institucionalizada, transformada em
políticas/programas pelo Estado brasileiro, via de regra impulsionados pela demanda de
organizações sociais do campo.
Cherobin (2015) afirma que a educação do campo institucionalizada pelo Estado através
das “escolas do campo” assume a perspectiva da “especificidade da vida e do trabalho no
campo” e reivindicam-na por meio da manutenção das escolas e das ações interdisciplinares.
Para a autora, a interdisciplinaridade tomada de forma livre, como ação, não como método -
empobrece as propostas educativas ao esvaziar o conteúdo disciplinar historicamente
sistematizado. Isto aparece de forma mais explícita nas políticas de Educação do Campo,
principalmente naquelas materializadas nas Escolas do Campo.
Oliveira (2008) aponta a indefinição do sujeito político desta educação, apresentada
como “povos do campo” ou “sujeitos do campo”, o que pode resultar em projetos antagônicos
abrigados sob a ideia de educação do campo. Para o autor, as supostas “especificidades do
trabalho e da vida no campo” não levam em consideração as transformações pelas quais a
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agricultura passa, que coloca o campo em oposição à cidade, abordagem própria do
funcionalismo e do culturalismo.
Oliveira (2008) destaca também a tendência de adotar os conceitos de realidade e
conhecimento, tomados como realidade imediata, o concreto sensível. No intento de partir da
realidade de cada lugar (comunidade, município) o risco de se ignorar a universalidade, ou
seja, “a realidade em geral”, os elementos que são comuns a todos, que perpassam cidade e
campo, até porque, no âmbito da divisão internacional do trabalho, cada vez mais o particular
e o geral se apresentam como um todo, dependentes.
Vendramini (2009) afirma que não se deve olhar para o campo e para a cidade e
identificar diferenças, uma vez que não há fronteiras que as dividem, pois “assim como na
cidade, as populações do campo convivem com o desemprego, a precarização, intensificação
e informalização do trabalho e a carência de políticas públicas” (p. 02).
Para Oliveira (2008), a economia brasileira, controlada pelo capital financeiro oriundo
de bancos e fundos de investimentos estrangeiros, principalmente estadunidenses e europeus,
cumpre o papel de produtor de matérias-primas agrícolas e minerais com baixo valor
agregado. Além disso, a agricultura brasileira, especificamente, mas não somente, é
desenvolvida mediante o controle estrangeiro, deste mesmo capital, nos setores mais
intensivos em trabalho e capital (genética de sementes e animais, máquinas e equipamentos,
agroquímicos etc.).
O grande capital controla o mercado e os preços, de modo que dificultam o processo de
trocas de mercadorias dos pequenos produtores, estes inseridos no contexto da expansão do
capital. A acumulação de riqueza, proveniente da expansão capitalista, produz, por outro lado,
uma condição de pobreza desenfreada, para a maioria da população, o que não é diferente na
área rural.
Portanto, mesmo com as conquistas no âmbito das políticas públicas para a Educação
do Campo, ainda muitos problemas que precisam ser enfrentados, incluindo a oferta
educacional, pois, observa-se que a diminuição do número de matrículas na área rural ocorre,
na maioria das vezes, devido ao êxodo rural, relacionado ao processo de concentração de
terras, condicionando os pequenos agricultores a buscarem sua subsistência no meio urbano.
Desta maneira, o presente artigo traz resultados da pesquisa que objetivou analisar a
situação das Escolas do Campo do Núcleo Regional de Educação de Dois Vizinhos (NRE-
DV), a partir das transformações recentes na realidade agrária onde estas escolas estão
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inseridas, particularmente no que se refere à estrutura fundiária, população residente, número
de escolas e número de matrículas.
Para este propósito, metodologicamente a pesquisa, de caráter quanti-qualitativo, foi
desenvolvida por meio da consulta na base de dados históricas do Censo Agropecuário do
IBGE e do NRE-DV e entrevista à gestora da pasta Educação do Campo deste órgão. Por
meio dos dados do IBGE observou-se, nos âmbitos nacional, estadual, regional e local, o
quantitativo populacional das áreas urbanas e rurais, as matrículas escolares da população
proveniente destas áreas, bem como, com base nos dados extraídos no NRE-DV e na
entrevista analisou-se o número de matrículas das escolas do campo. Houve apenas uma
entrevista que aconteceu presencialmente no departamento de Educação do Campo, do NRE-
DV, gravada e transcrita, com o auxílio de um roteiro com perguntas abertas, passível de
diálogo com questões que surgiram no momento e comentários adicionais feitos pela
entrevistada.
O presente trabalho é um recorte de estudos desenvolvidos no projeto de pesquisa
“Situação das Escolas do Campo do Núcleo Regional de Educação de Dois Vizinhos, Paraná
(NRE-DV)” vinculado ao Curso de Educação do Campo da Universidade Tecnológica
Federal do Paraná (UTFPR), Campus Dois Vizinhos. Assim, como primeiro material
desenvolvido na pesquisa, apresenta o contexto das Escolas do Campo do NRE-DV.
Salienta-se, no entanto, que alguns dados observados neste texto, demandam futuras
pesquisas, objetivando desvelar a totalidade e as mediações correspondentes à temática e
objeto em questão.
Educação do campo: localizando a proposta educativa
Nesta seção apresenta-se os autores que defendem a educação do campo e localiza-se a
problemática e a proposta educativa. Além de identificar alguns autores representativos desta
concepção, procura-se apresentar como estes compreendem a questão agrária brasileira e
definem os “sujeitos da educação do campo”.
Para Caldart (2009), as lutas da Educação do Campo estão relacionadas com os
envolvimentos políticos e contextos ideológicos que firmam a sua construção, tal como
compreende as contradições da realidade, assim como buscar compreender as contradições
inerentes no desenvolvimento das políticas públicas sob as dimensões da realidade em sua
totalidade.
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A Educação do Campo se coloca em luta pelo acesso dos trabalhadores ao conhecimento
produzido na sociedade e ao mesmo tempo problematiza, faz a crítica ao modo de
conhecimento dominante e à hierarquização epistemológica própria desta sociedade que
deslegitima os protagonistas originários da Educação do Campo como produtores de
conhecimento e não constrói referências próprias para a solução de problemas de uma outra
lógica de produção e de trabalho que não seja a do negócio ou do trabalho produtivo para o
capital (Caldart, 2009, p. 03).
Segundo Caldart (2009) não se deve, apenas, enfrentar os problemas que deram
impulsos para a luta por uma Educação do Campo, no entanto deve-se lutar constantemente
para compreender a Educação do Campo frente às suas diretrizes nos diversos momentos
históricos.
Para a autora, a origem da Educação do Campo parte de críticas que não se remetem às
particularidades da educação e sim a situação educacional dos povos do campo, a estruturação
de projetos do campo que posicionam impactos educacionais nesta população. Políticas que
tratam das lutas sociais por direito à educação, terra, trabalho, igualdade social e condições de
vida digna independente onde se mora, sendo conquista importante na construção histórica da
Educação do Campo como anseio ligado à questão da Reforma Agrária (Caldart, 2009).
Assim, a luta do Movimento da Educação do Campo objetiva reduzir as desigualdades e
precariedade da educação escolar, seja elas no acesso à educação ou na manutenção de
recursos materiais, no meio rural. Exemplo disso é a taxa de analfabetismo da população, com
idade mínima de 15 anos, que representa cerca de 23,3% na região rural. Número três vezes
maior que o da região urbana. Questão bastante intrigante, pois o tempo de escolaridade
vivenciada pela população do campo, para os alunos com idade nima de 15 anos, é
representada pela média de 4 a 5 anos. Ao mesmo tempo que, no meio urbano, a mesma faixa
etária representa uma escolaridade entre 7 e 8 anos, o que desencadeia uma disparidade e
desigualdade educacional no Brasil, em relação às áreas urbana e rural (Molina e Freitas,
2011).
Do mesmo modo, Mazur (2016) destaca que muitos estudos no âmbito da Educação do
Campo expõem o descaso histórico com a educação dos povos do campo. Tal que, quando
parte da população rural teve acesso à educação, a mesma limitava-se à oferta aos anos
iniciais do ensino fundamental e, para tais escolas, após a década de 1990, evidencia-se casos
de fechamento ou intenção de fechamento, mesmo havendo demanda de estudantes,
ocorrendo o deslocamento de alunos do campo para as escolas do meio urbano.
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Compreender isto é perceber que negação, no âmbito geral, da educação para os
povos do campo, pois o Estado deveria exercer sua função de garantir o acesso à educação a
toda a população, seja ela residente das áreas urbanas ou rurais. Não garantir a educação para
os povos do campo é desconsiderar a existência de uma cultura. Assim como pressuposto
Se a escola pode vir ao seu encontro e não apenas o contrário, isto quer dizer também que ela
pode passar a considerar sua realidade, sua cultura, suas necessidades de aprendizagem,
fazendo delas a base do projeto pedagógico e político que desenvolve. Neste sentido, não é
um dado inevitável que a escola represente a negação do mundo rural dos trabalhadores de
sua cultura ou de uma coletividade em luta. Ao contrário, ela pode ajudar a enraizar as novas
gerações na história e em um determinado projeto de futuro, à medida que as velhas gerações
não deixem de se preocupar e de se ocupar com ela (Caldart, 2000, p. 196 apud Neto e
Bezerra, 2010, p. 259).
Estudos de Mazur (2016) indicam que os pequenos produtores adotam o modelo de
modernização da agricultura devido à necessidade de obter bons resultados em comparação
com os grandes produtores. No contexto de produção em larga escala, os camponeses têm a
sua venda guiada pelo preço estipulado pelos grandes produtores. Assim, o pequeno produtor
rural passa a ser um trabalhador subordinado pela lógica de mercado, definida por políticas
definidas por grandes corporações e atualmente, pelo capital financeiro. Desta forma, muitos
produtores vêm-se subordinados a trabalharem como assalariados para os grandes
proprietários, ou ampliando as estatísticas de êxodo rural.
Em outros países, como afirma Mazur (2016), a expropriação do campesinato já havia
acontecido mais de um século. No Brasil, um dos problemas é que, pela necessidade de
acompanhar a evolução do mercado,
A substituição da agricultura de roça por uma agricultura muito desenvolvida tecnicamente
ocorreu de forma muito rápida, pulou etapas intermediárias não permitindo que fosse
realizado o ajuste demográfico necessário a essa transformação. Essa agricultura moderna
dispensa um grande número de mão-de-obra, gerando população sobrante (Mazur, 2016, p.
50).
Este movimento vem historicamente ocasionando a diminuição da população residente
nas áreas rurais e intensificando o processo de êxodo rural, o que tem impulsionado a
diminuição das matrículas nas escolas do campo, e estimulando ações governamentais que
resultam no fechamento de tais escolas.
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Histórico e transformações na realidade agrária regional
O NRE-DV localiza-se na região Sudoeste do Estado do Paraná, atendendo sete
municípios
i
.
A região Sudoeste do Paraná começou a tomar forma no início do século XIX com a
predominância de latifundiários (criadores de gado) proprietários rurais com grande
proporção de terras não cultivadas e, caboclos (trabalhadores braçais e, frente da frente
pioneira).
No entanto, a configuração desta região como parte constituinte do Estado tanto do
Paraná como do Brasil, teve seu início em 1940 com a Marcha para o Oeste. Por meio deste
programa governamental que a região Sudoeste passou a incorporar imigrantes sulistas que
tinham como orientação o trabalho agrícola. Muitos outros acontecimentos de cunho
econômico e político marcaram a história da região Sudoeste com destaque para a Revolta de
1957
ii
(Turmena, 2009).
Inicialmente, a região se concentrou, economicamente, na extração de recursos naturais
como a erva-mate, madeira e couro e, criação de animais como, por exemplo, gado e suínos.
Com a chegada dos sulistas, a região passou a se caracterizar pela produção agrícola, atrelada
a uma forma de produção agroindustrial (milho, soja, feijão, aves, suínos, fumo, etc.)
(Turmena, 2009).
Nos anos 1940 e 1950 se desenvolvia na região uma agricultura voltada para a
subsistência e comercialização do excedente, com o uso da tração animal e a força braçal. No
final dos anos 50 em diante não havia mais terra disponível na região. Os jovens que
chegavam nesta época se tornaram, na maioria, agregados, parceiros e arrendatários daqueles
que chegaram antes. Como a agricultura era pouco mecanizada, muita gente chegou nessa
época e viveu na região até o final dos anos 1970 e constituiu uma nova classe social, a dos
trabalhadores sem-terra.
A mecanização agrícola na região, a partir do final dos anos 1960, diminuiu a
necessidade de força de trabalho no campo, que migraram para as grandes cidades, como
Curitiba, São Paulo, Joinville, Porto Alegre. A primeira classe social impactada pela
modernização agrícola foi a dos não proprietários, os camponeses sem terra. Segundo Nunes
(2020), após o início da mecanização agrícola a população total do sudoeste do Paraná teve
um declínio, que foi recuperada, nos anos 2000, quando as grandes cidades deixaram de
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atrair e a região começou a se industrializar, mas também em função de novas atividades
agrícolas intensivas em trabalho, como o leite. “Ou seja, durante um longo tempo a
perspectiva dos jovens foi migrar em busca de trabalho ou de novas terras, inicialmente os
não proprietários de terra e, em seguida, os filhos dos pequenos proprietários” (Nunes, 2020,
s/p).
Atualmente, com a instalação de agroindústrias processadoras de alimentos e a alta do
preço das commodities agrícolas, além das políticas voltadas aos pequenos produtores
agrícolas, detentores de pequenas áreas de terra, a produção agrícola da região é cada vez
mais orientada aos mercados já estruturados. Segundo dados do IBGE (2021), verifica-se que,
juntamente com a soja, que teve grande aumento de área e produção a partir dos anos 1990;
também tiveram elevação na produção a indústria de carnes, principalmente de frango, e a
produção de leite, que tornou a região a maior bacia produtora.
Estrutura fundiária e estabelecimentos agropecuários na região entre os Censos
Agropecuários de 2006 e 2017
Esse processo de desenvolvimento do capitalismo no campo tem provocado, no Brasil e
na região, uma tendência de redução no número dos estabelecimentos agropecuários, apesar
das políticas de assentamentos rurais existentes nas últimas cadas - embora a pequena
produção possa se recriar em novos contextos, articuladas e subordinadas de outras formas
com o grande capital.
Embora o conceito de estabelecimento agropecuário não seja sinônimo e nem
exatamente equivalente ao de estrutura fundiária, que um mesmo estabelecimento pode se
constituir por mais de um imóvel, inclusive arrendado, ou um mesmo proprietário pode ser
detentor de vários estabelecimentos agropecuários, desde que estejam localizados em
municípios diferentes ou possuam administração própria, segundo o Censo Agropecuário do
IBGE, na região sudoeste do Paraná, formada predominantemente por pequenos
estabelecimentos agropecuários, serve como referência para analisar as transformações na
estrutura fundiária. Cabe destacar que o conceito de imóvel rural também possui
inconsistências para a análise da estrutura fundiária, pois uma mesma pessoa ou empresa
podem ser detentores de diversos imóveis ou um imóvel pode conter mais do que um
estabelecimento agropecuário, além do fato de a fonte de dados ser o Imposto Territorial
Rural, que é auto declaratório.
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A tabela 1, abaixo, permite identificar que, mesmo que a região sudoeste do Paraná e os
municípios do NRE se caracterizem por pequenos estabelecimentos agropecuários, houve
tendência de redução no número destes estabelecimentos entre os dois últimos Censos
Agropecuários.
Tabela 1 Número de estabelecimentos agropecuários em 2006 e 2017.
2006
2017
Var.%
Brasil
5.175.636
5.073.324
-2,02
Paraná
371.063
305.154
-21,6
Sudoeste Paranaense
44.479
36.493
-21,88
Boa Esperança do Iguaçu
592
431
-37,35
Cruzeiro do Iguaçu
487
448
-8,71
Dois Vizinhos
1.934
1.880
-2,87
Nova Esperança do Sudoeste
1.057
940
-12,45
Nova Prata do Iguaçu
1.335
980
-36,22
Salto do Lontra
1.761
1.417
-24,28
São Jorge d'Oeste
1.142
1.024
-11,52
Fonte: Elaborada pelos autores, com base nos dados do IBGE Censos Agropecuários (2021).
As tabelas 02 e 03 apresentam o número de estabelecimentos agropecuários, conforme
os grupos de áreas no Brasil, Paraná, Sudoeste do Paraná e municípios pertencentes ao NRE-
DV.
Tabela 2 Número de estabelecimentos agropecuários em 2006, conforme os grupos de área.
Brasil
PR
Sud.P*
BES*
CI*
DV*
NES *
NPI*
SL*
SJ*
Total
5.175.636
371.063
44.479
592
487
1.934
1.057
1.335
1.761
1.142
0 a 0,1 ha
101.291
3.776
551
1
5
10
5
6
14
5
0,1 a 0,2 ha
50.206
2.814
262
1
4
7
1
5
11
-
0,2 a 0,5 ha
165.435
5.899
374
2
7
20
8
6
27
4
0,5 a 1 ha
289.905
15.328
1.086
19
14
110
15
41
67
35
1 a 2 ha
442.163
14.725
1.436
16
12
89
26
54
77
56
2 a 3 ha
319.671
21.022
1.992
29
41
98
38
55
77
52
3 a 4 ha
256.148
16.174
2.041
24
22
122
39
68
106
72
4 a 5 ha
215.988
23.913
3.064
41
33
186
85
83
135
80
5 a 10 ha
636.344
61.871
9.293
108
70
430
226
275
406
224
10 a 20 ha
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736.798
81.907
11.952
160
111
464
284
336
475
270
20 a 50 ha
843.920
66.194
8.042
140
86
292
216
270
256
202
50 a 100 ha
390.882
22.304
2.119
35
38
64
48
69
58
54
100 a 200 ha
219.432
12.363
765
7
8
25
9
22
27
25
200 a 500 ha
150.698
10.315
391
4
15
9
5
10
6
18
500 a 1.000
ha
54.158
2.417
72
1
2
3
1
1
1
2
1.000 a 2.500
ha
32.242
955
16
-
-
-
-
-
-
2
2.500 a
10.000 ha
15.336
254
5
-
-
-
-
-
1
1
Produtor sem
área
255.019
8.832
1.018
4
19
5
51
34
17
40
Fonte: Censo Agropecuário (2006). Elaboração: autores.
* Abreviações (segundo sequência da esquerda para a direita): Sudoeste Paranaense, Boa Esperança do Iguaçu,
Cruzeiro do Iguaçu, Dois Vizinhos, Nova Esperança do Sudoeste, Nova Prata do Iguaçu, Salto do Lontra e São
Jorge D’Oeste.
Tanto em 2006 como em 2017, com algumas variações, a região sudoeste do Paraná e
particularmente os municípios que compõem o NRE-DV, se constitui majoritariamente por
pequenos estabelecimentos agropecuários, mas também por estabelecimentos médios, para os
padrões nacionais.
Tabela 3 Número de estabelecimentos agropecuários em 2017, conforme os grupos de área.
Brasil
PR
Sud.P*
BES*
CI*
DV*
NES*
NPI*
SL*
SJ*
Total
5.073.324
305.154
36.493
431
448
1.880
940
980
1.417
1.024
0 a 0,1 ha
74.379
2.637
284
5
11
23
15
12
12
7
0,1 a 0,2 ha
54.438
2.293
346
9
12
16
14
13
16
9
0,2 a 0,5 ha
174.299
5.420
553
5
11
50
33
16
41
18
0,5 a 1 ha
303.316
14.588
1.119
12
31
114
35
33
73
60
1 a 2 ha
468.288
13.176
1.292
7
30
109
40
39
62
16
2 a 3 ha
336.993
17.801
1.592
13
36
99
49
29
73
53
3 a 4 ha
260.945
15.192
1.849
11
28
146
46
47
82
60
4 a 5 ha
220.309
18.983
2.408
23
24
152
73
55
121
69
5 a 10 ha
650.714
50.237
7.277
74
67
414
180
176
294
201
10 a 20 ha
730.662
64.194
8.894
116
77
371
231
208
310
236
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20 a 50 ha
855.865
54.674
6.910
97
66
254
167
229
233
184
50 a 100 ha
394.157
20.107
2.291
36
23
76
31
65
60
63
100 a 200 ha
218.758
11.660
975
13
16
30
8
39
25
27
200 a 500 ha
147.083
8.888
509
7
9
18
5
12
14
14
500 a 1.000
ha
54.878
2.794
116
3
7
4
3
4
-
5
1.000 a 2.500
ha
34.338
1.242
28
-
-
-
1
-
1
2
2.500 a
10.000 ha
14.415
300
1
-
-
-
-
-
-
-
10.000 ha e
mais
2.450
35
-
-
-
-
-
-
-
-
Produtor sem
área
77.037
933
49
-
-
4
9
3
-
-
Fonte: Censo Agropecuário (2017). Elaboração: autores.
* Abreviações (segundo sequência da esquerda para a direita): Sudoeste Paranaense, Boa Esperança do Iguaçu,
Cruzeiro do Iguaçu, Dois Vizinhos, Nova Esperança do Sudoeste, Nova Prata do Iguaçu, Salto do Lontra e São
Jorge D’Oeste.
Embora, para que a agricultura seja possível atualmente, também, é necessário
investimentos em capital, por meio da aquisição de trabalho morto (máquinas, equipamentos,
insumos, barracões, tecnologias), a propriedade da terra continua sendo muito importante,
que é utilizada, na maioria das vezes, como garantia ao crédito, motivo pelo qual uma
tendência de eliminação dos menos viáveis ao processo de acumulação. Evidentemente, esta
tendência deve ser analisada em relação com sua totalidade, ou seja, com as tendências
econômicas mais gerais, que podem recriar temporariamente novas relações sociais de
produção.
A tabela a seguir permite identificar que, apesar da queda no número de
estabelecimentos agropecuários ter se reduzido entre 2005/06 e 2017, em todos os níveis
territoriais analisados, 2% no Brasil, 18% no Paraná e no sudoeste do Paraná e 14% nos
municípios que compõem o NRE-DV, houve diferenças significativas conforme os estratos de
área. Na região deste NRE, verifica-se que os estabelecimentos agropecuários com áreas
bastante pequenas, menores que 1ha, tiveram grande elevação em seu número, variando entre
19% e 237% em apenas onze anos, o que revela que os pequenos estabelecimentos se
constituem principalmente de locais de moradia que produzem para o consumo próprio e
comercializam algum excedente. Por outro lado, os estabelecimentos agropecuários pequenos,
entre 1ha e 50ha tiveram reduções significativas, em todos os estratos, variando entre 7% e
26% (no Brasil inclusive nos estratos superiores). Esse decréscimo é de apenas 3% entre os
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estabelecimentos com mais de 50 até 100 hectares e aumenta o número daqueles com áreas
superiores a 100ha, exceto aqueles com mais de 2.500ha, que são poucos e que possivelmente
foram fracionados ou foram desapropriados para a reforma agrária.
Tabela 4 Variação no número de estabelecimentos agropecuários entre os censos agropecuários de 2005/06 e
2017.
Brasil
PR
Sud. P
Municípios NRE-DV
Total
-2%
-18%
-18%
-14%
0 a 0,1 ha
-27%
-30%
-48%
85%
0,1 a 0,2 ha
8%
-19%
32%
207%
0,2 a 0,5 ha
5%
-8%
48%
135%
0,5 a 1 ha
5%
-5%
3%
19%
1 a 2 ha
6%
-11%
-10%
-8%
2 a 3 ha
5%
-15%
-20%
-10%
3 a 4 ha
2%
-6%
-9%
-7%
4 a 5 ha
2%
-21%
-21%
-20%
5 a 10 ha
2%
-19%
-22%
-19%
10 a 20 ha
-1%
-22%
-26%
-26%
20 a 50 ha
1%
-17%
-14%
-16%
50 a 100 ha
1%
-10%
8%
-3%
100 a 200 ha
0%
-6%
27%
28%
200 a 500 ha
-2%
-14%
30%
18%
500 a 1.000 ha
1%
16%
61%
136%
1.000 a 2.500 ha
7%
30%
75%
100%
2.500 ou mais
10%
32%
-80%
-100%
Produtor sem área
Fonte: IBGE Censos Agropecuários (2006 e 2017). Elaboração: autores.
Os dados acima ajudam a explicar a redução do número de pessoas vivendo no campo e
desenvolvendo atividades agrícolas, pois houve também redução no número de
estabelecimentos agropecuários. A exceção está entre os médios e grandes, que se elevou,
mas que, exceto onde a atividade demanda o trabalho assalariado, como na produção animal
confinada, onde pode haver aumento do número de pessoas vivendo no campo (o que justifica
inclusive a formação de estabelecimentos agropecuários diminutos no seu entorno, que podem
ser locais de moradia destes trabalhadores), nos demais houve redução do número de
estabelecimentos. Embora a região sudoeste do Paraná seja formada por solos férteis e
localizados próximos das agroindústrias consumidoras de grãos, o que possibilita uma elevada
renda diferencial aos proprietários de terra, o tamanho médio dos estabelecimentos
agropecuários produtores de grãos, atividade altamente mecanizada e que demanda pouco
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trabalho, eleva-se constantemente, afetando diretamente na população que vive dela e no
número de estudantes que demandam escola no campo.
População rural
Para mensurar o contexto das escolas do campo pertencentes ao NRE-DV é importante,
observar os números populacionais residentes no campo e na cidade (tabela 05), pois entende-
se que esses dados, como síntese de múltiplas determinações e, consequentes de uma
totalidade histórica e social, são fundamentais para o entendimento deste movimento
histórico.
Tabela 05 - População Urbana e Rural do Brasil, Paraná, Sudoeste do Paraná e Municípios pertencentes ao NRE-
DV.
Ano
Urbana
Rural
Total
Brasil
1970
52.097.260
41.037.586
93.134.846
1980
80.437.327
38.573.725
119.011.052
1991
110.990.990
35.834.485
146.825.475
2000
137.925.238
31.947.618
169.872.856
2010
160.934.649
29.821.150
190.755.799
Paraná
1970
2.504.253
4.425.568
6.929.821
1980
4.472.506
3.157.343
7.629.849
1991
6.197.953
2.250.760
8.448.713
2000
7.782.560
1.782.083
9.564.643
2010
8.913.240
1.531.286
10.444.526
Sudoeste Paranaense*
1970
-
-
-
1980
-
-
-
1991
225.666
252.460
478.126
2000
283.004
189.622
472.626
2010
346.000
151.127
497.127
Boa Esperança do Iguaçu**
1970
-
-
-
1980
-
-
-
1991
-
-
-
2000
576
2.531
3.107
2010
953
1.811
2.764
Cruzeiro do Iguaçu**
1970
-
-
-
1980
-
-
-
1991
-
-
-
2000
2.214
2.180
4.394
2010
2.623
1.655
4.278
Dois Vizinhos
1970
4.109
33.044
37.153
1980
12.250
30.218
42.468
1991
22.202
18.065
40.267
2000
22.382
9.604
31.986
2010
28.095
8.084
36.179
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Nova Esperança do Sudoeste**
1970
-
-
-
1980
-
-
-
1991
-
-
-
2000
1.224
4.034
5.258
2010
1.846
3.252
5.098
Nova Prata do Iguaçu**
1970
-
-
-
1980
-
-
-
1991
4.171
7.444
11.615
2000
5.311
5.086
10.397
2010
6.067
4.310
10.377
Salto do Lontra
1970
2.246
29.202
31.448
1980
7.090
27.161
34.251
1991
4.624
9.673
14.297
2000
5.602
7.155
12.757
2010
7.431
6.258
13.689
São Jorge D’Oeste
1970
2.565
9.471
12.036
1980
3.943
9.774
13.717
1991
3.847
6.474
10.321
2000
4.511
4.796
9.307
2010
5.214
3.871
9.085
Fonte: Elaborada pelos autores, com base nos dados do IBGE (2021).
* Não constam alguns dados, na fonte consultada.
**Os dados destes municípios não foram encontrados. Motivo: Boa Esperança do Iguaçu e Cruzeiro do Iguaçu
foram desmembrados de Dois Vizinhos em 01/01/1993. Nova Esperança do Sudoeste, na mesma data, foi
desmembrada de Enéas Marques e Salto do Lontra. Nova Prata do Iguaçu foi desmembrada de Salto do Lontra
em 01/02/1983. O desmembramento ocasionou na oscilação do número populacional dos municípios de Dois
Vizinhos e Salto do Lontra.
Nos aspectos gerais, os dados indicam uma redução da população residente na área rural
e um gradativo aumento da população residente na área urbana. Este movimento se vincula ao
processo de êxodo rural, que está relacionado ao desenvolvimento da divisão do trabalho,
num período histórico de industrialização e urbanização da sociedade brasileira, o que tem
levado a uma extensiva urbanização do campo e progressiva industrialização/modernização
da agricultura. Considera-se, e de forma mais incisiva nas últimas décadas, a financeirização
da economia, ocasionando, neste caso, também na concentração de terras por grandes grupos
empresariais.
Na tabela 06 apresenta-se, de acordo com os dados tabulados acima, o percentual da
população na área urbana e rural. Torna-se, assim, mais evidente a diminuição da população
que reside no campo nos últimos quarenta anos.
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Tabela 06 - Percentual da população Urbana e Rural do Brasil, Paraná, Sudoeste do Paraná e Municípios
pertencentes ao NRE-DV.
Ano
Urbana
Rural
Brasil
1970
55,94%
44,04%
1980
67,59%
32,41%
1991
75,59%
24,41%
2000
81,19%
18,81%
2010
84,37%
15,63%
Paraná
1970
36,14%
63,86%
1980
58,62%
41,38%
1991
73,36%
26,64%
2000
81,37%
18,63%
2010
85,34%
14,66%
Sudoeste Paranaense*
1970
-
-
1980
-
-
1991
47,2%
52,8%
2000
59,88%
40,12%
2010
69,6%
30,4%
Boa Esperança do Iguaçu
1970
-
-
1980
-
-
1991
-
-
2000
18,54%
81,46%
2010
34,48%
65,52%
Cruzeiro do Iguaçu
1970
-
-
1980
-
-
1991
-
-
2000
50,39%
49,61%
2010
61,31%
38,69%
Dois Vizinhos
1970
11,06%
88,94%
1980
28,85%
71,15%
1991
55,14%
44,86%
2000
69,97%
30,03%
2010
77,66%
22,34%
Nova Esperança do Sudoeste*
1970
-
-
1980
-
-
1991
-
-
2000
23,28%
76,72%
2010
36,2%
63,8%
Nova Prata do Iguaçu*
1970
-
-
1980
-
-
1991
35,91%
64,09%
2000
51,08%
48,92%
2010
58,47%
41,53%
Salto do Lontra
1970
7,14%
92,86%
1980
20,7%
79,3%
1991
32,34%
67,66%
2000
43,91%
56,09%
2010
54,28%
45,72%
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São Jorge D’Oeste
1970
21,31%
78,69%
1980
28,75%
71,25%
1991
37,27%
62,73%
2000
48,47%
51,53%
2010
57,39%
42,61%
Fonte: Elaborada pelos autores, com base nos dados do IBGE (2021).
* Não constam alguns dados, na fonte consultada.
O decrescimento da população residente na área rural nos municípios pertencentes ao
NRE-DV, tem acompanhado historicamente a diminuição da população residente no campo
no país, no Estado do Paraná, bem como, na região Sudoeste.
Considerando a extensão territorial e as especificidades demográficas de cada
Estado/região do país, o sudoeste do Paraná se caracteriza por ser, ainda, uma região de base
agrícola, estruturada em pequenas propriedades, embora este cenário tenha-se modificado nos
últimos anos, devido ao processo de concentração de terras. A industrialização nesta região,
por sua vez, vem acontecendo, mas de forma lenta e gradual. Isso ajuda-nos a explicar o
número/percentual expressivo de residentes na área rural, no Sudoeste e municípios
pertencentes ao NRE-DV, se comparado aos dados do Brasil e Estado do Paraná, de forma
geral.
Este movimento, por sua vez, tem impactado também na diminuição do número de
pessoas residentes na área rural que frequentam a escola, bem como também, por extensão, o
número de matrículas das escolas do campo.
Evolução do número de matrículas
A tabela 07 apresenta, de forma geral, o número de pessoas que frequentam a educação
em todos os níveis, etapas e modalidades, provenientes das áreas urbana e rural. Salienta-se
que os dados coletados, foram os que constam na fonte pesquisada, não podendo ser tabulados
os dados dos anos 1970, 1980 e 1991.
Tabela 07 - Pessoas que frequentam a escola, em todos os níveis e modalidades de ensino. Brasil, Estado do Paraná,
Sudoeste do Paraná e Municípios (NRE-DV, provenientes das áreas Urbana e Rural.
Ano
Urbana
%
Rural
%
Total
Brasil
2000
43.894.406
82,19
9.511.915
17,81
53.406.320
2010
50.144.599
84,18
9.420.589
15,82
59.565.188
Paraná
2000
2.363.833
83,5
467.024
16,5
2.830.858
2010
2.696.808
86,83
409.150
13,17
3.105.958
Sudoeste Paranaense
2000
92.228
63,3
53.469
36,7
145.697
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19
2010
108.091
73,22
39.532
26,78
147.623
Boa Esperança do Iguaçu
2000
204
24,0
646
76,0
851
2010
335
39,67
510
60,33
845
Cruzeiro do Iguaçu
2000
585
47,26
653
52,74
1.238
2010
888
63,48
511
36,52
1.399
Dois Vizinhos
2000
7.377
72,89
2.744
27,11
10.121
2010
8.125
75,87
2.584
24,13
10.709
Nova Esp. do Sudoeste
2000
297
21,1
1.110
78,9
1.407
2010
611
41,55
860
58,45
1.471
Nova Prata do Iguaçu
2000
1.634
53,03
1.448
46,97
3.082
2010
1.945
63,43
1.121
36,57
3.066
Salto do Lontra
2000
1.569
39,78
2.375
60,22
3.944
2010
2.108
57,76
1.542
42,24
3.650
São Jorge D’Oeste
2000
1.590
53,15
1.401
46,85
2.991
2010
1.445
63,77
821
36,23
2.265
Fonte: Elaborada pelos autores, com base nos dados do IBGE (2021).
De acordo com os dados tabulados, percebe-se a diminuição do número de pessoas que
frequentam a educação em todos os níveis, etapas e modalidades, provenientes da área rural e,
por outro lado, um aumento das matrículas dos que residem na área urbana. Dos municípios
do NRE-DV, dois apresentam especificidades distintas dos demais dados apresentados. Nova
Esperança do Sudoeste em que a população que frequenta a escola é maioria proveniente da
área rural, embora, no comparativo, tenha diminuído e, Salto do Lontra, que ocorre uma
inversão nos dados, em relação a sequência lógica dos dados, apresentados na tabela.
No contexto do NRE-DV, do ano de 2011 ao ano de 2018, o número de escolas
estaduais, por município, das áreas urbana e rural, que contemplem o ensino fundamental II e
o ensino médio, exceto no município de Cruzeiro do Iguaçu (a escola da área rural foi fechada
em 2012), não sofreram alterações: Boa Esperança do Iguaçu (urbana: 01 escola); Cruzeiro
do Iguaçu (urbana: 02); Dois Vizinhos (urbana: 07, rural: 03); Nova Esperança do Sudoeste
(urbana: 01, rural: 02); Nova Prata do Iguaçu (urbana: 02, rural: 01); Salto do Lontra (urbana:
03, rural: 06) e, São Jorge D’Oeste (urbana: 02, rural: 03).
O recorte temporal, restrito aos anos de 2011 e 2018, se justifica, pois, estes dados
constam na base digitalizada da Secretaria de Estado da Educação SEED (2021). Dados
anteriores ao ano de 2011 só seria possível acessar por meio de pesquisa in loco, o que não foi
possível, devido às restrições impostas em decorrência da proliferação do COVID-19. A
rigor, se os dados das décadas anteriores fossem computados, observando os períodos
históricos que constam nas tabelas referentes à população das áreas urbanas e rurais,
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provavelmente observaríamos alterações significativas no número de escolas e de matrículas
nas áreas urbana e rural.
Em relação ao número de Escolas da área rural, quinze estão localizadas em cinco
municípios, visto que, o município de Boa Esperança historicamente não teve Escola do
Campo e a Escola do Cruzeiro do Iguaçu foi fechada em 2012, o que está documentado na
pesquisa desenvolvida por Schmitz (2015). A autora destaca a narrativa dos órgãos oficiais
sobre a inviabilidade de manutenção da escola, dado que o número de alunos era escasso e,
por meio de entrevistas, a afirmativa de que os recursos destinados à escola não eram
suficientes para atender às necessidades básicas (Schmitz, 2015).
De acordo com os dados, alguns municípios, dado suas características e especificidades,
contemplam um quantitativo maior de escolas inseridas na área rural em relação à área
urbana, o que não significa que o número de matrículas também seja maior.
A tabela 08 apresenta o número de matrículas nas escolas estaduais, das áreas urbana e
rural, que contemplem o ensino fundamental II e o ensino médio, do NRE-DV. Ocorreu,
segundo os dados, um decréscimo nas matrículas da área urbana e, um aumento nas
matrículas da área rural, embora não expressivos numericamente. A diminuição das
matrículas na área urbana, pode estar vinculada, à necessidade de trabalhar. Em um contexto
de recessão econômica, os jovens são impulsionados ao mercado de trabalho, em grande
medida, na informalidade e trabalho autônomo, guiados pela ideologia do empreendedorismo.
Tabela 08 - Número de matrículas, das áreas urbana e rural do NRE-DV.
Ano
Matrículas urbana
Matrículas rural
Boa Esperança do Iguaçu
2011
373
-
2018
332
-
Cruzeiro do Iguaçu
2011
551
27
2018
550
-
Dois Vizinhos
2011
5.053
509
2018
4.450
470
Nova Esp. do Sudoeste
2011
623
107
2018
526
147
Nova Prata do Iguaçu
2011
1.334
65
2018
1.140
100
Salto do Lontra
2011
1.538
235
2018
1.297
240
São Jorge D’Oeste
2011
999
135
2018
978
136
TOTAL
2011
10.471
1.078
2018
9.273
1.093
Fonte: Elaborada pelos autores, com base nos dados da SEED (2021).
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Em relação ao número de matrículas em cada Escola do Campo inseridas no NRE-DV,
tabela 09 abaixo, pode-se observar, o aumento em algumas escolas e diminuição em outras,
de forma não expressiva, pois o recorte histórico é limitado, se considerarmos os dados
populacionais expressos na tabela 5.
Tabela 09 - Número de matrículas por Escola do Campo do NRE-DV.
Escola nomenclatura
Matrícula/2011
Matrícula/2018
Cruzeiro do Iguaçu
Canoas
27
-
Dois Vizinhos
Germano Stédile
239
288
Linha Conrado
60
45
São Franc. do Bandeira
210
137
Nova Esp. do Sudoeste
Barra Bonita
41
68
Rio Gavião
66
79
Nova Prata do Iguaçu
Cecília Meireles
65
100
Salto do Lontra
Barra do Lontra
38
69
José Luiz Pedroso
23
21
Linha Boeira
46
27
Nosso Sr. do Bonfim
29
16
Pinhal da Várzea
56
58
Sede da Luz
43
49
São Jorge D’Oeste
Iolópolis
28
29
Nova Sant’ Ana
43
32
Pio X
64
75
Fonte: Elaborada pelos autores, com base nos dados da SEED (2021).
Por meio de entrevista, a professora responsável pela pasta da Educação do Campo do
NRE-DV, observa que,
Algumas escolas têm uma média de 40 estudantes, outras 20 e algumas na casa de 14
estudantes. E nós, da educação do campo, precisamos ver maneiras de tentar reverter essa
situação, talvez conquistar algumas crianças do município para estudarem no campo, talvez
melhorar o transporte e fazer um trabalho para fortalecer a relação da escola com a
comunidade, para que a comunidade defenda a escola. Temos casos em que a comunidade
encaminha seus filhos para estudar no município sem se preocupar com a fragilização da
escola (Barrozo, 2019)
iii
.
Barrozo (2019) comenta ainda sobre a situação e possível fechamento de algumas
Escolas do Campo do município de Salto do Lontra, visto que as escolas possuem apenas
duas turmas e que no período de dois anos os alunos poderão ser transferidos para as escolas
da área urbana. Segundo a professora, com base nas prerrogativas oficiais da SEED, “para
manter essas escolas é necessário uma média de quatorze professores, um diretor, um
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pedagogo, agentes educacionais I e agentes educacionais II, totalizando uma média de 20 a 22
entre educadores e agentes educacionais” (Barrozo, 2019). Ainda segundo Barrozo (2019) “o
orçamento encaminhado não chega a 10 mil reais por ano, para aquelas escolas com média de
40 estudantes”. Obviamente que para manter a instituição escolar necessita-se de alunos, pois
os recursos destinados às escolas estão vinculados, em grande medida, ao número de alunos.
Nesse aspecto e percurso metodológico, torna-se necessário futuras pesquisas, que
ajudarão a explicar a atuação do Estado em relação aos investimentos em educação de forma
geral e, especificamente, para as escolas das áreas rurais.
Considerações finais
A situação das escolas do campo está vinculada à questão agrária, isto é, ao conjunto de
problemas inerentes ao desenvolvimento do capitalismo no campo e seus impactos na
estrutura fundiária, na população residente no campo (que tende a reduzir com o aumento da
divisão do trabalho) e, consequentemente, no mero de matrículas. Estes fatores interferem
também diretamente no conceito de realidade, que deve ser tomado como um processo
histórico, não estático, e consequentemente de realidade destes sujeitos históricos definidos na
política de educação do campo, os estudantes do campo.
Nos últimos anos, no campo científico e político, passou-se a afirmar o conceito de
agronegócio no lugar de latifúndio (Freitas, 2020). Para o autor, a ideia central desta
substituição é de que o agronegócio é o latifúndio (improdutivo) se aliou ao capital financeiro
e agora se tornou produtivo. É verdade que o campo passou por mudanças profundas na base
tecnológica e que a produção agrícola deve ser compreendida na sua relação com a indústria,
a circulação de mercadorias e o sistema financeiro. No entanto, para o autor, afirmar que o
agronegócio é isso tudo significa deslocar a importância de um problema premente no campo,
a propriedade fundiária concentrada. Para Freitas (2020), ainda, o foco na educação do campo
e na agroecologia contribuem para relativizar a importância da questão agrária no Brasil,
particularmente a presença do latifúndio e a importância e a necessidade da reforma agrária.
Para Silva (1993), diferentemente dos Estados Unidos, Japão e Europa, o Brasil não
passou pela reforma agrária enquanto mecanismo de criação de um mercado para a indústria e
a efetivação da revolução burguesa, apenas uma política de pequeno alcance foi desenvolvida,
como resposta à pressão dos movimentos sociais. É por este motivo que o autor afirma que a
reforma agrária ficou restrita a uma política de resolução de conflitos sociais no campo, ou
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seja, a possibilidade de constituição de assentamentos onde houver pressão social, não um
grande projeto de redistribuição da terra, de zoneamento ecológico e econômico, de obras de
infraestrutura, de políticas agrícolas adequadas etc. Desta forma, sem uma revolução burguesa
completa, em torno do latifúndio se estruturam as relações e uma rede de poder que se
desenvolve na política, no judiciário e destes com o imperialismo, através da venda de
produtos da terra para as nações imperialistas (Freitas, 2020).
Desta maneira é oportuno pensar em mudanças a partir das possibilidades e superar os
desafios atuais, tal como considerar a escola como um dos principais espaços de socialização
do conhecimento científico, para também os jovens do campo.
Procurou-se, portanto, indicar as contradições e críticas presentes nesta concepção de
educação, precedida de uma concepção de realidade e mudança social. Assim, a pesquisa
revelou a diminuição no número de matrículas nas Escolas do Campo nos últimos anos,
movimento que tem ocorrido devido à diminuição da população residente na área rural, a
concentração de terras, bem como, às mudanças ocorridas na agricultura. Segundo Souza et al
(2016), a subsistência da população do campo esatrelada ao avanço das grandes empresas
no espaço agrário, devido a dificuldade de concorrência na venda de mercadorias e em relação
à compra de insumos para a produção agrícola, o que resulta, na maioria dos casos na saída da
população do campo para a cidade, em busca de melhores condições de subsistência.
Portanto, explicar a especificidade e singularidade da diminuição da população
residente na área rural, bem como a diminuição das matrículas nas escolas do campo, se torna
algo complexo considerando os limites desta pesquisa. Todavia, alguns fatores (aspectos
particulares e singulares) ajudam na explicação da totalidade e no entendimento do concreto,
ou seja, no entendimento da síntese de múltiplas determinações.
A Educação do Campo surge em um momento em que se aprofundam as contradições,
pois “o trabalhador fica mais pobre à medida que produz mais riqueza, e sua produção cresce
em força e extensão, pois a desvalorização do mundo humano aumenta na razão direta do
aumento de valor do mundo das coisas” (Colares & Bezerra Neto, 2002). Para o materialismo
histórico dialético compreender este fenômeno é possível pela contradição, tal como
afirmar que no campo se produz muita riqueza, mas também muita miséria (Vendramini,
2009).
Partindo do NRE-DV, o trabalho se limitou a analisar algumas variáveis para
compreender as transformações na realidade agrária e das escolas do campo, como a estrutura
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fundiária, a população residente no meio rural e o número de matrículas. Por isso, como
forma de aprofundar o conhecimento sobre as transformações na realidade agropecuária,
enfatiza-se a necessidade de novas análises (demanda de novas pesquisas) em relação ao
processo de concentração/acumulação de terras, o avanço do capital financeiro no campo,
bem como, a diminuição do investimento público, o que tem levado ao sucateamento das
Escolas do Campo.
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i
Os sete municípios que compõem o NRE-DV, são: Boa Esperança do Iguaçu, Cruzeiro do Iguaçu, Dois
Vizinhos, Nova Esperança do Sudoeste, Nova Prata do Iguaçu, Salto do Lontra e São Jorge do Oeste.
ii
A Revolta dos Posseiros, também conhecida como Revolta dos Colonos, Revolta do Sudoeste ou simplesmente
Revolta, ocorrida em 1957, consistiu em um levante armado dos moradores da região, majoritariamente de
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camponeses, contra as companhias de colonização, que reivindicavam a propriedade de uma área de
aproximadamente 497.000 hectares, equivalente a quase toda região sudoeste do Paraná. Pelo fato de os
posseiros terem sido vitoriosos, caso raro no país, além de moldar a estrutura fundiária regional, assentada
principalmente na pequena propriedade de terras, tornou-se o principal fato histórico-político da região, de forma
que muito contribuiu e ainda contribui para mobilizar a organização social dos pequenos agricultores da região
na forma de associações, sindicatos, cooperativas e movimentos sociais. (Gomes, 1987, Pegoraro, 2008).
iii
Barrozo, Solange. Entrevista I. [abr. 2019]. Entrevistador: Marcos Vinicius Pereira Ribeiro e Renata Cassia de
Oliveira Veloso. Dois Vizinhos, 2019. 1 arquivo .mp3 (37 min.).
Informações do Artigo / Article Information
Recebido em: 19/04/2022
Aprovado em: 15/02/2023
Publicado em: 11/03/2023
Received on April 19th, 2022
Accepted on February 15th, 2023
Published on March, 11th, 2023
Contribuições no Artigo: Os(as) autores(as) foram os(as) responsáveis por todas as etapas e resultados da pesquisa, a
saber: elaboração, análise e interpretação dos dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito e; aprovação da versão
final publicada.
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