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como vestibular), trabalho formal, impedimento do marido, filhos em idade não escolar, a
distância do campus universitário das comunidades, a ausência de espaço no campus para
deixar os filhos (principalmente mulheres em período de amamentação) e o medo do espaço
universitário. Aqui, aponta-se trechos de fala de todas as entrevistadas, objetivando
exemplificar todos os pontos abordados por elas.
As maiores dificuldades acho que estão relacionadas às condições financeiras delas, da
questão do apoio da família, que muitos companheiros não apoiam, a questão de ter filhos
que acaba atrapalhando um pouco. E também outras dificuldades em relação a ter que ir e
voltar, principalmente pra quem tem família que mora em outras cidades, ir e voltar todo dia
se torna muito cansativo. (Francisca Iones, entrevista, 2021).
Acho que o medo existe, o medo no sentido de não conseguir. Um dia eu tava conversando
com uma vizinha minha aqui e eu falei pra ela porque que ela não ia estudar, ela é tão
inteligente. Ela disse que “eu não, eu tenho vergonha de ir e não passar no vestibular, e o
povo perguntar e eu dizer que não passei.” ... Também tem, eu acho que, porque assim, “ah,
vai estudar não, aprende mais nada não”, a gente vem aqui e conversa. “Ah, não! Tem é que
ficar em casa. [A universidade] não é lugar de mulher”. Sabe, assim, sempre tem esses
comentários desagradáveis que não sei se é por ruindade ou é por uma questão de cultura.
Mas tem sempre a opressão sim. (Maria Antônia, entrevista, 2021).
Uma das dificuldades é porque a mulher já tem uma carga horária de trabalho extra, bem
enorme! Assim, que a gente não consegue nem medir o tamanho. ... Então, uma das questões
é essa questão dos filhos, que vêm em primeiro lugar, porque tá sempre nas costas da mãe. ...
A ausência de ciranda, que seria um espaço dentro da universidade onde as mulheres que
tivessem crianças pudessem levar [as crianças] e que tivessem cirandeiros, ou seja, que
tivesse pessoas que pudessem ajudar a cuidar dessas crianças no período que as mães
estivessem dentro da sala de aula. Esse é o espaço que a gente considera de ciranda. Um
espaço de acolhimento das crianças naquele período, principalmente para as crianças que
estão em fase de amamentação. Que as mães estão amamentando. Porque uma grande
dificuldade é isso, as meninas vão [para a universidade], então levam as crianças, e aí, por
várias e várias vezes, elas levam outras pessoas e essas outras pessoas ficam com os meninos
ali jogado no pátio, em cima daqueles bancos, em cima das mesas. (Margarida Alves,
entrevista, 2021).
Tem mulher que o que mais dificulta é o filho pequeno. Às vezes o marido não quer [deixar
a mulher estudar], devido não ter essa ida e vinda. ... tem marido que não deixa a mulher ir e
tem pessoas que não sabem com quem deixar o filho. (Ana Primavesi, entrevista, 2021).
Eu acho que é a dificuldade da tecnologia, porque muitas não têm condições de usar
tecnologia, e hoje pra fazer um curso, principalmente agora nesse período que estamos
enfrentando, depende 100% da tecnologia. (Maria Izabel, entrevista, 2021).
Esses fatores apontados pelas entrevistadas, revelam não só as injunções do sistema
patriarcal (mulheres responsáveis pelos filhos, proibição dos maridos, sobrecarga de trabalho,
inferioridade das mulheres e privação de estudo), como também a desassistência da