Revista Brasileira de Educação do Campo
Brazilian Journal of Rural Education
EDITORIAL
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e14606
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14606
10.20873/uft.rbec.e14606
2022
ISSN: 2525-4863
1
Este conteúdo utiliza a Licença Creative Commons Attribution 4.0 International License
Open Access. This content is licensed under a Creative Commons attribution-type BY
Editorial - Dossiê Escola da Terra
Alessandro Pimenta1, Maciel Cover2, Sidinei Esteves de Oliveira de Jesus3
1 Universidade Federal do Tocantins - UFT. Colegiado do Curso de Educação do Campo. Avenida Juraídes de Sena Abreu,
s/n. Setor Buritizinho. Arraias - TO. Brasil. 2 Universidade Federal do Rio Grande - FURG. 3 Universidade Federal do Norte do
Tocantins - UFNT.
Autor para correspondência/Author for correspondence: pimenta@mail.uft.edu.br
Desde que os movimentos sociais e a sociedade civil organizada compreenderam que
tão importante quanto o acesso à terra, à posse, escrituras e políticas de produção, era
necessário pensar em formas de Educação específicas para os povos do campo, das florestas e
das águas, este tema se tornou recorrente, então, primaz. Mesmo já encontrados em artigos da
LDB aspectos que apontam para uma educação diferenciada para os povos do campo, os
termos arcaicos ainda permanecem neste substrato legal, a saber “rural”. Por isso, não
somente o urbano se opõe à Educação do Campo, mas a Educação rural, com sua tradição
urbanesca e, igualmente, vinculada ao latifúndio.
Se em 2001, encontram-se publicadas Diretrizes Operacionais para a Educação Básica
do Campo. É importante salientar que o termo “Campo” começa a ter espaço em documentos
oficiais e isso avança na materialização em 2006 da chamada SECAD, com uma coordenação
específica para Educação do Campo. Tais ganhos nos fiz dos anos 2000, com a SECAD,
cuja última variação de nomenclatura foi SECADI, à época, materializou o Procampo, que
ainda permanecia como um programa de formação inicial, mas que contribuiu
fundamentalmente para que, em 2012, fosse possível o edital de cursos de Educação do
Campo de modo efetivo nas universidades que enviaram projetos e objetiveram aprovação.
Não se pode deixar de notar, claro, as experiências do Pronera, em diversas frentes, mas o
MEC ganha visibilidade e assume responsabilidades, pois tratar da Educação do Campo na
Educação Básica, tendo um lugar é fundamental.
Ora, em 2013, tendo o decreto que reconhece a Alternância, o que muitos preferem o
plural, pois a Educação do Campo é plural e engloba mais de 30 povos ou grupos,
encontramos a Portaria que institui o Programa Escola da Terra. Trata-se de um programa,
Pimenta, A., Cover, M., & Jesus, S. E. O. (2022). Editorial - Dossiê Escola da Terra...
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14606
10.20873/uft.rbec.e14606
2022
ISSN: 2525-4863
2
que vem deste escopo de atividades e de lutas. Se temos professores no Campo, ou em escolas
no perímetro urbano que recebem alunos do campo e, assim, são consideradas, a saber,
Escolas do Campo, é fundamental uma formação continuada que, diferentemente de outros
programas, previamente formatados, este considera a autonomia dos sujeitos que propõem os
cursos de aperfeiçoamento. Isso garante que as diferenças em cada estado possam ser
consideradas.
Neste dossiê, é verificável esta diversidade do Programa Escola da Terra que se firma,
não somente como política de governo, mas como Política de Estado e, também, textos que
mostram a Educação do Campo em condições específicas. Como se disse, trata-se de um
programa cuja ligação com a historicidade das lutas, permanece, apesar de ‘tempos sombrios’,
para utilizar um conceito aredtiano. O dossiê, sua maioria, atesta as diferentes experiências do
Programa Escola da Terra. Sistematiza como tais experiências perpassam todas as regiões do
Brasil. O primeiro artigo, assinado por Ana Cristina Hammel (UFFS) e por Marcos Gehrke
(Universidade Estadual do Centro Oeste UNICENTRO), evidencia e sistematiza a
experiência do Programa Escola da Terra no Paraná. Para os autores a potencialidade do
Programa em questão é ser uma referência a professores da Educação Básica do Paraná e
desvelar, a partir da análise de conjuntura realizada a importância de uma formação
continuada, contextualizada, bem como os retrocessos recentes no Brasil, no que tange à
Educação do Campo. Já o segundo artigo, A epistemologia do Escola da Terra no Distrito
Federal: ensaios do Sistema de Complexos nas Escolas do Campo, de Clarice Aparecida
Santos (Universidade de Brasília UnB), Eliene Novaes Rocha (Universidade de Brasília
UnB) e Maura Luciane Souza (Secretaria de Educação do Distrito Federal) mostra como no
Distrito Federal em parceria com a Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal
(SEEDF), utiliza-se a perspectiva do Sistema de Complexos. O artigo enfatiza que elementos
do Programa Escola da Terra contribuem para perceber perspectivas de ensino e de
aprendizagem nas Escolas do Campo e a superação de desafios.
O terceiro artigo nos remete à experiência mineira, a saber, Escola da Terra em Minas
Gerais: repercussões da formação continuada nas escolas do campo. Dois destaques
merecem, aqui, relevância: o número expressivo de professores que receberam a formação,
mais de 2.000. Note-se, igualmente, o acúmulo de experiência entre a Universidade Federal
de Minas Gerais UFMG e Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais. O Programa
Escola da Terra se encontra em sua quarta oferta. Tal formação está fundamentada em
princípios da Educação do Campo: considerando como centrais a escola como direito, a
Pimenta, A., Cover, M., & Jesus, S. E. O. (2022). Editorial - Dossiê Escola da Terra...
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14606
10.20873/uft.rbec.e14606
2022
ISSN: 2525-4863
3
formação em alternância como condição pedagógica e o protagonismo dos sujeitos”. Isso
demonstra que princípios da Educação do Campo não podem ser desconsiderados no projeto
de formação continuada para professores da Educação Básica. Os objetivos da formação
foram alcançados, como mudanças na prática docente e da relação entre os envolvidos na
formação e suas respectivas comunidades. O quarto artigo de Elisandra Carneiro de Freitas
Cardoso (Universidade Federal de Goiás UFG), Welson Barbosa Santos (Universidade
Federal de Goiás UFG) e Wender Faleiro (Universidade Federal de Catalão UFCat)
demonstra como a proposta interdisciplinar sobre gênero dentro do Programa Escola da Terra
ultrapassa perspectivas biologizantes ou naturalizadas, com uso de tecnologias da informação
para a coleta de dados, baseados em Michel Foucault. O texto seguinte contribui para se
pensar a situação pandêmica no interior do Amazonas (no município de São Sebastião do
Uatumã/AM) e seus desafios, seguindo os princípios contra-hegemônicos da Educação do
Campo. Ainda na região Norte, George Leonardo Seabra Coelho e Greyg Lake Oliveira
Costa, ambos da UFT, assinam o artigo Processo histórico de criação do Assentamento Santo
Antônio em Porto Nacional-TO. Nele, demostram que o conhecimento da historicidade deste
assentamento, subsidia novas possibilidades de práticas docentes no assentamento
supracitado. O sétimo artigo, ainda privilegiando a região Norte, mais especificamente o Pará,
demostra como esta formação continuada contribuiu para melhores práticas no ensino em
Ciências da Natureza. No que tange ao oitavo artigo, recorda-se que a formação do programa
é, preferencialmente, voltada a professores da educação básica que lecionam em classes
multisseriadas. O artigo se encerra afirmando que, notadamente, há o fortalecimento da
cultura e dos sujeitos amazônicos do campo.
No nono artigo, os autores salientam que a contribuição da formação do Programa
Escola da Terra no Piauí que se destaca por partir do materialismo histórico-dialético e, com
ele, chega-se a uma formação humanizada que contribui para novas práticas de aprendizagem
e ensino considerando a formação humana como fundamental. O décimo artigo Teorias
pedagógicas na Educação do Campo: percepções e constatações a partir da análise de
projetos político-pedagógicos no contexto da Ação Escola da Terra na UFBA analisa
criticamente os Projetos da Escola da Terra considerando como elemento norteador e
fundamental a PHC - Pedagogia Histórico-Crítica. Por fim, os autores concluem que existe
um ecletismo teórico no Programa vinculado à Pedagogia do “aprender a aprender”.
O artigo décimo-primeiro artigo, A importância do Projovem Campo Saberes da terra
no Bico do Papagaio, Tocantins Márcia Flausino Vieira Alves (Universidade Federal do
Pimenta, A., Cover, M., & Jesus, S. E. O. (2022). Editorial - Dossiê Escola da Terra...
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14606
10.20873/uft.rbec.e14606
2022
ISSN: 2525-4863
4
Tocantins UFT) e de Idemar Vizolli (Universidade Federal do Tocantins UFT), demostra
que no período de 2005 a 2012, o Projovem Campo promoveu qualificação profissional e
social gerando renda a partir de perspectivas da agricultura familiar e sustentabilidade, por
conseguinte, gerando renda e permanência destes jovens em suas comunidades. O artigo
seguinte, em diálogo com artigos citados de experiência do Pará, mas agora com enfoque
no processo formativo, na Área de Linguagens no município de São Domingos do Capim
coletivizando vivências e praticas pedagógicas, demonstrando que o Programa Escola da
Terra otimiza praticas docentes contextualizadas e humanizadas considerando os princípios da
Educação do Campo.
O artigo seguinte deixa claro como na experiência do Espírito Santo o princípio
formativo é baseado na inclusão, interculturalidade e interdisciplinaridade na Educação do
Campo. Destacam-se, neste processo formativo, o Plano de Estudos, a Colocação em Comum,
o Caderno da Realidade e Atividades de Retorno, as quais possuem a Alternância Pedagógica
como fundamental. o décimo-quarto artigo, cujo objeto é a experiência da UFRRJ, salienta
a importância da produção coletiva em parceria com cursistas avindos de comunidades rurais
e movimentos sociais, com destaque para os tutores e à concepção de reconhecimento. O
próximo artigo, O Programa Escola da Terra na formação continuada de professores e
professoras de escolas do campo e quilombolas: práticas socioculturais como temas
geradores no ensino da matemática escolar, de autoria de Raquel Alves de Carvalho
(Universidade Federal da Grande Doutorados UFGD), Kaled Sulaiman Khidir
(Universidade Federal do Tocantins UFT) e Rogério Ribeiro Coelho (Secretaria de Estado
de Educação do Tocantins) sistematiza como a experiência do Programa Escola da Terra no
Tocantins considera que as formações para professores de escola do campo não pode excluir
os professores quilombolas, por isso, neste caso, a formação contextualizada, privilegia a
etnomatemática, práticas socioculturais. O Módulo analisado foi Linguagens Matemáticas.
Destacam-se o esforço da equipe formadora e dos cursistas em utilizar plataformas on-line
para materialização das produções finais. O dossiê finaliza com a experiência sergipana com a
participação de 160 cursistas. A pesquisa realizada identifica que os cursistas em sua maioria
ainda permanecem em uma visão urbanesca ou daquilo que se intitulou escola rural. A partir
deste diagnóstico o desafio está lançado.
Portanto, a variedade de localidades e experiências, bem como de teorizações no
Programa Escola da Terra mostra que a diversidade é uma característica e que o programa
Pimenta, A., Cover, M., & Jesus, S. E. O. (2022). Editorial - Dossiê Escola da Terra...
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14606
10.20873/uft.rbec.e14606
2022
ISSN: 2525-4863
5
possui a potencialidade de ser adaptável ao contexto e à realidade a qual se encontra inserido,
evitando processos de formações alienantes.
Editores-Convidados
Prof. Dr. Alessandro Pimenta - UFT
Prof. Dr. Maciel Cover - FURG
Prof. Me. Sidinei Esteves de Oliveira de Jesus - UFNT
Informações do Editorial / Editorial Information
Recebido em: 25/05/2022
Aprovado em: 27/05/2022
Publicado em: 28/05/2022
Received on May 25th, 2022
Accepted on May 27th, 2022
Published on May, 28th, 2022
Conflitos de interesse: Os(as) organizadores(as) declararam não haver nenhum conflito de interesses referentes a este Editorial.
Conflict of Interest: None reported.
Como citar este Editorial / How to cite this Editorial
APA
Pimenta, A., Cover, M., & Jesus, S. E. O. (2022). Editorial - Dossiê Escola da Terra. Rev. Bras. Educ. Camp., 7, e14606.
http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e14606
ABNT
PIMENTA, A.; COVER, M.; JESUS, S. E. O. Editorial - Dossiê Escola da Terra. Rev. Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 7,
e14606, 2022. http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e14606