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Ao rememorar as diversas ações curriculantes que vislumbram dar centralidade aos
sujeitos do campo dentro dessa multiplicidade de contextos inerentes à característica de
nucleação, os docentes, de forma coletiva, compreenderam que em grande parte de suas
atividades pedagógicas, ainda que tenham a pretensão de estabelecer uma relação dialógica
com as vivências desses sujeitos do campo, acabam esbarrando nos currículos de cursos
distanciados da realidade local. Assim, concluíram que suas ações são em grande medida,
apenas exemplificações da realidade, embora fosse necessária uma contextualização
formativa, como fica perceptível na fala da docente:
Quanto à questão da contextualização em outros sentidos é como o professor Macaúbas
falou. Às vezes eu acho que é mais uma exemplificação mesmo. Quando eu vou trabalhar
um conteúdo, por exemplo, eu tenho de pensar o que é que Sapeaçu produz, quais são as
frutas, as verduras que culturalmente se produz aí na região para poder dar um exemplo de
produção. Quando eu vou falar em produção, eu penso em produção agrícola quando eu vou
trazer um exemplo, um trabalho, não levo tanto para área industrial, por pensar na própria
região que não tem tanta indústria assim; mas é mais por exemplo.
(Trecho da roda de conversa com os docentes da unidade - Prof. Laranjeiras).
Ou seja, a construção do currículo escolar delineia um gama de complexidades nas
quais as prescrições, embora frutos de políticas curriculares, não dão conta de desentrelaçar.
Assim, é possível inferir que mesmo que a unidade tenha sujeitos imbricados na construção de
currículos, atentos e sensíveis à presença dos sujeitos do campo, existem tensões e disputas
que criam circunstâncias limitantes dentro da ação docente. Por esse motivo, Giroux (1997)
salienta que a escola/currículo não podem ser analisados fora de um contexto mais amplo, que
são as estruturas socioeconômicas nas quais estão inseridos.
Desse modo, ponderamos que mesmo as políticas curriculares apontando para a
intersecção entre comunidade, escola e território, está subjacente uma concepção hegemônica
de desenvolvimento territorial, incompatível com as reivindicações da Educação do Campo.
Por esse motivo, as subjetivações e transgressões docentes na tentativa de remontar currículos
que tomem como ponto de partida a materialidade da vida desses sujeitos, esbarram nos
gradeamentos das matrizes de cursos pensados e propostos numa lógica capitalista que pensa
o território camponês sob outra perspectiva.
Nesse sentido, a tensão e disputa se instalam, pois juntamente com as matrizes
curriculares se somam uma série de conteúdos e conhecimentos que se colocam em um lugar
de distanciamento dos sujeitos. Desse modo, consideramos que nesse contexto os
conhecimentos plurais dos sujeitos do campo podem ser tratados de forma superficial e
desarticulados, reduzindo-os à meras situações didáticas, que não criam condições de uma