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Mas a gente fez um processo inicial de apresentação para a professora das possibilidades e
de formação dos grupos, de acordo com as nossas demandas específicas da cooperativa.
Acho que aqui a gente teve uma dificuldade inicial, porque a cooperativa estava, no período
da disciplina, ainda numa fase muito incipiente, de uma experiência que é a experiência da
produção de grãos, de feijão orgânico e de milho orgânico ... A gente estava então com duas
safras dessa produção de grãos orgânicos e a necessidade de pensar e amadurecer entre nós
mesmo essa experiência. Eu acho que foi bastante importante porque a gente pôde, ao
dialogar com os estudantes, com a professora, organizar informações e organizar e entender
quais eram as nossas demandas também. Então, ajuda a gente, no nosso próprio
planejamento estratégico, entender quais eram os gargalos e como que a gente poderia somar
esforços nisso (Entrevista com uma das agricultoras que participou da disciplina).
Assim, reconhecer como os alunos e as alunas, os agricultores e as agricultoras
percebem o processo da disciplina, tem muito a dizer sobre as possibilidades de relações e
vínculos de trajetórias que vão sendo construídos durante a disciplina, que tem o fazer COM
um sentido muito maior do que o PARA. As percepções vão além do que usualmente se
percebe, na correspondência e na descoberta de mundos e conhecimentos a partir da
experimentação, que para Ingold (2012; 2015) está muito relacionado às mãos e à
improvisação: “Numa visita dessa, a galera aprende mais do que sei lá em quanto tempo de
aula” (Entrevista, aluna pós-graduanda de PED e colaboradora da disciplina).
Primeiro, acho que a disciplina foi quase um alento... um espaço de conforto no meio de um
semestre. Porque quanto mais a gente chega no final do curso, mais conturbadas ficam as
coisas. Então uma memória afetiva que eu tenho muito da disciplina, que era um dia que eu
ia para aula e que ia ser algo legal de fazer. Eu lembro, inclusive, que a primeira atividade
que a gente teve, que foi sugerida logo no começo, foi a professora que passou o livro ... era
uma obra de teatro ‘O Extensionista’, ... que a gente fez um teatro de fantoche para contar
parte daquela história. E foi muito bacana porque ela permitiu, ela fugiu do padrão. Eu
lembro que a primeira aula passou uma série de livros, coisa que a gente sempre teve livros
textos na faculdade, nas disciplinas, mas a gente não era obrigado a ler, que a gente os usava
para fazer exercícios e resolver provas. E de repente eu chego em uma disciplina em que
passa uma série de livros, esperando que a gente leia para trazer isso para o debate, para
discussão dentro da sala de aula ... Eu li aquela mesma obra com outro olhar, daí foi quando
eu tive esse contato mais direto com a obra de Paulo Freire e tudo mais. Então essa forma de
ter guiado contatos com obras importantes, tal qual foi Paulo Freire, mas também a
Primavesi; também outros autores importantes, autoras e autores da Agroecologia, da
Extensão Rural, da Reforma Agrária no Brasil. Só que era muito mais do ponto de vista de
olha, se vocês lerem esse material vai ser mais interessante a próxima aula; e não olha, leiam
esse material porque isso vai cair na prova (Entrevista, aluno que cursou a disciplina no
segundo semestre de 2019).
Sociologia e Extensão Rural é uma disciplina obrigatória, a visão era que era uma disciplina
de humanas num curso cheio de exatas, foi algo para respirar. Não tinha parado para pensar
nos assuntos que eram abordados. É um momento para pensar em outras áreas, que
representam muito a agricultura brasileira (Entrevista, aluna que cursou a disciplina no
segundo semestre de 2021).