RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
1
Este conteúdo utiliza a Licença Creative Commons Attribution 4.0 International License
Open Access. This content is licensed under a Creative Commons attribution-type BY
Revista Brasileira de Educação do Campo
Brazilian Journal of Rural Education
ARTIGO/ARTICLE/ARTÍCULO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e14751
Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e
metodologias na produção do conhecimento com
agricultores e agricultoras familiares
Vanilde Ferreira de Souza-Esquerdo1, Shana Sampaio Sieber2, Sonia Maria Pessoa Pereira Bergamasco3
1, 2, 3 Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri/Unicamp). Avenida Cândido
Rondon, 501, Cidade Universitária. Campinas - SP. Brasil.
Autor para correspondência/Author for correspondence: vanilde@unicamp.br
RESUMO. O presente texto objetiva refletir sobre os desafios
do ensino de Extensão Rural, a partir das suas possibilidades
metodológicas e práticas no contexto do currículo obrigatório do
curso de graduação em Engenharia Agrícola, da Faculdade de
Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas.
Buscamos compreender a contribuição de pós-graduandos que
participaram do Programa de Estágio Docente na ampliação do
exercício da docência e o papel da disciplina na formação
dos(as) alunos(as) no diálogo com agricultores(as).
Entrevistamos dez estudantes de graduação, três alunas de pós-
graduandas que participaram do Programa de Estágio Docente e
três grupos de agricultores familiares que participaram da
disciplina. A disciplina Sociologia e Extensão Rural da
graduação em Engenharia Agrícola representa um contraponto a
um curso com uma tendência orientada por e para o
agronegócio. Esta disciplina acadêmica se desenvolve sob uma
estratégia didática e metodológica realizada com agricultores(as)
familiares, a partir da construção coletiva de conhecimentos, se
consolidando na resistência e (re)existência do devir no desenho
de possibilidades construídas na aproximação da Universidade
por meio da extensão.
Palavras-chave: educação, experiência de ensino, comunicação
rural, agroecologia.
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
2
Challenges of teaching Rural Extension: practices and
methodologies in the production of knowledge with family
farmers
ABSTRACT. This article aims to reflect on the challenges of
teaching Rural Extension, from its methodological and practical
possibilities in the context of the mandatory curriculum of the
undergraduate course in Agricultural Engineering of the School
of Agricultural Engineering of the State University of Campinas.
We seek to understand the contribution of postgraduates who
participated in the Teaching Internship Program in the
expansion of the teaching practice and the role of the discipline
in the training of students in dialogue with farmers. We
interviewed: ten undergraduate students, three graduate students
who participated in the Teaching Internship Program and three
groups of family farmers who participated in the discipline. The
discipline Sociology and Rural Extension in the Agricultural
Engineering undergraduate course represents a counterpoint to a
course with a bias oriented by and for agribusiness. This
academic discipline is developed under a didactic and
methodological strategy carried out with family farmers, based
on the collective construction of knowledge, consolidating itself
in the resistance and (re)existence of the becoming in the design
of the possibilities built in the approach of the University
through extension.
Keywords: education, teaching experience, rural
communication, agroecology.
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
3
Desafíos de la enseñanza de la Extensión Rural: prácticas y
metodologías en la producción de conocimiento con los
agricultores familiares
RESUMEN. Nuestro objetivo es reflexionar sobre los desafíos
de la enseñanza de la Extensión Rural, a partir de sus
posibilidades metodológicas y prácticas en el contexto del
currículo obligatorio del curso de pregrado en Ingeniería
Agrícola de la Facultad de Ingeniería Agrícola de la Universidad
Estatal de Campinas. Buscamos entender la contribución de los
posgraduados que participaron en el Programa de Prácticas
Docentes en la expansión del ejercicio de la docencia y el papel
de la disciplina en la formación de los estudiantes en el diálogo
con los agricultores. Entrevistamos: diez estudiantes de grado,
tres estudiantes de posgrado que participaron en el Programa de
Prácticas Docentes y tres grupos de agricultores familiares que
participaron en la disciplina. La disciplina Sociología y
Extensión Rural de la licenciatura en Ingeniería Agrícola
representa un contrapunto a una carrera con tendencia orientada
por y para la agroindustria. Esta disciplina académica se
desarrolla bajo una estrategia didáctica y metodológica llevada a
cabo con los agricultores familiares, basada en la construcción
colectiva del conocimiento, consolidándose en la resistencia y
(re)existencia del devenir en el diseño de las posibilidades
construidas en la aproximación de la Universidad por medio de
la extensión.
Palabras clave: educación, experiencia de enseñanza,
comunicación rural, agroecología.
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
4
Introdução
Com o movimento político-estudantil de Córdoba, Argentina, em 1918, a estrutura das
universidades latino-americanas começou a se modificar em termos de ensino e de
administração. O movimento estudantil de Córdoba questionava o papel até então
desenvolvido pelas universidades, em especial a sua baixa participação na atuação com a
sociedade, culminando no Manifesto Liminar dos estudantes cordobeses. O movimento
dos(as) estudantes logrou conquistas importantes, como a participação estudantil na
universidade e a liberdade acadêmica a partir da autonomia universitária. Assim, se
fortaleceu, com a Reforma de Córdoba de 1918, a articulação entre universidade e sociedade,
a partir da extensão universitária, influenciando a prática extensionista nas universidades
latino-americanas (Roldan & Mendoza, 2017; González & Fernández-Larrea, 2017; Deus &
Henriques, 2017; Tommasino & Cano, 2016).
O debate sobre Extensão Universitária vem ganhando atenção nas universidades
brasileiras em função da Curricularização da Extensão
i
. O processo de Curricularização da
Extensão nas instituições de Ensino Superior nasce de uma percepção (e questionamento)
sobre o distanciamento das universidades com a sociedade, se afastando do que preconizavam
Darcy Ribeiro e Paulo Freire, no que se refere à democratização da universidade e a sua
função social. A indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão estava garantida a
partir da Constituição de 1988, porém o que se nota nas universidades brasileiras é a maior
ênfase na pesquisa e no ensino, dissociados da extensão.
Nos cursos de graduação das Ciências Agrárias, a tradicional disciplina de Extensão
Rural (Fialho, 1996), em muitos casos, é aquela que possui maior proximidade com a
sociedade ao promover, por meio de discussão acadêmica, a interação entre estudantes e a
comunidade rural, em especial agricultores(as) familiares.
Paralelamente, a extensão universitária também desenvolve a relação entre a academia e
a sociedade de forma diferenciada, atuando transversalmente entre as mais variadas
disciplinas diferenciando-se das propostas das disciplinas específicas de Extensão Rural. A
extensão universitária, de acordo com o Fórum de Pró-reitores de Extensão das Instituições
Públicas de Educação Superior Brasileiras FORPROEX, é aquela que ocorre por meio de
um processo interdisciplinar de educação, cultura, ciência e política para a promoção da
interação entre universidade e demais setores da sociedade (Forproex, 2012). A disciplina de
Extensão Rural, do contexto do ensino acadêmico, desenvolve um conteúdo teórico e
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
5
metodológico que vai contribuir com a formação de estudantes de diversos cursos, em
especial àqueles ligados às Ciências Agrárias.
Na trajetória histórica da disciplina de Extensão Rural, seu conteúdo programático nos
diversos cursos das Ciências Agrárias no Brasil passou por diferentes contextos, que vão
desde abordagens difusionistas (como forma de instrumentalizar o futuro profissional à
difusão de inovações) (Fialho, 1996) a conteúdos referentes ao desenvolvimento rural
relacionados aos princípios agroecológicos e ao uso de metodologias participativas (Callou et
al., 2008).
Os cursos de graduação relacionados às Ciências Agrárias, de forma geral, possuem
viés bastante tecnicista (Tereso, 1992), baseados, sobretudo, na formação de profissionais
para atuarem com grandes propriedades rurais. Embora o curso de Engenharia Agrícola da
Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) possua grande parte de seu conteúdo
curricular direcionado à formação eminentemente técnica de seus estudantes, um conjunto
de disciplinas relacionadas à área de Desenvolvimento Rural que proporciona a formação
do(as) Engenheiro(a) Agrícola frente à relevância socioeconômica da agricultura familiar.
Neste conjunto de disciplinas está inserida a disciplina Sociologia e Extensão Rural.
Tendo em vista o debate atual sobre Extensão Universitária e a importância que a
disciplina Sociologia e Extensão Rural possui para a formação em Engenharia Agrícola,
objetivamos com este texto refletir sobre os desafios contemporâneos do ensino de Extensão
Rural, tendo como base as metodologias e as práticas de ensino desta disciplina, oferecida
como parte do currículo obrigatório do curso de graduação em Engenharia Agrícola, da
Faculdade de Engenharia Agrícola (FEAGRI) da Unicamp. Neste cenário, buscamos
compreender a contribuição e o papel da disciplina na formação dos(as) alunos(as) no diálogo
com agricultores(as) que participaram do processo de ensino e aprendizagem durante os
últimos cinco anos em que foi oferecida (período de 2018 a 2022). Além disso, buscamos
refletir sobre a relação entre universidade e sociedade a partir das experiências trabalhadas na
disciplina.
Optamos por partir de Ingold (2000; 2012) como estratégia teórica-metodológica para
marcar as linhas construídas pelo ensino da disciplina de Sociologia e Extensão Rural, a partir
da percepção de alunos(as) e agricultores(as) sobre esta disciplina acadêmica e as vivências
em extensão rural por ela proporcionadas. Partimos de uma amostra não probabilística e
intencional, composta por dez estudantes de graduação que cursaram a disciplina, três pós-
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
6
graduandas que participaram do Programa de Estágio Docente (PED) na disciplina, uma
funcionária e três grupos de agricultores(as) familiares que atuaram na disciplina. Os critérios
utilizados para a escolha dos(as) entrevistados(as) foram: todas as pós-graduandas do
Programa de Estágio Docente e todos os grupos de agricultores(as) que atuaram na disciplina
durante o período de análise estabelecido. Para os(as) alunos(as) de graduação
entrevistados(as), a escolha se deu em função de sua maior ou menor participação no
desenvolvimento dos projetos.
Todos os(as) participantes desta pesquisa foram entrevistados(as) de forma on-line, nos
meses de junho e julho de 2022, com o auxílio de um roteiro de entrevistas. Utilizamos um
roteiro base para todos os(as) entrevistados(as). Acrescentamos algumas perguntas, ao roteiro
base, de acordo com o perfil do grupo entrevistado. As entrevistas foram gravadas e
posteriormente transcritas.
A operacionalização desta disciplina tem início no semestre anterior ao seu
oferecimento. No primeiro semestre de cada ano, entramos em contato com o grupo (ou
grupos) de agricultores(as) que participarão da disciplina. A ideia desse contato é verificar o
interesse e a possibilidade de sua contribuição com a disciplina. Em conjunto, estabelecemos
alguns temas que são prioritários de serem desenvolvidos nos projetos.
Durante a disciplina, que ocorre no segundo semestre de cada ano, realizamos visitas
aos grupos participantes, a fim de construir um diálogo com os(as) agricultores(as). O
planejamento das visitas é realizado com os(as) alunos(as) a partir do conteúdo teórico
abordado nas aulas e da construção de roteiros que serão guias para obtenção de informações
sobre a realidade a ser trabalhada. Durante todo o semestre o(a) pós-graduando(a) PED é
responsável por articular e “animar” os grupos de graduandos(as) formados para o
desenvolvimento dos projetos. Os projetos são desenvolvidos no constante diálogo entre
os(as) participantes da disciplina: docentes, agricultores(as), PED, alunos(as). A última visita
a campo tem como objetivo o compartilhamento dos projetos com os(as) agricultores(as), a
finalização da disciplina e sua avaliação.
Além desta introdução, este artigo contém outras quatro seções. Realizamos um resgate
histórico da disciplina Sociologia e Extensão Rural, na sequência refletimos sobre o curso de
Engenharia Agrícola em sua relação com a disciplina e, após isso, discutimos a aproximação
da Universidade com o meio rural proporcionada pela disciplina. Finalizamos o artigo
tecendo algumas considerações finais.
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
7
Resgate histórico e compreensão da disciplina Sociologia e Extensão Rural da FEAGRI
A disciplina de Extensão Rural foi incluída no currículo do curso de Engenharia
Agrícola da FEAGRI a partir de 1984 (ainda sem a Sociologia em sua denominação), com
carga horária de 30 horas
ii
. Esta disciplina surge em um contexto da necessidade de maior
aproximação dos estudantes com o meio rural, a partir do contato com a realidade dos(as)
agricultores(as) (Tereso, 1992).
A disciplina se torna Sociologia e Extensão Rural em 1988 com a contratação de uma
nova docente (em 1987) para a FEAGRI, a profa. Sonia Bergamasco, que percebeu a
importância de se trabalhar conceitos sociológicos na disciplina, pois o trabalho do(a)
extensionista rural ocorre com agricultores(as) e os grupos sociais do meio rural.
A década de 1980 é marcada pelo processo de redemocratização do país e permeada
pela efervescência de movimentos sociais de luta pela terra. A região de Campinas foi palco
dessas lutas, haja visto que em 1984, depois de um longo processo de negociação com
representantes do Estado, foi implantado no município de Sumaré o assentamento Sumaré I e,
em 1985, o assentamento Sumaré II (Fernandes, 1999). A profa. Sonia Bergamasco, antes de
ingressar na FEAGRI, era responsável pela disciplina de Sociologia e Extensão Rural na
Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Botucatu. Ao ingressar na FEAGRI,
trouxe toda a sua experiência de atuação com agricultores(as) familiares da região de
Botucatu, e iniciou seus trabalhos com os assentamentos da região de Campinas incluindo, em
1988, na disciplina Sociologia e Extensão Rural da FEAGRI, atividades de campo no
assentamento Sumaré I.
A partir de então, a disciplina propôs uma nova metodologia de ensino-aprendizagem
que propiciou aos estudantes de Engenharia Agrícola a interação com agricultores(as)
familiares e a produção de conhecimentos práticos sobre a sua realidade. Nesta disciplina,
uma das práticas trabalhadas é a realização de projetos em conjunto com os(as)
agricultores(as) familiares a partir de demandas por eles(as) apresentadas. Assim, durante o
semestre em que é ofertada a disciplina, visitas pré-agendadas com grupos de agricultores(as)
familiares são realizadas para que estudantes e agricultores(as) possam refletir sobre a
realidade e buscar soluções para as dificuldades enfrentadas. Diversos projetos foram
realizados e muitos deles implementados pelos(as) agricultores(as) e/ou por suas
organizações. Projetos como a criação de logomarca para cooperativa, criação de logomarca
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
8
para grupo de mulheres, criação de ferramenta para o controle de vendas em aplicativo,
planilha de controle de estoque, análise de preço de alimentos orgânicos, projeto de irrigação,
dentre outros, foram colocados em uso pelos grupos trabalhados. A aproximação dos(as)
estudantes com a realidade da agricultura familiar tem promovido mudanças em alguns
conceitos pré-estabelecidos, especialmente no que se refere a movimentos sociais e reforma
agrária.
O ideal universitário de educar os jovens para a construção de uma consciência autônoma,
representa um grande desafio que vai além dos currículos, dos programas de estudo ....
Envolve aproximá-los de uma realidade que conhecem superficialmente, quase sempre
através da visão dos meios de comunicação de massas (Rivera, 2017, p. 197).
Durante o desenvolvimento dos projetos, os grupos de estudantes mantinham contato
permanente com os grupos de agricultores(as) participantes da disciplina. Neste processo há o
acompanhamento constante dos(as) responsáveis pela disciplina, como a docente, a PED e
funcionária(o) do laboratório de Comunicação de Pesquisas Ambientais e Agrícolas.
Em cada conjunto de grupos tinha alguém acompanhando, então, a gente conseguia contato
quase que direto com os agricultores para tirar dúvidas pontuais. Então, o fato de ter essa
participação, tanto nós do ponto de vista de apresentar propostas com critérios técnicos que a
gente tinha aprendido no curso, mas também dela (desse acompanhamento), de trazer pra
gente na discussão, o que dava e o que não dava para fazer, o que era e o que não era
aplicável, culminou num projeto mais robusto .... Se não tivesse esse processo, de construção
coletiva do projeto, das duas uma: ou a gente ia chegar num projeto extremamente
tecnificado, interessante, mas que iria para a gaveta porque não dava simplesmente para
aplicar, ou então ia chegar em algo que nem sequer de fato era problema ali no assentamento
(Entrevista, aluno que cursou a disciplina no segundo semestre de 2019).
O conteúdo teórico trabalhado na disciplina compreende o entendimento da sociologia e
a sua relação com a extensão rural; princípios e filosofia da extensão rural; o processo de
comunicação, abordado inicialmente com uma dinâmica de grupo e depois contextualizado
com conceitos teóricos; o quadro histórico-institucional do serviço de assistência técnica e
extensão rural no Brasil; a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural e a
Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural; a extensão rural na atualidade no
Brasil e no estado de São Paulo; métodos e técnicas utilizados na extensão rural; movimentos
sociais do campo; organização rural: associativismo e cooperativismo.
Esta disciplina é trabalhada a partir de um esforço coletivo entre docentes,
pesquisadoras(es) e funcionárias(os) que possuem como linha de pesquisa, estudos e práticas,
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
9
as questões relacionadas ao rural e à agroecologia enquanto campo de conhecimento e
experiências, na parceria com os movimentos sociais e a agricultura familiar
iii
.
No entanto, as linhas da disciplina não são traçadas de forma tranquila, mas na
resistência do esforço de desamarrar uma série de nós que tinha como entrave a hegemonia do
agronegócio entre os processos de ensino e aprendizagem desenvolvidos na Engenharia
Agrícola, tendo como referência o campo das engenharias e das exatas, conforme Parchen
(2007). O interesse dos(as) alunos(as) da Engenharia Agrícola é maior pelos assuntos que
envolvem o agronegócio e as engenharias. No início da disciplina uma dinâmica de
apresentação da turma, onde é perguntado também o seu tema de interesse e trabalho no
curso, os temas mais presentes são: tecnologia de pós-colheita de alimentos, agricultura de
precisão, mecanização agrícola, quando não, se desenvolve na confusão entre a engenharia
agrícola e a agronomia. Este entendimento pode ser elucidado por meio da fala de uma das
alunas entrevistadas:
Olha eu entrei bem perdida, eu nem sabia, exatamente, o que um Engenheiro Agrícola fazia.
Dei uma pesquisada antes de me candidatar, mas na minha cabeça eu achava que ia ter muito
mais matéria de Engenharia Agronômica do que Engenharia mesmo, que é o curso da
FEAGRI. E aí depois no decorrer do curso eu vi que era bem diferente, mas como eu já tinha
passado... As matérias eram bem difíceis, mas eu estava conseguindo tocar bem a graduação.
Então eu decidi terminar a graduação, mesmo boa parte das matérias não sendo do meu
interesse, não o que eu gostava, mas vi que o meu desempenho acadêmico não estava tão
ruim e achava que eu ia conseguir dar conta. as matérias que eu mais gostei foram,
realmente, no final da graduação, que foram, principalmente, as matérias eletivas com a
professora dessa disciplina; então fiz com ela duas eletivas, que era Agroecologia, se não me
engano, e uma de Marketing. E no final mesmo, acho que foi uma das últimas disciplinas
que eu fiz, que foi a de Sociologia e Extensão Rural (Entrevista, aluna que cursou a
disciplina no segundo semestre de 2020).
Os(as) alunos(as) inclinados para uma atuação e/ou interesse na área de extensão rural
possuem um histórico de entendimento sobre o curso de Engenharia Agrícola que parece estar
marcado por sua associação ao curso de Agronomia. No entanto, o curso de Engenharia
Agrícola pode ter um papel de formação de extensionistas, sobretudo no campo da agricultura
familiar, mesmo que sua atuação seja majoritariamente voltada para o agronegócio. Afinal,
trabalhamos no e com o mundo rural.
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
10
O curso de Engenharia Agrícola e a disciplina Sociologia e Extensão Rural
Conforme comentado, o histórico do curso teve como referência pesquisas voltadas
para o desenvolvimento de máquinas agrícolas e pré-processamento de produtos agrícolas.
Embora tivessem alunos(as) que se interessassem por tecnologia e máquinas agrícolas,
também compreendia uma visão mais voltada para o meio ambiente e a produção de
alimentos, compreendendo casos com um histórico familiar oriundo do rural, aspecto que
pode ser observado no seguinte depoimento:
Eu prestei vestibular com a perspectiva que era uma Engenharia mais aplicada ao meio
ambiente, produção agrícola e tudo mais... Mas que não ia me fadar a ficar preso dentro de
uma indústria para o resto da vida. Mas eu sendo técnico em Mecatrônica, eu entrei com a
perspectiva que eu ia para área de robótica, de máquinas agrícolas e tudo mais ... eu tive
contato com a pós-colheita, eu fiz iniciação científica, aqui no laboratório. Depois fiz o meu
TCC também, e acabei indo mais para essa área, e dentro da pós-colheita, especificamente,
para frutas e hortaliças, que sempre foi onde eu mais gostei, que tem também uma grande
área da pós-colheita em grãos, mas negócio de commodities, de monocultura não é muito
comigo. Mas eu cresci completamente no contexto urbano. Mas tinha muitas histórias, a
minha avó sempre falou muito sobre colheita de algodão da roça. Então eu sempre fui muito
permeado pela história do meio rural, nas narrativas, nas histórias da família; mas não na
prática. Mas eu fui ter contato de fato com coisas mais estruturadas de produção agrícola,
produção de alimentos e depois com a agricultura familiar e com assentamentos rurais
quando eu vim para faculdade mesmo (Entrevista, aluno que cursou a disciplina no segundo
semestre de 2019).
A percepção dos(as) alunos(as) nem sempre leva em conta as questões do mundo rural e
suas áreas de conhecimento, carregando visões estigmatizadas da agricultura familiar e,
sobretudo, dos assentamentos rurais, de acordo com um dos alunos entrevistados. Neste
sentido, no debate entre a agricultura familiar e o agronegócio o curso da Engenharia Agrícola
da UNICAMP é entendido como “agronegócio e máquinas pesadas”, segundo uma das alunas
de pós-graduação do PED entrevistada. Vimos este aspecto na entrevista com uma aluna
também:
Eu acho que é muito voltado para o mercado do agro, , ao agronegócio em si. Não tem
nenhuma matéria, assim, voltada para a produção familiar, tirando a da Agroecologia e
Extensão; e acho que falta, um pouco, desse viés sabe ... Mas no geral eu vejo que é muito
voltada mais, assim, para o agronegócio mesmo, do que para a produção familiar (Entrevista,
aluna que cursou a disciplina no segundo semestre de 2020).
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
11
No entanto, o curso de Engenharia Agrícola também é considerado muito vasto, com a
capacidade de atender o que a agronomia e as engenharias específicas não desenvolvem,
oportunizando meios de aprofundar diversas áreas do conhecimento.
É um curso bem abrangente na teoria, é um curso que você tem matérias na mecânica, na
civil, é uma gama que você pode atuar. Eu mesma não seguia a parte mais agro e deu a
possibilidade de ir para o ramo financeiro, abre potencialidades de trabalho. Porém, poderia
tornar essa formação mais fluida no sentido de balancear mais a teoria com a prática, a parte
prática a gente tem muito contato com máquina, sendo que eu acho que a agricultura não é
isso. Ter essa prática para estar próximo de agricultores. A maioria quer (máquinas,
agronegócio) e vão para esse lado, que tem pessoas que querem essa vertente que não é
explorada (Entrevista, aluna que cursou a disciplina no curso de verão/janeiro de 2020).
Ao mesmo tempo, pode haver duas perspectivas diferentes sobre a prática de campo da
Engenharia Agrícola que levam a pensar os desafios do curso, trazendo a centralidade da
prática como possibilidade de vivenciar e repensar a sua estrutura curricular.
O curso para mim, e eu falo de um contexto de quem veio da cidade grande, foi assim,
completamente, disruptivo, me colocou em contato com coisas que faziam parte do meu dia
a dia, mas que eu não tinha ideia de como isso estava relacionado diretamente, porque eu não
vivia ali no campo, eu vejo que é uma perspectiva diferente de quem vem de, por exemplo,
do meio rural, pra fazer, e aí já vem com a ideia de como... tirar o leite da vaca, ajudar o pai
na produção agrícola, é uma perspectiva completamente diferente ... Então essa interação era
bastante interessante, então eu fui de fato calçar as botinas e sujar nas aulas práticas, aqui, no
campo experimental, quando teve gente que nasceu com as botinas sujas, trabalhando no
dia a dia no meio rural. E ao mesmo tempo eu vejo que o curso é bastante amplo no ponto de
vista de abordar as diversas áreas, umas com mais ênfase, outras com menos (Entrevista,
aluno que cursou a disciplina no segundo semestre de 2019).
Acho que a gente poderia focar um pouquinho mais na parte agrícola, assim para o campo,
para as coisas práticas dentro do curso, porque acaba ajudando a gente mais depois. Porque
muita gente sai da faculdade sem nunca ter ido pro campo direito, eu tive a oportunidade de
trabalhar em campo enquanto estava na faculdade ainda e é totalmente diferente. Acho que
isso é algo a ser explorado melhor no curso, não sei se como disciplinas novas, mas eu acho
que para aproveitar disciplinas que a gente tem e aproveitar melhor o tempo fora de
classe. Porque é o diferencial do nosso curso né, para se diferenciar um pouco das outras
engenharias (Entrevista, aluno que cursou a disciplina no segundo semestre de 2021).
A importância da prática não é de hoje argumentada como central no processo de
educação, se a tomamos como libertadora, crítica, dialética e dialógica, na relação dos
indivíduos, educandos(as) e educadores(as) com o mundo, como constitutivo de
conhecimento no reconhecimento do seu papel de sujeitos cognoscentes na “práxis” da (sua)
ação, da (sua) reflexão e da (sua) transformação (Freire, 1983). Neste caminho, por meio da
relação não dicotômica entre a prática e a teoria para a reflexão da própria ação, conforme
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
12
uma abordagem freiriana, a Engenharia Agrícola pode ser capaz de se abrir para as
possibilidades de sustentabilidade e transformação, construindo conhecimentos por meio da
agroecologia, da extensão e da sociologia rural, por exemplo, em que se considera a disciplina
de Sociologia e Extensão Rural (Freire, 1983). Uma das alunas pós-graduanda do PED que foi
entrevistada abordou muito bem esta questão:
Eu acho que é uma área extremamente importante ... que eu acho que... A Engenharia
Agrícola, ela precisa se sustentabilizar e não ser essa formação, não pode ser apenas um
discurso e sim na prática. Mais do que nunca, a formação do novo engenheiro agrícola dos
engenheiros, engenheiros e engenheiros agrícolas precisa ter esse olhar forte na questão da
sustentabilidade do campo. E aí nós estamos falando da relação, de produzir, principalmente
sem veneno. Tem a ver com questão política, tem a ver com questão social. E aí é aonde que
entra as disciplinas de extensão rural, de sociologia, que vão fazer essa abordagem. Garanto
que as outras não fazem essa abordagem. Que a questão de povos tradicionais também,
além dessa formação, dessa formação com um olhar extremamente sustentável e uma
formação social. E eu acho que isso perpassa por todas as disciplinas do futuro. E aí acontece
essa questão da sustentabilidade, não como discurso, mas sim como prática na formação
de engenheiros agrícolas. Passar pela sustentabilidade e pela questão social. Não para,
como fala, desvencilhar uma da outra (Entrevista, aluna pós-graduanda de PED e
colaboradora da disciplina).
No entanto, este avanço ainda se mostra como um desafio que a Engenharia Agrícola
parece se desenvolver, de acordo com uma das alunas que cursou a disciplina, sob as rédeas
da iniciativa privada, “a serviço do que a gente se contrapõe”, dificultando a busca da inter ou
transdisciplinaridade, o trabalho social e a prática de campo da agricultura, pelo menos
familiar. O processo de curricularização da extensão em curso pode ser uma possibilidade,
mas nos resta perguntar como ele será conduzido.
Acho que no momento que a gente conseguir mais interdisciplinar o curso, isso dará mais
embasamento pro profissional. Às vezes a gente aprende muitas coisas isoladas e se elas
fossem combinadas no curso, no próprio currículo, isso seria muito interessante. É a questão,
por exemplo, da disciplina, quando a gente faz a disciplina de Extensão Rural, quando eu
vou no produtor e ele diz que um dos principais problemas está sendo o resfriamento de
hortaliças, e a gente teve uma disciplina de resfriamento e você consegue usar as
metodologias participativas nos contextos de avaliação dos projetos para executar juntos com
os agricultores ... Eu acho que o desafio está em congregar, em tornar mais interdisciplinar o
curso, para que as potencialidades sejam ainda maiores (Entrevista, aluno que cursou a
disciplina no segundo semestre de 2019).
Eu acho que ter um entrosamento maior entre as disciplinas e a extensão ... Agora tem uma
obrigatoriedade da extensão nos currículos das universidades ... Acho que isso abre uma
brecha para se pensar uma aplicação, de uma outra visão, de uma outra forma de cumprir
com as cargas, com os currículos, integrando a extensão o mais próximo possível de cada
uma das disciplinas. Então eu acho que é uma questão complexa no sentido da gente ter
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
13
público, inclusive para atender todas as demandas que gerariam cada disciplina ter um
trabalho de extensão para atender, para poder acompanhar demandas ... Mas eu acho que isso
poderia ser mais integrado desde o início do curso ... E também outra coisa que eu acho que
foi se perdendo, eu acho que foi mesmo o corpo a corpo do Engenheiro com a agricultura
(Entrevista, funcionária aposentada e participante da disciplina).
Neste sentido, a disciplina Sociologia e Extensão Rural vem representando
historicamente dentro da FEAGRI muito mais do que a resistência de uma área acadêmica
voltada para a extensão rural no processo de produção de conhecimento, mas uma capacidade
de dialogar com as ciências humanas, consolidando processos transdisciplinares tão
requeridos (Segrera, 2005), em um social que parte das demandas da agricultura familiar e
dos movimentos sociais.
No entanto, a disciplina se desenvolve por uma ambiguidade que não tem a
oportunidade de ser trabalhada desde o início do curso para contribuir de fato com a formação
dos(as) engenheiros(as) agrícolas e marcar desde o ingresso do(a) aluno(a) na Universidade a
importância de um conhecimento baseado na sociologia e na extensão rural. Esta disciplina é
ministrada no último semestre do curso, caso fosse ofertada no início ou na metade do curso,
quem sabe teríamos mais interesse e mais egressos(as) orientados(as) para o trabalho
extensionista, para a atuação junto à agricultura familiar e aos movimentos sociais, em
diálogo com os princípios da agroecologia.
Eu lembro de ser muito pontuado, quando eu fiz a disciplina, que a disciplina deveria ser
colocada no início do curso, disciplinas similares no início, para as pessoas terem noção da
disciplina desde o início. A pessoa fez 75% de curso e talvez ela não pegou nenhuma
disciplina assim e nunca teve contato com essa vertente da engenharia agrícola (Entrevista,
aluna que cursou a disciplina no curso de verão/janeiro de 2020).
Tem uma ambiguidade aí que acho que tem de um lado, pelo fato dela ser no final do curso,
que é uma questão que a gente chegou a ponderar, quando a gente estava aí, junto, na
faculdade. O fato deles chegarem no final do curso para fazerem a disciplina, ainda que
tenha passado por uma ou outra disciplina que abordava as questões mais ligadas às questões
sociais da agricultura ... Pra mim eu acho que, não sei, não sinto que era a melhor etapa pra
eles. Até porque tem uma demanda que eles estão mais pra fora do que pra dentro, né,
estão nos estágios ... Então realmente, assim, eu acho que no momento anterior em que eles
estivessem mais disponíveis, no momento ainda mais ligado no curso, acho que seria mais
efetivo o cumprimento da disciplina (Entrevista, funcionária aposentada e participante da
disciplina).
Na maioria dos cursos, a disciplina é ministrada nos últimos semestres. Dessa forma,
para o processo de formação não um fio que conduz os(as) estudantes para a compreensão
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
14
de outras realidades do meio rural (que não apenas o agronegócio), capaz de integrar os
diferentes conhecimentos abordados no curso (Callou et al., 2008).
As percepções apresentadas podem indicar que na disciplina não conflitos ou
controvérsias, o que não é verdade. Os conflitos se fazem presentes, o que pode ser percebido
em uma das falas da funcionária aposentada que contribuiu com a disciplina: E tem algumas
coisas mais gerais, desde a falta de respeito conosco e de questionarem o agricultor, como ele
se organizava com o sítio dele. Uma arroncia muito grande, esse lugar ocupado pelo Cruz
(engenheiro, personagem da peça de teatro “O Extensionista”, trabalhado na disciplina).
No último semestre do curso de Engenharia Agrícola, os(as) alunos(as) já possuem seus
interesses profissionais definidos (ou quase), e muitos deles(as) estão no mercado de
trabalho, diminuindo assim o interesse pelos assuntos abordados na disciplina. Em uma das
turmas fomos questionadas sobre o porquê do desenvolvimento de trabalhos com
agricultores(as) assentados(as), pois a ida a um assentamento estava causando desconforto
entre os(as) alunos(as). Isso demonstra o desconhecimento da realidade do meio rural. Este
fato foi trabalhado com a turma e o pré-conceito existente foi sendo modificado ao longo da
disciplina.
... Então assim, tinha uma forma de fazer a disciplina para cumprir crédito, não era
exatamente uma participação assim de coração, que as pessoas estavam interessadas, então
tem essa ambiguidade em relação a isso, que assim, ali no dia a dia eram poucas as pessoas
que de fato tinha uma atenção, que se dedicavam com essa disciplina ... Porque ao mesmo
tempo que no cotidiano na sala de aula tinha uma certa ausência, de repente tem coisas que
atravessaram as pessoas que ficaram, que marcaram, esses retornos mais pontuais
(Entrevista, funcionária aposentada e participante da disciplina).
Algumas vezes a percepção que os(as) estudantes possuem sobre a disciplina antes de
cursá-la é diferente e recheada de pré-concepções e julgamentos sobre assuntos que
desconhecem ou que conhecem de forma pouco profunda. Percebemos que para alguns
alunos(as) uma transformação no seu modo de pensar e compreender os assuntos
abordados.
Via como uma outra disciplina que precisava cursar, mas acredito que existe mais
necessidade de ter mais informação sobre isso. Agricultura familiar é um desafio que vai
encontrar no campo e é muito pouco explorado na faculdade (Entrevista, aluna que cursou a
disciplina no segundo semestre de 2021).
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
15
Mesmo diante dos desafios da sua resistência, a disciplina Sociologia e Extensão Rural
vem se desenvolvendo no curso de Engenharia Agrícola de forma horizontal e didática,
pensada, desde sua origem, para ser paradigmática e processual, tendo na aproximação com
os agricultores e agricultoras envolvidos(as) a centralidade do processo, e no sentir, pensar e
fazer da educação: “é no pensar, é no sentir e no querer; tem muita afetividade, tem muita
emoção envolvida” (de acordo com uma das pós-graduandas que colaborou com a disciplina).
Este aspecto abordado pela colaboradora nos leva a dialogar com o desenvolvimento
epistêmico e pedagógico feito por intelectuais latinoamericanos no século XXI, tais como
Walter Mignolo, Aníbal Quijano, Arturo Escobar, entre outros, além da própria Catherine
Walsh, que vêm pensando criticamente e transdisciplinarmente fora dos limites moderno,
colonial, ocidental, eurocêntrico, racista e capitalista, mas desde os(as) subalternos(as) e
periféricos(as) que produzem conhecimentos silenciados historicamente. Estes conhecimentos
outros não se limitam à academia e são construídos desde as lutas de povos colonizados, as
ações dos movimentos sociais, dos povos e comunidades tradicionais no
pensar/ser/fazer/sentir da sua práxis e no contraponto à retórica da modernidade e da
colonialidade, a partir de uma pedagogia decolonial frente à geopolítica hegemônica (Walsh,
Oliveira & Candau, 2018). Nos fazem refletir e repensar (auto)criticamente como seria
construir a disciplina a partir de uma pedagogia decolonial?
Sobretudo para os agricultores(as) e os movimentos sociais, o diálogo desenvolvido
tem sentido se aproximação com a classe trabalhadora. É uma questão de classe também,
tendo em conta que a relação entre Universidade e população foi historicamente marcada por
serviços orientados para a classe trabalhadora. Tem-se como referência a criação das
chamadas Universidades Populares (UP), que surgem na Europa no século XIX em diversos
países no mundo e na América Latina, como resposta às reivindicações das populações
negadas pelas Universidades (Fraga, 2017).
A gente sempre deixou assim bem claro que para nós, enquanto movimento social, ter essa
proximidade da academia é, de certa forma, uma realização do que a gente defende, que é a
academia tem sentido se ela se aproximar da classe trabalhadora ... Mas a tarefa da
academia é se aproximar do povo, não se distanciar é de um modo geral, a universalidade
acaba se distanciando. Ou seja, o científico conhecimento se distancia muito da classe.
Então, quando a gente participa de eventos e atividades que nem essa, para nós é um prazer e
um orgulho, porque é o que a gente defende, se concretizando. Eu estava dizendo aqui que
para nós, como movimento social, ter essa proximidade, essa participação nossa num estudo
do conhecimento da academia é um prazer, porque é o que a gente defende, a universidade,
ela tem que estar, ela tem que estar próxima da classe trabalhadora, próximo do trabalhador e
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
16
não distante. Então, porque quando a gente participa desse processo, a gente transmite o
conhecimento que a gente acumulou, mas a gente absorve esse conhecimento que também
tem na academia ... Eu sempre oriento os meninos, olha se eu não posso atender vocês vão e
cuidem dessas pessoas, porque elas estão aqui com um propósito de entender nós, mas
também de nós aprender com eles (Entrevista com Responsável pela Frente de
Comercialização dos Armazéns do Campo do MST e participante da disciplina).
De fato, na construção pedagógica da disciplina um esforço de superar a
transferência de conhecimento a partir de uma educação bancária, conforme a crítica de Paulo
Freire (2005) em “A pedagogia do oprimido”, baseada na domesticação. A todo momento
buscamos desconstruir concepções arraigadas da relação da extensão com transferência,
difusão, propaganda, persuasão etc., segundo Freire (1983), e de uma percepção sobre o
conhecimento acadêmico verticalizado.
A desconstrução pretendida pelas professoras da disciplina, desde a sua concepção, diz
respeito a uma prática histórica de ruptura com o ensino tradicional da extensão rural - um
ensino permeado por relações autoritárias e hierarquizadas - que ocorreu a partir dos anos
1970 em diversas universidades no Brasil, conforme Callou et al. (2008), tendo como
referência a obra Extensão ou Comunicação? de Paulo Freire. Quando perguntamos aos(às)
alunos(as) a diferença da disciplina de Sociologia e Extensão Rural em relação às demais do
curso de Engenharia Agrícola, uma das respostas foi:
Primeiro o modo como ela era dada, não era de forma alguma como uma disciplina
expositiva. A maior parte da disciplina que a gente tem, que a gente passa aqui é na ideia da
educação bancária, em que o professor vai lá na frente apresenta os slides, você tem que dar
um jeito de absorver tudo aquilo de alguma forma e vomitar aquilo nas avaliações no final
do semestre para obter uma nota. A primeira diferença; isso eu percebi na primeira aula: foi
que sem a participação dos alunos não construía a disciplina. Todas as aulas dependiam da
participação dos alunos. E além disso a avaliação não era de fato ... uma avaliação padrão de
prova, era um projeto. Então se a gente não se inteirasse desse procedimento a gente não ia
conseguir desenvolver o projeto. Então acho que a principal diferença é o modo, da forma
como funciona o conteúdo pedagógico da disciplina com a avaliação, é uma das poucas
disciplinas que a gente consegue vincular com que é avaliado, o poucas as disciplinas
(Entrevista, aluno que cursou a disciplina no segundo semestre de 2019).
Sociologia e Extensão Rural: aproximação entre Universidade e o mundo rural
A ementa da disciplina visa contribuir para um entendimento introdutório sobre
sociologia e extensão rural partindo de uma problematização da extensão. Para isso,
trabalhamos com a obra clássica de Paulo Freire: “Extensão ou Comunicação?”, discutindo os
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
17
princípios e a filosofia da extensão, desconstruindo algumas ideias de extensão associada ao
assistencialismo ou à difusão de tecnologias. A compreensão da extensão rural vai sendo
aprofundada a partir da proposta de leitura e encenação, por parte dos alunos(as), do livro: “O
Extensionista”, de Felipe Santander, uma peça de teatro que contribui para desconstruir
concepções fundadas no extensionismo assistencialista e difusionista, na tensão entre uma
orientação produtivista e humanista crítica (Rodrigues, 1997).
Neste caminho, a disciplina também desenvolve a extensão rural como estratégia de
transformação da realidade rural no Brasil. Parte de uma revisão crítica do processo de
difusão de inovações tecnológicas na agricultura e dos métodos clássicos de assistência
técnica e extensão rural, para uma discussão participativa, permeada pelo uso das
metodologias participativas enquanto estratégia de diálogo e construção de conhecimentos
sobre sustentabilidade e agroecologia. Desta forma, trabalhamos também noções de
organização rural, associativismo e cooperativismo, produzindo entendimento sobre os
movimentos sociais do campo.
A disciplina tem como estratégia didática o diálogo processual com grupos de
agricultores e agricultoras familiares que possuem trajetória em pesquisas e projetos de
extensão construídos junto com as professoras e as colaboradoras, culminando na elaboração
conjunta de projetos de intervenção na realidade possíveis de serem aplicados no prazo de
uma disciplina e que partem da demanda dos(s) próprios(as) agricultores(as):
A gente se dividiu em algumas frentes de trabalho com eles. Se eu não me engano, teve uma
frente de desenvolvimento, de identidade visual e de redes sociais, uma frente que se
preocupou em ajudar a gente com um problema tecnológico específico, que era a da
embalagem a vácuo, um problema de pós colheita que a gente tinha aqui. E um outro grupo
que ficou... Foi a pós colheita, a logomarca. Acho que de plano de negócios mesmo, de
ajudar a gente a pensar no plano de negócios da cooperativa e o que seria possível ... E um
quarto que era o do calendário, que ajudou a gente a pensar em fazer um planejamento da
produção aqui (Entrevista com uma das agricultoras que participou da disciplina).
De acordo com uma das alunas de pós-graduação de PED e colaboradora, iniciar a
disciplina com a desconstrução do extensionista é o primeiro passo significativo para uma
construção mais crítica da extensão rural; “o segundo ponto é conhecer os agricultores e
agricultoras, sentir e ouvir eles e elas falando, esse contato é fantástico ...ver essa galera e
olhar pra essa demanda, eles e elas têm uma demanda concreta”.
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
18
Mas a gente fez um processo inicial de apresentação para a professora das possibilidades e
de formação dos grupos, de acordo com as nossas demandas específicas da cooperativa.
Acho que aqui a gente teve uma dificuldade inicial, porque a cooperativa estava, no período
da disciplina, ainda numa fase muito incipiente, de uma experiência que é a experiência da
produção de grãos, de feijão orgânico e de milho orgânico ... A gente estava então com duas
safras dessa produção de grãos orgânicos e a necessidade de pensar e amadurecer entre nós
mesmo essa experiência. Eu acho que foi bastante importante porque a gente pôde, ao
dialogar com os estudantes, com a professora, organizar informações e organizar e entender
quais eram as nossas demandas também. Então, ajuda a gente, no nosso próprio
planejamento estratégico, entender quais eram os gargalos e como que a gente poderia somar
esforços nisso (Entrevista com uma das agricultoras que participou da disciplina).
Assim, reconhecer como os alunos e as alunas, os agricultores e as agricultoras
percebem o processo da disciplina, tem muito a dizer sobre as possibilidades de relações e
vínculos de trajetórias que vão sendo construídos durante a disciplina, que tem o fazer COM
um sentido muito maior do que o PARA. As percepções vão além do que usualmente se
percebe, na correspondência e na descoberta de mundos e conhecimentos a partir da
experimentação, que para Ingold (2012; 2015) está muito relacionado às mãos e à
improvisação: “Numa visita dessa, a galera aprende mais do que sei em quanto tempo de
aula” (Entrevista, aluna pós-graduanda de PED e colaboradora da disciplina).
Primeiro, acho que a disciplina foi quase um alento... um espaço de conforto no meio de um
semestre. Porque quanto mais a gente chega no final do curso, mais conturbadas ficam as
coisas. Então uma memória afetiva que eu tenho muito da disciplina, que era um dia que eu
ia para aula e que ia ser algo legal de fazer. Eu lembro, inclusive, que a primeira atividade
que a gente teve, que foi sugerida logo no começo, foi a professora que passou o livro ... era
uma obra de teatro ‘O Extensionista’, ... que a gente fez um teatro de fantoche para contar
parte daquela história. E foi muito bacana porque ela permitiu, ela fugiu do padrão. Eu
lembro que a primeira aula passou uma série de livros, coisa que a gente sempre teve livros
textos na faculdade, nas disciplinas, mas a gente não era obrigado a ler, que a gente os usava
para fazer exercícios e resolver provas. E de repente eu chego em uma disciplina em que
passa uma série de livros, esperando que a gente leia para trazer isso para o debate, para
discussão dentro da sala de aula ... Eu li aquela mesma obra com outro olhar, daí foi quando
eu tive esse contato mais direto com a obra de Paulo Freire e tudo mais. Então essa forma de
ter guiado contatos com obras importantes, tal qual foi Paulo Freire, mas também a
Primavesi; também outros autores importantes, autoras e autores da Agroecologia, da
Extensão Rural, da Reforma Agrária no Brasil. que era muito mais do ponto de vista de
olha, se vocês lerem esse material vai ser mais interessante a próxima aula; e não olha, leiam
esse material porque isso vai cair na prova (Entrevista, aluno que cursou a disciplina no
segundo semestre de 2019).
Sociologia e Extensão Rural é uma disciplina obrigatória, a visão era que era uma disciplina
de humanas num curso cheio de exatas, foi algo para respirar. Não tinha parado para pensar
nos assuntos que eram abordados. É um momento para pensar em outras áreas, que
representam muito a agricultura brasileira (Entrevista, aluna que cursou a disciplina no
segundo semestre de 2021).
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
19
Com a pandemia de Covid-19, a docente e as(os) colaboradoras(es) da disciplina
tiveram o desafio de adequar a sua metodologia para o formato on-line. A primeira dúvida
que surgiu foi sobre a continuidade ou não da realização do trabalho prático com os(as)
agricultores(as) familiares, pois não seria possível a realização das visitas nas propriedades.
Decidimos manter os projetos e a participação dos(as) agricultores(as). No formato presencial,
trabalhamos com agricultores(as) da região de Campinas, pela proximidade de deslocamento.
O formato on-line possibilitou o desenvolvimento de trabalhos com agricultores(as) de outras
regiões, como do Pontal do Paranapanema e de Promissão, regiões distantes de Campinas.
Avaliamos que esse processo foi interessante, contudo as aulas presenciais e as visitas nas
propriedades são mais enriquecedoras para a construção do conhecimento.
O on-line surpreendeu em relação ao contato com os agricultores familiares, quando a gente
teve a possibilidade de falar com eles, a gente desenvolveu os projetos e foi de qualidade.
Mas por outro lado, o contato físico poderia ter sido melhor para desenvolver algumas
questões, nessa parte (Entrevista, aluno que cursou a disciplina no segundo semestre de
2021).
Esta pode ser uma percepção pontual de alguns alunos(as) mais dedicados à disciplina e
às temáticas abordadas, pois durante os dois anos de oferecimento on-line percebemos a
ausência de grande parte dos(as) alunos(as) nas aulas. “Durante a pandemia eu acabei não
levando tanto a sério a disciplina” (Entrevista, aluno que cursou a disciplina no segundo
semestre de 2020). Inclusive, uma das alunas entrevistadas e que fez a disciplina no formato
on-line disse ter feito uma visita, algo que não ocorreu. “Lembro de ter feito uma visita a uma
cooperativa e pude ver como era o dia a dia. Vi uma produção com agrofloresta, vi a parte do
beneficiamento, conversei com os agricultores, com os responsáveis” (Entrevista, aluna que
cursou a disciplina no segundo semestre de 2021).
Neste contexto, dialogamos com Ingold (2012; 2015) para percebermos as construções
possíveis e experimentadas com a disciplina, a partir da extensão universitária e, sobretudo,
da extensão rural, para além do seu conteúdo mas, por uma concepção construtivista da
extensão rural agroecológica:
A coerência pedagógica, com base na educação popular, na construção de ensino-
aprendizagem de forma participativa ... O enfoque pedagógico é fundamentado na
Agroecologia ... As outras [disciplinas] são totalmente transferência de conhecimento,
educação bancária ... São todas bem mais focadas no agronegócio. Desde metodologia de
ensino-aprendizagem a quem é o público, o foco (Entrevista, aluna pós-graduanda de PED e
colaboradora da disciplina).
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
20
Desde a Política Nacional de assistência Técnica e Extensão Rural - PNATER (2003-
2004), em sua contribuição à problematização do papel da extensão rural e à ruptura com a
trajetória do serviço de assistência técnica e extensão rural (ATER) historicamente vigente no
Brasil, um avanço das concepções teórico-metodológicas até então conduzidas, dando
lugar ao enfoque participativo orientado pela agroecologia e pela sustentabilidade, na defesa
de uma universalidade de caráter público, destinados prioritariamente à agricultura familiar e
aos povos e comunidades tradicionais (Brasil, 2004; Caporal, 2015; Petersen et al., 2009).
Com o surgimento da PNATER, a tarefa de educação na extensão rural assumia novos
paradigmas e bases pedagógicas em suas atividades de formação (Caporal, 20015), na
problematização das desigualdades de gênero, de geração, de raça e de etnia, na inclusão
social e produtiva das populações mais pobres do país (Brasil, 2004).
A extensão rural agroecológica se desenvolve no reconhecimento de diferentes formas
de saberes oriundaos da relação entre as pessoas e o ambiente na construção de agriculturas
mais sustentáveis: no manejo dos recursos naturais e na adoção de tecnologias apropriadas
desenvolvidas nas pesquisas, práticas e aprendizagens COM as pessoas envolvidas,
respeitando seus interesses e necessidades (Caporal & Dambrós, 2017).
Outro ponto que eu gostei muito foram as metodologias participativas, então a gente
primeiro aprendia, era exposto ao conteúdo teórico, de dizer olha essas são as metodologias,
é assim de quem propôs fez... Daí a gente realizava na sala, fazia alguma atividade na sala
com essas metodologias e depois a gente estrutura isso para levar para a prática; era quando
a gente ia fazer com os agricultores, essas atividades, esses encontros e usar isso para fazer o
projeto. E isso foi revolucionário na minha formação ... Por exemplo, na época que eu fiz
a disciplina, o meu projeto foi na área de beneficiamento... na verdade de processamento
mínimo de couve. Eles faziam a produção de couve fatiada e eles ainda tinham dificuldade
do ponto de vista sanitário, de embalagem e tudo mais. E eu consegui aplicar coisas de
uma área que eu gostava muito, que era da pós-colheita ... Olha você não vai chegar lá, eles
vão te dizer o problema e você vai apresentar a solução. Isso é construído coletivamente. E aí
você entra no começo com o atrás, se perguntando e... será que isso funciona? E você
chega no final do projeto com um projeto incrível, construído de forma coletiva e que é
baseado em tudo aquilo que você viu ... E acho que uma coisa que foi bastante confortante
na disciplina é que você conseguia aplicar a teoria e a prática de forma conjunta na atividade
do dia a dia (Entrevista, aluno que cursou a disciplina no segundo semestre de 2019).
Neste sentido, um “fazer com” ingoldiano pode implicar um devir não previamente
elaborado pelo conhecimento técnico dos(as) formandos(as) em Engenharia Agrícola, com a
contribuição de desenhos, para pensar o esforço de Ingold (2015), mas também métodos e
metodologias participativas (Verdejo, 2010) que dispõem de uma rie de ferramentas
didáticas e lúdicas no processo de construção de conhecimento. Constrói-se conhecimento
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
21
construindo e se reconstruindo no processo de improvisação; traçando linhas e improvisando
de acordo com fluxos e contrafluxos dos “modos do mundo”, distanciando-se de uma conexão
entre dois pontos extremos do conhecimento técnico e empírico, conforme seus próprios
movimentos, práticas, percepções e ações (Ingold, 2012). Vejamos esta analogia mediante as
falas dos(as) entrevistados(as):
tenho a agradecer porque para s é importantíssimo a gente ter esse diálogo para
contribuir com nós nisso ... Porque como acabou Pronera que era o programa que contribuía
para a formação e capacitação nossa mesmo, assim, então nós ficamos meio
dezapadrinhados, digamos assim, dezamadrinhados. E acho que vocês, sem dúvida, têm
um potencial enorme. Inclusive acho que numa mudança de conjuntura aí, é nós pegarmos a
experiência sistematizada de vocês e apresentar para outros lugares ... E isso que vocês
analisaram um canal de comercialização nosso, além de vários outros canais de
comercialização ... (Entrevista, Responsável pela Frente de Comercialização dos Armazéns
do Campo do MST).
Eu acho que eles nos deram muitos subsídios para escolha da máquina e o formato da
máquina e entender esse desafio da máquina de embaladora de grãos a vácuo. Acho que esse
foi bastante importante. Eles ajudaram a gente no plano de negócios, especificamente a fazer
uma precificação, fazer uma pesquisa de preço. E isso foi para gente importante até pra
entender, ainda que esse processo de pesquisa de preços tem sido muito dinâmico. Mas a
gente se socializou e construiu a metodologia a partir de diferentes formas de pensar preço
de produto. Eles ajudaram a gente entender, inclusive, que o nosso preço do nosso feijão
orgânico estava muito mais barato do que os preços operados no mercado ... Então, foi para a
gente ter essa dimensão da precificação. Foram todos os grupos na verdade, contribuíram.
Acho que tiveram contribuições importantes, mas a extensão é essa via de mão dupla, assim,
né, não adianta elaborar e a gente não conta de fazer esse processo na prática. Então,
existem continuidades que dependiam muito mais da gente do que da própria disciplina
mesmo. Então, acho que isso fica muito marcado dessa continuidade de um processo que
depende mais da gente se organizar e dar conta também (Entrevista com uma das
agricultoras que participou da disciplina).
Diante de um cenário político que favoreceu o desmonte de políticas públicas voltadas
para a agricultura familiar e para a segurança alimentar e nutricional, o desafio é a própria
resistência da disciplina em sua estratégica didática e metodológica caracterizada pelo diálogo
não entre a Universidade e os(as) agricultores(as), mas também com o ambiente, a
realidade do campo, seus agroecossistemas, instrumentos e técnicas empíricas.
A disciplina Sociologia e Extensão Rural é fundamental para contribuir nos processos
de extensão e fortalecer a caminhada da agroecologia e dos movimentos sociais, em sua
resistência em um curso de Engenharia Agrícola. Ao mesmo tempo, outras disciplinas podem
estar juntas nesta caminhada de forma transversal.
Como desafio, elencando, primeiro manter essa mesma pegada. Segundo, fazer esse diálogo
na universidade para tentar envolver outras disciplinas, outros cursos e ampliar. Pensando
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
22
sempre na massificação, que é qualquer movimento social tem que pensar assim e torcer.
Talvez daí organizar esses estágios. Por exemplo, nos armazéns para ter... eles fazem
estágio ... Fazer parte do acompanhamento e mesmo estágio aqui na vida real mesmo.
podem ficar 15 dias. A gente pode até pensar em uma ajuda, pagar as despesas, a gente
combinar que ele ajuda com o conhecimento dele e com a mão de obra ... E eu acho que
outro desafio que é transversal a tudo é continuar o diálogo em torno da agroecologia. Como
fortalecer esse diálogo dentro da academia que está mais presente? (Entrevista, Responsável
pela Frente de Comercialização dos Armazéns do Campo do MST).
Ao longo da disciplina, o processo de extensão, no trabalhar, com agricultores e
agricultoras é provocado. O diálogo com a realidade da agricultura familiar é germinado em
um cenário de sujeitos de um rural que, na maioria das vezes, não se conhece, conforme nos
convoca a perceber uma das agricultoras entrevistadas:
Para mim, o maior potencial é aproximar os estudantes da realidade e de uma realidade que
eles não conhecem ou não conheciam ... Então, esse reconhecimento ou o conhecimento do
potencial da agricultura familiar, do potencial dos assentamentos de reforma agrária e de
possibilidade deles olharem isso como um campo a ser trabalhado, como algo a ser
desenvolvido. Eu acho que esse, para mim, é o principal potencial dessa disciplina. Acho que
o segundo é essa aproximação da universidade em si instituição, para além da aproximação
dos estudantes, da aproximação da universidade com a realidade mesmo. Acho que essa
disciplina ela junta com três tripés muito importantes da universidade, o ensino, a pesquisa e
extensão, no sentido de poder fazer com que eles desempenhem pesquisas, de que eles façam
extensão e que eles aprendam fazendo isso (Entrevista com uma das agricultoras que
participou da disciplina).
Neste caminho, o conhecer se aproxima da possibilidade de reconhecimento do
potencial da agricultura familiar, de um campo que deveria ser mais trabalhado, mais
pesquisado e mais estudado, na relação entre a Universidade e o mundo rural. A interação
entre ensino, pesquisa e extensão ainda compreende um desafio, embora seja trabalhada em
algumas disciplinas específicas, como as relacionadas à extensão rural.
Considerações finais
Problematizar os desafios do ensino da extensão rural na conjuntura política atual
implica em refletir sobre o lugar em que se desenvolve as suas lutas, a Engenharia Agrícola,
na resistência de uma disciplina que se contrapõe não ao paradigma do agronegócio, mas
também às suas formas de pensar e conduzir a produção de conhecimento: uma educação
bancária, hierarquizada, difusionista e produtivista, caracterizada pela domesticação e pela
propaganda. Aqui, o lugar do social é o não lugar, em que se cegam às possibilidades de
diálogos com as ciências humanas e a interdisciplinaridade, ou seja, com as pessoas e com a
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
23
vida. A produção de alimentos é composta de vida. Vidas que passam por situação de
insegurança alimentar e fome de acordo com as pesquisas mais recentes da Rede Penssan
(2022).
No caminho de uma educação libertadora a disciplina Sociologia e Extensão Rural vem
tecendo linhas de conhecimento com a vida, com as pessoas, com as plantas, com os
alimentos, com as florestas, com os animais, com as águas, os ares e a terra, se consolidando
na resistência e (re)existência do devir no desenho de possibilidades construídas na
aproximação da Universidade por meio da extensão. O diálogo construído é muito mais do
que a conexão de suas polaridades porque é tecido conjuntamente respeitando seus próprios
movimentos e abertura de caminhos.
Acreditamos que esta disciplina proporciona aos alunos(as) de Engenharia Agrícola a
oportunidade de conhecer e compreender uma categoria social pouco abordada durante o
curso, qual seja, a agricultura familiar, especialmente agricultores(as) assentados(as). Antes
de cursarem a disciplina, poucos eram os(as) alunos(as) que conheciam um assentamento
rural, ou mesmo uma propriedade familiar orgânica. Nesta aproximação, entre alunos(as) e
agricultores(as), muitas crenças, e alguns preconceitos, são descontruídos. Com o
desenvolvimento dos projetos a partir da realidade dos(as) agricultores(as), os(as) alunos(as)
se sentem mais úteis ao aplicarem os seus conhecimentos na prática.
No contexto da disciplina, trabalhar a relação entre ensino, pesquisa e extensão é
indispensável aos seus próprios conceitos, práticas e trajetórias, sendo impossível a sua
fragmentação.
A experiência com as atividades desenvolvidas na disciplina Sociologia e Extensão
Rural contribuiu para o processo de curricularização da extensão na FEAGRI, com a criação
de outras duas disciplinas de práticas integradoras de extensão (Práticas Integradoras de
Extensão Rural I e II). Com essas novas disciplinas, pretendemos desenvolver, de forma
ampliada, as atividades junto a grupos de agricultores(as) familiares que vem sendo
realizadas.
Como desafios dos cursos de Ciências Agrárias, reivindicamos possibilidades de
disciplinas que dialoguem com os sujeitos do mundo rural, da agricultura familiar e
camponesa, das comunidades tradicionais e dos movimentos sociais. Para que os nossos
esforços sejam fortalecidos.
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
24
Referências
Brasil. (2004). Ministério do Desenvolvimento Agrário. Política Nacional de Assistência
Técnica e Extensão Rural. Brasília: MDA.
Callou, A. B. F., Silva Pires, M. L. L., Leitão, M. R. F. A., & Santos, M. S. T. (2008). O
estado da arte do ensino da extensão rural no Brasil. Revista Extensão Rural, Ano XV(16), 84-
116. Recuperado de https://periodicos.ufsm.br/extensaorural/article/view/5507
Caporal, F. R. (2015). Extensão rural e agroecologia: para um novo desenvolvimento rural,
necessário e possível. Camaragibe, PE: Ed. do Coordenador.
Caporal, F. R., & Dambrós, O. (2017). Extensão rural agroecológica: experiências e limites.
Redes, 22(2), 275-297.
Deus, S., & Henriques, R. L. M. (2017). A universidade brasileira e sua inserção social. In
Castro, J. O. Tommasino, H. (Org.). Los caminos de la extensión en América Latina y el
Caribe (pp. 77-91). Santa Rosa: Universidad Nacional de La Pampa.
Fernandes, B. M. (1999). MST: formação e territorialização. São Paulo: HUCITEC.
Fialho, J. R. D. (1996). Historicidade da disciplina de Extensão Rural. Extensão Rural, (3),
1522. Recuperado de https://periodicos.ufsm.br/extensaorural/article/view/6118
Forproex - Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Instituições Públicas de Educação
Superior Brasileiras. Política Nacional de Extensão Universitária. Gráfica da UFRGS. Porto
Alegre, RS, 2012 (Coleção Extensão Universitária; v.7).
Fraga, L. S. (2017). Transferência de conhecimento e suas armadilhas na extensão
universitária brasileira. Avaliação, 22(2), 403-419. https://doi.org/10.1590/s1414-
40772017000200008
Freire, P. (1983). Extensão ou comunicação? 7. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
Freire, P. (2005). Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
González, G. R. G., & Fernández-Larrea, M. G. (2017). Itinerarios de la Extensión
Universitaria en Cuba: apuntes para un debate. In Castro, Jorge Orlando. Tommasino,
Humberto (Org.). Los caminos de la extensión en América Latina y el Caribe (pp. 15-29).
Santa Rosa: Universidad Nacional de La Pampa.
Ingold, T. (2015). Estar vivo: ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição.
Petrópolis: Vozes.
Ingold, T. (2012). Trazendo as coisas de volta à vida: emaranhados criativos num mundo de
materiais. Horizontes Antropológicos, ano 18(37), 25-44. https://doi.org/10.1590/S0104-
71832012000100002
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
25
Ingold, T. (2000). The Perception of the Environment: Essays on livelihood, dwelling and
skill. London: Routledge.
Parchen, C. A. (2007). O exercício profissional de ciências agrárias. Rev. Acad., 5(1), 85-90.
https://doi.org/10.7213/cienciaanimal.v5i1.9624
Petersen, P., Dal Soglio, F. K., & Caporal, F. R. (2009). A construção de uma Ciência a
serviço do campesinato. In Petersen, P. (Org.). Agricultura familiar camponesa na construção
do futuro (pp. 85 103). Rio de Janeiro: AS-PTA.
Rede Penssan. (2022). Rede Brasileira de pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e
Nutricional. In II Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia
da COVID-19 no Brasil: II VIGISAN: relatório final/Rede Brasileira de Pesquisa em
Soberania e Segurança Alimentar - PENSSAN. São Paulo, SP: Fundação Friedrich Ebert;
Rede PENSSAN.
Rodrigues, C. M. (1997). Conceito de seletividade de políticas públicas e sua aplicação no
contexto da política de extensão rural no Brasil. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília,
14(1), 113-154. http://dx.doi.org/10.35977/0104-1096.cct1997.v14.8963
Roldan, A. M., & Mendoza, T. E. (2017). Los caminos de la extensión universitária en
México. Modelos de tercera función sustantiva universitaria y su pertinência regional. In
Castro, J. O.,. Tommasino, H. (Orgs.). Los caminos de la extensión en América Latina y el
Caribe (pp. 135-154). Santa Rosa: Universidad Nacional de La Pampa.
Santander, F. (1987). O Extensionista. São Paulo: HUCITEC.
Segrera, F. L. (2005). Abrir, “impensar” e redimensionar as ciências sociais na América
Latina e Caribe. In Lander, E. (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências
sociais. Perspectivas latinoamericanas (pp. 95-106). Colección Sur Sur, CLACSO, Ciudad
Autónoma de Buenos Aires, Argentina.
Tereso, M. A. (1992). O ensino de Engenharia Agrícola: UNICAMP (Tese de Doutorado).
Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
Tommasino, H., & Cano, A. (2016). Modelos de extensión universitaria en las universidades
latinoamericanas en el siglo XXI: tendencias y controversias. Universidades, (67). México.
Verdejo, M. E. (2010). Diagnóstico rural participativo: guia prático DRP. Brasília:
MDA/Secretaria da Agricultura Familiar.
Walsh, C., Oliveira, L. F., & Candau, V. M. (2018). Colonialidade e pedagogia decolonial:
Para pensar uma educação outra. Arquivos Analíticos de Políticas Educativas, 26(83), 02-11.
https://doi.org/10.14507/epaa.26.3874
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
26
i
O Plano Nacional de Educação (2011-2020), apontava em uma de suas metas (12.7) que as Instituições de
Ensino Superior devem: “assegurar, no mínimo, 10% do total de créditos curriculares exigidos para a graduação
em programas e projetos de Extensão Universitária”. Esta meta foi ratificada no Plano Nacional de Educação de
2014-2024.
ii
Atualmente essa disciplina possui 45h, sendo oferecida durante o segundo semestre de cada ano.
iii
Os grupos de agricultores(as) que participam da disciplina são aqueles cujas docentes possuem tradição de
trabalhos realizados em conjunto, por meio de projetos de extensão, de pesquisas, eventos, cursos, entre outros.
Há uma relação prévia, de trabalho, que foi construída com esses grupos.
Informações do Artigo / Article Information
Recebido em: 21/08/2022
Aprovado em: 10/11/2022
Publicado em: 19/12/2022
Received on August 21th, 2022
Accepted on November 10th, 2022
Published on December, 19th, 2022
Contribuições no Artigo: Os(as) autores(as) foram os(as) responsáveis por todas as etapas e resultados da pesquisa, a
saber: elaboração, análise e interpretação dos dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito e; aprovação da versão
final publicada.
Author Contributions: The author were responsible for the designing, delineating, analyzing and interpreting the data,
production of the manuscript, critical revision of the content and approval of the final version published.
Conflitos de Interesse: Os(as) autores(as) declararam não haver nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Avaliação do artigo
Artigo avaliado por pares.
Article Peer Review
Double review.
Agência de Fomento
Funding
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e metodologias na produção do
conhecimento com agricultores e agricultoras familiares...
RBEC
Tocantinópolis/Brasil
v. 7
e14751
10.20873/uft.rbec.e14751
2022
27
Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Souza-Esquerdo, V. F., Sieber, S. S., & Bergamasco, S. M. P. P. (2022). Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e
metodologias na produção do conhecimento com agricultores e agricultoras familiares. Rev. Bras. Educ. Camp., 7, e14751.
http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e14751
ABNT
SOUZA-ESQUERDO, V. F.; SIEBER, S. S.; BERGAMASCO, S. M. P. P. Desafios do ensino da Extensão Rural: práticas e
metodologias na produção do conhecimento com agricultores e agricultoras familiares. Rev. Bras. Educ. Camp.,
Tocantinópolis, v. 7, e14751, 2022. http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e14751