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Revista Brasileira de Educação do Campo
Brazilian Journal of Rural Education
ARTIGO/ARTICLE/ARTÍCULO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e14754
Núcleos de Estudo em Agroecologia (NEAs): conquistando
corações e mentes para a agroecologia
i
Ricardo Serra Borsatto1, Vanilde Ferreira de Souza-Esquerdo2, Henrique Carmona Duval3, Fernando Silveira
Franco4, Fabio Grigoletto5
1, 3, 5 Universidade Federal de São Carlos - UFSCar. Centro de Ciências da Natureza (CCN). Rodovia Lauri Simões de Barros
Km 12 - SP-189, Bairro Aracaçu. Buri - SP. Brasil. 2 Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. 4 Universidade Federal
de São Carlos - UFSCar.
Autor para correspondência/Author for correspondence: ricardo.borsatto@ufscar.br
RESUMO. O Brasil se destaca em nível global por ter
implementado políticas com a intenção de promover a
agroecologia como paradigma produtivo para a agricultura
familiar. No entanto, a eficácia dessas políticas ainda carece de
pesquisas e debates que permitam a sua avaliação e a
compreensão dos impactos desse processo de institucionalização
da agroecologia. Neste artigo, avaliamos e discutimos o apoio à
criação de Núcleos de Estudo em Agroecologia (NEAs) em
instituições de ensino superior em todo o Brasil. Os NEAs
reúnem professores, pesquisadores e estudantes que se engajam
em atividades de ensino, pesquisa e extensão em parcerias com
camponeses, suas organizações e extensionistas rurais. A
hipótese que norteia nossa análise é que o apoio ao
estabelecimento dos NEAs permitiu uma redistribuição do poder
simbólico dentro das universidades onde eles foram
estabelecidos, permitindo que a agroecologia ganhasse maior
legitimidade. Com base em um estudo aprofundado de quatro
NEAs, os avaliamos na perspectiva de campos sociais em
disputa. Nossos achados sugerem que o apoio do Estado aos
grupos universitários dedicados à promoção da agroecologia
permitiu a construção do que chamamos de espaços
agroecológicos, que simbolicamente contestam os paradigmas
dominantes nas instituições de ensino, apoiando a constituição
dos territórios agroecológicos.
Palavras-chave: poder simbólico, agroecologia,
transdisciplinaridade, educação superior, Brasil.
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Winning Hearts and Minds Through a Policy Promoting
the Agroecological Paradigm in Universities
ABSTRACT. Brazil stands out at the global level for having
implemented several policies intending to promote agroecology
as a productive paradigm for small-holder farmers. However,
the impacts of this process of institutionalization of agroecology
still lack research and debates that evaluate the effectiveness of
these policies. In this paper, we assess and discuss the impacts
of a policy specifically focused on education in agroecology, the
support to the establishment of Centers for the Study of
Agroecology and Organic Production (NEAs) in higher
education institutions throughout Brazil. NEAs bring together
teachers, researchers, and students who engage in teaching,
research, and extension activities in partnerships with peasant
farmers, their organizations, and rural extension workers. The
hypothesis that guides our analysis is that this support to
establish NEAs allowed redistribution of symbolic power in the
universities where they were established, supporting
agroecology to gain greater legitimacy inside and outside the
university field. Based on an in-depth study of four NEAs, the
NEAs are evaluated from the perspective of social fields in
dispute. Our findings suggest that the State support to university
groups dedicated to the promotion of agroecology has allowed
the construction of what we have named agroecological spaces,
which symbolically dispute the dominant paradigms in
educational institutions, supporting the constitution of
agroecological territories.
Keywords: symbolic power, agroecology, transdisciplinary,
higher education, Brazil.
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Ganar corazones y mentes a través de una política que
promueva el paradigma agroecológico en las universidades
RESUMEN. El Brasil se destaca a nivel mundial por haber
implementado varias políticas destinadas a promover la
agroecología como paradigma productivo para los pequeños
agricultores. Sin embargo, los impactos de este proceso de
institucionalización de la agroecología aún carecen de
investigaciones y debates que evalúen la efectividad de estas
políticas. En este trabajo, evaluamos y discutimos los impactos
de una política específicamente centrada en la educación en
agroecología, el apoyo al establecimiento de Centros para el
Estudio de la Agroecología (NEAs) en educación superior en
todo Brasil. Los NEAs reúnen a maestros, investigadores y
estudiantes que participan en actividades de enseñanza,
investigación y extensión en asociación con campesinos, sus
organizaciones y trabajadores de extensión rural. La hipótesis
que guía nuestro análisis es que este apoyo para establecer
NEAs permitió la redistribución del poder simbólico en las
universidades donde se establecieron, apoyando a la
agroecología para ganar mayor legitimidad dentro y fuera del
ámbito universitario. Sobre la base de un estudio en profundidad
de cuatro NEAs, los NEAs se evalúan desde la perspectiva de
los campos sociales en disputa. Nuestros hallazgos sugieren que
el apoyo del Estado a los grupos universitarios dedicados a la
promoción de la agroecología ha permitido la construcción de lo
que hemos denominado espacios agroecológicos, que
simbólicamente disputan los paradigmas dominantes en las
instituciones educativas, apoyando la constitución de territorios
agroecológicos.
Palabras clave: poder simbólico, agroecología, transdisciplinar,
educación superior, Brasil.
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Introdução
Um dos fatores que sustentaram o sucesso da Revolução Verde (RV) foi sua capacidade
de conquistar corações e mentes. Além da dimensão tecnológica, a dimensão simbólica foi
fundamental para que o paradigma tecnológico da RV se espalhasse pelo Sul Global. As
novas tecnologias vinham embaladas em promessas de riqueza, abundância, modernidade e
progresso. Resistir a elas era uma demonstração de atraso e ignorância.
Uma estrutura articulada de instituições de pesquisa, ensino e extensão rural,
contemplando diferentes escalas espaciais (global, nacional, local), geralmente financiadas
por recursos públicos, foi instituída ao redor do mundo para apoiar a “modernização” da
agricultura. Soluções tecnológicas para o aumento da produtividade agrícola eram
desenvolvidas com recursos de países desenvolvidos e disseminadas por essa estrutura
articulada para incidir no Sul Global (Evenson & Gollin, 2003; Glaeser, 2010; Pingali, 2012).
No Brasil, uma geração inteira de professores e pesquisadores das ciências agrárias foi
enviada para os Estados Unidos e países europeus para aprender e posteriormente difundir as
novidades da RV no país (Doni Filho, 1995; Ribeiro, 2009). Desde o início da década de
1960, as principais escolas de agronomia estabeleciam convênios, mediados pela United
States Agency for International Development (USAID), com escolas norte-americanas. Esses
convênios objetivavam subsidiar a reformulação de currículos, estruturas e metodologias de
ensino no sentido de privilegiar áreas e disciplinas que se relacionavam com a adaptação e
validação do novo pacote tecnológico (Ehlers, 1999).
Assim como em outros países do Sul Global, no início da década de 1970, o governo
brasileiro estabeleceu um sistema público de pesquisa e extensão agrícola para a adaptação e
disseminação do pacote tecnológico da RV. Em nível federal, foram criadas a Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e a Empresa Brasileira de Assistência
Técnica e Extensão Rural (EMBRATER). Os governos estaduais reproduziram a estrutura
federal, fornecendo capilaridade ao sistema com a criação de suas próprias instituições
públicas dedicadas à pesquisa agrícola e à extensão rural (Bergamasco et al., 2017).
Essas estruturas de pesquisa e extensão rural estabeleceram uma gama de acordos
internacionais, principalmente com os Estados Unidos, tanto para a qualificação de seu corpo
de pesquisadores e extensionistas em terras estrangeiras como para o desenvolvimento de
pesquisas (Bergamasco et al., 2017; Nehring, 2016). Além de apoiar a capacitação de recursos
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humanos, essas parcerias internacionais também financiavam projetos e a instalação de
estruturas de pesquisa e extensão dentro do escopo da RV.
Simultaneamente, o governo brasileiro implementava uma gama de políticas públicas,
principalmente de crédito subsidiado, para apoiar a modernização” do campo brasileiro
(Kageyama, 1990). Adicionalmente, grandes multinacionais do agronegócio investiam
recursos robustos com o objetivo de desenvolver/adaptar fertilizantes, agrotóxicos e
maquinaria às condições brasileiras.
Este processo consolidou nas instituições de ensino e pesquisa agrícola brasileiras uma
cultura institucional baseada nos paradigmas da RV. Assim, qualquer tentativa de questionar
este paradigma, ainda nos dias de hoje, é uma tarefa, na melhor das hipóteses, ingrata.
Predomina nas instituições de ensino do campo das ciências agrárias um aparato institucional
enraizado em uma ideologia estritamente produtivista e economicista, que sabota tentativas de
desenvolver estratégias de ensino ou pesquisa que possam apoiar sistemas agroalimentares
socialmente justos e ambientalmente amigáveis.
Os estudantes universitários, ao adentrar nas universidades, são atraídos pelas estruturas
de pesquisa e estágios bem remunerados oferecidos por docentes que possuem parcerias com
grandes multinacionais do agronegócio.
Com a tentativa de modificar o cenário do meio rural brasileiro, com um olhar mais
profundo para a sua heterogeneidade, sob o governo do Partido dos Trabalhadores (2003-
2016), o Brasil logrou institucionalizar uma série de demandas de movimentos sociais ligados
à agroecologia e agricultura familiar e camponesa, resultando em um conjunto de políticas de
apoio à agricultura familiar, agroecologia e soberania alimentar (Niederle et al., 2019;
Petersen et al., 2013; Sabourin et al., 2017).
Neste trabalho, dedicamos atenção à implementação de Núcleos de Estudo em
Agroecologia e Produção Orgânica (NEAs). Os NEAs foram implementados em mais de 150
instituições de ensino superior brasileiras. Neste artigo focamos nossa análise em quatro
NEAs. Nossa questão de pesquisa foi verificar se a implantação de NEAs logrou construir
estruturas institucionais que disputassem simbolicamente os paradigmas dominantes nessas
instituições, permitindo que professores, pesquisadores e estudantes engajados na constituição
de sistemas agroalimentares não hegemônicos conquistassem uma parcela maior de poder
simbólico dentro de seu campo social
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Importância do poder simbólico para disputar territórios materiais e imateriais
Fica cada vez mais evidente os negativos impactos sociais e econômicos de processos
de produção agrícola calcados na RV e do sistema agroalimentar que se erige sobre este
modelo de produção (IPES-Food, 2016, 2017). Esse sistema agroalimentar tem como
característica central a desconexão espacial entre a produção de alimentos e o seu consumo,
conformando cadeias de suprimento de escala global, nas quais grandes corporações
representadas por fornecedores de insumos, agroindústrias, comerciantes, cadeias de varejo e
instituições financeiras estabelecem alianças estratégicas. Essas grandes corporações passam a
determinar padrões de produção, circulação e consumo de alimentos. O caráter rentista
atribuído a todo processo de produção alimentar, que absorve indivíduos e recursos materiais
envolvidos, constitui o que McMichael (2009a, 2009b) chama de “sistemas alimentares
corporativos”, van der Ploeg (2010) de “impérios alimentares” e Otero et al. (2013) de
“regime alimentar neoliberal”.
Movimentos camponeses ao redor do mundo, articulados dentro da Via Campesina, têm
manifestado o seu repúdio a esse sistema agroalimentar. Eles propõem o conceito da
soberania alimentar como alternativa e a agroecologia como caminho para alcançá-la (Coca,
2016; Desmarais, 2008; Holt-Giménez & Altieri, 2013; La Via Campesina, 2016; Patel, 2012;
Rosset, 2008; Rosset & Martínez-Torres, 2012). Crescentemente, a agroecologia vem se
constituindo como um campo acadêmico-social que incentiva processos que promovem a
produção de alimentos saudáveis, de forma ambientalmente adequada, por meio de ações
emancipatórias que promovem a autonomia da agricultura familiar e camponesa em relação
aos setores industriais. Assim, a agroecologia se estabelece a partir de uma postura crítica e de
enfrentamento ao sistema agroalimentar corporativo e ao modelo agrícola impetrado pela RV
(Altieri & Nicholls, 2020; Gliessman, 2020; Rosset & Altieri, 2017; Sevilla Guzmán & Soler
Montiel, 2010).
Dentro das universidades brasileiras, movimentos contestatórios ao modelo de
desenvolvimento rural disseminado pela RV começaram a surgir a partir dos anos de 1980 (da
Costa et al., 2017; Niederle et al., 2019). Grupos formados majoritariamente por estudantes,
com o apoio de poucos professores e pesquisadores, desde então, vêm tentando conquistar
espaços para pesquisar, debater e promover processos de construção do conhecimento que
buscam aliar os saberes acadêmicos aos populares. Esses grupos se caracterizam por
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incorporar outras dimensões ao debate da agricultura sustentável, agregando temas relevantes
para os movimentos sociais ligados à agricultura camponesa, como reforma agrária, educação
do campo, extensão rural, mercados locais, organização social, bem como propostas
alternativas técnicas ao modelo de produção vigente, como sistemas agroflorestais,
permacultura, adubação verde e policultivo, dentre outras.
Nas universidades brasileiras, historicamente, o tema da produção sustentável de
alimentos não se restringe somente à dimensão técnica da produção, mas incorpora uma forte
perspectiva sociopolítica. A presença de dois vetores contra-hegemônicos (ambiental e social)
direcionando as atividades desses grupos acadêmicos determinou que eles se estabelecessem
como pequenos espaços de resistência dentro da estrutura universitária, geralmente, com
pouquíssimo ou nenhum apoio institucional. Os participantes destes grupos eram
discriminados e rotulados de forma depreciativa pelos seus pares, possuindo uma baixa
capacidade de atrair estudantes.
Por outro lado, os grupos universitários que têm pesquisado temas de interesse do
grande capital ligado ao agronegócio, sempre foram agraciados com reconhecimento
institucional, tendo facilidade de acesso a recursos para equipamentos de pesquisa, bolsas de
estudo, viagens, participação em eventos, entre outras demandas.
Esse processo de deslegitimação dos grupos contra-hegemônicos dentro do espaço
universitário pode ser compreendido através da teoria de campos sociais. Para Bourdieu
(1988), o campo universitário é constituído enquanto um espaço hierarquizado e de disputas
em torno da legitimidade e da autoridade em relação ao conhecimento científico produzido
em seu interior. Tratamos especificamente do campo das Ciências Agrárias, no qual é notória
a predominância da agricultura convencional, tida como a grande agricultura por excelência,
com vultuosos recursos econômicos à disposição e geradora de tecnologias de ponta aplicadas
à grande propriedade fundiária e cuja produção se insere em cadeias globalizadas. O
estabelecimento da grande agricultura se dá em detrimento e em oposição à agroecologia e a
suas características aplicadas às pequenas propriedades familiares e camponesas, com escalas
locais de produção e circulação da produção. A agroecologia, neste sentido, historicamente se
insere apenas de forma marginal ao campo das Ciências Agrárias.
Segundo Bourdieu (2004), a universidade pode ser caracterizada por disputas materiais
e simbólicas entre diferentes grupos, tanto para se definir quais são as regras de conduta que
devem ser seguidas por exemplo, os conceitos e as metodologias de pesquisa que são aceitas
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para a produção dos conhecimentos que o campo oferece como disputas por recursos
financeiros que tornam possível o fortalecimento desses grupos. A hegemonia no campo
universitário significa conquistar legitimidade entre seus pares, no interior de áreas
específicas do conhecimento, constituindo referenciais teórico-metodológicos e alta
capacidade de captar recursos e ocupar espaços relevantes para manter e ampliar a autoridade
científica.
Um campo universitário, assim como outros campos sociais, se constitui e estabelece
regras e estratégias próprias aos agentes sociais que se situam em seu interior, regras
pertinentes a este campo social específico. No entanto, que se considerar um campo social
enquanto um espaço relativamente autônomo (Bourdieu, 1988, 2004). Isso porque os
diferentes campos sociais também se interferem mutuamente, de forma que as Ciências
Agrárias não estão totalmente desgarradas de problemas e discussões atuais que permeiam a
sociedade como um todo e que também ocorrem em outras áreas do conhecimento que lhe
fazem fronteira, como, por exemplo, as Ciências Sociais ou as Ciências Ambientais.
Segundo a teoria dos campos sociais, a comunidade universitária se assenta em um
sistema de classificação nem sempre explícito, que determina o que é digno ou indigno de
receber o interesse e investimentos dos demais agentes do campo. Esta classificação está
baseada na acumulação de diferentes capitais materiais e simbólicos (Duval, 2015). O poder
simbólico é baseado no capital simbólico que determinados indivíduos ou grupos possuem, ou
seja, o prestígio, a participação em sociedades científicas, bem como os demais símbolos de
distinção por ele gerados, que também podem se constituir como formas de dominação.
Considerar o capital simbólico implica no reconhecimento de que não é somente por meio de
recursos econômicos que se obtém aceitação para se fazer parte da elite de um campo social.
Assim, o capital simbólico é igualmente legitimador e atribui poder a um grupo que obtêm
determinado reconhecimento (Bourdieu, 2007).
Bourdieu (2007) argumenta que diferentes tipos de capitais são interrelacionados.
Embora a dimensão econômica não seja minimizada na teoria dos campos sociais, Bourdieu
(2007) acreditava que não bastava possuir capital econômico (bens, propriedade de terras,
recursos financeiros e monetários) para ser aceito, participar e se manter no poder. Mas, sim,
possuir concomitantemente capital cultural (saberes, escolarização, norma culta), capital
social (influência, rede de relações importantes para se atingir os objetivos) e capital
simbólico. Possuir algum tipo de capital favorece a aquisição dos demais, de forma que
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possuir capital econômico pode levar a um aumento do capital simbólico e vice-versa.
Portanto, as estratégias dos agentes em um campo social podem ser entendidas a partir das
interrelações entre os diferentes tipos de capitais e tendo-se em conta um recorte temporal,
que tem a ver também com as parcelas dos diferentes tipos de capitais que os grupos possuem
em diferentes momentos (Duval, 2015). Por isso é tão importante para a agroecologia disputar
o poder simbólico no campo das Ciências Agrárias, para sair da marginalidade que lhe é
atribuída e contribuir com novos padrões de desenvolvimento rural dentro e para além do
campo acadêmico propriamente.
A teoria de Bourdieu (1988, 2004) questiona a existência de uma neutralidade dentro
dos campos científicos, ao invés disso, pressupõe uma arena de disputas. Nesta arena, quem
consegue acumular maior poder simbólico e econômico legitima posições e representações
sociais, estabelece a classificação do que é adequado, do que pertence ou não a um código de
valores (Souza, 2013). A acumulação do poder simbólico segue procedimentos definidos
pelos próprios pares, isto é, quanto maior o poder simbólico conquistado dentro do campo,
maior o poder de definir as próprias regras do campo. Este tipo de poder pode ser definido
quantitativamente em número de citações, pelo sentido atribuído às suas ideias como uma
autoridade máxima em seu campo do conhecimento, mas também pela inserção em redes de
pesquisa estabelecidas e por ocupar posições relevantes nas sociedades científicas e assim
acumular prestígio.
Além disso, o campo universitário é marcado por hierarquias sociais e lutas internas e
externas entre os agentes que dele participam com o intuito de competirem pela aquisição e
manutenção destes diferentes tipos de capitais, pois são eles que proporcionam legitimidade e
autoridade em termos do conhecimento produzido. No topo dessa hierarquia, está o grupo
dominante, por ter um elevado acúmulo de capitais e uma identidade própria, cujos interesses
são impostos à coletividade (Souza, 2013).
No caso brasileiro, grupos de pesquisa que têm pesquisado temas de interesse
corporativo (por exemplo transgênicos, agrotóxicos, comercialização de commodities,
agricultura de precisão) são os detentores da maior parcela de poder simbólico, impondo o seu
código de valores. Grupos dedicados a temas que evidenciam os aspectos negativos do
sistema agroalimentar hegemônico (por exemplo, impactos ambientais, concentração de
terras, exploração do trabalho, efeitos de agrotóxicos na saúde) são desqualificados pelo
grupo dominante e ocupam posições marginais, assim contando com menos recursos à
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disposição. Essa situação gera um continuum de acumulação de poder e recursos, que,
historicamente, tem impedido o avanço da agroecologia dentro das universidades (Borsatto &
Carmo, 2013).
Os reflexos dessa situação não se restringem ao campo universitário, visto que os
egressos tendem a reproduzir os paradigmas adquiridos durante a vida universitária, criando
assim barreiras em outros campos sociais para o avanço da agroecologia.
A hipótese que guia nossa análise é que a política para a implantação de Núcleos de
Estudos em Agroecologia e Produção Orgânica, em instituições de ensino superior no Brasil,
permitiu uma redistribuição do poder simbólico nas instituições aonde eles foram
implantados, permitindo que grupos universitários que se dedicam à promoção da
agroecologia aumentassem sua parcela de poder simbólico, constituindo o que denominamos
“espaços agroecológicos”. Esses “espaços agroecológicos” permitiram que a agroecologia
conquistasse maior legitimidade dentro e fora do campo universitário, funcionando também
como importantes espaços de formação contra-hegemônica para professores, extensionistas e
agricultores, mas, principalmente, para estudantes, os quais reproduzirão pela sociedade os
paradigmas apreendidos nesses espaços.
Como afirmamos, o campo social possui uma autonomia relativa. Assim, a criação dos
NEAs também pode ser entendida enquanto fruto da pressão social e da aceitação de novos
paradigmas para o desenvolvimento da agricultura em um campo científico mais amplo, com
reflexões e aportes teórico-metodológicos de outras áreas, a partir da notável e crescente
preocupação em torno de questões ambientais e alimentares por parte de diferentes setores
sociais que vai da influência dos movimentos sociais às diferentes instituições e grupos de
consumidores.
Núcleos de Estudos em Agroecologia e Produção Orgânica NEAs
O movimento agroecológico brasileiro foi bem sucedido em fazer com que o Estado
institucionalizasse algumas de suas demandas (Petersen et al., 2013). A partir do começo dos
anos 2000, um conjunto de programas e políticas federais que apoiavam a adoção de práticas
agroecológicas foram implantados. Essas políticas possuíam diferentes formatos e estratégias,
como principais exemplos podemos citar: a) a Política Nacional de Assistência Técnica e
Extensão Rural, definindo que a extensão rural realizada com recursos federais fomentasse
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princípios agroecológicos entre agricultores familiares e camponeses (Diesel & Dias, 2016),
b) a utilização da compra pública de alimentos para criar mercados institucionais que
priorizavam e valorizavam alimentos orgânicos produzidos pela agricultura familiar (Borsatto
et al., 2020), c) crédito subsidiado para implantação de sistemas agroecológicos (Stoffel et al.,
2020) e d) a implantação de Núcleos de Agroecologia (NEAs) em instituições de ensino e
pesquisa pelo Brasil, objeto de estudo desta pesquisa. Em 2013, as diferentes ações de
promoção à agroecologia, que eram executadas por setores do governo federal, foram
articuladas em uma estratégia nacional dentro da Política Nacional de Agroecologia e
Produção Orgânica (PNAPO) (Candiotto, 2018; Niederle et al., 2019).
Em 2016, com a tomada do poder executivo federal por políticos defensores de uma
agenda fiscalista e alinhados com o agronegócio exportador, essas políticas foram
descontinuadas ou passaram a sofrer enormes cortes orçamentários (Sabourin et al., 2020).
Esse fato reforça questionamentos sobre até que ponto investir em processos de
institucionalização é a melhor estratégia para fomentar a agroecologia (Giraldo & McCune,
2019). Por outro lado, o estudo da política de implantação de NEAs nos ajuda a entender
melhor como o Estado pode ser um parceiro na promoção da agroecologia.
A política de incentivo à criação de NEAs surge como resultado de um intenso diálogo
da sociedade civil com o poder público, que envolveu o trabalho conjunto de diferentes
ministérios e grupos do movimento agroecológico (Cardoso et al., 2018). A implementação
dos NEAs nas instituições de ensino e pesquisa se deram por meio de editais lançados pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão do governo
federal dedicado ao fomento da pesquisa nacional. O CNPq ficava responsável pelo
lançamento dos editais, seleção dos projetos que seriam apoiados, repasse dos recursos aos
professores/pesquisadores responsáveis pelos projetos e análise da prestação de contas e
resultados dos projetos. Implementar a política por meio de uma agência de fomento à
pesquisa foi um importante fator que facilitou o envolvimento das instituições de ensino e
pesquisa na política, pois os pesquisadores e professores estavam familiarizados com os
processos burocráticos demandados pelo CNPq (Souza et al., 2017).
Os editais de apoio aos NEAs custeavam projetos de apoio à criação ou manutenção de
grupos que realizassem atividades de ensino, pesquisa e extensão em agroecologia. Esses
grupos, sediados em institutos de pesquisa ou instituições de ensino tinham que,
compulsoriamente, ter um perfil interdisciplinar, trabalhar em parceria com organizações
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locais de agricultores e extensionistas e envolver professores, pesquisadores e estudantes. A
maior parte dos recursos disponibilizados era para o pagamento de bolsas e custeio das
atividades dos grupos. Uma pequena parte dos recursos de cada projeto poderia ser utilizada
para aquisição de equipamentos, porém o CNPq não disponibilizava recursos para construção
ou reforma de prédios ou para custeio de despesas fixas (por exemplo água, eletricidade). Um
fator que diferencia os NEAs de outros grupos de pesquisa é a sua forma de atuação
transdisciplinar, com o envolvimento de diferentes agentes (agricultores, estudantes,
professores, pesquisadores, extensionistas), em atividades que unem ensino, pesquisa e
extensão simultaneamente.
Durante os oito anos (2010 a 2017) em que houve recursos para apoiar os NEAs, o
governo federal lançou oito chamadas que apoiaram 380 projetos, de aproximadamente 150
Núcleos, em todas as regiões brasileiras. Neste período, 61 mil pessoas participaram de 312
cursos e mais de 1.400 eventos realizados pelos NEAs (e.g., palestras, oficinas, seminários,
dias de campo, trocas de experiências entre agricultores). Um total de 437 professores, 449
estudantes de graduação, 787 bolsistas trabalharam diretamente nos NEAs. Esses grupos
publicaram 1.049 documentos (cartilhas para agricultores e extensionistas, fichas técnicas) e
aproximadamente 400 artigos em periódicos científicos. Diversos NEAs também lograram
institucionalizar disciplinas e cursos de graduação e de pós-graduação regulares sobre
agroecologia em suas organizações (Cardoso et al., 2018; Silva et al., 2017; Souza et al.,
2017).
A eficiência da política de apoio aos NEAs fica evidente quando comparado o valor
investido pelo governo federal com os resultados por eles apresentados. Entre 2010 e 2017, o
governo federal investiu um total de R$62,61 milhões para apoiar mais de 150 estruturas
dedicadas a atividades de ensino, pesquisa e extensão em agroecologia (Souza et al., 2017).
Apesar da predominância de NEAs ligados a cursos da área de Ciências Agrárias, era
constante o envolvimento de professores e estudantes de diferentes campos do conhecimento,
conferindo interdisciplinaridade aos grupos. O número especial publicado pela Revista
Brasileira de Agroecologia, dedicado à sistematização das experiências dos NEAs, evidencia
a diversidade de atividades desenvolvidas e de metodologias utilizadas nas atividades
realizadas.
Os NEAs tornaram-se referê ncias em seus territórios, viraram ponto de convergência
de ideias e pessoas envolvidas em debates de interesse da agricultura familiar e produção de
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alimentos saudáveis, como: soberania alimentar; segurança alimentar e nutricional;
intercâmbio de experiências agroecológicas; questões de gênero; circuitos curtos de
comercialização; acesso à terra e água; entre outros. Os NEAs articulavam-se com outras
políticas voltadas para a agricultura familiar, tendo um papel importante na formação de
extensionistas e agricultores, ampliando a circulação de informações e, consequentemente, o
acesso a outras políticas (Cardoso et al., 2018; Silva et al., 2017).
O apoio financeiro recebido pelos NEAs e as atividades realizadas garantiram aos
grupos que se dedicavam à construção do conhecimento agroecológico dentro de
universidades e instituições de pesquisa, uma visibilidade inédita. Esses grupos, que sempre
se caracterizaram como espaços de resistência e ocuparam posições marginais no campo das
Ciências Agrárias, conquistaram poder simbólico e, consequentemente, respeito junto aos
seus pares. Esse processo, permitiu que a comunidade acadêmica passasse a ver a
agroecologia, ao menos, como uma possibilidade.
Metodologia
A pesquisa avaliou em profundidade quatro NEAs implementados em universidades
localizadas no estado de São Paulo (Figura 1). As universidades que abrigaram os NEAs
foram: a) Universidade de Araraquara (UNIARA), localizada no município de Araraquara, b)
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), cujo campus principal fica no município
de Campinas, c) Universidade Federal de São Carlos, que abriga dois NEAs, um em seu
campus localizado em Sorocaba (UFSCar-So) e outro em seu campus localizado no município
de Buri (UFSCar-Lagoa do Sino).
São Paulo é um dos estados brasileiros no qual o poder do grande agronegócio
corporativo-exportador é evidente. A cruzar o estado no sentido leste-oeste, após sair da
região metropolitana da capital estadual, adentra-se no que alguns pesquisadores chamam de
mar de cana (Silva, 2008). O estado de São Paulo é o maior produtor de cana-de-açúcar do
país, com uma área plantada que supera os 5 milhões de hectares. Além da cana-de-açúcar,
outras monoculturas chamam a atenção, como os laranjais que respondem por quase 30% da
produção global de laranja, ou os monocultivos de pinus e eucalipto para produção de
celulose.
Os NEAs que foram estudados nesta pesquisa estão inseridos em diferentes contextos
no estado de São Paulo. Por exemplo, um deles está estabelecido em uma universidade
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particular (UNIARA), enquanto os outros em universidades públicas; dois estão baseados em
grandes centros urbanos em regiões com elevado grau de industrialização (UNICAMP e
UFSCar-So), enquanto um dos NEAs está localizado no centro da maior região canavieira do
estado (UNIARA) e outro está na região com o menor Indíce de Desenvolvimento Humano
(IDH) do estado (UFSCar-Lagoa do Sino).
Figura 1 - Localização Geográfica dos NEAs estudados.
Fonte: dados da pesquisa.
Os autores fazem parte da equipe de coordenação de ao menos um dos NEAs, desta
forma muitos dos dados apresentados são resultados de um processo de observação
participante realizada pelos autores, por um período que varia entre dois a oito anos, no qual
participaram ativamente das atividades desses núcleos. Ademais, todos os NEAs realizaram
processos internos de avaliação participativa do qual os autores participaram. Os resultados
destas avaliações assim como a descrição de todas as atividades realizadas por cada um dos
grupos fazem parte dos relatórios finais dos projetos. Esses relatórios também foram objetos
de análise para os resultados apresentados neste artigo.
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Utilizamos duas categorias analíticas para sistematizar e analisar as informações. A
primeira categoria tem uma perspectiva intraorganizacional, objetivando identificar e
descrever os processos que permitiram aos NEAs conquistar poder simbólico dentro de suas
instituições, possibilitando que suas atividades passassem a ser respeitadas pelos pares. A
segunda categoria concentra-se em sistematizar e analisar as atividades dos NEAs que
promoveram a territorialização da agroecologia em espaços externos às universidades, seja de
forma direta, por ter influenciado agricultores a intensificarem o uso de princípios
agroecológicos em seus sistemas produtivos; ou de forma indireta, pela formação de
estudantes e extensionistas, dentro de uma perspectiva transdisciplinar, habilitados para atuar
em diferentes campos sociais na promoção de sistemas agroalimentares mais sustentáveis.
Como os NEAs contribuem para o avanço da agroecologia
As atividades desenvolvidas pelos quatro NEAs seguiram um padrão similar. Todos
desenvolveram uma grande gama de ações dentro de uma abordagem trans e interdisciplinar,
envolvendo diversos agentes sociais (estudantes, professores, agricultores, extensionistas,
consumidores, ONGs, movimentos sociais, sindicatos, agentes públicos). As relações entre
estes agentes seguiram um padrão horizontal, isto é, romperam com as relações
hierarquizadas que, geralmente, dominam as relações pesquisa-extensão e professor-
estudante. Os processos decisórios dentro dos NEAs ocorriam de forma colegiada, através de
diálogo entre seus integrantes e parceiros. Assim, os NEAs atuavam como um conector de
diferentes ideias, projetos, atividades e pessoas relacionadas à agroecologia, de dentro e de
fora da universidade.
Os quatro NEAs optaram por desenvolver pesquisas participativas em parceria com
grupos de agricultores familiares descapitalizados da região circundante de seus campi, com
foco em agricultores assentados por processos de reforma agrária. A opção por trabalhar com
este perfil de agricultores alinhava-se aos pressupostos fundadores dos núcleos, mas
diferentes fatores contribuíram nesse processo. O primeiro refere-se ao engajamento social
dos docentes envolvidos nas equipes de coordenação dos NEAs, cuja compreensão do papel
da universidade é o de contribuir para a melhoria das condições sociais das suas regiões.
Segundo, nos casos estudados, os professores desenvolviam atividades de pesquisa e
extensão com esses grupos sociais. Terceiro, houve interesse e demanda desses grupos de
agricultores para transformarem seus sistemas de produção, muitos motivados pela falta de
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recursos para adquirirem insumos industriais, outros pela crescente percepção dos malefícios
do sistema de produção agrícola convencional (principalmente relacionados à saúde e fatores
econômicos).
As análises dos relatórios de atividades dos NEAs apontam para a surpreendente
quantidade de atividades desenvolvidas pelos grupos. Como consequência do perfil
transdisciplinar, da capacidade de atrair pessoas e do envolvimento com as comunidades
rurais, os NEAs desenvolveram simultaneamente ações interdependentes em diferentes
frentes, por exemplo, organizaram eventos, realizaram atividades de educação ambiental e
alimentar, organizaram grupos de consumo, ofereceram cursos, publicaram textos, realizaram
pesquisas, organizaram feiras de agricultores, implementaram áreas demonstrativas de
produção agroecológica, propiciaram ferramentas para a conquista da certificação orgânica
participativa, realizaram atividades de educação ambiental e alimentar com crianças e jovens
em idade escolar.
O conjunto de atividades realizadas por cada um dos NEAs permitiu que fossem
construídos o que estamos chamando de “espaços agroecológicos” dentro de cada
universidade. São estes espaços que permitem a agroecologia conquistar maior legitimidade
dentro e fora do campo universitário.
Sistematizamos estas atividades em dois grandes grupos. No primeiro grupo,
apresentamos as que contribuíram majoritariamente para o aumento do poder simbólico dos
NEAs dentro de suas universidades, consequentemente, aumentando o respeito à agroecologia
dentro do campo científico. No segundo grupo, agrupamos as atividades que têm ajudado em
processos de territorialização da agroecologia, que consideramos um processo social no qual
um número crescente de agricultores familiares e camponeses adotam práticas agroecológicas
em um número crescente de unidades de produção em um dado recorte territorial (Ferguson &
Maya, et al., 2019). O quadro 1 sumariza tal sistematização.
Intraorganizacional - Conquistando respeito
Conquistar respeito dentro do campo acadêmico está longe de ser uma tarefa simples.
Envolve não somente a quantidade e a qualidade das atividades desenvolvidas, mas também o
que é considerado digno ou indigno de receber atenção e recursos no campo universitário
(Bourdieu, 1988). Nossa pesquisa evidencia que os NEAs conseguiram fazer com que temas e
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ações relacionadas à agroecologia conquistassem maior nível de reconhecimento e dignidade
dentro do espaço universitário. Claro que este reconhecimento ainda está distante daquele
atribuído às ciências já estabelecidas.
Nossa pesquisa identificou seis fatores, presentes nos NEAs estudados, que
promoveram maior reconhecimento das atividades e pessoas relacionadas à agroecologia,
dentro do campo universitário: (a) processos de institucionalização, (b) volume de
publicações, (c) organização de eventos, (d) recursos financeiros, (e) impacto social das
atividades e (f) congregar diferentes subcampos universitários.
Quadro 1 Sistematização das atividades realizadas pelos NEAs.
Categoria
Fatores
Exemplos
Intraorganizacional
Institucionalização
Estruturas físicas e áreas demonstrativas
Estruturas curriculares
Feiras de agricultores
Publicações
Científicas
Técnicas
Didáticas
Divulgação
Organização de
Eventos
Científicos
Técnicos
Didáticos
Recursos
Financeiros
Bolsistas
Atividades de pesquisa/ensino/extensão
Participação de Eventos
Atividades de campo
Impacto social
Atividades com agricultores descapitalizados
Geração de renda/ feiras/ formação
Congregar
diferentes grupos
universitários
Interdisciplinaridade
Abertura epistemológica
Universidade como promotora de transformação
social
Abordagem holística
Territorialização de
Agroecologia
Pesquisa
participativa
Implantação de áreas demonstrativas de produção
agroecológica
Suporte a processos de certificação participativa
Suporte a processos de consolidação de circuitos
curtos
Construção de conhecimento em parceria com
agricultores
Cursos para
multiplicadores
Formação de extensionistas
Formação de lideranças de agricultores e movimentos
sociais
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Ações educativas
Dentro das universidades (cursos, aulas, oficinas etc.)
Metodologia camponês-a-camponês
Atividades com crianças e jovens
Fora das universidades (cursos, aulas, oficinas,
assessorias, encontros, caravanas agroecológicas,
etc.)
Fonte: dados da pesquisa
(a) Processos de institucionalização - Os NEAs lograram em avançar no processo de
institucionalização de suas estruturas e atividades dentro das universidades. Os recursos
disponibilizados aos NEAs para contratar uma equipe de bolsistas e para realizar as atividades
previstas nos respectivos projetos conferiram, aos seus coordenadores, poder para demandar
dos gestores universitários estruturas físicas (em geral salas com mobiliário) para uso
exclusivo dos grupos. Três dos grupos estudados (UFSCar-So, UFSCar-LS e UNIARA),
também, conquistaram lotes de terra para implementarem áreas demonstrativas de produção
agroecológica dentro de seus campi.
A institucionalização ocorreu por diferentes caminhos, simultaneamente. Nos casos
estudados, o processo de institucionalização também ocorreu nas estruturas curriculares. Os
NEAs conseguiram que a agroecologia e temas relacionados fossem incluídos em disciplinas
de graduação e pós-graduação de diferentes cursos dentro de suas instituições. A criação de
páginas na internet e redes sociais também impulsionou, dentro da comunidade universitária,
a visibilidade das ações que os NEAs desenvolviam.
Outro fator que identificamos como importante no processo de institucionalização da
agroecologia foi a criação das feiras de agricultores dentro dos espaços universitários. Todos
os NEAs estabeleceram feiras, nas quais agricultores comercializam seus produtos
diretamente para consumidores, permitindo que a comunidade acadêmica compreenda melhor
as atividades desenvolvidas pelos NEAs. Para além das atividades dos NEAS, as feiras
lograram estabelecer um público fixo de consumidores. Estas atividades foram mantidas
mesmo após terem sido restringidos os recursos dispensados aos NEAS.
Se por um lado, houve avanço em relação à institucionalização dos NEAs dentro das
universidades, por outro, nossa pesquisa evidencia que esse processo foi parcial. Dos quatro
NEAs pesquisados, apenas um deles, o NEA da Unicamp
ii
, teve um processo de
institucionalização que lhe garante um apoio contínuo às suas atividades, por exemplo, acesso
a recursos das próprias universidades para custear parte de suas atividades.
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(b) Volume de publicações - A publicação de artigos é reconhecida como parte crucial
da atividade acadêmica e como um importante fator de reconhecimento no campo
universitário. A quantidade de documentos publicados pelos NEAs é surpreendente,
superando uma centena de documentos. Os quatro NEAs publicaram documentos destinados a
diferentes públicos e utilizando diferentes formatos, tais como: artigos em importantes
revistas acadêmicas nacionais e internacionais, uma grande quantidade de resumos em anais
de congressos acadêmicos e capítulos de livros. Também identificamos grande quantidade de
publicações com perfil técnico-empírico, em geral em forma de livretos, cartilhas, circulares
técnicas ou textos mais didáticos, destinadas a agricultores, extensionistas e estudantes. A
publicação de materiais de divulgação, destinados a consumidores e crianças, que explicavam
os benefícios da agroecologia para uma alimentação saudável e preservação ambiental,
também fizeram parte das atividades dos NEAS, assim como, a publicação de informativos
descrevendo suas atividades.
(c) Organização de eventos - Assim como no caso das publicações, a quantidade de
eventos organizados pelos NEAs também se destaca. Os relatórios de atividades dos NEAs
descrevem que foram realizados mais de uma centena de palestras, aulas abertas, encontros
técnicos, cursos, colóquios, e outros eventos com o objetivo de debater temas relacionados ao
paradigma agroecológico. Além de formatos variados, esses eventos eram direcionados a
diferentes grupos (consumidores, estudantes, pesquisadores, agricultores, extensionistas). Os
NEAs encontraram soluções criativas para fomentar o debate sobre agroecologia dentro do
ambiente universitário, por exemplo, aulas abertas, onde docentes vinculados aos NEAs
convidavam toda a comunidade acadêmica e não acadêmica para participar de uma aula de
graduação ou pós-graduação sob a sua responsabilidade, ou solicitavam espaços na
programação de eventos organizados por outros grupos, onde debatiam temas relacionados à
agroecologia.
(d) Recursos financeiros - Um fator relevante é ter recursos financeiros para sustentar
uma equipe de bolsistas, fomentar a participação em eventos científicos e realizar atividades
de pesquisa e extensão. Acesso a recursos financeiros é certamente um fator material que
ocasiona aumento do capital simbólico dentro do campo universitário. A política de
implantação de NEAs disponibilizou esses recursos por meio da principal instituição de
fomento à pesquisa do país. Ter um projeto contemplado com recursos de uma organização de
fomento à pesquisa do porte do CNPq é um fato valorizado pela comunidade acadêmica.
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Ademais, a possibilidade de acesso a recursos para desenvolver diversas atividades, permitiu
uma dinâmica catalisadora, atraindo para os NEAs estudantes, professores e pesquisadores
que tinham alguma afinidade com temas relacionados à agroecologia. Antes da política de
apoio aos NEAs, os professores disputavam recursos em editais caracterizados pela
dissociação entre atividades de extensão e de pesquisa, sobrevalorizando esta última
(mensurada principalmente pela publicação de artigos científicos). Quando tinham seus
projetos aprovados, os recursos deveriam ser utilizados exclusivamente para a realização de
atividades de pesquisa, limitando muito a capacidade de ação dos grupos dentro de uma
perspectiva transdisciplinar.
(e) Impacto social das atividades - Outro fator que atraiu reconhecimento universitário,
especialmente das equipes de gestão das universidades públicas, foi a percepção que os NEAs
eram um eficiente instrumento para as universidades cumprirem seus papeis sociais. As
atividades desenvolvidas pelos grupos impactavam, de forma positiva, diretamente nas
comunidades rurais aonde eles atuavam. A utilização de metodologias ligadas à pesquisa
participativa permitiu o desenvolvimento de novas tecnologias em parceria com as
comunidades de agricultores, os quais se beneficiavam deste processo. Ainda nesse sentido,
muitas das publicações e eventos organizados eram direcionados diretamente para
agricultores familiares, contribuindo para que adotassem novas tecnologias de base ecológica
que melhoravam os seus sistemas de produção.
(f) Congregar diferentes campos universitários Os códigos de valores das equipes dos
quatro NEAs eram similares, todas as equipes acreditavam que a universidade deve agir para
a transformação social, possuíam perfil interdisciplinar e abertura epistemológica, utilizavam
abordagens holísticas e sistêmicas, tinham comprometimento com a agenda ambiental e com
questões sociais. Esse código de valores atraiu uma ampla gama de estudantes, professores e
pesquisadores que pertenciam a diferentes departamentos, cursos, faculdades, que se
acoplaram aos NEAs. Por exemplo, os grupos estabeleceram parcerias com pessoas da área da
saúde, ciências humanas, engenharias, biológicas, extrapolando o campo das ciências agrárias.
Essas parcerias interdisciplinares fortaleceram os NEAs e auxiliaram na percepção, pelos
pares, da relevância da agroecologia enquanto campo científico capaz de agregar distintas
áreas do conhecimento.
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Além dos muros universitários - Territorialização da Agroecologia
Os impactos das atividades desenvolvidas pelos NEAs não se restringem somente ao
campo universitário, mas também no processo de territorialização da agroecologia para além
dos muros universitários. Nossa avaliação indica que a principal contribuição dos NEAs para
processos de territorialização da agroecologia foi de forma indireta, formando pessoas que
compreendessem os paradigmas e princípios agroecológicos. Nos casos estudados, centenas
de pessoas participaram das atividades promovidas pelos NEAs, e essas pessoas ocupam ou
ocuparão posições na sociedade a partir das quais contribuirão para territorializar sistemas
agroalimentares assentados em princípios agroecológicos. Não temos a ilusão de que todos
que participaram dessas atividades educativas se transformaram em militantes dos paradigmas
e princípios agroecológicos, mas, ao menos, tornaram-se conscientes dos problemas sociais e
ambientais e perceberam que existe uma possibilidade de transformação do sistema
agroalimentar atual.
Nossa pesquisa identificou três fatores que contribuíram nesse processo de formação de
pessoas dentro dos paradigmas promovidos pela agroecologia: (g) pesquisa participativa, (h)
cursos para agentes multiplicadores, e (i) ações educativas.
(g) Pesquisa participativa - As pesquisas participativas foram o eixo central dos
processos de formação de agricultores e estudantes envolvidos com os NEAs. A utilização da
pesquisa participativa como princípio metodológico foi uma consequência do interesse em
avançar em processos transdisciplinares que trabalhassem de forma indissociada atividades de
ensino, pesquisa e extensão. Todos os NEAs desenvolveram atividades de pesquisa
participativa que envolveram estudantes e agricultores e foram facilitadas pelos docentes,
convencidos de que a construção de conhecimentos em agroecologia não pode menosprezar
as realidades, saberes e práticas existentes, ou seja, onde existe tal predisposição por
parte dos agricultores. Essa premissa está na base das ações dos quatro NEAs analisados neste
artigo e baseia-se na perspectiva freiriana de extensão (Freire, 1983), que entende a realidade
histórica e social dos grupos e promove metodologias que lhes permitem ser protagonistas da
direção das ações do projeto e na construção do conhecimento.
Atividades de implantação e monitoramento de sistemas agroflorestais e de produção de
ovos dentro de princípios agroecológicos em áreas de agricultores, de apoio ao processo de
certificação participativa de grupos de agricultores, ou de suporte à comercialização da
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produção em feiras e mercados institucionais (por exemplo PAA, PNAE, PPAIS) são
exemplos de atividades cuja construção participativa foi realizada, e beneficiavam
simultaneamente estudantes e agricultores. Abordagens trans e interdisciplinares
caracterizavam essas atividades de pesquisa participativa, relacionando questões técnicas com
outras dimensões (por exemplo social, econômica, cultural, gênero).
Para os estudantes a oportunidade de participar de atividades práticas de campo,
vivenciando e compreendendo de forma interdisciplinar os problemas enfrentados pelos
agricultores, tendo que buscar soluções cnicas em diferentes campos de conhecimento para
problemas reais, foi uma experiência enriquecedora. Ademais, os estudantes eram
incentivados a analisar e a refletir sobre esse processo junto com os agricultores, o que
permitiu a troca de conhecimento entre os envolvidos. A participação ativa de professores,
agricultores e estudantes nas atividades gerou publicações de trabalhos acadêmicos, artigos
científicos e textos técnicos (apostilas, cartilhas, etc.) para uso de agricultores e
extensionistas. Os principais benefícios para os agricultores estão relacionados à valorização
do seu conhecimento e à participação em todo o processo, tendo sido atores sociais
corresponsáveis pelo desenvolvimento de tecnologias e soluções viáveis aos seus problemas.
Os agricultores tiveram também a oportunidade de entrar em contato com tecnologias que
antes eram por eles desconhecidas e a possibilidade de assessoria no processo de implantação
de inovações em seus sistemas de produção e comercialização (Bezerra et al., 2019). Muitos
dos agricultores conheceram pela primeira vez uma universidade durante este processo e se
sentiram valorizados por adotarem princípios agroecológicos. Outro fator relevante foi o
ingresso de agricultores e seus familiares em programas de pós-graduação, desenvolvendo
pesquisas de mestrado e doutorado e contribuindo para formar pessoas altamente qualificadas,
que contribuirão para o desenvolvimento rural sustentável de suas e/ou de outras comunidades
rurais. As atividades de pesquisa participativa fomentaram processos contínuos de troca de
conhecimentos que romperam com paradigmas e promoviam a abertura epistemológica,
permitindo interpretações mais complexas e sistêmicas da realidade (Borsatto & Carmo,
2012; Méndez et al., 2017).
(h) Cursos para agentes multiplicadores no projeto submetido para pleitear os recursos
para o CNPq, os NEAs tinham que assumir o compromisso de realizar cursos voltados para
extensionistas e outros agentes multiplicadores (lideranças de movimentos sociais ou de
grupos de agricultores). Cerca de 150 extensionistas e outros agentes multiplicadores
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participaram desses cursos oferecidos pelos NEAs pesquisados. Os cursos mesclavam aulas
teóricas e práticas, incluindo também visitas a sistemas de produção agroecológicos. Os
cursos ajudaram a formar redes e um contingente de pessoas que estão propagando sistemas
agroalimentares mais sustentáveis pelo estado de São Paulo.
(i) Ações educativas - Nossa pesquisa identificou um número próximo a uma centena de
atividades educativas realizadas pelos NEAs. Essas atividades tinham diferentes formatos e
diferentes públicos. Dentro das universidades, os NEAs organizaram oficinas, aulas, palestras,
seminários, mutirões, visitas a áreas demonstrativas, rodas de conversa entre outras
atividades, atraindo estudantes, agricultores, consumidores, professores, pesquisadores e
outros interessados.
Eventos e atividades fora do ambiente universitário também foram organizados pelos
NEAs. Os NEAs apoiaram a troca de experiências entre agricultores, provendo visitas de
intercâmbios entre agricultores inspiradas no modelo camponês-a-camponês (Rosset et al.,
2011). Muitos agricultores apoiados diretamente pelos NEAs se tornaram referências
agroecológicas para outros agricultores, demonstrando a viabilidade da adoção de princípios
agroecológicos (Nicholls & Altieri, 2018). Um dos NEAs ajudou a implantar hortas em
escolas, enquanto outro organizava visita de crianças a áreas demonstrativas de produção
agroecológica de alimentos, inspirados em experiências de alfabetização agroecológica
(Ferguson, Morales, et al., 2019). Os quatro NEAs organizaram palestras e cursos para
consumidores sobre alimentação saudável, sobre os malefícios dos agrotóxicos e a
importância da agricultura familiar, assim como participaram ativamente da organização de
muitos eventos promovidos por movimentos sociais, ONGs parceiras dos projetos e órgãos
governamentais.
Conclusões
O apoio do Estado para a implementação dos NEAs possibilitou a constituição de
“espaços agroecológicos” que lograram a formação de capital simbólico e, consequentemente,
poder simbólico tanto dentro quanto fora das universidades.
O aumento do poder simbólico da agroecologia no campo das Ciências Agrárias vem
sendo impulsionado por diferentes dinâmicas que às vezes escapam à lógica do próprio
campo, o que reforça a ideia de autonomia relativa dos campos sociais de Bourdieu.
Poderíamos afirmar que desde as décadas de 1960 e 70 existem estudos, não necessariamente
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deste campo, que denunciam e comprovam cientificamente os problemas ambientais
ocasionados pela agricultura convencional (contaminação de solos e água, perda de solo por
erosão, redução da biodiversidade e de áreas naturais, etc.), bem como os problemas sociais
(concentração fundiária, pobreza e êxodo rural, trabalho precário nas monoculturas etc.).
Durante as décadas seguintes, o desencadeamento de movimentos sociais contestatórios
dos modelos agrícolas convencionais, muitas vezes discriminados e estereotipados pelas
grandes mídias e por governos, passaram a ser vistos de novas maneiras pela sociedade civil
na medida em que passaram a defender e a praticar a agricultura sustentável e a produção de
alimentos saudáveis, alterando, em partes, a percepção que as pessoas têm sobre eles. São
esses mesmos movimentos que pressionam governos por espaço em suas agendas políticas,
sendo que os NEAs analisados no presente artigo são parte do resultado deste processo.
As análises realizadas nesta pesquisa indicam que o Estado pode ser um elemento
importante em processos de territorialização da agroecologia. No caso da política de apoio aos
NEAS, sem o apoio do Estado os resultados alcançados não teriam sido possíveis. Devido aos
recursos investidos por esta política, foi possível que grupos universitários ligados ao tema da
agroecologia conquistassem maior legitimidade dentro do campo universitário. Assim,
deixaram de ser percebidos como meros espaços de resistência em suas organizações,
angariando respeito dentro do campo acadêmico.
Os recursos aportados pela política de NEAs foram fundamentais para a construção de
estruturas institucionais, que chamamos de “espaços agroecológicos”, que disputam
simbolicamente os paradigmas dominantes nas instituições de ensino, apoiando a constituição
de territórios imateriais agroecológicos. Assim, os NEAs contribuem para que no campo das
ideias seja possível projetar sistemas agroalimentares fundamentados em princípios
agroecológicos.
Não há dúvidas que o principal sujeito em processos de territorialização da agroecologia
são os camponeses. Os NEAs, apesar de serem resultados de uma política direcionada para o
público acadêmico, reforçaram processos sociais pré-existentes e abriram possibilidades para
novos, sem aplacar o dinamismo de ações coletivas mais autônomas em relação ao Estado. Os
NEAs estudados nesta pesquisa se alinham com outras experiências de sucesso de processos
educativos em agroecologia (Anderson et al., 2019; López-García et al., 2019; McCune &
Sánchez, 2019), apontando para a profícua relação com movimentos sociais e grupos de
agricultores agroecológicos.
Borsatto, R. S., Souza-Esquerdo, V. F., Duval, H. C., Franco, F. S., & Grigoletto, F. (2022). Núcleos de Estudo em Agroecologia (NEAs): conquistando
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O cenário político brasileiro modificou-se drasticamente a partir de 2016,
especialmente. As políticas de apoio à agricultura familiar e camponesa baseadas em uma
perspectiva de emancipação do sistema agroalimentar corporativo foram desmanteladas ou
sofreram enormes cortes orçamentários, entre elas os NEAs. Esse fato reforça as dúvidas
sobre a efetividade do papel do Estado em promover sistemas agroalimentares não
hegemônicos.
Porém, nossa pesquisa indica que, mesmo com dificuldades financeiras, os NEAs
continuam com suas atividades, pois uma das conquistas mais importantes do ciclo de editais
para a sua formação foi a possibilidade de aprofundamento das parcerias com movimentos
sociais, organizações formais e informais da agricultura familiar e da sociedade civil. Os
NEAs formaram novas redes de agentes militando pela agroecologia e reforçaram as antigas.
Essas redes continuam a existir, mantendo suas dinâmicas.
Por fim, os casos estudados indicam que os NEAs dispersaram sementes agroecológicas
por todo o país e se constituem enquanto grupos e estruturas permanentes, que transpassam os
períodos de vigência de projetos financiados e se materializam por meio de disciplinas e
linhas de pesquisa em universidades e em programas de pós-graduação. A análise dos NEAs
proposta neste artigo com base na teoria dos campos sociais levanta uma reflexão importante
para a própria reprodução do campo científico das Ciências Agrárias, a de que urge a
necessidade de incorporação da agroecologia nos currículos desta área, com vistas a formar
profissionais e uma maior produção de conhecimentos científicos comprometidos com
processos de sustentabilidade ambiental e social. Milhares de pessoas participaram de espaços
promovidos pelos NEAs e hoje estão dentro e fora das instituições acadêmicas fazendo
florescer o pensamento agroecológico na teoria e na prática.
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i
Este artigo foi publicado originalmente em língua inglesa sob o título “Winning hearts and minds through a
policy promoting the agroecological paradigm in universities”, no volume 39, da revista Agriculture and
Human Values.
ii
O NEA da Unicamp está passando por um processo de instituicionalização por meio da criação de um
Programa de Extensão (Programa TERRA), que conta com recursos da Pró-reitoria de Extensão e Cultura da
universidade.
Informações do Artigo / Article Information
Recebido em: 21/08/2022
Aprovado em: 10/11/2022
Publicado em: 19/12/2022
Received on August 21th, 2022
Accepted on November 10th, 2022
Published on December, 19th, 2022
Contribuições no Artigo: Os(as) autores(as) foram os(as) responsáveis por todas as etapas e resultados da pesquisa, a
saber: elaboração, análise e interpretação dos dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito e; aprovação da versão
final publicada.
Author Contributions: The author were responsible for the designing, delineating, analyzing and interpreting the data,
production of the manuscript, critical revision of the content and approval of the final version published.
Borsatto, R. S., Souza-Esquerdo, V. F., Duval, H. C., Franco, F. S., & Grigoletto, F. (2022). Núcleos de Estudo em Agroecologia (NEAs): conquistando
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Conflitos de Interesse: Os(as) autores(as) declararam não haver nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Avaliação do artigo
Artigo avaliado por pares.
Article Peer Review
Double review.
Agência de Fomento
Os NEAS analisados neste artigo receberam financiamento do CNPq nos processos #564229/2010-5, #487555/2013-9,
#472894/2014-15, #472509/2014-4, #472738/2014-3. Ricardo S Borsatto recebeu apoio da FAPESP, processo #2017/04577-
1.
Funding
The NEAs analyzed in this paper received funds by the Grants #564229/2010-5, #487555/2013-9, #472894/2014-15,
#472509/2014-4, #472738/2014-3 National Council for Scientific and Technological Development (CNPq)Brazil. Ricardo S
Borsatto was supported in this research by the Grant #2017/04577-1, São Paulo Research Foundation (FAPESP).
Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Borsatto, R. S., Souza-Esquerdo, V. F., Duval, H. C., Franco, F. S., & Grigoletto, F. (2022). Núcleos de Estudo em
Agroecologia (NEAs): conquistando corações e mentes para a agroecologia. Rev. Bras. Educ. Camp., 7, e14754.
http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e14754
ABNT
BORSATTO, R. S.; SOUZA-ESQUERDO, V. F.; DUVAL, H. C;, FRANCO, F. S.; GRIGOLETTO, F. Núcleos de Estudo em
Agroecologia (NEAs): conquistando corações e mentes para a agroecologia. Rev. Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 7,
e14754, 2022. http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e14754