RBEC
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2023
ISSN: 2525-4863
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Revista Brasileira de Educação do Campo
Brazilian Journal of Rural Education
ARTIGO/ARTICLE/ARTÍCULO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e14911
Educação do Campo na (Pós)Pandemia: pessoas,
experiências coletivas e resiliência
Francisca Silva e Silva1, Luana Priscila Wunsch2,
1, 2 Centro Universitário Internacional - UNINTER. Programa de Pós-Graduação em Educação e Novas Tecnologias (PPGENT).
Campus Garcez. Rua Luiz Xavier, 103, Centro. Curitiba - PR. Brasil.
Autor para correspondência/Author for correspondence: francisca_s9silva@hotmail.com
RESUMO. O presente estudo, de cunho qualitativo, tem por
objetivo identificar práticas de real impacto socioeducacional
durante a pandemia COVID 19 no cenário rural brasileiro. Para
tal foi percorrido um trajeto metodológico em duas etapas. Na
primeira, de revisão de literatura, foram selecionados trabalhos
que relacionam a temática nos repositórios de teses e
dissertações da Biblioteca Digital Brasileira, emergindo as
provindas de universidades brasileiras, indicando a necessidade
de conhecer práticas empíricas sobre este tema, levando aos
exemplos realizados pelo Movimento dos Sem Terra. Logo, na
segunda etapa, de observação de relatos on line, a partir da
análise de 15 vídeos disponíveis na Internet sobre o impacto da
pandemia na realidade do campo em cenários rurais no Brasil
com relatos de experiências práticas de ações de impacto
durante a pandemia nas diferentes regiões brasileiras. O corpus
foi estruturado por meio de análise lexicográfica, utilizando o
software Iramuteq. Os resultados apresentam três eixos que
discutem experiências, coletividades e as pessoas envolvidas nos
processos da Educação do Campo, destacando a necessidade de
um largo caminho a ser trilhado na área acerca da resistência e
resiliência para a consolidação de um espaço significativo e de
impactos qualitativos para os mundos rurais.
Palavras-chave: movimento dos sem terra, educação do campo
e pandemia, observação on line de relatos de experiências.
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Rural Education in the (Post)Pandemic: people, collective
experiences and resilience
ABSTRACT. This qualitative study aims to identify practices
with a real socio-educational impact during the COVID 19
pandemic in the Brazilian rural setting. To this end, a
methodological path was followed in two stages. In the first, a
literature review, works were selected that related the theme in
the repositories of theses and dissertations of the Brazilian
Digital Library, emerging from Brazilian universities, indicating
the need to know empirical practices on this theme, leading to
the examples carried out by the Movement of the Landless.
Then, in the second stage, the observation of online reports,
based on the analysis of 15 videos available on the Internet
about the impact of the pandemic on the reality of the
countryside in rural settings in Brazil, with reports of
experiences of impact actions during the pandemic in the
different Brazilian regions. The corpus was protected through
lexicographical analysis, using the Iramuteq software. The
results present three axes that discuss experiences, collectivities
and the people involved in the processes of Rural Education,
highlighting the need for a long path to be taken in the area
regarding resistance and resilience for the consolidation of a
significant space and qualitative impacts for rural worlds.
Keywords: landless movement, rural education and the
pandemic, online observation of experience reports.
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Educación en el Campo en la (Pos)Pandemia: personas,
experiencias colectivas y resiliencia
RESUMEN. Este estudio cualitativo tiene como objetivo
identificar prácticas con un impacto socioeducativo real durante
la pandemia de COVID 19 en el medio rural brasileño. Para ello,
se siguió un camino metodológico en dos etapas. En el primero,
una revisión de la literatura, fueron seleccionados trabajos que
relacionaron el tema en los repositorios de tesis y disertaciones
de la Biblioteca Digital Brasileña, emergentes de universidades
brasileñas, indicando la necesidad de conocer prácticas
empíricas sobre este tema, conduciendo a los ejemplos
realizados por el Movimiento de los Sin Tierra. Luego, en la
segunda etapa, la observación de relatos en línea, a partir del
análisis de 15 videos disponibles en Internet sobre el impacto de
la pandemia en la realidad del campo en espacios rurales de
Brasil, con relatos de experiencias de acciones de impacto
durante la pandemia en las diferentes regiones brasileñas. El
corpus se protegió mediante análisis lexicográfico, utilizando el
software Iramuteq. Los resultados presentan tres ejes que
discuten las experiencias, las colectividades y las personas
involucradas en los procesos de Educación Rural, destacando la
necesidad de un largo camino a recorrer en el territorio en
materia de resistencia y resiliencia para la consolidación de un
espacio significativo e impactos cualitativos para la ruralidad
mundos.
Palabras clave: movimiento sin tierra, la educación rural y la
pandemia, observación en línea de experiencias.
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Introdução
Para começar uma reflexão sobre a Educação do Campo no Brasil, é preciso,
primeiramente lembrar as afirmações da Unesco (2020) quando destacam que: (i) a
escolarização das áreas rurais e remotas foi por muito tempo negligenciada no Brasil, um fato
significativo é que um terço da população adulta residente na zona rural, em 2017, era
analfabeta funcional, com menos de quatro anos de escolaridade formal; (ii) nas últimas duas
décadas a discussão sobre a inclusão das populações rurais floresceu no Brasil, notadamente
liderada pelos movimentos sociais do campo; (iii) o Brasil se engajou nos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS), reforçando o compromisso de incluir os rurais e
remotos na escola e oferecer oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para adultos
que ali vivem.
Sob esta perspectiva, o presente estudo tem como objetivo verificar, e analisar, como os
indicadores “i” e “ii” foram considerados nas pesquisas científicas nacionais, considerando
uma compreensão dos resultados da aprendizagem e suas relações com insumos e processos
no nível de indivíduos e instituições.
A Educação do Campo torna-se um paradigma no qual os protagonistas são os
trabalhadores do campo, povos ribeirinhos, povos das águas e povos indígenas. Segundo
Molina e Jesus (2004), pautado pela elaboração de políticas públicas específicas para as
populações do campo, bem como se inaugura na comunidade acadêmica um campo fértil para
a produção e disseminação de conhecimentos científicos sobre a Educação do Campo em
cenário nacional.
Para dar conta disso, tem-se como foco a dimensão dos participantes na educação e suas
estruturas. Afinal, a Educação do Campo, no cenário brasileiro, emergiu enquanto política
educacional, a partir de meados da década de 1990, em meio às lutas dos movimentos socais
do campo e comunidade acadêmica, que visavam o acesso à educação de qualidade enquanto
direito fundamental social por meio da formulação de políticas públicas que garantissem uma
Educação do Campo, cujo projeto político e pedagógico preservasse a cultura e a identidade
das populações do campo.
Sua gênese é um contrapor a precarização da educação em meio rural ofertada pelo
Estado, sem dúvida. Nesse cenário teve-se, em 1998 a I Conferência Nacional ‘Por uma
Educação Básica do Campo’, e sua continuidade em 2004, sendo eventos marcantes na luta
dos povos e dos seus movimentos sociais em prol de respeito aos conhecimentos e as culturas
para uma emancipação dos povos do campo (Arroyo & Caldart, 2009).
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Para Caldart (2012), pensar sobre o cenário rural e educacional não se limita a oferta de
escola no campo, considerando que é necessário ser pautada nesta reflexão bases por políticas
públicas que efetivem um projeto de desenvolvimento do campo, que garanta o acesso ao
científico, historicamente produzido e sistematizado por meio de uma educação de qualidade.
Nesse cenário, o direito a esta educação foi pautado nas primeiras duas décadas do
século XXI por debates no Brasil como:
- Um conceito de educação como processo amplo, presente no trabalho, no movimento
popular, colocando uma reflexão para além da escolarização e confrontando-se com desafios e
respostas em variados aspectos das pessoas e da sociedade (Abicail, 2002).
- Aprofundamentos de análises a respeito dos conceitos de espaço e território para
compreender a Educação (Molina, 2006);
- Os princípios histórico-filosóficos e sua visão de mundo por meio das condições do
meio rural e, a partir desse pressuposto, como instrumento capaz de libertação social (Bezerra
Neto, 2012);
- Desafios à manutenção dos princípios originais do Movimento da Educação do
Campo, em especial no que condiz à formação dos educadores (Molina, 2015);
- As lutas dos movimentos sociais no atual cenário de retrocesso democrático no Brasil
(Hage & Correa, 2019);
Logo, torna-se necessário verificar o panorama posto entre os anos 2020 e 2022, em
tempos de crise humanitária COVID-19, como são as interfaces de uma formação cidadã que
propicie o pleno exercício de direitos sociais para a efetivação de uma educação laica, gratuita
e de qualidade e socialmente referenciada e consequentemente a construção de uma sociedade
mais justa e igualitária.
Para tanto, o objetivo deste estudo é identificar práticas de real impacto
socioeducacional durante a pandemia no cenário rural brasileiro.
As discussões acerca da Educação do Campo estão intrínsecas as lutas dos movimentos
socais para a garantia do acesso a uma educação de qualidade e emancipadora. Assim,
podemos associá-la às discussões da "Pedagogia do Oprimido" (Freire, 1974), com destaque
para que a educação deve ser libertadora e transformadora em contraposição ao processo de
alienação, dominação e opressão impostas por uma sociedade ideológica.
Em consonância com tais acepções, podemos inferir que a Educação do Campo traz
consigo a luta para a superação das desigualdades e precarizações presentes nas áreas rurais.
Nesse sentido, o acesso à Educação do Campo visa assegurar uma educação de qualidade que
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garanta o acesso à cultura, à tecnologia e ao conhecimento, como forma de emancipação dos
sujeitos do campo (Abicail, 2002). Dessa forma, devendo ser crítica, reflexiva e
contextualizada (Arroyo e Caldart, 2009), ou seja, deve considerar as especificidades locais e
as relações de poder que estão presentes no campo.
Ao dimensionar esse movimento de luta fazemos um paralelo com o surgimento do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). Segundo Caldart (2004), o MST
surge no final da década de 1970 da articulação dos trabalhadores cujo estopim é marcado
pelos conflitos e lutas agrárias.
Corroborando com a temática Silva (2018) destaca que nesse cenário de mobilização
social que a Educação do Campo ganha protagonismo no âmbito nacional em contraponto a
educação escolar rural. Dessa maneira, a Educação do campo deve se desenvolver de forma a
emancipar os sujeitos do campo.
Sendo assim, a Educação do Campo perpassa por uma formação crítica que possibilite
aos sujeitos do campo compreenderem as relações de poder e de dominação existente no meio
rural objetivando alcançar a superação das desigualdades sociais e a promoção da
emancipação dos povos campesinos.
Design Metodológico
Ao ter em vista o objetivo proposto, o estudo foi organizado em duas etapas:
Etapa 1 – Revisão de Literatura: para se chegar nestas práticas, o primeiro passo foi
visitar as produções científicas que abordaram o tema “Educação do Campo no contexto pós-
março de 2020” em um período que ainda estamos convivendo com a pandemia de COVID-
19, em razão de se levantar a situação de emergencial de saúde pública de importância
internacional e seus impactos acerca da temática no Brasil.
Trata-se de pesquisa de natureza exploratória e descritiva, de abordagem qualitativa,
que tem por objetivo identificar e analisar as produções científicas da modalidade stricto
sensu, que abordam a temática da Educação do Campo no contexto pós-março de 2020. O
levantamento de dados foi realizado no banco de dados dos repositórios de teses e
dissertações da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), destacando-se a
saber: Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP) e Universidade Estadual Paulista (UNESP) e Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ).
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Dessa forma, realizou-se uma revisão sistemática de literatura (RLS), com início em
junho de 2022, embasada nas diretrizes propostas por Kitchenham (2004), na qual o protocolo
desenvolvido perpassa pela identificação, avaliação e interpretação de dados de pesquisas
relevantes já desenvolvidas acerca de uma temática ou fenômeno que parte de uma questão
específica de pesquisa.
Por se tratar de uma pesquisa com enfoco específico no cenário nacional, as palavras-
chave de busca foram replicadas no idioma português: “Educação do Campo” + Pandemia.
Logo, procurou-se estabelecer a mesma linha de corte em todas as plataformas selecionadas,
com isso, utilizou-se a opção de busca simples, bem como, a marcação da palavra composta
entre aspas, que retornaram apenas os documentos que constem a expressão “Educação do
Campo”, em seguida foi empregado o operador booleano de obrigatoriedade "+", visto que,
esse operador requer que a palavra-chave apresentado após o "+" exista em qualquer campo
de registro na linha de corte definida.
Dessa forma, o objetivo de definir os critérios de inclusão e exclusão visou identificar
os estudos primários de dissertações e teses que tratam acerca da Educação do Campo, com
isso selecionamos para a inclusão na revisão sistemática de literatura, os estudos primários
relacionados à temática de pesquisa, estudos publicados pós-março de 2020; estudos em
Língua Portuguesa. Os critérios de exclusão foram as publicações anteriores a março de 2020;
estudos duplicados; publicações em língua estrangeira. Na tabela 1 são apresentados os
resultados quantitativos dos estudos primários que retornam a partir da linha de corte já
definida:
Tabela 1 – Resultados das buscas de teses e dissertações pós-março de 2020 - publicações selecionadas na linha
de corte “Educação do Campo” + Pandemia.
BANCO DE DADOS – TESE E DISSERTAÇÕES
2020
2021
2022
M
D
M
D
M
D
BDTD
0
0
3
0
0
0
USP
0
0
0
0
0
0
UNICAMP
0
0
0
0
0
0
UFRJ
0
0
0
0
0
0
UERJ
4
1
14
9
6
2
UNIFESP
0
0
0
0
0
0
UNESP
0
1
2
0
0
0
Legenda: M: Mestrado: D: Doutorado
Fonte: Dados da pesquisa (2022).
Conforme estratégia de busca definidas foram selecionados 42 (quarenta e dois)
trabalhos, sendo estes, 27 (vinte e sete) dissertações de Mestrados e 15 (quinze) teses de
Doutorado. Destacamos que, na base de dados BDTD foram identificados 3 (três) dissertações
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correspondentes ao ano de 2021. Os bancos de dados da USP, UNICAMP, UFRJ e UNIFESP
não identificamos nenhuma tese ou dissertação com a linha de corte e palavras chaves
estabelecidas. Já o banco de dados da UERJ foi o que retornou o maior número de teses e
dissertações observados a linha temporal e palavras definidas, sendo, em 2020, 4 (quatro)
dissertações e 1 (uma) tese, em 2021, 14 (quatorze) dissertações e 9 (nove) teses e o ano de
2022, 6 (seis) dissertações e 2 (duas) tese. Outrossim, o banco de dados da UNESP retornou 1
(uma) tese e 2 (duas) dissertações para a linha temporal de 2020. Em seguida os dados foram
sistematizados em planilhas para posterior análise. Por fim, realizamos a leitura dos resumos e
palavras-chaves para identificarmos os trabalhos que tem relação com a temática Educação do
Campo.
A leitura dos resumos e palavras chaves resultaram em 5 (cinco) trabalhos selecionados,
sendo, 3 (três) dissertações de mestrado 2 (duas) tese de doutorado. Observa-se que os dados
da tabela 2, os títulos, as palavras-chaves, ano e base de publicação estão relacionados a
temática da Educação do Campo, na linha temporal pós-março de 2020. Cabe destacar, que a
aplicação dos critérios de inclusão e exclusão dos trabalhos selecionados levaram em
consideração os já estabelecidos na metodologia deste trabalho. Para tanto, apresentamos na
tabela 2, os trabalhos selecionados.
Tabela 2 – Título, palavras-chaves, ano e base de publicação.
TÍTULO
PALAVRAS- CHAVES
TIPO
ANO
Formação de Professores para a Inclusão de
Estudantes da Educação Especial nas Escolas
das Águas do Pantanal
Pesquisa Colaborativa; Formação dos
Profissionais da Educação; Educação Inclusiva;
Educação no Campo.
Dissertação
2021
DBTD
Avaliação na/da educação básica do campo:
diagnóstico e inovação em escolas municipais
de Pedras Altas/RS
Avaliação escolar. Educação do Campo.
Desenvolvimento profissional docente.
Relatório
Crítico-
Reflexivo -
Dissertação
2021
DBTD
A Proposta pedagógica contra hegemônica do
MST no Paraná: luta e resistência no período
de 2013 a 2021
Currículo contra hegemónico, Estado burguês,
Escola Itinerante, MST, Ciclos de Formação
Humana com Complexos de Estudo.
Dissertação
2021
DBTD
Gêneros textuais em uma escola do campo:
por uma educação crítico-reflexiva
Gêneros textuais em uma escola do campo: por
uma educação crítico-reflexiva.
Tese
2020
UERJ
A hegemonia do agronegócio do campo à
educação: coerção e consenso na ofensiva
contra a luta por terra e por Educação do
Campo
Hegemonia. Agronegócio. Questão agrária.
Educação do Campo. Empresariamento da
educação.
Tese
2022
UERJ
Fonte: Dados da pesquisa (2022).
Assim, selecionamos apenas trabalhos que apresentem relação com a temática base de
estudo.
Etapa 2 – Observação de relatos de experiência on line. Análise de vídeos disponíveis
na Internet sobre o impacto da pandemia na realidade do campo em cenários rurais no Brasil.
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Para tal, referencia-se Cruz (2022, p. 72) que diz que pesquisa em vídeos on line “ilustra
que os métodos digitais podem dar voz e escuta a diferentes personagens que estariam
distantes geograficamente”.
A partir dos termos emersos na análise da etapa 1 deste estudo dentro da plataforma
Youtube, foram encontrados 30 vídeos de entrevistas, documentários e reportagens. Tendo
como ponto de intersecção a “educação”, obteve-se a representação por meio da comparação
das palavras semelhantes que são mais significativas no quantitativo. Dessa forma, das
palavras centrais a partir deste ponto: “campo”, “Movimento sem Terra (MST)”, “pesquisa”,
“formação” e “professor”, destacando suas ramificações como “luta”, “terra”, “escola”,
“resistência” e “hegemônica”.
Destes, foram selecionados 15 por meio dos seguintes critérios de análise: - com relatos
de experiências práticas de ações de impacto durante a pandemia; - com relatos de
experiências nas diferentes regiões brasileiras. Os vídeos selecionados foram publicados entre
junho de 2020 e dezembro de 2021. Foram transcritos e entraram, em conjunto com os dados
da etapa 1, para análise.
Por fim, foi realizada a leitura completa dos trabalhamos para a consolidação dos
critérios de inclusão dos trabalhos. Dessa forma, elegemos enquanto critérios de qualidade
aplicados para a seleção dos trabalhos os estudos incluídos na revisão sistemática de
literatura, os trabalhos com os objetivos bem definidos e métodos utilizados bem definido.
Portanto, após a leitura integral dos trabalhos selecionados, em observância do
protocolo de condução das etapas 1 e 2 organizou-se o corpus para análise lexicográfica, por
meio do software Interface de R pour Analyses Multidimensionnelles de Textes et de
Questionneires (Iramuteq). Dessa forma, o software, enquanto ferramenta, auxilia nos
processamentos de dados de pesquisas qualitativas e quantitativas (Castro Neto et.al, 2021).
Para tanto, nesta pesquisa a análise do corpus textual por meio da utilização do Iramuteq
perpassou pela análise fatorial de correspondência, dendograma com as palavras mais
representativas em cada classe, arvore de similitude e nuvem de palavras.
Os dados são apresentados ao longo dos resultados e discussões.
Resultados e discussão
A primeira questão a ser explorada foi referente às causas dos resultados apresentados
na tabela 1, porque não foram identificadas dissertações e teses em três das seis universidades
selecionadas e muito poucas em duas outras, o que contrasta com os da UERJ.
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Na pesquisa das fontes de literatura dos bancos de dados, considerando o recorte
temporal, percebeu-se que apesar de necessária no Brasil, o foco das pesquisas, em âmbito
Stricto Sensu, nestas instituições, na área educacional, não esteve voltado para realidades
sociais específicas como campo, urbana, indígena, ribeirinha ou quilombolas. Mas, sim, para
grandes linhas como tecnologias, formação docente, políticas educacionais, percebendo que a
partir do segundo semestre de 2020 surgem os estudos relacionados ao impacto humanitário
da COVID-19.
Ora, sob esta ótica, evidencia-se que a necessidade de se pensar a Educação do Campo,
sobretudo em a temática aqui em destaque em tempos de crise. Afinal, mesmo com 42
trabalhos selecionados, apenas 05 têm como alvo a tentativa de resposta acerca da questão
“como estão as pesquisas de educação para a Educação do Campo pós-março de 2020”?
conforme apresentado na tabela 3:
Tabela 3 – Título, autores, ano, objetivo e resultados.
TÍTULO
AUTOR
OBJETIVO
RESULTADO
Formação de
Professores para a
Inclusão de
Estudantes da
Educação Especial
nas Escolas das
Águas do Pantanal
HILBIG,
2021
Investigar e contribuir com os
processos formativos de
professores para a inclusão de
estudantes da Educação Especial
em Escolas das Águas no
Pantanal do município de
Corumbá, Mato Grosso do Sul
(MS).
Apontam a escassa oferta de cursos de formação
continuada sobre inclusão escolar aos professores
que atuam nesse contexto.
Avaliação na/da
educação básica do
campo: diagnóstico e
inovação em escolas
municipais de Pedras
Altas/RS
FEDRIGO,
2021
Projeto de Intervenção realizado
em três escolas do campo do
município de Pedras Altas/RS,
localizadas em Assentamentos
de Reforma Agrária, com o
objetivo de descrever o processo
de avaliação praticado por suas
docentes e promover o seu
desenvolvimento profissional
nesta atividade.
A tarefa de avaliar o processo educacional como
um todo, as reflexões que foram surgindo, as
mudanças que podem ser possíveis na trajetória da
avaliação da educação do campo, não foi uma
tarefa simples e fácil, ainda que limitada a um
grupo pequeno e dedicado de profissionais com
experiências em comum. Exigiu análise reflexiva
com um olhar de dentro para fora, ou seja, um
olhar focado dentro da realidade, dentro do
contexto das escolas, levando em conta todas as
peculiaridades, a localização geográfica como um
fator forte de influência na realização das
atividades e a realidade do momento atual da
Pandemia.
A Proposta
pedagógica contra
hegemônica do MST
no Paraná: luta e
resistência no
período de 2013 a
2021
BRAUN,
2021
Analisar a proposta pedagógica
contra hegemônica do MST no
Paraná e conhecer o processo de
luta e resistência no período de
2013 a 2021.
Demonstra que a construção coletiva da proposta
curricular contra hegemônica do MST nas Escolas
Itinerantes do Paraná é um instrumento
fundamental para a garantia de direitos sociais e
de acesso à Educação.
Gêneros textuais em
uma escola do
campo: por uma
educação crítico-
reflexiva
AVILA,
2020
Promover a reflexão crítica da
realidade por meio das aulas de
Língua Portuguesa.
Destaca-se o traço transdisciplinar da pesquisa,
pois os gêneros textuais são práticas contínuas,
presentes desde antes dos muros da escola,
perpassando todas as áreas de conhecimento e
seguindo por toda a vida.
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A hegemonia do
agronegócio do
campo à educação:
coerção e consenso
na ofensiva contra a
luta por terra e por
Educação do Campo
CORDEIRO,
T. G. B. F.
2022
Compreende a análise da
expansão do agronegócio
na esfera educativa,
especialmente seus reflexos na
política de Educação do Campo,
que integra
e incorpora a luta pela terra.
Defendemos a tese de que os processos que
concorrem para a desmobilização do movimento e
da política de Educação do
Campo, que podemos chamar de expropriatórios
em sentido alargado, são entrelaçados e ocorrem
simultaneamente como resultado da
territorialização do agronegócio.
Fonte: Dados da pesquisa (2022).
Nesse contexto os trabalhos apresentam as possibilidades e resultados de pesquisas
científicas que representam a defesa da Educação Escolar do campo em tempos de políticas
neoliberais que atacam a continuidade de uma educação escolar pública, gratuita e de
qualidade em cenário nacional.
Nesta premissa, a partir dos trabalhos selecionados realizou-se o tratamento de dados
com a análise lexical de corpus textuais. Assim, o tratamento de dados visou destacar os
elementos das representações referente ao objeto de estudo Educação do Campo pós-março de
2020.
Os resumos que foram esquematizados em um corpus textual e tratado no Iramuteq, o
que resultou nas seguintes inferenciais: 5 textos analisados, 73 segmentos de texto, 2638
ocorrências de palavras apresentadas no total do corpus textual, 795 números de forma
(palavras sem contra as repetidas) e 466 palavras que aparecem uma única vez, o que
representa 58,62% das formas e 17,66% das ocorrências.
O conteúdo analisado foi categorizado em cinco classes, logo, destaca-se na figura 1 a
leitura das classes, conforme previsto, da esquerda para a direita e a identificação lexical
correspondente em cada classe representada no Dendrograma. A partir similitude sobre o
corpus foi possível perceber as ocorrências entre as palavras e suas seguintes classes:
Figura 1 – Dendograma da pesquisa.
Fonte: Dados da pesquisa (2022).
18,6%
20,9%
16,3%
25,6%
18,6%
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Das classes em destaque no dendrograma, vê três grandes categorias de análise:
- (1) Pessoas: Nas classes 2 e 4 é possível encontrar descritores como “professor” (a) e
“ser humano complexo”, pois os dados destacam que no cenário camponês (a) o professor(a)
pode, e deve, ser vista (o) como influenciador(a) de mudança pedagógica para uma educação
humanizadora.
Há necessidade de pensar na aprendizagem, inclusive docente, mas não esquecendo a
formação para práticas e crenças humanizadoras por meio do contexto da legislação e das
estruturas s que influenciaram as decisões pedagógicas. Este estudo examinou que as crenças
das pessoas no cenário objetivado envolvem um ambiente de aprendizagem, para além das
quatro paredes da escola, refletindo condições libertadoras, que utilizam a voz como poder,
coconstrução de processos, conteúdos e recursos, por meio de práxis transformadora e
investigação baseada práticas ativas, que conjeturam dialogia e ações baseadas nas
comunidades, sejam elas tradicionais, itinerantes, em prol de uma superação de hegemonia.
Descobertas adicionais sobre características comuns apoiaram esses temas por meio da de
influências ambientais.
As ideias por trás do conceito “pessoas” aqui evidenciado, vem ao encontro de uma
aprendizagem personalizada, contextualizada, necessária, com estruturas desde linguística até
de território, sempre de impacto. Talvez pensar na Educação do Campo é fazer alusão ao que
o termo representa, superando apenas uma definição para aprendizagem, tornando a execução
ainda mais desafiadora no cenário pós-pandêmico.
Percebeu-se que pessoas, muito compreensivelmente, muitas vezes se perguntam se a
aprendizagem neste cenário é fazê-lo, sempre entrando em águas profundas, globais e de
superação ao comparativo do urbano.
- (2) Experiências coletivas: as classes 3 e 5 podem ser relacionadas à esta categoria.
Segundo a análise posta, o que faz uma comunidade ser base de aprendizagem eficaz no
contexto do campo pode envolver fatores de movimento e união, de conhecimento escolar ser
fonte para o desenvolvimento comunitário, de cultura, de modo de vida e de pensamento que
construído, negociado e estabelecido, mas que pode ser transformado.
Nesses fatores vê-se uma interação dinâmica entre o grupo por meio de componentes
que promovem altos níveis de realização para as (os) envolvidas (os), que requerem a
equidade relacional para todas e todos, de possibilidade de respeito pelas ideias, levando
compromisso com o bem-estar coletivo, aprendidos de comunicação e apoio.
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A avaliação supera o mecanicismo e funciona, neste todo, como um esforço coletivo e
não uma competição individual, não esquecendo suas habilidades sociais e colaborativas.
A autonomia, a partir dos dados coletados, é estopim de superação de interdependência
e é um componente chave das comunidades, à medida que compartilham ideias e recursos,
assumem uma responsabilidade conjunta, criando um território que deveria se seguro para
aumentar o engajamento e o desempenho acadêmico em tempos de crise, como visto entre os
anos 2020 e 2022, na pandemia.
Quando a aprendizagem é um esforço coletivo, existe maior probabilidade de
linguagem comunicação, à medida que trabalham com seus pares, desenvolvem o sentimento
de valorizar a contribuição de diferentes métodos, perspectivas e ideias.
- (3) Resiliência: A classe 1, por sua vez, a qual teve a maior incidência do termo
“agronegócio”, não como partida de enaltecer a Educação do Campo, mas no sentido de alerta
às práticas em tempos de crises, gerando a categoria, resiliência. Alerta para que tais
comunidades sejam vistas como territórios de resiliência, de planejamento econômico, sim,
mas principalmente social e ambiental.
Assim, a análise dos dados ocorreu pela análise similitude de correspondência,
conforme demonstrado no Figura 2.
Figura 2 – Arvore de similitude.
Fonte: Dados da pesquisa (2022).
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A figura 2 apresenta a ocorrência pela proximidade dos diferentes vocábulos representa
pelas diferentes classes que representam o contexto de similaridade no contexto lexical do
corpus selecionado. Para melhor visualização da correspondência das palavras distribuídas no
corpus textual com os termos que se relacionam apresentamos na figura 2 – dendrograma de
palavra agrupadas em classe.
Assim, chega-se à segunda etapa da pesquisa. E, ao tomar como exemplo o MST,
buscou-se relatos de experiências de pessoas inseridas neste contexto e suas vivências
escolares na pandemia.
Já na análise de 15 vídeos percebeu-se a verificação destes termos nos referidos textos
foi percebido um ponto de intersecção que demonstra uma tendência educacional que tem
vindo a ter lugar acerca dos desafios (pós)pandêmicos em estudos ao que condiz o ensino
rural: o acesso.
Os estudos demonstram que dois critérios em período (pré)pandemia suportavam as
investigações empíricas nestas comunidades: (i) interação social e (ii) financiamento para
questões acadêmicas e que, logo, foram dificultadas gerando a falta de acesso aos meios de
comunicação digital. Tema este que merece uma análise mais aprofundada a partir deste
ponto, pois dessa forma é possível inferir que os sujeitos do campo se destacam enquanto
protagonistas nas resistências diárias, visando à luta e a promoção da formação política e
pedagógica.
Para Calbi et al. (2021), a pandemia mudou drasticamente a natureza de nossas
interações sociais. Equipamentos de proteção e as medidas de distanciamento influenciam a
capacidade de compreender as emoções dos outros e, assim, interagir.
No Brasil a impossibilidade de interação ficou ainda mais evidente, porque apesar de
estar entre os cinco países do mundo que mais usam internet (Brasil, 2021), os altos custos de
conexão de internet e o fraco alcance em regiões não urbanas deixaram a população rural
ainda mais isolada nestes tempos. As escolas rurais
ainda têm uma questão a mais em relação à conectividade. Em algumas regiões onde estão
localizadas as escolas, não há acesso à internet de boa qualidade ou mesmo não há acesso à
internet. A oferta de planos de banda de larga e de conexão nessas regiões é mais limitado.
Então, de fato, nas escolas rurais, nós temos uma situação mais crítica em relação ao uso das
tecnologias (CGI.br, 2021).
O ponto da (falta de) interação entra como base crucial pois é uma das fontes para
vislumbrar o “contexto hodierno vislumbrado na sociedade do conhecimento é um processo
evolutivo natural próprio do saber humano” (Nascimento, Wunsch, Fernandes & Leal, 2021),
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para além de mostrar uma compreensão mais profunda da maneira como as pessoas reagem
em atividades mais glocais, como parcela relevante da construção de nações competitivas e
capazes de constituírem-se como protagonistas da sociedade atual (Wunsch, 2013).
Fato este que pode ser comprovado no presente estudo.
No MST, por exemplo, esta glocalidade pode ser verificada em grandes frentes de
inclusão que ficaram evidentes durante a pandemia, segundo os relatos analisados: - direitos
humanos; - educação; - agroecologia; comunicação e – juventude.
Fatores estes que podem ser comprovados em atividades de impacto para além das suas
comunidades. Aqui destacam-se duas que foram citadas em 100% dos vídeos e que envolvem
a esfera global: educação e agroecologia.
Na primeira, educação, dá-se evidência à publicação “Sem Terrinha”, denominada
“Revista das Crianças”, com tiragens desde 2011, durante a pandemia não foi interrompida.
Na edição de novembro de 2020, o foco da publicação foi a questão da solidariedade
internacionalista em tempos de pandemia, enfatizando que a Revista já atingiu países como
Haiti, Cuba, Venezuela e Moçambique e que este conceito é uma luta não apenas de pessoas,
mas de povos, por isto sai do local para o global.
Todas as pessoas, em qualquer lugar do mundo, devem ter os mesmos direitos. Lutamos para
todas as crianças e adultos tenham comida, educação, saúde, trabalho. A humanidade – todas
as pessoas do mundo – é a nossa família. Eu me preocupo com o outro. Só seremos
realmente livres quando todos no mundo forem livres. A vida das pessoas e da natureza é o
mais importante (MST, 2020a, p. 05).
Construindo sistemas de educação resilientes além da pandemia de COVID-19 para
tomadores de decisão em níveis locais para planejar a recuperação, na tentativa de garantir
maior formação para futuras crises potenciais e contribuir significativamente para melhorar a
educação equitativa e de qualidade.
Já na edição de 2021, ainda auge da pandemia, a “Sem Terrinha” trouxe o conceito de
espaços educativos por meio de uma homenagem ao centenário de Paulo Freire,
Quero contar a vocês que quando criança, aprendi a escrever e a soletrar as primeiras
palavras debaixo de um pé de mangueira ... as escolas de paredes vieram depois e
perguntaram para nós o que a vida tinha nos ensinado e que aprendizados que trazíamos na
bagagem (MST, 2021, p. 07).
Já na segunda, a proeminência vem à agroecologia como alternativa para o combate à
exclusão da alimentação.
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Os vídeos analisados citaram as ações realizadas pelo MST durante o período de crise,
entre os meses de março e dezembro de 2020, ações realizadas foram em diferentes regiões
brasileiras, podendo ser verificadas nos meios de comunicação social, tais como:
- “Em tempos de Coronavírus, MST propõe alternativas para combate à fome e aquisição de
alimentos”; - “Em tempos de pandemia, camponeses e camponesas em unidade alimentam o
povo”; “ Em Porto Alegre, Loja da Reforma Agrária é opção para comprar alimentos
orgânicos”; - “Em Jornada Nacional de Lutas, MST distribui 500 toneladas de alimentos
saudáveis em todo país”; - “Acampamento do MST em fazenda de ex-deputado doa 1,5
toneladas de alimentos”; - “No Ceará, Feira Cultural da Reforma Agrária é realizada de
forma virtual”; - “Assentamento em antiga fazenda improdutiva no Paraná doa 8 toneladas
de alimentos. Desde o início da pandemia, mais de 90 toneladas de alimentos foram doadas
pelo MST no estado”; “Continuaremos a plantar árvores e lutar pela vida. Mesmo com a
pandemia, Campanha de plantio de árvores e alimentos saudáveis segue no Extremo Sul da
Bahia”; - “Doação de alimentos saudáveis marca o lançamento do Plano Emergencial na
Paraíba. Em parceria com movimentos e organizações populares, MST na Paraíba doou mais
de 12 toneladas de alimentos” (MST, 2020b).
Vê-se, assim, que as ações geraram um debate on line que marcou a relação da
soberania alimentar em tempos de COVID-19 com o direito fundamental dos povos à vida.
As questões abrangentes identificadas em termos de desafios educacionais e a natureza
do esforço necessário para enfrentar os desafios podem ser descritas como a tríade de (a)
acesso e equidade, (b) qualidade e relevância e (c) eficiência e responsabilidade. A estrutura
de metas e estratégias adotadas pelo MST vem ao encontro com as bases já descritas pela
UNESCO (2001) para uma educação para a transformação do rural, de reestrutura dos planos
que devem ser avaliados e reexaminados para garantir que as dimensões rurais da agenda
educacional.
Por fim, pode-se inferir que estas bases apresentam referência direta para uma real
necessidade de consolidação de políticas públicas, revelando outro aspecto fundamental que
são necessárias reflexões acerca da resistência da Educação do Campo para a solidificação de
uma educação de qualidade que preserve a identidade das pessoas e de suas comunidades.
Lembra-se aqui de fazer da educação o veículo para a transformação rural exige olhar
para as políticas e prioridades para a educação sob uma nova perspectiva. O foco e as
estratégias de transformação rural sugerem novas dimensões nos critérios de julgamento da
qualidade e relevância das atividades educativas. O atendimento às prioridades e necessidades
rurais indica novas ênfases no conteúdo e na organização dos programas educacionais. A cena
rural em rápida mudança e a dinâmica da interação rural-urbana exigem flexibilidade e ajustes
nos programas educacionais que não são encontrados com frequência no sistema formal
convencional. As preocupações e prioridades da população rural e das comunidades rurais em
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transformação precisam figurar específica e proeminentemente nas respostas educacionais às
tendências e influências contextuais que afetam os sistemas educacionais nacionais. Por
exemplo, a perspectiva dos direitos humanos, os imperativos da educação para o
desenvolvimento humano, os efeitos da nova tecnologia da informação e a importância
crucial de perseguir os objetivos de desenvolvimento sustentável precisam ser avaliados do
ponto de vista do avanço da transformação rural.
Considerações finais
Na tentativa de identificar práticas de real impacto socioeducacional durante a
pandemia no cenário rural brasileiro, este estudo gerou uma revisita às metas estabelecidas
globalmente e por nações da UNESCO para este século XXI, mostrando o marco do período
pandêmico como crucial para uma atenção especial à situação das populações rurais no Brasil.
Viu-se que a temática não foi de todo explorada nas pesquisas científicas, mas que
práticas foram efetivadas para propor soluções para os problemas de privação nas áreas rurais
não residindo em impedir a manutenção da população rural confinada nestas áreas.
Percebeu-se que o MST é um exemplo desta organização para a promoção de
coletividade e sustentabilidade para forças inexoráveis da mudança, tendo consequências
previsíveis para as pessoas, especialmente nas áreas rurais, devem ser transformadas em
desenvolvimentos positivos e no reforço das capacidades das pessoas para lidar com a
mudança.
Durante a pandemia (a falta de) acesso gerou exclusão e um grande desafio de
desenvolvimento foi gerir e orientar uma transformação progressiva das áreas rurais.
A revisão sistemática de literatura apresentou cinco trabalhos analisados que trazem
elementos significativos que discutem a Educação do Campo em cenário nacional no contexto
pós-março de 2020. Assim, destaca-se como ponto de limitação do estudo o número amostral
das pesquisas analisadas, considerando os critérios estabelecidos de seleção na metodologia
aplicada que teve como recorte temporal as pesquisas no contexto pós-março de 2020, cenário
de pandemia da Covid 19.
Contudo, ao analisar relatos de experiências on line, o corpus analisado se compõe de
inferência que denunciam a falta de políticas educacionais, mas mesmo assim como o campo
enquanto espaço social envolto aos processos de apoio regional, nacional e internacional,
como se mostrou no MST.
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Nesse cenário, por meio da participação ativa das populações do campo é destacada a
necessidade de luta pela efetivação de direitos fundamentais socais já previstos nos
ordenamentos jurídicos, bem como pela consolidação de uma política educacional que
respeite as especificidades das escolas do campo enquanto projeto emancipatório das
populações do campo.
Viu-se que o Brasil precisa, enquanto Estado, investir urgentemente no
desenvolvimento de Programas de otimização dos diferentes ambientes e cenários de
aprendizagem, além do urbano, rurais, quilombolas, ribeirinhas, indígenas, sertanejos,
itinerantes, contextualmente apropriados que possam ajudar a recuperar e acelerar a
aprendizagem dos que ali vivem e atuam.
No (pós) pandemia, não somente reabrir escolas, mas (re) conhecer as especificidades
locais. Este momento é de oportunidade de transformar e (re) imaginar a educação e apoiar a
saltar para o futuro.
Pensar nos diferentes territórios de aprendizagem é entender que a educação pode ser
um veículo para a transformação e o rural pode ser o olhar para as políticas e prioridades para
a educação sob uma nova perspectiva.
Este estudo mostra que as categorias “pessoas”, “experiências coletivas” e “resiliência”
podem ser estratégias de transformação rural, sugerindo novas dimensões nos critérios de
julgamento da qualidade e relevância das ações educativas.
Atender às prioridades e necessidades indica novas ênfases no conteúdo e na
organização social, em uma nova dinâmica da interação rural-urbana, agora com mais
flexibilidade. As preocupações e prioridades das comunidades rurais em transformação
precisam considerar as tendências e influências contextuais que influenciam os sistemas
nacionais de educação, mas as nacionais também a si.
Responder à diversidade das situações pode ser uma medida chave para tornar questões
de acesso, equidade, qualidade, relevância e eficiência do sistema educacional devem ser
reexaminadas do ponto de vista dos cenários em mudança.
Dessa forma, espera-se que estudo seja ponto de partida para discussões que fazem
emergir o debate acerca das experiências, coletividades e pessoas e trouxeram à tona muitas
reflexões que nos auxilia pensar que a população do campo tem se organizado na busca da
melhoria das condições sociais e a promoção de uma educação do campo de qualidade.
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Informações do Artigo / Article Information
Recibido en: 25/09/2022
Aprobado en: 23/03/2023
Publicado en: 27/05/2023
Received on September 25th, 2022
Accepted on March 23th, 2023
Published on May, 27th, 2023
Contribuciones del artículo: Los autores fueron responsables de todas las etapas y resultados de la investigación, a saber:
preparación, análisis e interpretación de los datos; redacción y revisión del contenido del manuscrito y; aprobación de la
versión final publicada.
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production of the manuscript, critical revision of the content and approval of the final version published.
Conflictos de interesses: Los autores declaran que no existe ningún conflito de interesses em relación com este artículo.
Conflict of Interest: None reported.
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