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Eu e meus irmãos não conseguimos vir no primeiro momento também, junto com a minha
mãe, porque, na época, não tinha escola, não tinha água, não tinha luz, não tinha nada né,
tava tudo pra ser construído ... e não era uma opção pra gente parar de estudar. (Excerto da
degravação de Resistir, 2021).
Como a falta de escola, impede a união familiar, o Movimento foi criando soluções
coletivas entre as acampadas/os – assentadas/os, para que as suas filhas e filhos pudessem
estar na luta coletiva de um Movimento Social. Nesse sentido,
Resistir, narrou que:
a gente veio pra cá em dezembro de 2017, e, em 2018 já começou a funcionar a escola
Elizabeth Teixeira, que é dentro do acampamento, que na época [foi] construída de
madeirite, teve muita luta pra conseguir a liberação da escola, e ela começou a funcionar
em 2018. (Excerto da degravação de Resistir, 2021).
No acampamento as coisas continuaram andando e no final de 2019 a gente conseguiu
construir a nossa escola toda de alvenaria, com ajuda de alguns parceiros, mas a maior
parte feita pela comunidade, né, inclusive recurso pro material, mão de obra toda pela
comunidade... (Excerto da degravação de Resistir, 2021).
Como podemos ver, essa é uma história recente, que com a ajuda do coletivo das
pessoas acampadas, de parceiros do Movimento, conseguiram aos poucos concretizar a tão
sonhada escola, relatada por Resistir, com a voz cheia de alegria, já que significou também a
reunião com a mãe, já que ela e os irmãos puderam ir morar no acampamento. Vale retomar
aqui, que “a marcha dos sem-teto, dos sem-escola, dos sem-hospital, dos renegados. A marcha
esperançosa dos que sabem que mudar é possível (Freire, 2000, p. 29).
Resistir, concluiu sua narrativa da seguinte forma:
Em 2019 ... a escola passou a não atender, a escola do acampamento Elizabeth Teixeira,
passou a não atender mais o Ensino Médio, e eu não tive mais lugar assim, pra estudar,
perto de casa, enfim, ... a escola mais perto que tinha, era muito longe, tinha que acordar
3h, 3h30min da manhã, pra conseguir me arrumar e caminha bastante pra conseguir pegar
o ônibus, e ir pra escola era muito difícil. E aí, nesse momento, a coordenação, a minha
mãe, a minha família né ...) eu fui indicada pro TAC ... A minha família me apoio muito, e eu
[vim] estudar no Rio Grande do Sul, no IEJC. (Excerto da degravação de Resistir, 2021).
A partir dessa narrativa, é possível perceber a dificuldade que continua existindo para os
povos do campo terem garantido o acesso à escola, ainda, nos dias atuais. Com muita luta e
trabalho dos camponeses para construírem uma escola no acampamento, depois de anos, essa
escola passou, novamente, a oferecer apenas o Ensino Fundamental, excluindo Resistir e
todos os demais com idade para avançar nos estudos.