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multilaterais de financiamento e de órgãos voltados para a cooperação técnica, os quais
demonstravam a defesa
... da descentralização como forma de desburocratização do Estado e de abertura a novas
formas de gestão da esfera pública; da autonomia gerencial para as unidades escolares e,
ainda, da busca de incrementos nos índices de produtividade dos sistemas públicos,
marcadamente sob inspiração neoliberal ... também [defendiam] as diferentes formas que a
descentralização da educação assumiu na América Latina (por exemplo, em termos da
municipalização e da regionalização) (Souza & Faria, 2004, pp. 566-567).
“Nestes princípios de cunho neoliberal estava presente a visão produtivista, denominada
de acumulação (ou teoria) de capital humano que concebe a educação como preparação dos
indivíduos para o mercado de trabalho” (Yanaguita, 2011, p. 3). A teoria do capital humano,
enquanto teoria do desenvolvimento, concebe a educação como potenciadora de trabalho e,
por extensão, da renda; enquanto teoria da educação, reduz a prática educativa a uma questão
técnica, a uma tecnologia da educação, que visa ajustar a educação aos requisitos de ocupação
no mercado de trabalho (Frigotto, 2011).
O encontro reconhece a importância da educação na sociedade neoliberal. Leher (1998)
assinala que nesta “nova era do capitalismo, o principal capital é o intelectual” e, por isso, a
educação, na condição de capital, tornou-se assunto de managers e não mais de educadores.
Para o Banco Mundial, os sistemas de educação e demais instituições públicas (jurídicas
e financeiras) podem ajudar a estabelecer as regras e disseminar a confiança na inserção dos
países pobres à nova era global. Também visam “aliviar a pobreza extrema manter o capital
humano e adaptá-lo às necessidades de “um sistema de mercado que contribuem para o
crescimento, tanto quanto para a promoção da justiça social como para a sustentabilidade
política” (Leher, 1998, p. 101).
Chesnais (1996) cita a participação do Brasil, em março de 1990, na "Conferência de
Educação para Todos", em Jomtien, na Tailândia, que resultou na assinatura da Declaração
Mundial sobre Educação para Todos. Essa conferência – que teve como copatrocinador, além
da UNESCO e do UNICEF, o Banco Mundial – inaugura a política, patrocinada por esse
banco, de priorização sistemática do ensino fundamental, em detrimento dos demais níveis de
ensino e de defesa da relativização do dever do Estado para com a educação, tendo por base o
postulado de que a tarefa de assegurar a educação é de todos os setores da sociedade.
Essa declaração estabelecia como meta principal a universalização, nos países
signatários, do acesso à educação básica a todas as crianças, jovens e adultos, assegurando-se
a equidade na distribuição dos recursos e um padrão mínimo de qualidade (Brasil, 1991).