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Revista Brasileira de Educação do Campo
Brazilian Journal of Rural Education
ARTIGO/ARTICLE/ARTÍCULO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e15636
Notas sobre saúde em registros de campo de estagiários de
Educação Física na Educação Infantil
Fabíola de Jesus Silva1, Fabrícia de Jesus Silva Ferraz2, Mayrhon José Abrantes Farias3
1, 3 Universidade Federal do Norte do Tocantins - UFNT. Centro de Educação, Humanidades e Saúde (CEHS). Rua 06, Vila
Santa Rita. Tocantinópolis - TO. Brasil. 2 Secretaria Municipal de Saúde de Araguaína - TO.
Autor para correspondência/Author for correspondence: professorafabiolasilva@gmail.com
RESUMO. A saúde é um estado de bem-estar inerente a todo
ser humano e constitui-se um direito fundamental na infância e
em todas as etapas da vida. A prática da Educação Física na
infância contribui para a promoção da saúde e essa interface,
educação infantil e saúde, tem sido cada vez mais objeto de
discussão na formação do profissional de Educação Física. Este
estudo objetivou verificar como a saúde é abordada por
estagiários de Educação Física na Educação Infantil. Com isso,
realizou-se uma pesquisa documental, de natureza qualitativa,
na qual analisou-se os relatórios finais de discentes do curso de
Educação Física da Universidade Federal do Tocantins nos anos
letivos de 2018 e 2019, perfazendo um total de 33 relatórios. A
análise, discussão e a interpretação dos dados foram realizadas
de acordo com a técnica de Análise de conteúdo, na qual
emergiram quatro categorias, sendo elas: o brincar, a higiene, a
alimentação e os cuidados com o corpo durante as aulas. Desse
modo, foi possível identificar interpretações distintas de saúde,
pautadas, principalmente, na ideia de prevenção de doenças,
promoção de condutas de higiene, bem como de cuidado
corporal/ contingenciamento do movimento nos tempos e
espaços escolares. Infere-se, com isso, a necessidade de
ressignificação do conceito de saúde em estudos com crianças,
contemplando questões educativas que abranjam o bem-estar
físico, emocional, social e ambiental.
Palavras-chave: educação infantil, educação física e saúde,
estágio supervisionado.
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Notes on health in field records of Physical Education
trainees in early Childhood Education
ABSTRACT. The health is a state of well-being inherent to
every human being and is a fundamental right in childhood and
at all stages of life. The practice of Physical Education in
childhood contributes to the promotion of health and this
interface, child education and health, has been increasingly
discussed in the training of Physical Education professionals.
This study aimed to verify how health is approached by
Physical Education trainees in Early Childhood Education. With
this, a documentary research was carried out, of a qualitative
nature, in which the final reports of students of the Physical
Education course at the Federal University of Tocantins in the
academic years of 2018 and 2019 were analyzed, making a total
of 33 reports. Data analysis, discussion and interpretation were
performed according to the Content Analysis technique, in
which four categories emerged, namely: playing, hygiene, food
and body care during classes. In this way, it was possible to
identify different interpretations of health, based mainly on the
idea of disease prevention, promotion of hygiene behaviors, as
well as body care / movement contingency in school times and
spaces. It is inferred, therefore, the need to reframe the concept
of health in studies with children, contemplating educational
issues that cover physical, emotional, social and environmental
well-being.
Keywords: child education, physical education and health,
supervised internship.
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Apuntes sobre la salud en los registros de campo de los
alumnos de Educación Física en Educación Infantil
RESUMEN. La salud es un estado de bienestar inherente a todo
ser humano y constituye un derecho fundamental en la infancia
y en todas las etapas de la vida. La práctica de la Educación
Física en la infancia contribuye a la promoción de la salud y esa
interfaz, educación infantil y salud, ha sido cada vez más objeto
de discusión en la formación de profesionales de la Educación
Física. Este estudio tuvo como objetivo verificar cómo la salud
es abordada por los pasantes de Educación Física en la
Educación Infantil. Con ello, se realizó una investigación
documental, de carácter cualitativo, en la que se analizaron los
informes finales de los alumnos del curso de Educación Física
de la Universidad Federal del Tocantins en los años académicos
de 2018 y 2019, haciendo un total de 33 informes. . El análisis,
discusión e interpretación de los datos se realizó según la
técnica de Análisis de Contenido, en la que surgieron cuatro
categorías, a saber: juego, higiene, alimentación y cuidado del
cuerpo durante las clases. De esta manera, fue posible
identificar diferentes interpretaciones de salud, basadas
principalmente en la idea de prevención de enfermedades,
promoción de conductas de higiene, así como cuidado del
cuerpo/contingencia del movimiento en tiempos y espacios
escolares. Se infiere, por tanto, la necesidad de replantear el
concepto de salud en los estudios con niños, contemplando
cuestiones educativas que abarquen el bienestar físico,
emocional, social y ambiental.
Palabras clave: educación infantil, educación física y salud,
pasantía supervisada.
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Introdução
A Organização Mundial de Saúde (OMS) apresenta uma definição de saúde que
abrange questões relacionadas ao bem-estar físico, mental e social, não se restringindo tão
somente a ausência de doenças. Esse estado consiste num direito social, inerente a todos os
indivíduos, especialmente na infância, considerada a segunda etapa da vida humana (Moreira,
2011). Já para a Organização Pan-americana de Saúde - OPS (1995), a promoção da saúde no
âmbito escolar propicia uma visão integral e multidisciplinar do ser humano que envolve as
pessoas em seu contexto familiar, comunitário, social e ambiental.
Assim, segundo Pelicioni e Torres (1999), as ações de promoção de saúde na infância
contribuem para o desenvolvimento de conhecimentos e habilidades que propiciarão o
autocuidado relacionado à saúde e também a prevenção de situações de riscos. Neste sentido,
conforme apontam Garanhani, Fortunato e Oliveira (2013, p. 5), à docência na educação
infantil requer uma “simbiose entre o cuidado e a educação”, assim como a interação do
profissional de educação com os responsáveis pela criança. Os autores consideram que esse
cenário educacional constitui um espaço no qual o professor de Educação Física, por trabalhar
com o movimento do corpo, poderá atuar no trabalho educativo não só das crianças, mas
também dos seus responsáveis.
Deste modo, conforme afirma Baretta (2012), a Educação Física tem um papel
fundamental na educação infantil, pois proporciona às crianças uma variedade de experiências
por meio de situações, do imaginário, de descobertas e saberes sobre o movimento e suas
ações, de forma lúdica. Além disso, possibilita as crianças a descoberta de seus próprios
limites, ajuda a enfrentar desafios, assim como permite o conhecimento do corpo, que
representa, um instrumento de comunicação, bem como de expressão e de interação social.
Contudo, é imprescindível que haja uma formação profissional adequada e para tanto,
as Universidades de Educação Física proporcionam vivências práticas aos discentes durante a
graduação nos cursos de Licenciatura. Com essas vivências, que ocorrem durante os Estágios
Curriculares Supervisionados, tem-se um melhor entendimento sobre a realidade da Educação
Física no Ensino Infantil (Isbarrola & Copetti, 2018).
No entendimento de Pimenta & Lima (2012), o estágio supervisionado oportuniza aos
discentes o conhecimento e o contato com a realidade escolar. Além disso, é muito
significativo no processo de aprendizagem dos acadêmicos, pois proporciona o
reconhecimento das áreas de atuação do profissional e possibilita a avaliação e discussão das
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diversas abordagens metodológicas que serão desenvolvidas com o auxílio e ensinamentos do
docente supervisor e de professores escolares dos estágios.
Conforme Leal et al. (2019), o Estágio Supervisionado é uma ferramenta que contribui
para o ensino da Educação Física e que possibilita a aproximação dos futuros docentes da
profissão por meio da utilização dos conhecimentos adquiridos durante o curso e da vivencia
adquirida durante o período da observação.
Em vista disso, ao considerar a importância da Educação Física para a saúde na infância
e que esta deve se fazer presente desde a formação profissional, este estudo propõe-se a
investigar como a saúde é abordada por estagiários de Educação Física na Educação Infantil e
a importância dessa prática para atuação profissional.
O Estágio Supervisionado em Educação Física na Educação Infantil
Conforme Biscosni e Oliveira (2016) o Estágio Supervisionado é um valioso momento
na formação de futuros professores, uma vez que oportuniza a reflexão sobre os desafios e as
possibilidades de proposições pedagógicas aprendidas durante a graduação nos cursos de
licenciatura, assim como possibilita a ação de repensar práticas e saberes vivenciados. A
educação infantil configura um ambiente adequado e que contribui para que ocorra tanto a
prática quanto essa reflexão, em que são desenvolvidos os aspectos cognitivos, sociais e
afetivos dos escolares.
Neste sentido, a educação infantil constitui um espaço em que crianças se relacionam
com outras crianças, brincam, aprendem e se desenvolvem. É, em linhas gerais, a primeira
experiência educacional fora do seio familiar, e constitui um espaço em que se acentua a
importância da Educação Física, uma vez que essa trabalha o movimento, a linguagem
corporal da criança através de atividades lúdicas, jogos e brincadeiras (Rocha, 2010).
Assim, ainda de acordo com o entendimento de Rocha (2010), é indispensável a atuação
do professor de Educação Física nesse espaço infantil, fase na qual a criança necessita e deve
estar brincando, movimentando-se, descobrindo-se. A autora acredita que por ser a área do
conhecimento humano que estuda o movimento, não apenas pelo movimento em si, mas por
sua integração com o corpo, abrangendo questões culturais e a linguagem corporal, é
importante que a Educação Física esteja presente em todas as etapas da educação,
principalmente nos anos iniciais. Além disso, essa prática pedagógica resultante de outras
práticas de atividades físicas lúdicas e recreativas configura uma necessidade para a formação
e adequado desenvolvimento cognitivo, psicológico e relacional infantil.
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Desse modo, torna-se imprescindível rediscutir sobre a formação profissional e como o
Estágio Supervisionado está estruturado, levando em consideração a concepção de infância e
de organização didático-curricular que caracteriza a Educação Infantil, no sentido de alinhar
as contingências do campo profissional à formação em Educação Física para a atuação nas
instituições educativas da primeira infância (Martins, Tostes & Mello, 2020).
Em termos de teoria e prática os desafios dilemas, vivências, conhecimentos e
possibilidades estão relacionados a um processo de formação são intercedidas por uma etapa
supervisionada, resultando na aprendizagem da profissão, nas palavras de Martins, Tostes e
Melo (2020) o estágio supervisionado é valioso em interlocuções e docência se ampliando em
contexto da aprendizagem favorecendo um movimento dinâmico de formação e crescimento.
O Estágio Curricular Supervisionado (ECS) do Curso de Licenciatura em Educação
Física do Campus de Tocantinópolis da Universidade Federal do Tocantins (UFT), é norteado
pelas premissas da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN Nº. 9.394/96 e,
de acordo com o Projeto Político Pedagógico (PPP) do Curso, encontra-se associado à
formação específica de Educação Física. O ECS do Curso de EDF da UFT tem em sua
estrutura o início no 5º período da graduação, que corresponde ao Estágio no ensino Infantil e
tem como objetivo geral proporcionar a reflexão significativa dos conteúdos da formação
docente do profissional de educação física por meio da observação vinculada à prática
pedagógica num processo de problematização, teorização e intervenção (UFT, 2014).
Metodologia
A pesquisa caracteriza-se como um estudo documental, em que a análise de dados se
deu de forma qualitativa, utilizando-se de uma base teórica que aborda aspectos socioculturais
da infância. Tal delineamento metodológico seguiu-se pelo fato de que a pesquisa
documental, conforme Sá-Silva, Almeida e Guindani (2009, p. 14), “... propõe-se a produzir
novos conhecimentos, criar novas formas de compreender os fenômenos e dar a conhecer a
forma como estes têm sido desenvolvidos”. Já a abordagem qualitativa foi elencada por
corresponder o nível da realidade daquilo que não pode ser quantificado, ou seja, de trabalhar
com o universo de significados, de motivações, aspirações, crenças, valores e atitudes
(Minayo, 2014).
Deste modo, com vistas ao alcance dos objetivos desta investigação, utilizou-se à
análise de conteúdo como técnica destinada a sistematizar os dados a partir de procedimentos
que possibilitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção do
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conteúdo investigado, incluindo a composição de três etapas: 1) Pré-análise; 2) Exploração do
material; 3) e Tratamento dos resultados (Bardin, 2011).
Assim, a primeira etapa realizada pode ser identificada como fase de organização, no
qual compôe-se um esquema de trabalho, com procedimentos definidos. Em geral, a pré-
análise envolve a leitura “flutuante”, uma espécie de contato inicial com os documentos que
serão submetidos à análise. Na segunda fase, que corresponde à fase de exploração do
material, em que ocorre a escolha das unidades de codificação e categorização. A terceira
fase, por sua vez, consiste no processo de análise do conteúdo e tratamento dos resultados,
feitas a partir dos resultados brutos para torná-los válidos (Bardin, 2011).
Portanto, foram analisados os relatórios finais de estágio, que correspondem aos
documentos de caráter primário, produzidos por discentes do Curso de Licenciatura em
Educação Física da Universidade Federal do Tocantins (UFT), cuja finalidade é registrar as
vivências ocorridas no cotidiano da Educação Infantil. Foi necessário solicitar a autorização
dos autores desses relatórios para se ter acesso a essas produções textuais. Os relatórios
dispõem de apontamentos valiosos acerca das percepções dos estagiários sobre as crianças.
Os registros documentais que constituem o acervo de análise da pesquisa foram feitos
por discentes aprovados no referido componente curricular nos primeiros semestres letivos
dos anos de 2018 e 2019. Desse modo, analisou-se um universo de 33 relatórios, produzidos
nos anos de 2018 (15 relatórios) e 2019 (18 relatórios). Sublinha-se, ainda, que foram
incluídos no acervo empírico do estudo apenas os relatórios completos e aprovados. Ademais,
não compuseram o universo analisado os relatórios que não obtiveram retorno em relação ao
consentimento na participação da pesquisa por parte dos autores.
Resultados e discussões
A partir do interesse de verificar como a saúde é abordada na formação profissional de
Educação Física sob a perspectiva de acadêmicos que realizaram estágios supervisionados na
Educação Infantil, analisou-se um total de 33 relatórios produzidos nos anos de 2018 (15
relatórios) e 2019 (18 relatórios) e caracterizaram-se por serem dezenove (19) documentos de
autoria de mulheres e quatorze (14) produzidos por homens. Por questões éticas as notas
advindas da análise dos relatórios foram feitas em registros numéricos, ou seja, relatório de 1
ao 33, assim como falas ou trechos que pudessem ser identificados foram descartados.
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Registros dos(as) estagiários(as) sobre saúde
A base teórico-metodológica assentada nos estudos da infância acerca da saúde, sob um
ponto de vista sociocultural, associadas à técnica da análise de conteúdo, possibilitaram a
sistematização dos registros em quatro categorias: o brincar, a higiene, a alimentação e os
cuidados com o corpo durante as aulas. As informações foram organizadas no formato de
quadros, considerando o período em que o estágio foi realizado e as respectivas categorias
suscitadas. Priorizaram-se trechos que caracterizassem de maneira mais precisa a perspectiva
proposta em cada categoria, nesse sentido, no processo de escolha, alguns excertos não foram
considerados, pelo fato do assunto abordado já teria sido apresentado em outros pontos
destacados para a análise.
Quadro 1 - Palavras-chave e suas frequências nos relatórios de ECS em EI (2018 e 2019).
Palavras-chave
Frequência
2018
2019
Total
Brincar, brincadeira(s)
15
18
33
Higiene
12
13
25
Alimentação
10
13
23
Cuidar, Cuidado(s), cuidadoso(a)
12
09
21
Fonte: Elaborado pelos autores (2022).
O quadro 1 mostra as palavras base teórico-metodológicas identificadas nos relatórios
dos estágios supervisionados na Educação Infantil e suas respectivas frequências, em que é
possível observar os termos “Higiene”, “Alimentação”, “Cuidar” e o “Brincar”, sendo esse
último o que se fez presente em todos os relatórios analisados. Para Ferreira e Valdez (2005)
o brincar é fundamental para a obtenção da qualidade de vida na infância, que é, por sua vez,
um dos objetivos principais da educação física. Ainda conforme o entendimento dos autores,
essa discussão é essencial aos profissionais e que esses precisam envolver os jogos e
brincadeiras em seu planejamento, como objeto principal, pois:
...a soma de prazer que uma criança obtém durante as atividades lúdicas em que exercita o
corpo e a mente através da brincadeira, aprimorará sua qualidade de vida, potencializando o
otimismo e reduzindo o nível de stress a que frequentemente está submetida, independente
de situações agradáveis ou desprazerosas enfrentadas ao longo do seu cotidiano. (Ferreira &
Valdez, 2005, p. 1).
Essa conexão corpo, mente e qualidade de vida proporcionadas através da pratica do
brincar foi bastante relatada nos discursos dos acadêmicos em seus relatórios, como se
observa no Quadro 2:
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Quadro 2 - Palavras-chave e registros de campo 2018 e 2019 relacionados ao brincar.
Registros – 2018
Registros - 2019
“Colocamos no plano muitas brincadeiras de
correr e pular. Se movimentando as crianças
gastam energia e ficam mais cheias de saúde [...].
(Relatório 4)
“Desde o começo percebi que as brincadeiras são
muito importantes na educação infantil [...] Pelas
brincadeiras os alunos aprendem tudo, até como
ter higiene, se comportar na fila etc.” (Relatório
7)
“Brincar faz bem pro corpo e pra mente. Elas [as
crianças] aprendem muitas coisas brincando e isso
ajuda no mental delas, ajudando também nas
atividades em sala. (Relatório 1)
“Muito legal perceber a interação entre elas [as
crianças] e como esse contato saudável da
brincadeira ajuda a aprender a se relacionar não
só dentro da escola, mas na vida como um todo.
(Relatório 10)
Fonte: Elaborado pelos autores (2022).
Esses apontamentos acerca do brincar e das brincadeiras expressos nos registros
presentes nos relatórios corroboram com o entendimento do Winnicott (1975, p. 63) que o ato
de “brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde”. O autor considera a ação de brincar
uma forma de “comunicação na psicoterapia”; e para ele, a psicanálise teve seu
desenvolvimento como um a “forma altamente especializada do brincar, a serviço da
comunicação consigo mesmo e com os outros”.
Nessa mesma concepção, Santos (1995) ressalta que o ato de brincar sempre existiu, em
todos os povos, desde os tempos mais remotos e que essa ação possibilita a criança
desenvolver suas habilidades motoras e cognitivas. Ele também afirma que o brincar, pode ser
considerado uma pratica indispensável para obtenção da saúde física, emocional e intelectual
do ser humano.
Outro termo importante em relação à saúde no contexto da educação infantil encontrado
frequentemente nos registros dos relatórios analisados foi a Higiene, que, conforme Barbosa
(1999), o objetivo da higiene é de fato proteger e melhorar a saúde, o que a torna, na verdade
uma ciência. Alguns estagiários tiveram a percepção do pouco ou da falta de noção de
higiene que algumas crianças tem, até mesmo devido a pouca idade, como é possível observar
no que é descrito no Relatório 2 no Quadro 3.
De acordo com Brasil (2008) o termo “Higiene” é uma palavra grega advinda de
“hygeino”, cujo significado consiste em “o que é são”, “o que é sadio”. Também era
utilizado, originalmente, como um adjetivo usado para qualificar a saúde, no qual os
indivíduos precisavam ter uma “saúde higiênica”. Depois, a palavra tornou-se um substantivo,
que pode ser compreendido como um conjunto de hábitos que se deve ter para conseguir o
bem-estar e a saúde.
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Quadro 3 - Palavras-chave e registros de campo 2018 e 2019 relacionados a higiene.
Registros – 2018
Registros - 2019
“Percebi que as crianças ainda não possuem muita
noção de higiene por serem muito pequenas. Isso
dificulta as vezes na rotina, pela minha falta de
habilidade para cuidar [...]” (Relatório 2)
“A higiene é para ser ensinado na Educação
Infantil porque faz parte da saúde das crianças e a
Educação Física como área da saúde tem que
abordar nas aulas” (Relatório 12)
“A falta de cuidado de alguns pais em relação a
higiene das crianças chamou atenção. É difícil dar
aula e cuidar desses detalhes [...]” (Relatório 11)
“Acho importante auxiliar no ensino de como
lavar as mãos, escovar dente cuidar do corpo, se
manter limpo, pois as crianças vão levar pra vida
toda e é algo que não faz parte só da aula em si,
mas da sociedade [...]” (Relatório 6)
Fonte: Elaborado pelos autores (2022).
Observa-se também que, para alguns acadêmicos que vivenciaram o estágio, há certo
descuido de alguns pais em se tratando da higiene e de como isso resulta em dificuldade de
conduzir a aula e até mesmo estar atento aos detalhes (Relatório 11). O Ministério da
Educação, (Brasil, 2008) enfatiza que o ambiente escolar não deve somente alertar, ou
informar sobre os assuntos que envolvem a higiene corporal, como também provocar uma
ação no sentido de que toda a comunidade escolar absorva, e tenham mudanças de hábitos,
atitudes e conhecimentos relacionados com higiene e saúde.
Como afirma Costa (2003) um papel que embora pareça simplório, mas que na verdade
é bem amplo e que faz parte da atuação do professor de Educação Física consiste na
orientação dos alunos quanto à higiene, quanto ao uso de vestuário e a forma correta de como
os exercícios devem ser executados, a fim de garantir a integridade física de cada um dos
praticantes de sua aula.
Outro fator que também é importante e contribui para saúde dos escolares e
consequentemente no melhor aprendizado n educação infantil encontrado nos registros de
campo dos estagiários em seus respectivos estágios supervisionados diz respeito à
Alimentação, conforme se observa no quadro 4.
Quadro 4 - Palavras-chave e registros de campo 2018 e 2019 relacionados à alimentação.
Registros – 2018
Registros - 2019
“A hora do lanche é uma hora importante porque
as crianças aprendem a se alimentar saudável
[...]” (Relatório 11)
“Na rotina da escolinha se aprende várias coisas
que as crianças levam pra casa, por exemplo, a
alimentação, que é cuidada pensando no
desenvolvimento delas [...]” (Relatório 5)
“[...] questões nutricionais devem ser ensinadas
desde a infância pois as crianças crescem já
sabendo a cuidar da alimentação e evitar a
obesidade [...] (Relatório 18)
“Saúde e educação fazem parte da rotina da pré-
escola e a educação física pode ajudar nas aulas
abordando sobre alimentação saudável, atividade
física (Relatório 13)
Fonte: Elaborado pelos autores.
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As observações descritas nos relatórios estão alinhadas com o que diz Brasil (2008) ao
afirmar que a comunidade escolar deve ser preparada para discutir as relações entre saúde,
higiene e alimentação, levando em consideração as condições de vida e os direitos dos
cidadãos. Feita de maneira crítica e contextualizada, a difusão dos conhecimentos sobre esse
tema beneficia toda a comunidade.
Nesse sentido, Cruz et al. (2012) acreditam que ao trabalhar a concepção de educação
para saúde vinculada a perspectiva da educação alimentar é possível intensificar a relevância
social das aulas de Educação Física Infantil. Ao utilizar-se da disciplina de Educação Física
como ferramenta orientadora de novos conhecimentos, temáticas relacionadas a desnutrição,
obesidade e doenças ligadas a uma alimentação inadequada podem ser priorizadas no
processo educativo formal, influenciando, resultando em adoção de hábitos alimentares
saudáveis pelas crianças.
Assim como as contribuições da educação física nos cenários infantis relacionadas à
alimentação, outro termo presente nos registros analisados foi os cuidados com o corpo, como
se percebe no quadro 5, em que a preocupação com as escolha das atividades fazem parte do
planejamento das aulas e mostra o cuidado do profissional de educação física com o cuidado e
autocuidados dos escolares com o corpo.
Quadro 5 - Palavras-chave e registros de campo 2018 e 2019 relacionados aos cuidados com o corpo.
Registros – 2018
Registros - 2019
“Os cuidados com a escolha das atividades
fizeram parte do planejamento, para que nenhuma
colocasse a saúde das crianças em risco [...]”
(Relatório 13)
“[...] sei que o contato físico faz parte da escola
mas tive bastante cuidado para não propor
nenhuma atividade que pudesse machucar”
(Relatório 9)
“Percebi que a escola tem todo um cuidado com as
crianças porque alguns pais ficam chateados se a
criança aparece com algum machucado em casa
[...] (Relatório 3)
“As aulas de Educação Física devem auxiliar a
criança no desenvolvimento da noção do espaço
para que elas possam cuidar do próprio corpo e do
corpo dos coleguinhas” (Relatório 7)
Fonte: Elaborado pelos autores (2022).
Segundo Gava e Jardim (2015), é importante que as crianças aprendam a cuidar do
próprio corpo, valorizando e incorporando hábitos saudáveis, sendo esse por sua vez um dos
aspectos básicos da qualidade de vida. Os autores salientam ainda, sobre a importância da
psicomotricidade, que existe em todos os gestos e atividades que desenvolvem a motricidade
da criança, que se fazem necessários para o conhecimento e domínio do corpo.
Esse conhecimento e vivencias com o corpo permitem que a criança na educação
infantil compreenda seus limites, conheça e valorize seu próprio corpo, descubra suas
possibilidades e entenda a origem de cada movimento. É através destas vivencias que as
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crianças adquirem consciência corporal e desenvolvem mais facilmente a linguagem corporal,
ajudando-a no seu desenvolvimento para a descoberta de capacidades intelectuais e afetivas.
Logo, a Educação Física é fundamental na Educação Infantil, pois é através do brincar que a
criança explora seu corpo, interage com outros corpos e desenvolve seu crescimento
cognitivo, afetivo e motor (Gava et al., 2010).
Considerações finais
O presente estudo teve como objetivo verificar como a saúde é abordada por estagiários
de Educação Física na Educação Infantil da Universidade Federal do Tocantins (UFT). Os
resultados obtidos neste estudo mostraram que a saúde na educação infantil é objeto de
atenção e cuidado inseridos desde a formação profissional por meio do Estágio Curricular
Supervisionado. Desse modo, foi possível identificar as interpretações e percepções distintas
de saúde, pautadas, majoritariamente, na ideia de prevenção de doenças, benefícios do
brincar, promoção de condutas de higiene, bem como de cuidado corporal nos espaços
escolares e na pratica da educação física.
Entende-se que por meio do movimento humano, os estagiários puderam apreender, em
processo de interação com as crianças, nuances acerca da saúde que invadem as relações
sociais, a cultura, os afetos, bem como o próprio corpo na Educação Infantil. Sendo assim,
destacamos que as vivências no Estágio retratadas nas falas, apesar de ocorrerem em um curto
período, se mostraram indispensáveis na compreensão do papel social do professor de
Educação Física, além de possibilitar a ampliação de diretrizes qualitativas de reflexão sobre a
saúde nos espaços infantis.
Infere-se, com isso, a importância da abordagem desses conceitos relacionados à saúde
na formação do profissional de Educação Física, assim como na necessidade de mais estudos
com crianças, contemplando questões educativas que contemplem o bem-estar físico,
emocional, social e ambiental.
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Informações do Artigo / Article Information
Recebido em: 31/01/2023
Aprovado em: 22/03/2023
Publicado em: 30/05/2023
Received on January 31th, 2023
Accepted on March 22th, 2023
Published on May, 30th, 2023
Contribuições no Artigo: Os(as) autores(as) foram os(as) responsáveis por todas as etapas e resultados da pesquisa, a
saber: elaboração, análise e interpretação dos dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito e; aprovação da versão
final publicada.
Author Contributions: The author were responsible for the designing, delineating, analyzing and interpreting the data,
production of the manuscript, critical revision of the content and approval of the final version published.
Conflitos de Interesse: Os(as) autores(as) declararam não haver nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Avaliação do artigo
Artigo avaliado por pares.
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Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Silva, F. J., Ferraz, F. J. S., & Farias, M. J. A. (2023). Notas sobre saúde em registros de campo de estagiários de Educação
Física na Educação Infantil. Rev. Bras. Educ. Camp., 8 e15636. http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e15636
ABNT
SILVA, F. J.; FERRAZ, F. J. S.; FARIAS, M. J. A. Notas sobre saúde em registros de campo de estagiários de Educação
Física na Educação Infantil. Rev. Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 8, e15636, 2023.
http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e15636
