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Revista Brasileira de Educação do Campo
Brazilian Journal of Rural Education
ARTIGO/ARTICLE/ARTÍCULO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e15680
A contação de histórias com uso das tecnologias no Pré-
Escolar Mãe Eduvirgens: limites e desafios em tempos de
pandemia
Ludymila Alves Damascendo1, Marilene Soares da Silva2
1, 2 Universidade Federal do Norte do Tocantins UFNT. Centro de Educação, Humanidades e Saúde/Campus de
Tocantinópolis. Rua 6, s/n, Bairro Vila Santa Rita. Tocantinópolis. Brasil.
Autor para correspondência/Author for correspondence: ludamasceno-uft@outlook.com
RESUMO: É fato que, no contexto educacional a contação de
histórias sempre esteve e estará presente nas diferentes etapas de
ensino. Essa arte contribui para preservação de diversas culturas
sociais. Além disso, ela possibilita que o sujeito ouvinte conheça
outros mundos por meio da imaginação. Dessa forma, o presente
trabalho analisa o uso da contação de histórias através de
recursos midiáticos como instrumento de ensino para aulas
híbridas e remotas em tempos de pandemia. É abordada a
importância dessa arte no contexto educacional, principalmente
na fase inicial e com isso o texto dialoga sobre os diferentes
espaços em que a oralidade se encontra nos dias atuais, citando
autores para subsidiar a discussão. Menciona também o trabalho
realizado pela Pré-Escolar Mãe Eduvirgens, localizada no
município de Tocantinópolis (Tocantins) ao expor relatos sobre
diferentes possibilidades e estratégias de se trabalhar com essa
arte. Por fim, o trabalho apresenta as respostas de um
questionário respondido pelas professoras da instituição por
meio do qual comentaram suas experiências com a contação de
histórias.
Palavras-chave: contação de histórias, pandemia, tecnologia,
relatos de experiências.
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The telling of stories with the use of technologies in
Preschool Mother Eduvirgens: limits and challenges in
times of pandemic
ABSTRACT: It is a fact that, in the educational context,
storytelling has always been and will be present in the different
stages of teaching. This art contributes to the preservation of
diverse social cultures. In addition, it allows the listening subject
to know other worlds through imagination. In this way, the
present work analyzes the use of storytelling through media
resources as a teaching tool for hybrid and remote classes in
times of pandemic. The importance of this art in the educational
context will be addressed, especially in the initial phase. The
text will talk about the different spaces in which orality is found
nowadays, citing authors to support the discussion. It will
mention the work carried out by Pré-Escola Mãe Eduvirgens,
located in the city of Tocantinópolis-TO, exposing reports on
different possibilities and strategies of working with this art.
Finally, the work will present the answers to a questionnaire
answered by the institution's teachers, through which they
commented on their experiences with storytelling.
Keywords: storytelling, pandemic, technology, experience
reports.
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La narración de historias con el uso de tecnologías en
Preescolar Madre Eduvirgens: límites y desafíos en
tiempos de pandemia
RESUMEN: Es importante que, en el contexto educativo, la
narración de cuentos siempre haya estado y estará presente en
las diferentes etapas de la enseñanza. Este arte contribuye a la
preservación de diversas culturas sociales. Además, permite al
sujeto oyente conocer otros mundos a través de la imaginación.
Por lo tanto, el presente trabajo analiza el uso de la narración de
historias a través de recursos mediáticos como herramienta de
enseñanza para clases híbridas y remotas en tiempos de
pandemia. Se aborda la importancia de este arte en el contexto
educativo, especialmente en la fase inicial y con esto el texto
dialoga sobre los diferentes espacios en los que la oralidad está
presente actualmente, citando autores para apoyar la discusión.
También menciona el trabajo realizado por La Madre Preescolar
Eduvirgens, ubicada en el municipio de Tocantinópolis
(Tocantins) al exponer informes sobre diferentes posibilidades y
estrategias de trabajo con este arte. Finalmente, el artículo
presenta las respuestas a un cuestionario respondido por los
docentes de la institución a través del cual comentaron sus
experiencias con la narración de cuentos.
Palabras-clave: narración de cuentos, pandemia, tecnología,
informes de experiencia.
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Introdução
No ano de 2020 foi dado início a uma fase muito difícil para todos. Fase de incertezas,
de dificuldades, insegurança e medo. Nunca se havia visto uma escola desolada, sem barulho,
sem alegria e sem crianças. Uma escola fechada por causa de uma doença desconhecida,
efêmera, com alto grau de mortalidade e transmitida através do ar e contato físico. Foi um
tempo de perdas, cuja maior dúvida era se algum dia as coisas voltariam à normalidade. Tudo
provocado pela pandemia da Covid-19.
Grandes foram os impactos causados pela pandemia: vidas perdidas, empresas fechadas,
distanciamento social obrigatório, jovens e crianças tiveram a sua vida escolar paralisada,
atrasando seu desenvolvimento e sendo prejudicadas por tempo indeterminado. Como
consequência disso o índice de depressão aumentou significativamente.
Os profissionais da escola questionavam: será se algum dia eu verei novamente minha
sala cheia de crianças escrevendo, brincando, desenhando, brigando, gritando, sorrindo,
chorando? Será se ainda terei o privilégio de escolher uma apresentação para minhas crianças
nas datas comemorativas? E as reuniões com os pais? Quando poderei voltar a ver e a ouvir
meu aluno sem ser através da tela de um celular ou de um computador? Será se eu como
professora voltarei a ter o privilégio de poder abraçar meus alunos? Foi a partir daí que o
contato social passou a fazer falta: o cansaço e o estresse da rotina de planejamento, bem
como o atendimento de 20 (vinte) ou mais crianças em uma sala de aula tornaram-se saudade.
Durante esse momento de grande tensão, muitos profissionais se reinventaram,
adaptando-se ao dito “novo normal”. Com o setor educacional também não foi diferente,
muitos daqueles que não aceitavam as tecnologias como ferramenta de ensino ou, em outros
casos, aqueles que enfrentavam certa dificuldade de fazer uso de tais instrumentos, viram-se
obrigados a aprender a utilizá-los em suas práticas pedagógicas.
Para tanto, o foco do presente trabalho liga-se ao uso da contação de histórias através de
recursos midiáticos como instrumento de ensino nas aulas remotas da escola municipal Pré-
Escolar Mãe Eduvirgens, localizada no município de Tocantinópolis (Tocantins). Desse
modo, o fato da contação de história ser o objeto de estudo constitui o motivo da escolha deste
tema como cerne para a elaboração do presente trabalho. Sendo assim, objetivo desta pesquisa
é aprofundar os estudos sobre contação de histórias para uma compreensão mais ampla.
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O trabalho está organizado em três partes. A primeira parte aborda algumas obras que
falam sobre a importância da contação de histórias e também sobre as diferentes
possibilidades de se trabalhar com essa arte sendo mencionadas duas obras: A arte de contar
histórias no século XXI, de Cléo Busatto (2013) e O que é mídia-educação, de Maria Luiza
Belloni (2009). Além disso, é citada a Base Nacional Comum Curricular (BNCC),
especificamente as orientações que tratam acerca da importância da oralidade na educação
infantil. A segunda parte apresentará o relato de experiência da autora do presente trabalho
com o “contar histórias” em tempos de pandemia na Escola Municipal Pré-Escolar Mãe
Eduvirgens entre os anos de 2020-2021. Durante esse tempo, trabalhou-se com o ensino à
distância, através de vídeos, portfólios e grupos de WhatsApp. Por último, a terceira fará uma
análise de um questionário dissertativo respondido por profissionais que atuaram na escola
durante a vigência da pandemia. Nesta parte é válido considerar de antemão que os
participantes opinaram sobre a importância dessa arte e, também, dialogaram sobre a sua
experiência com ela durante as aulas remotas.
A presença da oralidade em diferentes contextos sociais
No que se refere à contação de histórias Cléo Busatto discute em sua obra A arte de
contar histórias no século XXI: tradição e ciberespaço (2013) a importância da permanência
do contador de história não somente em instituições escolares, mas também no meio social
como um todo. A autora fala sobre o processo de adaptação do contador tão importante para a
sociedade e ressalta o alinhamento da sua arte com o uso das tecnologias para que ela
permaneça viva. Em um dos trechos do seu trabalho faz a seguinte colocação:
... enquanto os contos aguardam a voz que os tornará reais, uma personagem elabora
reflexões sobre a arte de contar histórias, e se enrola nas teias do tempo, ora se vendo no
incunábulo desta tradição, misturada a bardos e griots, sherazades e avós; ora se vendo num
tempo futuro, disputando o espaço com a imediatez e a instantaneidade do ciberespaço,
tentando andar de braço dado com a era da informática, ao se lançar como uma
cibercontadora (Busatto, 2013, p. 9).
Busatto (2013) também menciona que por tempos a contação de histórias foi e continua
sendo uma das principais ferramentas utilizadas para a construção de conhecimentos.
Antepassados transmitiam sua cultura de geração para geração através da voz dos contadores
de histórias, e além de aprender mais sobre a sua cultura, a oralidade era utilizada como
momento de lazer nas comunidades.
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Em um passado não tão distante não existiam televisão, DVD-ROM, celulares,
computadores e nem serviços de streaming como a Netflix. De acordo com Busatto (2013),
havia apenas pessoas que, por meio da oralidade, levavam os seus ouvintes para o passado e
para lugares antes nunca vistos, sem precisar sair do lugar, e isso já era o suficiente.
Busatto (2013) diz ainda que, com o surgimento da escrita, acreditou-se que a oralidade
perderia seu espaço no meio social. Entretanto, permaneceu cumprindo um importante papel,
pois contribui e acrescenta no ato de contar histórias. Sabemos que temos uma memória falha
e que ao envelhecer deixamos alguns detalhes para trás, sobrando somente retalhos de
lembranças. Por isso, a escrita e em especial os livros deu considerável energia às
histórias, suas raízes ficaram mais firmes, suas sementes puderam ser espalhadas ao redor do
mundo, levando encanto e magia para ouvintes de lugares distantes.
Ainda fazendo menção à Cleo Busatto (2013), alude-se que o ofício da contação de
histórias não parou por aí. É de total entendimento que com o tempo a sociedade muda,
surgindo novas necessidades, interesses e exigências no mercado de trabalho, e assim acaba
uma determinada moda, depois aparece outra. Uma rede social perde o interesse, mas uma
similar e mais moderna assume o espaço, e tal aspecto ocorre também com a educação: nós,
enquanto mestres, precisamos acompanhar e nos adaptar sempre a essas oscilações para que
os alunos não percam o interesse pelo aprendizado.
Nesse sentido, a contação de histórias não pode ficar para trás. O uso da oralidade vem
tomando diferentes espaços e isso se pelo fato de que os contadores de histórias estarem
cientes da necessidade de mudar as suas práticas e de buscar ampliar os seus horizontes sem
perder a sua essência. Mediante esse contexto, surgem os seguintes questionamentos: Qual
ferramenta mais impacta positivamente os ouvintes no uso da oralidade? Fazer uso somente
da voz e da memória? Usar um livro? Fantoches? Se caracterizar? Narrar através de gestos?
Tais questionamentos têm apenas uma resposta: tanto faz! O que é preciso é que o ato de
contar histórias se mantenha aceso, pois ele além de ensinar, é um momento de troca de afeto
entre narrador e ouvinte, o famoso “olho no olho”.
Mas, a grande pergunta é: Como fazer isso à distância, em tempos pandêmicos? Para
muitos seria impossível fazer uso de uma tela para apresentar histórias. Não existiria chance
alguma de despertar o interesse de uma criança contando história através de um vídeo.
Engano. O que se contempla cada vez mais é que a contação de histórias vem se adentrado em
espaços antes inimagináveis, e as mídias sociais é uma delas. Busatto reflete que:
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Paradoxalmente, a arte, que pedia um tempo e o corpo presente para se desenvolver e
envolver, se integrou à velocidade da virtualidade, assumindo novas feições, como as
histórias mediadas pelo digital. Esta arte já não tem como característica apenas uma provável
despretensão dos antigos contadores, que se reuniam ao redor do fogo, ao da cama. Por
outro lado, imprimiu-se nela uma sofisticação técnica, com detalhes que fazem diferença,
como um texto mais elaborado sintaticamente, imagens visuais e paisagens sonoras nítidas, e
apresenta um sujeito-contador com domínio dos recursos vocais e corporais ... (Busatto,
2013, p. 9-10).
Portanto, fica claro, nessas considerações da autora, o quanto o ato de contar histórias
transformou-se (e ainda continua) com o passar do tempo. Ao falar sobre os antigos
contadores que reuniam a sua comunidade para narrar histórias próximo ao fogo, chama a
atenção o fato de que essa prática nos dias atuais, apesar de uma estratégia diferenciada,
assume grande relevância no cotidiano e no aprendizado da criança, pois é através do contato
com livros e a contação de histórias em diferentes espaços do seu cotidiano, que ela começa
construir sua personalidade enquanto leitora. Para tanto, à educação é dada a continuidade a
essa estruturação.
É imprescindível que o contar histórias se torne um hábito na sala de aula pois existem
diversas razões para se ler para as crianças e um dos motivos principais é o fato de que é nesse
momento que a criança desperta imaginação e interesse pela leitura. Através da voz do
professor, das rodas de conversa, a criança será levada ao caminho do saber, e com isso, abre-
se a porta para o universo do encanto e ao mesmo tempo do aprendizado. Mas é importante,
antes de tudo, que se saiba o motivo para o qual se lê.
Para Busatto (2013), leituras para todos os tipos de gostos e de intenções: ler para
ensinar como ter um bom comportamento, ler para aprender a não confiar em estranhos, ler
para conhecer outras culturas, ler para sorrir, chorar, se emocionar, para escapar um pouco da
realidade, para desvendar um mistério difícil de ser solucionado, por curiosidade, ler somente
por ler, dentre outras razões. Outro motivo de realizar esses momentos com as crianças na sala
de aula é a desigualdade social que enfrentamos e que faz com que nem todas tenham acesso à
leitura e à contação de histórias fora da instituição escolar.
Ao voltar novamente à lembrança dos tempos de pandemia, uma pergunta relevante é:
Será se as crianças de classe mais baixa de alguma forma tiveram contato com a leitura? Essa
pergunta torna mais necessária ainda realizar esses momentos, uma vez que é um desafio
instigar o gosto pela leitura nesse público que não tem acesso a livros constantemente.
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Ao estudar a Base Nacional Comum Curricular, a BNCC (Brasil, 2017), percebe-se a
extrema importância da leitura desde a fase da Educação infantil pois é a fase propicia para o
incentivo ao gosto pela leitura, pois as crianças ainda não leem de forma convencional, ou
seja, não fazem leitura de textos, mas somente de imagens e pequenas palavras. Sendo assim,
a única forma DE manterem contato com o mundo das histórias é através da voz daqueles que
possuem o domínio da leitura. Para Busatto (2013), é crucial lembrar que a leitura para
crianças não deve ser feita de qualquer forma, é preciso uma organização, um planejamento,
um objetivo e uma intenção por trás dessa prática.
Ainda fazendo menção à Base Nacional Comum Curricular, é importante apresentar o
trecho em que ela aborda a importância da oralidade dentro da educação infantil:
Desde cedo, a criança manifesta curiosidade com relação à cultura escrita: ao ouvir e
acompanhar a leitura de textos, ao observar os muitos textos que circulam no contexto
familiar, comunitário e escolar, ela vai construindo sua concepção de língua escrita,
reconhecendo diferentes usos sociais da escrita, dos gêneros, suportes e portadores. Na
Educação Infantil, a imersão na cultura escrita deve partir do que as crianças conhecem e das
curiosidades que deixam transparecer. As experiências com a literatura infantil, propostas
pelo educador, mediador entre os textos e as crianças, contribuem para o desenvolvimento do
gosto pela leitura, do estímulo à imaginação e da ampliação do conhecimento de mundo ...
(Brasil, 2017, p. 42).
Percebe-se, assim, a relevância da oralidade no processo de desenvolvimento da
criança. O documento prevê que, através do contato direto com o meio social, essa criança
tenha a oportunidade de vivenciar experiências que incentive curiosidade e descobertas
daquilo que está ao seu redor.
A BNCC também ressalta que a leitura na Educação Infantil é uma das experiências que
as crianças necessitam vivenciar em sua fase de desenvolvimento. Sem o contato com a
leitura, dificilmente se adquire a capacidade de imaginar, de encantar, de se expressar. Tudo
isso são direitos previstos no documento mencionado. Portanto, se o educador não assume
esse compromisso com as crianças, este está evidentemente infringindo aquilo que é previsto
em lei.
O uso das tecnologias no contexto educacional
Sobre o uso das tecnologias no âmbito da educação, é fato que tanto as instituições
como os profissionais ainda estão em processo de construção. Segundo Belloni (2009), aos
poucos, essa ferramenta vem deixando de ser vista como uma vilã do ensino, e se tornando
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uma grande aliada. Assim, as mídias tornaram-se um recurso de grande importância no
momento do planejamento.
Crianças de forma precoce estão adquirindo celulares e tablets, acessando diferentes
plataformas e joguinhos. Isso é algo que não dá para ser impedido, e com isso, o que cabe aos
educadores mediante essa situação, de acordo com Belloni (2009), é conscientizar os alunos
para um consumo consciente e útil das mídias.
Sobre isso, é interessante fazer menção a uma obra da referida autora, cujo título é O
que é mídia-educação (2009), na qual se trata sobre as transformações sociais e educacionais
que a tecnologia vem causando. Em um dos trechos do seu trabalho, a autora destaca que “A
missão da mídia-educação vai se tornando mais complexa e difícil, ao mesmo tempo em que
seu papel se torna também mais crucial, e cada vez mais, imprescindível ...” (Belloni, 2009, p.
xiv).
Belloni (2009) reflete que é impossível tentar impedir as mídias de adentrarem na vida
de jovens e crianças, pois estas penetram de diferentes formas no cotidiano das pessoas. O
que a cibercultura oferece, encanta, chama atenção é fazer uso desses dispositivos ao fazer jus
à fala da autora, “constitui um direito fundamental da humanidade” (Belloni, 2009, p. xiv).
Nesse sentido, resta aos profissionais da educação adaptar suas práticas metodológicas para
fazer uso de tais recursos.
Belloni explica o impacto do avanço tecnológico ao afirmar que:
O impacto do avanço tecnológico (entendido como um processo social) sobre processos e
instituições sociais (educação, comunicação, trabalho, lazer, relações pessoais e familiares,
cultura e imaginário e identidades etc.) tem sido muito forte, embora percebido de modos
diversos e estudados a partir de diferentes abordagens (Belloni, 2009, p. 7).
Durante a pandemia, o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) pelos
professores tornou-se mais constante dentro de diferentes situações, por exemplo, serviram
para capacitações e reuniões online, para conversar com as crianças, para pesquisar propostas
de atividades, vídeos, músicas, gravações de chamada e histórias, para manter contato com
colegas de trabalho e se manter informado sobre notícias e assuntos relacionados à demanda
escolar.
No contexto mais geral, também, serviram para ligações, conversas em chats com
amigos, familiares e colegas de trabalho. Essa foi a única maneira de manter contato com
pessoas do convívio social e ao mesmo tempo evitar o contágio da Covid-19. Pessoas que
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tinham dificuldades com as tecnologias precisaram aprender a manusear smartphones com
diferentes funções e aplicativos, desenvolvendo habilidades de gravar áudios, vídeos e tirar
fotos para enviar a familiares que não podiam lhe visitar. Os cinemas, estádios e teatros foram
fechados e, assim, plataformas de streaming tornaram-se um dos únicos instrumentos de
entretenimento durante o isolamento social.
O presente tópico teve por objetivo fazer uma breve reflexão sobre a importância e
necessidade do contato com a leitura e com a contação de histórias no cotidiano de jovens e
crianças. E sobre o contexto enfrentado pela pandemia, onde o somente profissionais de
diversas áreas, como também pessoas de grupos de riscos se viram obrigadas a aprender fazer
uso das tecnologias. Também se deu um maior aprofundamento da relevância que as
tecnologias assumem para vida social das pessoas nos dias atuais, bem como sobre a
necessidade de as instituições escolares prepararem seus alunos a fazerem um uso sábio e útil
desses instrumentos tão ricos e cheios de possibilidades. No subtópico seguinte, serão
mencionadas algumas oportunidades de se trabalhar com a contação de histórias, citando
exemplos de como utilizar as tecnologias para tal objetivo.
As diferentes possibilidades para se trabalhar com a arte da contação de histórias
Busatto (2013) mostra algumas das estratégias utilizadas pelos contadores de histórias
como forma de manter acesa a chama da oralidade no cotidiano dos ouvintes a partir de
diferentes cnicas. Para narração de histórias, é preciso antes de tudo cativar o seu
telespectador, logo:
Eles chegam de todas as partes: Nortel, Sul, Leste, Oeste. Vêm vestidos de vermelho, azul e
amarelo; fitas coloridas penduradas pelo corpo, vêm com jeito de palhaço, ou de princesa;
outros vestidos de si próprio. Alguns trazem consigo instrumentos sonoros, músicos e
cantores; outros são eles próprios músicos e cantores; alguns portam malas, bonecos,
fantoches, panos, chapéus, tapetes, bonés, caixas de fósforo, mímica, humor; outros nada
trazem, apenas vão chegando, contando, cantando deixando leitura, múltiplas leituras aos
seus ouvintes hipnotizados ... Eles são os contadores de histórias do século XXI. Estão
presentes nos quatro cantos do mundo (Busatto, 2013, p. 26).
Walter Benjamin (1983), citado frequentemente por Busatto (2013) em sua obra, temia
que essa arte deixasse de existir devido aos novos interesses e necessidades do homem.
Porém, o contador de histórias conseguiu ultrapassar a barreira tecnológica, tornando-a na
verdade um grande aliado nessa tradição.
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Segundo Busatto (2013), a técnica da oralidade ainda permanece no universo da
contação de histórias. Há os contadores, que somente com sua voz e gestos, encantam quem
estiver ouvindo, fazendo com que estas viagens para outros lugares inimagináveis. Esses têm
a facilidade de ativar o modo imaginação em seus ouvintes, não são somente crianças, mas
também jovens e adultos, uma vez que essa arte é voltada para públicos de todas as idades.
Além disso, aqueles que possuem dificuldades de guardarem muitas histórias na
memória, fazendo uso dos livros e utilizando das gravuras como forma de ajudar o ouvinte a
compreender mais o enredo da história. Para muitos, essa técnica tende a fazer com que a
imaginação deixe de existir. Mas, na verdade, esta aguça mais a atenção das crianças, serve
como outra porta para esse mundo e, não menos importante, serve como incentivo ao gosto
pela leitura.
Ainda fazendo menção à Busatto (2013), também aqueles que se caracterizam para
abrilhantar mais o momento, incorporando personagens. Eles conseguem perfeitamente
assumir duas funções (interlocutor e intérprete) sem permitir que uma exclua a outra. Esse
tipo de proposta tende a aproximar mais o ouvinte com mundo que o contador de histórias
abrirá as portas, interiorizando aquela outra realidade para dentro de si e fazendo assim com
que ela se torne sua.
Existem os que fazem uso de objetos, fazendo demonstrações, imitando os personagens,
trazendo à tona diferentes sentimentos para aqueles que têm o dom de escutar. Para tanto, é
interessante observar como alguém consegue fazer uso de um simples pedaço de pano para
contar histórias.
Segundo Busatto (2013), alguns são ao mesmo tempo contadores e cantores, pois fazem
uso de instrumentos para imitar os barulhos ou mesmo para cantar histórias. Ou seja, além da
tradição oral, transmitem também a musical. Nessa mesma perspectiva, existem os que, antes
de dar introdução à narração, cantam uma música para chamar os seus ouvintes para uma
nova viagem.
Além disso, Busatto (2013) menciona os que usam de fantoches, dedoches, que utilizam
teatros para divertir o público. Aqueles que têm quem faça uso de um avental com os
personagens e a paisagem da história, como forma de apresentar cada um para os
telespectadores facilitando assim tanto para quem narra, como para quem ouve.
Existem os que utilizam da tela de um celular ou de um computador, lidando com todas
as técnicas mencionadas. Além de gravar, estes devem aprender a fazer edições, de modo
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que a história se torne ainda mais atraente para aqueles que irão recebê-la. Há quem aprenda a
usar aplicativos que a internet oferece, como o KineMaster, que coloca backgrounds e áudios
de fundo para tornar a gravação mais divertida e interessante.
Ainda nesse mesmo contexto, aqueles os que criam cenários para apresentar uma
história. Um simples tapete com livros e brinquedos torna-se um ambiente prazeroso para se
ouvir uma história. os que utilizam de gravuras e quadros para ajudar no entendimento
quanto ao enredo da narrativa. E, também, quem use somente da voz e um tubo de linhas para
contar a lenda de Anansy e o baú de histórias, uma lenda africana que fala sobre o surgimento
das histórias no mundo. Nesse âmbito, isso tende a encantar e prender a atenção do ouvinte.
Para tanto, é notório o esforço e a perseverança dos narradores, dos professores que
também são contadores de histórias e que contribuem para que essa tradição possa
permanecer, principalmente em tempos de pandemia. Mas esses desafios ainda não acabaram,
é preciso sempre se atualizar e fazer readaptações no que concerne à arte de contar histórias.
As professoras do Pré-Escolar e Eduvirgens, durante os anos de 2020 e 2021, por
meio de um trabalho árduo e complexo de narração, conseguiram com muito esforço e total
dedicação manter nas crianças a paixão pela oralidade. A arte de contar histórias não é fácil,
porém, quando se interessa por adentrar nesse universo e buscar as alternativas, o resultado é
gratificante.
O próximo tópico terá como intenção fazer um breve relato acerca de uma experiência
enquanto educadora, durante os anos de 2020 e 2021, no que tange ao ensino e à contação de
histórias conciliado ao uso das tecnologias. A finalidade de tal abordagem é contribuir para
práticas futuras que abram novos horizontes e novas possibilidades e metodologias de ensino.
Experiências e vivências com a arte da oralidade vinculada ao uso de recursos
tecnológicos como instrumento de ensino e aprendizagem
Como referência para esse tópico, será usada a obra Mídia-educação: da tecnologia à
comunicação educacional (2015), de Luiza Belloni. Esta fala sobre o uso das TIC’s como
sendo um grande e importante aliado no processo de ensino nos dias atuais:
... Em nossas sociedades contemporâneas, em que a importância das redes telemáticas e da
realidade virtual é cada vez maior, a educação deve mais do que nunca ser efetivamente para
todos (e não apenas para os jovens; e não somente para os mais favorecidos) e deve fazer um
uso intensivo das TICs, em uma perspectiva humanista de educação para o desenvolvimento,
para a solidariedade e para a cidadania (Belloni, 2015, p. xiii).
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Em agosto de 2020, iniciou-se uma nova etapa na carreira dos profissionais da educação
municipal de Tocantinópolis (Tocantins). Após quase metade de um ano sem aulas, com
escolas fechadas, a Secretaria da Educação compreendeu que não teria como as coisas
continuarem como estavam. Os jovens, as crianças e os adultos em fase de escolarização
estavam com seu aprendizado atrasado, não podendo retardar mais tal processo.
Aulas remotas foram entendidas como a alternativa encontrada para as escolas
municipais, incluindo as de Educação Infantil e da primeira fase do Ensino Fundamental,
como forma de manter os cuidados contra o contágio da Covid-19. Com essa novidade, se deu
início a uma preocupação coletiva por parte dos profissionais, em que surgiram dúvidas,
medos, e questionamentos como: “com dificuldades com tecnologias, como farei uso delas na
prática de ensino-aprendizagem com as crianças?”; “Se eu adulto estou com os nervos à flor
da pele pela falta de contato social, como devem estar essas crianças que não compreendem
de forma clara o que o mundo está enfrentando?”.
Várias foram as preocupações e os anseios por parte dos professores. Antes de dar início
à proposta, foram realizadas reuniões via Google Meet e YouTube, nas quais profissionais
especializados em Psicologia contribuíram para que os professores e gestores ficassem mais
tranquilos quanto ao retorno das aulas de forma remota.
Além desses momentos de grande importância para a equipe educacional,
disponibilizaram-se também formações continuadas para os educadores atuarem
remotamente. Apesar do pouco tempo de duração das formações, estas ajudaram bastante os
profissionais em noções de como dar início a esse trabalho.
A instituição Municipal Pré-Escolar Mãe Eduvirgens, além de ter, à época, uma equipe
incompleta, também estava com o prédio da escola ocupado pelo Centro de Acolhimento
Indígena. Outra parte importante a ser mencionada é que a escola estava sem gestor, tendo
somente uma coordenadora que acompanhava a parte administrativa e pedagógica ao mesmo
tempo. De qualquer modo, a equipe escolar precisou dar início ao seu trabalho, ocupando a
sala de outra instituição também localizada em zona urbana. Os materiais que deveriam ser
utilizados para o planejamento como impressora, papel sulfite, TNT, EVA, entre outros,
teriam que ser levados para a outra escola.
Com isso, o trabalho se tornou mais exaustivo, a outra instituição estava localizada a
uma distância significativa e os profissionais estavam acostumados com seu próprio
ambiente de trabalho. Quanto à montagem do portfólio, esse teve que ser feito do zero, e a
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equipe escolheu iniciar o tema abordando sobre a Covid-19 e o distanciamento social. Para a
elaboração do mesmo, foi encontrado um portfólio na internet com o mesmo tema o qual foi
utilizado como modelo para que o nosso pudesse ser elaborado. Vale assinalar que a primeira
proposta teria como finalidade fazer uma sondagem ao aprendizado das crianças para que os
próximos pudessem ser elaborados de modo a atender as suas principais dificuldades.
Após um determinado tempo, a equipe escolar conseguiu negociar com a Secretária
Municipal de Educação e Cultura (SEMEC) a ocupação de um prédio do município mais
próximo da instituição escolar. Isso aliviou a tensão por parte da equipe por saber que estava
mais perto do seu local de trabalho. Pouco tempo depois, o prédio próprio do Pré-Escolar Mãe
Eduvirgens foi desocupado e a equipe retornou para o seu ambiente definitivo.
Os portfólios deveriam ser feitos quinzenalmente e nesse âmbito cada um teria que
abordar um tema que estivesse de acordo com a necessidade das turmas. Era escolhido pela
equipe pedagógica histórias e vídeos que estivessem relacionados ao assunto para um melhor
embasamento. Depois dessa escolha, as atividades eram selecionadas, uma profissional ficava
responsável pela elaboração do projeto e do roteiro, ao passo que a montagem do objeto final
era feita por outra pessoa. Era um processo demorado, contudo, compensatório. A intenção do
grupo era de entregar um portfólio completo no qual as famílias pudessem acompanhar as
crianças sem dificuldades.
Após esse breve resumo sobre como se dava a confecção dos portfólios, é conveniente
explicitar um pouco melhor sobre a função que a contação de histórias assumia dentro desse
conjunto. A cada tema, era escolhida uma ou mais histórias para que pudesse ser dada uma
sequência didática de propostas que estivessem de acordo com o tema.
O título do primeiro projeto foi o texto Cartas às meninas e aos meninos em tempos de
Covid-19, elaborado pelo Fórum Mineiro de Educação Infantil (FMEI), em março de 2020. A
obra tinha como intenção fazer um texto com uma linguagem simples e clara para uma melhor
compreensão por parte das crianças com relação à situação que o mundo todo estava
vivenciando. O trabalho ressaltava a importância do distanciamento social, a necessidade de
ficar em casa, e que no momento as crianças não podiam ir para a escola, pois os cientistas
estavam procurando soluções para a doença da Covid-19. Mas, é deixado claro que tudo
voltaria ao normal, e que todos poderiam voltar para a escola e brincar com seus amigos.
A segunda obra foi a história de Malala, a menina que queria ir para a escola, de
Adriana Carranca (2015). Essa obra trata de uma menina paquistanesa de Suate que queria
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estudar e não podia pelo simples fato de ser mulher. Ela questionava a lei e persistia em
querer estudar, até ser perseguida pelos talibãs. Ao ouvir essa história, apesar dos riscos, a
jornalista e autora Adriana Carranca quis conhecer Malala pessoalmente. Enfim, com a ajuda
de Adriana, o mundo todo pôde conhecer a história de Malala e seu anseio por estudar.
A intenção de apresentarmos a história de Malala foi mostrar que assim como as
crianças da nossa escola queriam estudar, a referida jovem também queria, mas o contexto das
situações era diferente. O alvo era conscientizar sobre a importância dos estudos para as
nossas vidas mesmo que à distância.
A primeira história foi apresentada por uma professora, a de Malala foi narrada pela
pesquisadora deste trabalho, com o auxílio de um livro. Foi a primeira experiência da
pesquisadora narrando uma história através de um vídeo. No dia, como ainda estava em
processo de recuperação de uma cirurgia, a mesma gravou e editou o vídeo em casa com
ajuda do seu esposo.
Como iniciante em narrar histórias por meio das dias, a pesquisadora passou por um
processo de dificuldade e nervosismo. A principal dificuldade foi na edição, pois o que se
tinha como prioridade era continuar chamando a atenção das crianças para o ouvir histórias,
mas agora de forma diferente. Além disso, o aplicativo KineMaster era uma novidade para
todas as professoras, inclusive para a referida pesquisadora.
O retorno desse primeiro contato com contação de histórias enquanto professora e
estudiosa dessa arte foi gratificante. As crianças enviaram áudios, fotos, gravaram vídeos
falando sobre a história, dizendo o que compreenderam e, a partir dessa retribuição,
percebemos que a meta foi alcançada com êxito. A todo o momento os alunos mandavam
áudios e fotos das atividades realizadas, e isso era muito satisfatório. E com isso, a equipe
percebia que todo o esforço e dedicação estavam trazendo bons frutos.
Esse foi somente um breve relato sobre como se deu o trabalho inicial com as aulas
remotas e a contação de histórias como instrumento principal para o ensino-aprendizagem
pela equipe escolar. Aos poucos, a equipe foi aprendendo, trazendo propostas diferenciadas
para narrar histórias, fazendo uso somente da voz, usando o teatro de fantoches, o avental da
história, dedoches, em suma, sempre variando a metodologia, focando em conquistar a
atenção dos ouvintes.
Esse trabalho constituiu um desafio de fundamental importância, tanto para as
educadoras, como também para as crianças, pois enviando um vídeo do YouTube com outras
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pessoas desconhecidas, não seria tão significativo para as mesmas como ver a professora da
classe fazendo uma videochamada ou contando uma historinha para eles. Além de ser uma
surpresa, aquele contato indireto continha um carinho, um esforço por parte da equipe para
que as crianças e suas famílias compreendessem que a equipe da instituição estava ali para
eles. Agora, no próximo tópico, será dada ênfase ao questionário que foram entregues às
professoras que estavam atuando durante os dois anos mencionados no presente portfólio.
Professoras como contadoras de histórias: pausa para ouvir sobre os seus sentimentos e
anseios
Busatto (2013) entende que o contador ainda continua exercendo a função que liga o
ouvinte aos contos, à imaginação, aos encantos que uma história possui independente se ao
vivo, ou através de uma tela. Mas, a segunda opção nunca será a mesma coisa que a primeira,
o sentimento de estar perto, do olho no olho, a participação não poderá ocorrer sendo à
distância. Sobre a figura do contador, a autora destaca que:
... a figura do contador de histórias continua sendo a ponte que une o ouvinte ao conto. Esteja
ele ao vivo, na frente do ouvinte, ou na tela do computador é o personagem mágico capaz de
propor uma viagem por mundos nunca antes explorados. Porém, a narração digital propõe
um distanciamento que a narração em corpo presente não prevê (Busatto, 2013, p. 122).
Apesar de estarmos cientes de que a contação de histórias através das mídias não teria o
mesmo impacto que presencialmente, e que era algo novo tanto para as educadoras quanto
para as crianças e suas famílias, sabíamos que seria a única maneira de nos aproximarmos
delas, e compreendíamos também que cedo ou tarde isso poderia acontecer. As tecnologias
vêm perdendo aquela imagem de algo negativo para os docentes, tornando-se uma ferramenta
crucial para o trabalho pedagógico.
No presente tópico, objetiva-se fazer menção à pesquisa feita com as profissionais da
instituição-alvo do presente trabalho. Para isso, foi elaborado um questionário com 10 (dez)
perguntas, a primeira objetiva de múltipla-escolha, e as demais dissertativas. O objetivo com
essa proposta foi extrair das professoras do Pré-Escolar Mãe Eduvirgens suas experiências
com a contação de histórias através de vídeos.
Durante os anos de 2020 e 2021, foram 10 (dez) professoras que atuaram na escola e
que tiveram a tarefa de gravar vídeos, ora fazendo chamadinhas virtuais, ou apresentando uma
história para as crianças.
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Como explicado, no início do presente trabalho, a cada portfólio deveria ser gravada
uma ou duas histórias para ser enviada para as crianças após as atividades impressas serem
entregues. As histórias, além de serem gravadas, eram incluídas também no portfólio
impresso, caso o responsável quisesse narrar a mesma para as crianças, o que também seria
uma ótima alternativa.
No questionário, era perguntado se as professoras autorizavam sua identificação na
pesquisa. 2 (duas) optaram por não serem identificadas, as demais permitiram. Ao todo, foram
9 (nove) professoras, sendo que 7 (sete) autorizaram serem identificadas, e as outras duas
preferiram não serem apresentadas. Vale mencionar que 4 (quatro) das docentes, atuavam em
turmas de Jardim I, e as outras cinco em turmas de Jardim II.
No momento de mencionar as falas das entrevistadas que autorizaram serem
identificadas, como forma de conservar a imagem das mesmas, preferi também optar por usar
somente as letras iniciais dos seus nomes, tais como W.S.S.C, E.S.L, D.L.L., A.R.O.B., J.P.S.,
N.L.E. e J.A.C. Além do questionário, as professoras que participaram também preencheram
o termo de autorização do uso da sua pesquisa para a elaboração desse artigo. Apesar das 7
(sete) participantes terem autorizado, optamos por apresentá-las fazendo uso somente das
iniciais dos seus nomes.
A primeira pergunta foi objetiva. Nela, questionou-se às professoras se elas haviam
atuado em 2020 ou 2021, ou em ambos os anos. Como resposta: 4 (quatro) atuaram em ambos
os anos, 1 (uma) atuou somente no ano de 2020, e as outras 4 (quatro) durante o ano de 2021.
Na segunda pergunta foi solicitado que as professoras falassem sobre os principais
desafios enfrentados durante as aulas remotas. Todas citaram as novas metodologias de
ensino ligadas ao uso das tecnologias. As principais dificuldades mencionadas foram as
gravações de vídeos e as edições. Nenhuma estava acostumada a lidar com gravações e
manter contato com as turmas por meio de vídeos. A preocupação principal por parte delas
era agradar ao público que receberia os vídeos, bem como possíveis críticas por parte dos pais
das crianças.
Na terceira pergunta foi solicitado que as educadoras falassem sobre os todos
utilizados durante as aulas remotas. As docentes citaram o uso dos grupos de WhatsApp para
enviar as informações às famílias, a produção dos vídeos, e a confecção dos portfólios.
Na quarta pergunta foi pedido que as docentes falassem sobre as principais dificuldades
no momento da produção dos vídeos, se era gravar, editar ou enviar. Todas responderam que
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ambas eram complexas, mas que a gravação foi mais difícil, pois qualquer erro necessitava
que era necessário reiniciar o processo, o que acabava causando certo desconforto por parte
das mesmas. Para editar também não era fácil, pois as profissionais tinham dificuldades tanto
de baixar os aplicativos necessários, como também de fazer uso desses.
A quinta questionou as professoras se achavam que gravar vídeos com histórias para as
crianças seria significativo. Todas responderam que sim, pois era uma das únicas formas de se
manter o vínculo com aquelas e suas famílias; e as docentes, além de gravar vídeos, enviavam
também outros escolhidos no YouTube. Porém, os vídeos gravados pelas próprias professoras
eram mais gratificantes, pois faziam parte do cotidiano das crianças tornando-os dessa forma
mais significativo.
A sexta pergunta pedia para que as educadoras falassem um pouco sobre a importância
de contar histórias para as crianças, mesmo que à distância no momento de pandemia. Para as
docentes, apesar de desafiador, foi algo essencial, pois entendiam a importância que ouvir
histórias possui para o aprendizado, a formação da personalidade, a imaginação das crianças e
a construção de vínculo, e até mesmo para a forma de se expressar gestualmente (mímica) e
oralmente, e não menos importante, para despertar o interesse pela leitura desde o início da
vida escolar. Para tanto, com os vídeos de contação de histórias produzidos, as aulas se
tornavam mais atrativas.
Na sétima questão foi solicitado que as professoras falassem sobre o retorno por parte
das famílias em relação ao envio dos vídeos feitos pela equipe. Torna-se interessante fazer
menção à fala de uma das entrevistas, a J.P.S, que cita a fala de alguns familiares das crianças
atendidas, destacando que as mesmas gostavam dos vídeos gravados pelas professoras, que
ficavam assistindo os mesmos repetidas vezes. A partir dessa fala pode-se perceber que a
intenção por parte da equipe foi alcançada. Outra fala de outra professora, a W.S.S.C, era
apesar de não ser todos, grande parte dos pais se envolvia com as atividades das crianças,
acolhendo e contribuindo com a equipe escolar da melhor forma possível. Para outra
professora, N.L.E., era gratificante esse retorno por parte dos familiares. A professora J.A.C.
menciona na sua resposta que além da gravação dos vídeos, as histórias também eram
enviadas nos portfólios, contudo, os familiares prefeririam optar pela primeira alternativa por
essas serem mais interessantes chamando assim mais a atenção das crianças.
A oitava pergunta solicitava para que as docentes dissessem se tinham interesse em
aprender mais sobre a arte de contar histórias utilizando as mídias sociais. Todas responderam
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que sim, pois estão cientes de que quando se estar na educação é preciso estar sempre
buscando novas práticas e metodologias como aperfeiçoamento, sempre com a intenção de
instigar as crianças. É importante destacar a fala de uma das professoras que preferiu não se
identificar. a mesma afirma que a contação de histórias é uma arte indispensável para a
educação infantil; e com isso, mais uma vez, percebe-se que as profissionais compreenderam
a importância da oralidade no cotidiano das crianças pequenas.
A penúltima pergunta pediu que as professoras falassem sobre a importância da
contação de histórias para o aprendizado. Grande parte das participantes discorreu sobre o
cognitivo, a ampliação do conhecimento, o aprender a se expressar tanto oralmente como
através da escrita, instigar o gosto pela leitura, o trabalho com o lúdico e a contribuição da
contação de histórias no que se refere a despertar o imaginário e a criatividade das crianças.
E por fim, a décima pergunta requisitou que as professoras falassem um pouco sobre
tudo o que aprenderam durante os anos de 2020 e 2021 no que concerne a contar histórias por
meio das mídias. Uma das professoras respondeu que podemos aprender sempre mais, desde
que estejamos abertos a essa possibilidade, e que foi um momento de superação e trabalho em
equipe. A professora D.L.L., respondeu que o foi fácil, mas que com as experiências
melhorou a sua entonação de voz, aprendeu a ter entusiasmo, e que sentia necessidade de
aprender mais a usar aplicativos de edição de vídeos.
A professora W.S.S.C., diz que aprendeu a organizar aulas mais lúdicas, e também teve
que romper o seu medo de ficar frente às câmeras, além de ampliar mais a sua paixão às
histórias infantis. A professora J.P.S disse que por mais complexo que seja educar, é preciso
potencial e coragem para enfrentar qualquer desafio. A docente E.S.L., fala que devido ao
pouco tempo de experiência, ainda tem muito a aprender, mas o que entendeu foi que contar
histórias tornam as aulas mais didáticas. A professora A.R.O.B, cita que enquanto educadora
é preciso sim aprender a manusear os recursos tecnológicos, pois assim, se aproxima mais das
crianças dessa geração atual. A professora N.L.E., cita que aprendeu a fazer uso da contação
de histórias como recurso didático para otimizar a aprendizagem. E a professora J.A.C,
finaliza ressaltando que é preciso se ter uma real noção do significado do contar histórias, e
saber sentir os diferentes sentimentos que esse momento pode propiciar.
Ao ter acesso aos questionários respondidos pelas professoras, nota-se que o desafio de
contar histórias, fazendo uso das tecnologias, foi de grande complexidade, contudo, as
mesmas aprenderam mais ainda sobre o quão essa ferramenta é indispensável para o processo
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de ensino, e que não existem barreiras para quem aceita os desafios. Também não há somente
uma forma de contar histórias, e que enquanto educadoras é preciso inovar e fazer uso de
diferentes possibilidades como forma de chamar a atenção das crianças.
Considerações finais
Apesar da pandemia ter provocado muita preocupação por parte dos profissionais da
educação, essa também trouxe ensinamentos. Um deles foi para se compreender que a vida é
um sopro, e que temos que usufruir de tudo o que nos proporciona antes que seja tarde. A
outra, é que o aprendizado é um processo interminável, e que nunca deixaremos de aprender,
sempre surgirá uma nova teoria, um novo conhecimento, uma nova prática que caberá a nós
enquanto educadores aderirmos para o nosso cotidiano.
A arte de contar histórias conseguiu seu espaço na fonte da eternidade, e sempre vai
existir. Essa tradição vai se adaptar, partir para outros setores, vai continuar encantando e
ensinando e se reinventando segundo as novas necessidades que surgirão. E assim como em
outras gerações, vai ser mantida como um instrumento de suma importância no processo de
aprendizado de diferentes gerações.
Não será diferente com os educadores, pois esses, sempre, estarão presentes nesse
universo confuso, readequando a sua arte, arte esta que é compartilhar aquilo que aprende.
Não existem barreiras para quem estar disposto a descobrir novas práticas, novas formas de
ensinar, e esse é um desafio que compõe a essência da educação, o conhecimento já adquirido
nunca será suficiente.
O Pré-Escolar Mãe Eduvirgens, apesar das dificuldades e desafios encontrados no
decorrer da pandemia, conseguiu se sobressair pois as professoras aprenderam muito no que
se refere ao uso das tecnologias como instrumento de ensino, e compreenderam que a arte da
contação de histórias jamais poderá ficar de fora do processo de ensino e aprendizagem de
crianças nessa etapa inicial da educação. Aprenderam também que não existe somente uma
forma de trabalhar com esse universo da oralidade, mas sim diversas possibilidades.
As professoras estavam cientes que apesar do desconforto de se exporem em frente às
câmeras, valeriam a pena no final, e que esse momento era de grande significado para as
crianças que não compreendiam o porquê de não poderem ir para a sua escola. Porém, mesmo
que não pudessem ir, a sua professora estava ali para mostrar que mesmo que por uma tela,
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continuava para elas, se esforçando ao máximo para que o seu aprendizado não fosse tão
prejudicado.
Por fim, aprender sobre a contação de histórias torna-se cada vez mais essencial.
Diversos são os horizontes que essa arte nos direciona e nos instiga a continuar viajando e
aprendendo. E enquanto estudiosa desse ofício, a pesquisadora percebe que tal atividade faz o
mundo melhor e tende a fazer com que o processo de aprendizado se torne algo mais divertido
e prazeroso, tornando o universo da criança mais encantador, aproximando mais o docente do
discente, fazendo que ambos despertem para a terra da imaginação, e que o afeto no momento
dessa tradição é inexplicável e ao mesmo tempo encantador.
Referências
Belloni, M. L. (2001). Mídia-educação: da tecnologia à comunicação educacional.
Campinas, SP. Autores associados.
Benjamin, W. (1983). O narrador. (2a ed.). São Paulo: Abril Cultural.
Busatto, C. (2013). A arte de contar histórias no século XXI: tradição e ciberespaço. 4a ed.
Petrópolis, RJ: Vozes.
Brasil. Ministério da Educação. (2017). Base Nacional Comum Curricular. Recuperado de
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf
Informações do Artigo / Article Information
Recebido em: 08/02/2023
Aprovado em: 22/03/2023
Publicado em: 30/05/2023
Received on February 08th, 2023
Accepted on March 22th, 2023
Published on May, 30th, 2023
Contribuições no Artigo: Os(as) autores(as) foram os(as) responsáveis por todas as etapas e resultados da pesquisa, a
saber: elaboração, análise e interpretação dos dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito e; aprovação da versão
final publicada.
Author Contributions: The author were responsible for the designing, delineating, analyzing and interpreting the data,
production of the manuscript, critical revision of the content and approval of the final version published.
Conflitos de Interesse: Os(as) autores(as) declararam não haver nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
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