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Paradoxalmente, a arte, que pedia um tempo e o corpo presente para se desenvolver e
envolver, se integrou à velocidade da virtualidade, assumindo novas feições, como as
histórias mediadas pelo digital. Esta arte já não tem como característica apenas uma provável
despretensão dos antigos contadores, que se reuniam ao redor do fogo, ao pé da cama. Por
outro lado, imprimiu-se nela uma sofisticação técnica, com detalhes que fazem diferença,
como um texto mais elaborado sintaticamente, imagens visuais e paisagens sonoras nítidas, e
apresenta um sujeito-contador com domínio dos recursos vocais e corporais ... (Busatto,
2013, p. 9-10).
Portanto, fica claro, nessas considerações da autora, o quanto o ato de contar histórias
transformou-se (e ainda continua) com o passar do tempo. Ao falar sobre os antigos
contadores que reuniam a sua comunidade para narrar histórias próximo ao fogo, chama a
atenção o fato de que essa prática nos dias atuais, apesar de uma estratégia diferenciada,
assume grande relevância no cotidiano e no aprendizado da criança, pois é através do contato
com livros e a contação de histórias em diferentes espaços do seu cotidiano, que ela começa
construir sua personalidade enquanto leitora. Para tanto, à educação é dada a continuidade a
essa estruturação.
É imprescindível que o contar histórias se torne um hábito na sala de aula pois existem
diversas razões para se ler para as crianças e um dos motivos principais é o fato de que é nesse
momento que a criança desperta imaginação e interesse pela leitura. Através da voz do
professor, das rodas de conversa, a criança será levada ao caminho do saber, e com isso, abre-
se a porta para o universo do encanto e ao mesmo tempo do aprendizado. Mas é importante,
antes de tudo, que se saiba o motivo para o qual se lê.
Para Busatto (2013), há leituras para todos os tipos de gostos e de intenções: ler para
ensinar como ter um bom comportamento, ler para aprender a não confiar em estranhos, ler
para conhecer outras culturas, ler para sorrir, chorar, se emocionar, para escapar um pouco da
realidade, para desvendar um mistério difícil de ser solucionado, por curiosidade, ler somente
por ler, dentre outras razões. Outro motivo de realizar esses momentos com as crianças na sala
de aula é a desigualdade social que enfrentamos e que faz com que nem todas tenham acesso à
leitura e à contação de histórias fora da instituição escolar.
Ao voltar novamente à lembrança dos tempos de pandemia, uma pergunta relevante é:
Será se as crianças de classe mais baixa de alguma forma tiveram contato com a leitura? Essa
pergunta torna mais necessária ainda realizar esses momentos, uma vez que é um desafio
instigar o gosto pela leitura nesse público que não tem acesso a livros constantemente.