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No campo acadêmico, a infância indígena vem aos poucos ganhando espaço. Conforme
indicam Tassinari (2009) e Cohn (2013), o estudo em relação à infância indígena no Brasil é
algo recente. No Brasil, esse tema tem se tornado uma tema mais pesquisado em diferentes
áreas do conhecimento, apontando relevantes aspectos para a construção de uma etnologia
indígena brasileira. Aracy Lopes da Silva, Ana Vera da Silva Macedo e Ângela Nunes (2002)
trazem a construção de uma nova perspectiva de infância indígena, rompendo com a visão
“adultocêntrica” historicamente predominante.
Ao debruçarmos sobre a infância indígena, percebemos que o tema é atravessado por
fatores econômicos, geográficos, culturais e linguísticos, que possibilitam vivências infantis
distintas. Embora sejam inúmeras as diferenças culturais entre os povos, existem muitos
pontos em comum na criação das crianças que se assemelham entre os diversos grupos
étnicos, conforme observa Mandulão (2006, p. 219):
Quando a criança nasce, é uma extensão da mãe que a amamenta e a protege. A criança é
socializada pela família e nas relações cotidianas da aldeia. Ela aprende fazendo,
experimentando, imitando os adultos. As crianças acompanham os pais e os seus brinquedos
são miniaturas dos instrumentos que posteriormente irão utilizar em sua vida de adulto.
Neste sentido, podemos inferir que a forma de ensinar nas comunidades indígenas têm como
princípios inseparáveis a construção do ser, pela observação, pelo fazer, testado dentro de
um contexto real.
Silva, Macedo e Nunes (2002, p. 18), apresentam seis princípios para compreender a
noção de infância indígena:
1. A infância deve ser entendida como uma construção social, fornecendo assim um quadro
interpretativo para os primeiros anos da vida humana ... 2. A infância deve ser considerada
como variável de análise social, tal como gênero, classe e etnicidade ... 3. As relações sociais
e a cultura das crianças são merecedoras de estudos em si mesmas, independente da
perspectiva e dos interesses dos adultos. 4. As crianças devem ser vistas como ativas na
construção e determinação de sua própria vida social, na dos que as rodeiam, e na da
sociedade na qual vivem. As crianças não são apenas sujeitos passivos de estruturas e
processos sociais. 5. A etnografia é um método particularmente útil ao estudo da infância ...
6. A infância é um fenômeno em relação ao qual uma dupla hermenêutica das ciências
sociais está presente, ou seja, a proclamação do novo paradigma da sociologia da infância
também deve incluir e responder ao processo de reconstrução da infância na sociedade
Com base nesses princípios, é que nos propomos a falar sobre a infância Apinayé,
entendendo que é um contexto étnico composto de uma enorme diversidade cultural.
Compreendemos que existem diferenças entre as infâncias indígenas e não é possível
abranger a totalidade dessas manifestações a partir do estudo de um povo. Além disso, é
necessário o afugentamento da concepção generalizada de uma infância urbanizada,