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“T aqui, oh, o lobo”... Tomas, com um galho na mo, me fala: “Eu t com essa espada
porque eu sou o Peter Pan”. Pergunto-lhe o que ele faz e Tomas balana sua “espada”
gritando: “I, i, i!”. Questiono: “Pra qu ele faz isso?” E ele responde: “Pra matar o
capito” (Registro Dirio de Campo, 31 de agosto de 2009; Prange & Bragagnolo, 2012, p.
260).
Nesse episódio de interação, as crianças se envolvem com personagens de histórias
infantis e inserem aspectos lúdico-agressivos no enredo brincante. A curiosidade dos
pesquisadores em se aproximar do universo infantil possibilitou conhecer o protagonismo de
suas experiências. O galho tinha outro sentido, se tornou uma espada!
Corsaro (2011) ressalta que as crianas contribuem ativamente na produo cultural,
com a reinterpretação dos aspectos que fazem parte de suas realidades de forma criativa e
inovadora. Desta maneira, proporcionar espaçostempos de protagonismo para as crianças,
dando-lhe voz, um desafio constante, por isso, a busca de ir ao encontro de suas
experincias brincantes no cotidiano escolar.
Zandomínegue, Barbosa e Mello (2020) reforçam que o processo de participao-escuta
infantil exige considerar as crianas como sujeitos e no objetos da produo do
conhecimento. Além de que compreend-las em seus desejos e maneiras de ser reforam a
importância de adoo de medidas de cunho pedaggico, político e administrativo para a
materializao de um processo educativo que se assente nos direitos das crianas. Nesse
sentido, Barbosa (2018) apresenta no episódio de interação a seguir, brincadeiras lúdico-
agressivas na Educação Infantil captadas a partir da interação e ouvindo as vozes das próprias
crianças:
Dentro da casinha do ptio, alguns meninos brincavam de luta. Notei que um deles, a todo o
momento, ordenava toda a situao brincante e ditava as regras, apontando para o que
poderia fazer ou no para continuar a brincadeira. Ele dizia: “Assim no pode!”, “No pode
bater forte!”, “Olha o olho, assim no! Tem que ser assim, !”. Nesse momento, mostrava
socos e chutes no ar, fingindo lutar, enfatizando que no cho podia agarrar e que no podia
jogar ningum contra a parede. Paralelo a isso, algumas crianas reclamavam com esse
menino: “Ai, ele bateu muito forte!”, “Ele me machucou, vou falar para a Tia!”. Ele
rapidamente falou: “No, vem pra c! Vai de novo!”. Pediu que o outro menino se
desculpasse. Imediatamente, a desculpa foi dada e um convite para continuar a brincadeira
ocorreu: “T, desculpa! Vem!”. Outro menino reclamou, no sobre o excesso de contato
corporal, mas pela exausto da brincadeira: “Ai, agora eu to cansado! Vou beber gua!”. O
menino ditador das regras disse: “No, agora, no!”. O menino, esgotado falou: “Calma, eu
j volto!”. Eles brincaram por cerca de 30 minutos, uma brincadeira exaustiva e totalmente
controlada por eles! Eles estavam vendo que eu os observava. De vez em quando, at
paravam de brincar, mas como perceberam que eu no iria interferir, continuaram, mas
sempre com um olhar enviesado para ver se eu poderia brigar com eles (Dirio de campo,
crianas de cinco anos de idade, 19 de novembro de 2015; Barbosa, 2018, p. 284).