9
A proposta educativa do MST possui uma estreita relação com a luta pela terra e
compromete-se com as famílias do movimento. Esse compromisso refere-se à dimensão da
presença física, que assegura a escolarização das crianças e dos jovens onde estes se
encontram, bem como nas condições de luta e conflito, no compromisso político e pedagógico
que aponta para o sentido do trabalho educacional que a escola desenvolve (MST, 2010).
Não há dúvidas de que, na concepção pedagógica de Pistrak (2011), a escola precisa
estar imersa nas contradições sociais. Nesse sentido, não é possível a constituir fora da vida,
da política, da sociedade e da cultura em geral. Portanto, é impossível separá-la da categoria
trabalho, visto que este é inerente à vida humana.
Pressupomos o trabalho sob forma exclusivamente humana. Uma aranha executa operações
semelhantes às do tecelão, e a abelha supera mais de um arquiteto ao construir sua colmeia.
Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua
construção antes de transformá-la em realidade. No fim do processo de trabalho aparece um
resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador (Marx, 2013, 211).
Como afirma Marx (2013), o trabalho é o que humaniza o ser humano, à medida que os
trabalhos são aprimorados, os homens também o são. Com base nesse pressuposto, o trabalho
social escolar deve consistir-se na melhoria constante da economia rural e das condições de
vida do trabalhador do campo. O trabalho deve ser feito com a colaboração da escola
objetivando contribuir para a compreensão da aliança entre o campo e a cidade, a fim de
compreender os problemas contemporâneos.
Dessa forma, é possível perceber que a proposta educativa do MST se contrasta com a
escola capitalista, pois os sujeitos Sem Terra propõem um projeto da classe trabalhadora em
rejeição ao modelo atual, que é uma escola de classe e não uma escola para todos. É
atravessada por contradições, confrontando os interesses do capital através da regulamentação
e do controle do Estado e da classe trabalhadora, que é constituída por seus professores,
funcionários, alunos e pais.
Esses princípios orientaram a proposta educativa do MST, que busca romper aos poucos
com os ideais da escola capitalista. A Pedagogia Socialista Soviética propunha a escola como
instituição fundamental para uma formação política e da consciência crítica, proporcionando a
emancipação dos sujeitos. Nesse sentido, esse pensamento pedagógico aproxima-se dos
princípios de educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, movimento
popular que luta por terra, reforma agrária, educação e mudanças na sociedade.