Pereira, M. C., & Lustosa, F. H. C. (2016). Reflexões sobre a Pedagogia Paulo Freire...





Reflexões sobre a Pedagogia Paulo Freire com os alunos de Pedagogia da Terra



Mariana Cunha Pereira, Francisco Hudson da Cunha Lustosa2

Universidade Federal de Goiás - UFG, Faculdade de Educação. Rua Delenda de Rezende, s/n, Goiânia - GO. Brasil. mcunhap@yahoo.com.br. 2Universidade Federal de Goiás - UFG.


 



RESUMO. Esse texto foi produzido como resultado da disciplina intitulada Núcleo Livre proposta ao curso Pedagogia da Terra, realizado na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, entre os anos 2007 a 2011. A proposta do artigo é mostrar como se desenvolveram as aulas e o debate que se gerou sobre as ideias de Paulo Freire e a interpretação dos movimentos sociais do campo sobre o pensamento freiriano. Portanto, o texto é subsidiado a partir das análises que os autores fizeram da fala dos alunos, dos textos estudados e das discussões geradas e anotadas. Eram em torno de vinte e três alunos e os debates foram documentados por imagens e diário de campo das atividades realizadas. A conclusão dos autores refere-se aquelas provenientes de tais debates nas aulas/oficinas, qual seja: Que há um hiato entre as reflexões de freire e o que eles vão construindo como palavra de ordem. Que muito ainda há para ser aprendido e interpretado para uma ação política consciente. Que entre esses atores sociais do campo há a boniteza de que nos fala Freire, nas ações sociais entre eles que independe das diferentes bandeiras que compõem os distintos movimentos sociais do campo.



Palavras-chave: Movimentos Sociais, Paulo Freire, Pedagogia da Terra.








Thoughts on the Pedagogy of Paulo Freire with students of Pedagogy of the Land





ABSTRACT. This text was produced as a result of a Free Core course organized to support the preparation of this article, but also to create the opportunity for reflection among teachers of one of the Popular Education courses and the end of studies assessment / TCC curriculum Land Education Course, the only class developed between 2007-2011 at the Faculty of Education/FE Federal University of Goiás/UFG. The previously mentioned Free Core course were offered to students wishing to study them. Its methodological format was in the form of workshops and meetings, teaching material used: texts, video, music and discursive lessons. Methodology explained on the syllabus, disclosed to course participants, as was the combination of the formalities between the social movement and the course coordinator. Therefore part of this course students who were interested in reflecting on the pedagogy of Paulo Freire and the practice of Social Movements Workers for Land, also called Social Rural Movements.


Keywords: Social Movements, Paulo Freire, Land Pedagogy.




















Reflexiones sobre la Pedagogía Paulo Freire con los alumnos de la Pedagogía de la Tierra





RESUMEN. Este texto fue producido como resultado de la disciplina intitulada Núcleo Livre propuesta al curso Pedagogía de la Tierra, celebrado en la Facultad de Educación de la Universidad Federal de Goiás, entre los años 2007 a 2011. El propósito de este artículo es mostrar cómo se han desarrollado las lecciones y el debate que se ha generado en las ideas y la interpretación de los movimientos sociales rurales por la pensamiento del Paulo Freire. Por lo tanto, el texto se subvenciona a partir del análisis de los autores hicieron el discurso de los estudiantes, los textos estudiados y los debates generados y anotados. Se acerca veintitrés estudiantes y discusiones fueron documentados por fotos y agenda de actividades. La conclusión de los autores se refiere a aquellos de tales discusiones en las clases / talleres, a saber: Que hay una brecha entre las reflexiones de Freire y lo que están construyendo como consigna. Todavía hay mucho que aprender e interpretada por una acción política consciente. Que entre estos actores sociales del campo hay la hermosura que nos dice Freire, acciones sociales entre ellos que es independiente de las diversas banderas que componen los diferentes movimientos sociales en el campo. 


Palabras-clave: Los Movimientos Sociales, Paulo Freire, Pedagogía de la Tierra.














Introdução


Este artigo foi pensado a partir da propositura da disciplina de Núcleo Livre para o Curso de Pedagogia da Terra, mas, também para criar a oportunidade de reflexão entre os professores de uma das disciplinas de Educação Popular e, também, de Trabalho Conclusão de Curso/TCC do currículo do Curso de Pedagogia da Terra, única turma desenvolvida entre os anos de 2007 a 2011 na Faculdade de Educação/FE da Universidade Federal de Goiás/UFG. O referido Núcleo Livre foi apresentado como proposta aos alunos que desejassem cursá-los. Seu formato metodológico compunha-se de Oficinas, Encontros e aulas discursivas utilizando-se como material didático: textos, vídeo, documentos dos movimentos sociais, tais como cartilha, músicas e entrevistas. A metodologia foi explicitada na ementa, divulgada aos cursistas, conforme era a combinação dos tramites entre o movimento social e a coordenação do curso. Portanto, participaram desse Núcleo Livre vinte e três alunos que se interessaram em refletir sobre a Pedagogia de Paulo Freire e a prática dos Movimentos Sociais dos Trabalhadores pela Terra, também denominado de Movimentos Sociais do Campo.

Foi assim que no curso de Pedagogia da Terra tivemos a oportunidade de discutir com alunos, na disciplina de Núcleo Livre - Educação Popular - e nas orientações de Trabalho de Conclusão do Curso – TCC, os fundamentos da Pedagogia de Paulo Freire.

Sabemos que nos documentos dos movimentos sociais do campo, a pedagogia Paulo Freire é um dos fundamentos da reflexão-ação-reflexão. Na perspectiva de entender e refletir junto com eles e sobre eles o que está escrito, o que dizem e o vivem, é que nos propusemos a realizar uma pesquisa na “sala de aula”i a fim de problematizar a reflexão sobre os textos de Freire e, com isto, podermos escrever este artigo.

Nossa experiência como professores da turma Salete Strozake, primeira turma do curso de Pedagogia da Terra na Faculdade de Educação/Universidade Federal de Goiás, nos possibilitou a inserção junto a esses alunos/militantes e ainda a tornar nossa ação pedagógica um espaço de pesquisa, seguindo a perspectiva de Fazenda (1991, p. 34) que diz: “O estudo do cotidiano escolar se coloca como fundamental para se compreender como a escola desempenha o seu papel socializador”.

Nosso artigo trata, então, da forma como os militantes/alunos ao estudar sobre a dinâmica de sua ação política se espantam, reelaboram, ensinam e apreendem com a história da educação popular e a análise dos documentos dos movimentos sociais dos quais fazem parte. Estudar esses documentos como conteúdos no cotidiano das aulas, na composição de suas monografias e de que modo eles recriam seus entendimentos sobre a Pedagogia Paulo Freire. Quais as dúvidas e as interpretações sobre essa pedagogia? As possíveis observações sobre incoerências/coerências entre a prática política e as reflexões freirianas são alguns dos elementos de discussão que brotaram nesse processo de aprendizagem. Bem como o questionamento a partir das reflexões sobre a pedagogia de Paulo Freire e o ensino na universidade pública. Também se questionou a prática educativa na escola do campo no qual são eles os educadores. Além disso, o vídeo/texto trouxe a polêmica sobre a própria produção acadêmica de Freire, se esta se tratava de uma Pedagogia ou de um método de alfabetização? A este debate, eles incorporaram elementos significativos de suas práticas educativas como: professores, ativistas e educadores populares.

A metodologia de pesquisa se deu a partir do cotidiano escolar que, no nosso caso, se expressa no convívio com essa turma durante os períodos de aula que se organizam por meio da alternância do tempo. Portanto, já foram realizados nos meses de janeiro, julho e dezembro de 2007, 2008, 2009; janeiro e julho de 2010 e se estendeu a janeiro de 2011 quando, enfim, eles concluíram sua graduação em Pedagogia – séries iniciais.

Nesse cotidiano escolar, ainda segundo Fazenda (1991), estão presentes três dimensões do processo educativo na realização da pesquisa em educação. São as dimensões: institucional, interação de sala de aula e a história de cada sujeito manifestada no cotidiano escolar.

Nesse sentido, nosso artigo parte de uma pesquisa documental (dimensão institucional) e da pesquisa de campo (sala de aula e as perspectivas históricas dos sujeitos em questão); são eles – militantes/alunos e nós educadores. O material empírico analisado são os exercícios de produção de textos realizados no Núcleo Livre e na disciplina de TCC, anotações das observações das aulas, exercícios de fixação de leituras e a produção/reflexão de uma oficina sobre a Pedagogia de Paulo Freire. A pesquisa documental produziu uma análise/interpretativa das cartilhas elencadas e da bibliografia fundamentada em Paulo Freire: Cartilhas do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra); MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens); Pastoral da Terra (Comissão Pastoral da Terra); MCP (Movimento Camponês Popular); Via Campesina (Rede que orienta os Movimentos Sociais do Campo na América Latina).

Portanto, a pesquisa de campo não se utilizou de entrevistas e nem questionários e sim de coletas de dados documentais junto à coordenação do curso referente à turma, das anotações no caderno de campo durante a sala de aula, nos encontros de corredor, nas festas, encontros nacionais e marchas e, por fim, complementamos com as pesquisas junto à bibliografia de Paulo Freire.

A oficina realizada no mês de julho teve como objetivo um momento de síntese de nossas observações e discussões. Assim, deixamos a vontade que os alunos se inscrevessem independente de terem ou não sido alunos do Núcleo Livre e de serem orientandos de TCC. Desse modo, acreditamos (e de fato conseguimos) que diferentes alunos viessem participar e principalmente aqueles atraídos pela temática da oficina, qual seja: "Discussões sobre a Pedagogia de Paulo Freire". A referida oficina constituiu-se de três encontros/aula à noite e teve como material didático de leitura: “A Fala de Paulo Freire aos Sem Terra” sobre o Projeto de Alfabetização de Jovens e Adultos que estava sendo implantado nos assentamentos; o texto “Papel da Educação na Humanização” e o vídeo: “Paulo Freire: educar para transformar”.

Durante a pesquisa documental, fizemos um estudo de conteúdo primeiro sistematizando os documentos quanto ao pensamento de Freire sobre educação, formação política e conjuntura, e depois comparamos tais conteúdos com o que dizem e vivem os militantes/alunos desses movimentos sociais. Ainda no mês de julho, foi desenvolvida a oficina de debate para sistematização do material empírico da pesquisa que, junto a esses alunos, embasa este texto.


Refletindo a partir dos textos de Freire priorizados para a discussão


Por que estes textos e não outros de Freire? Talvez seja a primeira pergunta de quem leia esse artigo. Nossa resposta é simples: eles atendiam diretamente a discussão sobre como se dá no interior dos movimentos sociais do campo os processos de conscientização política; a educação popular e a discussão/fundamentação da luta pela terra segundo a orientação e escolha de alguns desses movimentos do campo na reflexão que fazem das ideias de Paulo Freire. O texto em forma de vídeo evidencia no seu título o que parece ser comum nos discursos dos movimentos sociais do campo, qual seja: “educação para a transformação”. E, por fim, do ponto de vista do tamanho atendiam a dinâmica das oficinas/encontros.

O texto: “Fala de Paulo Freire aos Sem Terra” apresentado na cartilha organizada por Caldart e Kolling (2005) reforça a profunda identificação histórica e política desse educador com as lutas sociais do campo. Para ele, os trabalhadores do campo, que são sujeitos de projetos de educação popular por vias do movimento ou de campanhas de alfabetização, fazem ou participam de um processo que ao mesmo tempo é político, social e pedagógico. E que assim sendo, tal processo leva a conquista de dois direitos que só se consegue com esse movimento de briga: “... o direito a conhecer, a conhecer o que se conhece, e o direito a conhecer o que ainda não se conhece.” (Freire, 1991, p. 05).

É nesse aspecto que Freire constrói a relação entre o saber popular e o saber erudito, levando os trabalhadores a entender o modo como cada um desses saberes é produzido, por que e para que cada saber será utilizado, e de que modo eles foram postos como antagônicos. Freire explica ali que o saber dito popular é o saber do senso comum, que ele é importante, mas, não é suficiente. E que pode ser completado pelo saber dito erudito ou científico. Mas, este último tem de partir do saber popular. Ele diz: “O primeiro é o saber que a gente chama de saber prático sem o qual a gente não realiza as coisas. O outro saber é o saber que a gente chama de saber teórico sem o qual a gente também se perde”. (p. 24). É nesse termo que o autor nos ajuda a refletir com os alunos o sentido de práxis.

No texto “Papel da Educação na Humanização” Freire explica os fundamentos de uma educação humanizadora, demarcando à diferença para uma educação que torna mecânico o ato de ensinar, que desrespeitando o vir a ser de cada homem/mulher o objetiva, o desumaniza. E explica esse processo de humanização e desumanização, portanto, na diferença entre uma educação bancária (que desumaniza o aluno) para uma educação libertadora (que produz o homem sujeito). Porém, esclarece que: “Ambas, humanização e desumanização, são pos­sibilidades históricas do homem como um ser incompleto e consciente de sua incompleticidade”. (Freire, p. 03). Explica a incompletude do ser, e este é um conceito fundamental para a discussão com os alunos/militantes que tanto se referendam na noção de dialética em seus discursos e no material político de leitura que seus movimentos produzem. Entende-se que a incompletude do ser nos remete as possibilidades do vir a ser, e considera os contínuos processos de construção – negação – (re)construção do ser.

É, também, com esse texto que foi possível aos alunos estabelecer relação entre o princípio do movimento social do campo de estar em constante movimentação física em função da luta pela terra e a articulação com a reflexão que faz Freire, ao falar do ser que busca sua realidade concreta, a fim de ser um sujeito participativo, um “sujeito concreto”, em suas palavras: “A concepção humanista e libertadora da educação, ao contrário, ja­mais dicotomiza o homem do mundo. Em lugar de negar, afirma e se baseia na realidade permanentemente mutável”. (Freire, p. 05).

Por fim, no vídeo/texto: “Paulo Freire: educar para transformar” a discussão que está posta é se Paulo Freire desenvolveu um método, uma teoria do conhecimento ou uma pedagogia? Os interlocutores dessa peleja são seus ex-colegas de trabalho, sua esposa e ex-aluna, poetas e estudiosos em geral. Com esse debate, aprendemos sobre a vida de Paulo Freire que se confunde com a história dos movimentos de cultura popular/MCP e do círculo popular de cultura/CPC nos anos 60 no Brasil; aprendemos ainda mais sobre o que é uma pedagogia engajada e o que é alfabetização da palavra e do mundo.

O vídeo/texto explica que “o MCP nasceu nos anos 60 em Recife e era uma grande escola aberta de cultura, e que os sonhos das pessoas que compunham o MCP era trazer para as crianças e adultos nas ruas, nas feiras, nas beiras de rios tudo que podia ser visto de bom e bonito” (narrativa do vídeo). Nesse vídeo o poeta Thiago de Melo narra uma das experiências marcantes que viu ocorrer em um dos CPC de alfabetização de adultos, no qual uma senhora, ao aprender sobre os fonemas após algumas aulas, juntou pela primeira vez três fonemas e construiu a frase: “tu já lê”. Esse processo de alfabetização das palavras e da leitura do mundo foi se alastrando pelo interior do Brasil e provocando preocupações no poder central, assim que quando se institui o golpe militar em 1964, Freire foi aprisionado. Seu crime? Segundo o cantor/poeta de literatura popular Costa Senna: “foi que ele queria o povo alfabetizar”. Entretanto, Freire considera que essa prisão foi um aprendizado para saber viver no exílio, no exterior para onde foi ao sair da prisão.

Ainda sobre a polêmica do que representa sua produção acadêmica: se uma teoria ou um método de alfabetizar? Trazemos duas falas que dizem ser: “Uma teoria de respeito ao homem. Coerência entre teoria e prática. Respeito pela identidade do outro.” (Moacir Gadotti). E Anita Freire discorda que Paulo Freire tenha criado um método de ensino. Entende que ele criou uma teoria do conhecimento, uma epistemologia na qual há a possibilidade de que as pessoas se alfabetizem através da palavra. Mas, é o próprio Freire que, ao final do vídeo/texto, nos apresenta uma interpretação de sua obra: “Reflexão, um filosofar sobre. Sobre a educação e não apenas um método de alfabetizar. Uma compreensão crítica da educação, portanto da prática educativa. Não importa que essa prática educativa tem que ver com a alfabetização de um grupo de gente que não ler e nem escreve ou que essa prática educativa tem que ver com a pós-graduação de uma universidade”. (Freire, vídeo).


Dados, Observações, Narrativas e Debates com os alunos – desenvolvendo o tema


A turma de Pedagogia da Terra Salete Strozake, que se iniciou em janeiro de 2007 na Faculdade de Educação da UFG, surgiu após uma reunião do Comitê de Educação do Campo de Goiás/CECEG formado por representantes das seguintes instituições e entidades: CPT; MST; UFG, Secretaria Estadual de Educação de Goiás/SEDUC-GO e MAB. A discussão sobre educação e exclusão, bem como sobre educação do campo, proporcionou que o representante da UFG sugerisse aquele Comitê que se propusesse a Faculdade de Educação da UFG um curso de graduação para os povos do campo. Tal experiência já está sendo realizada em outras universidades com cursos de graduação direcionados aos povos do campo, em especial aos movimentos sociais do campo. Naquela ocasião, foi redigido um oficio direcionado ao diretor da FE no qual o Comitê de Educação do Campo encaminhava essa solicitação àquela Faculdade. Assim, através do convênio com o Programa Nacional de Reforma Agrária/PRONERA e a Via Campesina, a UFG instituiu um vestibular específico para essa demanda.

Evidentemente que ocorreu um tramite interno para o qual em todas as instâncias se fez necessário à articulação entre aqueles que, dentro da universidade, entendem que o espaço e o serviço que essa instituição presta à sociedade devem efetivamente ser de caráter público.

Após um processo de vestibular direcionado aquela demanda – lideranças dos movimentos sociais do campo – a turma foi composta num total de oitenta alunos, porém, ocorreu uma evasão e assim, o curso concluiu-se com cinquenta e nove alunos.

Durante a estada dos alunos do Curso de Pedagogia da Terra, estes ficavam alojados na própria Faculdade de Educação, modificando em muito a paisagem do espaço escolar universitário, uma vez que ao se alojarem, em ritmo de acampamento, os alunos traziam consigo o modo da vida no acampamento. Ou seja, em seus alojamentos nas cinco salas de aula reservadas a eles, estavam seus pertences pessoais, os objetos do movimento político com os quais fazem suas místicas, manifestações, reuniões e também, o espaço denominado “Ciranda” onde ficam as crianças durante os horários em que seus pais estão em aula. È importante ressaltar que a Ciranda é mais do que um espaço onde estão às crianças. Trata-se de uma ação pedagógica para os sem-terrinha, de acordo com eles, visto que tem uma proposta pedagógica com a orientação dos setores de educação dos vários movimentos, e esta é uma preocupação sempre presente nos movimentos sociais.


Foto 01 - Fonte: Arquivo dos autores: Mística do Encerramento das Aulas com Homenagem àqueles que contribuíram com o curso, 2011.



Na observação sobre as místicas, os discursos durante os eventos e a forma de manter as relações durante o curso, vimos que estão inter-relacionadas à Pedagogia de Paulo Freire, sendo este o mote que nos impulsionou a pensar esse artigo. Mas, foi também o entendimento de que a universidade é um espaço fecundo da contradição, das incoerências e do espanto para esses alunos ao se verem como sujeito e objeto de estudo que nos impulsionou. Ali estava a oportunidade de discutir com eles o que, de fato, constitui essa Pedagogia de Paulo Freire no cotidiano do movimento e desenvolver essa formação em outra esfera, que não aquela que costuma ocorrer nos interstícios dos movimentos sociais.

A exemplo, citamos as místicas que eram preparadas como rituais de passagem ou de iniciação e finalização de algum momento, que poderia ser: o início do dia; o início do semestre; a finalização de cada disciplina; uma data comum aos movimentos participantes, etc. A mística traduz o movimento social que a organizou naquele dia e espaço. Expressa sua identidade, as bandeiras que defende, as cores, os mártires que já tombaram na luta do campo. Enfim, a mística traz um conjunto de símbolos e significados para expressar em um só momento a mensagem elaborada para aquele fim. A mística a ser realizada impõe e corporifica naqueles símbolos apresentados à identidade política e constitutiva daquele movimento. Dito isto, foi possível, com base na discussão que Freire faz no texto que fala aos sem terra problematizar o quão importante é que os trabalhadores sem terra que integram os movimentos sociais do campo, alguns deles nesse momento vivenciando a condição de alunos, aprendam para além do conhecimento que já traziam do mundo, entendam o sentido das palavras do que para eles já fora apreendido, ultrapasse, portanto, a força dos slogans, diríamos das palavras de ordem. Em uma das místicas, lembramos que a finalização desta era quando todos em círculo com o braço em punho levantado gritavam a palavra de ordem: “globalizamos a luta, globalizamos a esperança”. Ou seja, Freire nos leva a pensar sobre cada sentido que a mística produz, inclusive esse, em que a palavra de ordem naquela frase expressa uma tomada de posição ideológica de reelaboração do sentido do termo: globalização. Pois, globalização é a mundialização das coisas, das relações sociais, das relações de trabalho e da produção das mercadorias e do consumo em função dos interesses do capital. Porém, enquanto palavra de ordem dentro da mística, há uma reelaborarão que só é possível se entendida a partir de uma ressignificação crítica, do sentido atribuído no movimento social, no qual é compreendida por todos que a gritam nessa perspectiva crítica de tomada de posição. Que naquela palavra de ordem aparece como globalizar o que defendemos, socializando a todos.



Foto 02 - Fonte: Arquivo dos autores. Imagem de uma das Místicas realizada durante o curso.



Em outras palavras e, a partir do que fomos apreendendo com as narrativas sobre o modo como o movimento social se organiza, entendemos que no dia a dia do movimento existe um processo constante de aprendizagem/de educação no movimento e em movimento, e que este aprender os acompanha na mobilidade que fazem a todos os lugares aonde vão, ao mesmo tempo em que se lançam a conviver com outros sujeitos e espaços da sociedade. No entanto, nossa perspectiva por ser um curso de graduação que segue os trâmites da universidade, era de que pudéssemos tratar com eles de um conhecimento sistematizado, fazendo-os produzir, escrever e ler teorias, ler autores que discutem as situações empíricas à luz da teoria.

Esse olhar nos fez iniciar com o texto de Paulo Freire – Educação e Humanização -. Pedimos que os alunos pontuassem algumas palavras que se caracterizam por representar algo que podem ser conceitos e/ou ferramentas para a compreensão de outras temáticas. Em outras palavras, buscávamos as categorias de análises com as quais eles tinham percebido que o autor trabalha ao discutir sobre educação e humanização, mesmo que ao modo da academia eles não entendessem o que seria uma “categoria de análise”, estávamos ali pra juntos pensar e descobrir o sentido disso. Surgiram, assim: Alfabetização, Cultura, Educação, Poder, Luta. (grifo nosso).

E, ao elencar esses conceitos, como assim os denominaram, os alunos nos levaram à discussão do texto “Fala de Paulo Freire ao Sem Terra”, no qual uma das orientações de Paulo Freire, que o movimento tem traduzido para si, quanto a esse processo de capacitação formal é que: “Ninguém escreve se não escrever, assim como ninguém nada se não nadar”. E “... Ao deixar claro que o uso da linguagem e da escrita, portanto o da leitura, está em relação com o desenvolvimento das condições materiais da sociedade, estou sublimando que minha posição não é idealista”. (Freire, apud Caldart & Kolling, 2005, p. 36).

Quando apontava para o movimento social do campo à necessidade da instrução formal, da qualificação instrumental de seus integrantes, Freire reafirmava aquilo que já estava posto em sua literatura ao discutir a necessidade da alfabetização como forma de instrumentalizar o homem para ter acesso aos códigos de linguagem da sociedade à qual faz parte e do sistema que o coloca como objeto, que o coisifica. Na fala que fez para os trabalhadores do Assentamento Conquista da Fronteira em Bajé, no dia do lançamento do Projeto de Alfabetização de Jovens e Adultos dos Assentamentos do MST, ao se remeter a importância disto, explicou:


Eu acho que uma seria transformação revolucionária da sociedade teria, se ela for realmente democrática, se ela for radical, se ela for às raízes, ela terá que oferecer ao povo, ela terá que democratizar o saber...O que vocês estão ajudando a fazer possibilitando aos companheiros que ainda não lêem a palavra, mas já lêem o mundo, quer dizer, já tem um certo saber pouco rigoroso do mundo, da sua realidade: o que vocês estão agora começando a possibilitar é que lendo a palavra, aprendendo a ler a palavra, a escrever a palavra lida, os adultos jovens e companheiros adultos possam reler a leitura anterior do mundo... (Freire apud Caldart & Kolling, 2005 p. 25).



A leitura dessa fala de Freire impressa na cartilha organizada pelo ITERRA produziu uma aula sobre o repensar da prática, das palavras de ordem, enfim, do acesso ao conhecimento e da prática política. Foi uma aula a partir do que disse Freire: “... conhecer melhor o que já se conhece tem que ver com o que a gente chama de saber popular, sabedoria popular, ao lado do saber que a gente chama de saber erudito...” (2005, p. 22). Assim, aulas como estas levaram a oralidades muitas vezes produzidas somente na sala de aula, mas, que o recurso da memória com algumas anotações pretende aqui sistematizar.

No terceiro encontro da oficina discutimos o texto da “Fala ao Sem Terra” e também o vídeo: “Educação e Transformação”. Os debates iniciaram-se com a discussão: se existe ou não um método Paulo Freire? Esta pergunta gerou uma grande polêmica, até mesmo por que no vídeo há alguns depoimentos de pessoas que conviveram com Paulo Freire que divergem quanto a isto. Alguns afirmam a existência de um método e outros entendem que Freire criou um sistema de educação ou uma epistemologia da educação.

Não está claro para os alunos se há ou não um método Paulo Freire. E, em uma das alunas pontuou: “Eu acredito que Paulo Freire não tem um método e sim um modo de pensar a educação. Estamos em Rondonópolis discutindo com nossos companheiros do dia a dia sobre os problemas da área, tentamos sistematizar isso e encontrar os caminhos. Como é difícil a gente se libertar, como é difícil discutir a opressão. Eu vejo Paulo Freire como um indagador de nossa própria realidade”.

As falas apontam para que se entenda que há uma interpretação sobre método como algo mais limitado, quanto à abrangência das ideias e dos estudos de Freire. Um dos presentes falou: “... se você pegar a fala de Paulo Freire e dizer que é um método você a engessa, é mais como uma metodologia...”, a partir dessa fala, se percebeu a necessidade de explicitar que a polêmica era entender que estávamos discutindo sobre método de alfabetização, e nesse sentido, o pensamento ou a produção científica de Freire não se limita a um método de Alfabetização apenas. É por isso que se utilizam da proposta de alfabetizar de Freire também como uma ação conscientizadora para as discussões na organização dos assentamentos, e por este entendimento a aluna citou o exemplo: “Cada área de assentamento tem uma temática de assunto de problema para resolver e é isso que faz ter o tema gerador. Às vezes é problema de gênero no outro é de casa para construir”.

De suas narrativas compreendemos que há uma imediata correlação teoria-prática, posto que ao tentar defender o tema sobre os quais estão escrevendo, o fazem contextualizando em exemplos do cotidiano das lutas. Expressar a compreensão do texto do autor é narrar um exemplo que reinterpreta o pensamento do autor. Isto também é recorrente nas aulas de orientação de TCC, quando alguns alunos, ao discutirem suas temáticas com base numa leitura recomendada, refletem sobre as teses do autor a partir de interpretações que se materializam no vivido.

Um das alunas, ao discutir sua temática de monografia, na qual apresenta a história da educação do Brasil, explicava de forma insistente a necessidade de compreender a história da educação desde o período colonial, mesmo que a orientasse dizendo que para discutir o problema foco da monografia apenas necessitaria de fazer um recorte temporal. Ainda assim, ela sente necessidade de realizar o estudo desde o início da história da educação para poder situar e entender em quais momentos os movimentos sociais esteve agindo sobre aquele tema. Não conseguiria nesse artigo descrever o grau de felicidade em suas narrativas durante a orientação de monografia, quando esta se encontrou através das leituras de História da Educação nos livros de Maria Lucia Aranha; Maria Luiza Ribeiro e Otaíza Romanelli com o momento dos anos 60, quando nascem e se organizam os movimentos de cultura popular, o sistema de alfabetização de Paulo Freire e a Campanha de Alfabetização de Pé no Chão também se aprende a ler. Percebemos essa situação como um momento em que a pessoa está se alfabetizando, porém, nesse caso é uma inicialização no mundo da história da educação de seu país.

Ainda na oficina, chamou nossa atenção um debate que se gerou quanto ao entendimento de ser a Pedagogia de Paulo Freire uma das fundamentações com a qual os movimentos sociais elaboram e reelaboram suas dinâmicas de ação coletiva, mesmo que a obra de Freire não seja conhecida na sua totalidade por esses militantes. A narrativa de uma das alunas parece apontar para que compreendamos que muitas vezes as ideias de Freire estão tão instituídas na pedagogia dos movimentos que a obra científica na sua totalidade como algo da teoria da educação ficou ao largo. Da mesma forma, sua narrativa, também, sugere isso quanto à academia ao comparar o que estudou no Núcleo Livre de Educação Popular. Ela diz:


Eu não tinha muita leitura em Paulo Freire e Educação Popular, então não posso falar muito. A academia traz um conhecimento fragmentado, mas, tenho observado que o que acontece conosco quando vamos lendo Paulo Freire, você começa a querer rever o que está na frente. Você começa a ter necessidade de rever o que você já fez o que está posto para você. Você vê a leitura de mundo que ele fala. (Aluna do curso durante oficina).



A Cultura Escolar no Campo o que nos dizem os Educadores do Campo


Uma vez que o tema sugere olhar para o que se viveu, alguns alunos exemplificaram situações vivenciadas como professores. Se, a partir de agora, fariam diferente e demonstraram também o espanto de entender por que tinham tomado essa ou aquela atitude. Um dos nossos alunos disse que até chegar à universidade, não tinha o entendimento do que era cultura, entendia apenas o que era cultura no sentido da roça, ou seja, a cultura do milho, do arroz, da mandioca. Ao fazer essa constatação, a fazia com humor, estabelecendo a relação do espanto entre o saber popular e o erudito, ou a descoberta de um pelo outro no mesmo sujeito/histórico.

O termo cultura que conhecia expressa um dos significados trazidos nos dicionários, qual seja, o cultivo de um cereal ou planta. Mas, que em alguns componentes curriculares ali no curso de Pedagogia da Terra ele estava aprendendo no sentido antropológico, ou seja, no entendimento de que cultura é um conjunto de significados que para um grupo social ou uma sociedade se expressa por diferentes valores. E que existe muitos autores que falam sobre isso, inclusive Paulo Freire. Citamos, como exemplo, ao discutir na oficina a categoria cultura, a qual eles tinham identificado como um conceito importante para Freire. O exemplo narrado pelo autor, no qual reporta-se a sua experiência em um país africano. Quando ao realizar um passeio com um colega pelo campus da universidade que trabalhava, seu colega naturalmente pegou-lhe a mão e passaram a caminhar de mãos dadas. Freire narra que foi de grande espanto entender o que significava aquele ato impensável entre dois homens no Brasil, na sua cultura. Foi ai que compreendeu o sentido de cultura, como algo que tem a ver com o modo de ser de cada povo, de cada sociedade.

Discussões como essa muito impressionavam aquele aluno e, mais ainda, quando na orientação de monografia apresentei-lhe o termo cultura corporal. Sua monografia pretendia abordar sobre aulas de Educação Física no campo. E com os textos que lhe recomendei, ele acabou por entender sobre cultura corporal. Discutimos em vários momentos que cada povo tem um jeito de andar, de sentar-se a mesa e de jogar, que expressam sentidos próprios do lugar onde habitam e onde o significado do corpo pode ter esse ou aquele sentido. Seu entendimento sobre a necessidade dos alunos da escola do campo também, de aprenderem sobre a cultura corporal se explica na noção que Freire tanto nos remete ao falar de “leitura de mundo que antecede a leitura da palavra”. Percebíamos isso quando ele trouxe uma redação inicial, primeiro exercício que costumo fazer quando oriento TCC. Sua narrativa foi:


... Eu como fui aluno dessa escola, conheço a realidade do assentamento e da educação da mesma. Por conhecer essa realidade e dificuldade no ensino da educação física. Eu vesti essa camisa e ajudar na área do esporte voluntariamente. Essa foi à forma que achei para contribuir com a escola e os jovens da minha comunidade... (Aluno do Curso Pedagogia da Terra – fragmento do texto produzido).


Ao final do curso, esse aluno produziu e defendeu uma monografia que trata da Educação Física na escola de seu assentamento, ou seja, a Educação Física a ser ensinada no campo. Escrever a monografia foi um exercício científico que lhe esclareceu a partir da leitura da palavra o que ele já conhecia de modo empírico, sobre a cultura corporal da vida no campo. Sua atividade de professor de Educação Física, como acima explicou, era de voluntário, mas, foi por essa experiência que se descobriu e construiu como professor, e foi a partir de um elemento da cultura do campo – jogos, lutas e brincadeiras – que ele se dava conta do que em sua realidade do assentamento ele poderia nomear cultura corporal. Uma passagem do seu texto de TCC explicita bem o nível de compreensão que o conceito de cultura corporal lhe proporcionou:


Neste estudo queremos discutir a Educação Física na educação básica para entender conhecimentos necessários que possa me fundamentar como professor de educação física da escola do P.A. Vale do Esperança. E a partir da inter-relação entre a história da nossa luta e o que os autores chamam de cultura e cultura corporal contribuir com a construção dos conhecimentos de crianças e adolescentes considerando o processo político educacional vigente e do qual elas fizeram parte na luta pela terra. (Aluno, 2011, pg.21).


Nossa discussão sobre cultura como modo de vida, signos e significados se alargou em outros debates por outros componentes curriculares. Entretanto, não foi capaz de superar alguns aspectos naturalizados de sua compreensão da realidade dada. Percebi isso quando no seu texto expôs sem explorar criticamente que a cultura corporal está submersa a um recorte de gênero. No entanto, o sentido e a percepção do que é cultura corporal está clara:


Naquela escola tenho trabalhado apenas com os aspectos da cultura corporal dos assentados, que se refletem em brincadeiras que exploram o ambiente em que estamos inseridos, ou seja, o campo. Em geral as atividades mais comuns são os jogos e as brincadeiras tradicionais da cultura rural do Brasil. Com os meninos brincamos de bola e estas bolas são em geral criadas por nós mesmo, quando a escola não tem doada pela Secretaria de Educação. E, para as meninas que preferem se recolher em brincadeiras abaixo das árvores ou no pátio da escola estão as brincadeiras de pular corda, queimada baliza, entre outras.


Considerações finais


Nossa inserção como professores articulados aos movimentos sociais do campo, sem dúvida, é um elemento significativo para a construção desse objeto de estudo. Quando o curso Pedagogia da Terra se iniciou em nossa instituição, emergiram as forças políticas das posturas contra-hegemônicas da sociedade brasileira e isso não foi somente em Goiás. Toda essa história pode ser entendida, hoje, como parte da história da educação popular no Brasil, quando esta se cruza com a educação erudita, mas, principalmente aqui, revela os sujeitos sociais do campo tentando ocupar novos espaços que não a terra de cultivar produtos agrícolas, e sim a de cultivar os conhecimentos.

Sua inserção nos muros da universidade revelou histórias de preconceito e discriminação, nos fez perceber as incoerências daqueles que escrevem sobre dialética, mas, não sabem vivenciar a relação dialética. Do ponto de vista dos alunos, nos fez perceber que eles quebraram paradigmas internos do movimento social quanto a necessidade que a condição de alunos os colocou na exigência do domínio dos códigos de linguagem e de saberes dominante e hegemônicos de nossa sociedade.

Também, uma convivência mais horizontal, numa perspectiva freiriana com essa turma, nos proporcionou o entendimento de que esses alunos compreendem a vida na luta e no lúdico. Suas condições concretas de existência não lhes tiram o potencial de querer e viver emoções, de viver a boniteza que Freire tanto reclama em sua literatura. E, também, a dimensão da solidariedade humana. Isso foi possível observar quando algumas situações inesperadas de perda ocorreram com integrantes da turma (perca de parentes ou amigos) ou nos casos de saúde os quais são impossíveis prever. A solidariedade entre eles ultrapassava os limites das bandeiras, hinos e das ações políticas previsíveis nos seus movimentos. A tudo isso Freire chamaria de boniteza de viver. Isso muito tinha a ver com o saber popular, o saber do campo, o saber de buscar remédios nas plantas medicinais ou na cultura popular de cada região e lugar de onde provinham. Não foi uma nem duas vezes que antes ou pós-aulas algumas situações de saúde entre os componentes da turma e as crianças da ciranda produziram discussões sobre remédios caseiros, amamentação e curas com plantas medicinais ou com benzedeiras.

Nesse sentido, pensamos que nossa contribuição seja fazer essa intercessão entre os conhecimentos, a fim de que possamos fecundar uma formação mediada pela discussão da identidade do sujeito do campo, que ora se pluraliza e que, ao pensar pedagogicamente, requisita o pensamento daquele que foi um dos maiores educadores populares deste país.

A reelaboração que fazem hoje, dessa experiência de estudar na universidade, está diretamente relacionada à ação política que desempenham na sociedade como sujeitos sociais que se impulsionam contra o que é estabelecido pelo Estado burguês, e que por isso cabem alguns embates dentro do aparelho burguês de dominação que é a instituição pública – escola -. Por isso, durante todo o curso eles estabeleceram a mesma lógica dentro dos muros da universidade com as quais eles atuam diretamente com o poder estatal, qual seja: a prática de dialogar em comissões, de realizar suas místicas, de dividir o trabalho sexual e social no dia a dia da escola, de manifestar-se, de expor seus símbolos para marcar território e, por fim, de questionar os ritos pré-estabelecidos da instituição.

Ser professores desses alunos e ter vivenciado com eles inúmeras experiências de luta dos movimentos sociais nos possibilitou um reinventar da prática pedagógica e do sentido de viver a educação escolar nos muros da universidade. A eles só temos que agradecer.


Referências

Fazenda, I. (Org.). (1991). Metodologia da Pesquisa Educacional. São Paulo: Cortez.


Freire, P., & Nogueira, A. (1989). Que Fazer: teoria e prática em educação popular. Petrópolis: Vozes.


Freire, P. Fala de Paulo Freire aos Sem Terra [1991]. (2005). In Caldart, R. S., & Kolling, J. E. (Orgs.). Paulo Freire: uma educador do povo. Veranópolis, RS: ITERRA/MEC/FNDE.


____________. (1979). Educação e Mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra.


____________. (1997). Papel da Educação na Humanização, Revista da Faeeba/FE/ UNEB, 6(7), 9-32.


____________. (1998). Alfabetização: com escola, terra e dignidade.


Caldart, R. S., & Kolling, J. E. (2005). Paulo Freire: um educador do povo. Veranópolis, RS: ITERRA/MEC/FNDE.


Vídeo Documentário. (2005). Paulo Freire: educar para transformar. (28 min.). Projeto Memória. Instituto Paulo Freire: Petrobras: Governo Brasileiro.


i Sala de Aula, aqui neste texto, é mais do que lugar onde se realizam as aulas dos conteúdos programados. São todos os espaços de aprendizagem onde, através do Curso de Pedagogia da Terra, nos relacionamos com os alunos, como homens e mulheres da sociedade em que vivemos, e isto ultrapassa as quatro paredes da sala de aula, estendendo-se às manifestações, às festas, aos eventos acadêmicos e aos debates políticos que ocorreram. (Palavras dos autores).




Recebido em: 01/07/2016

Aprovado em: 31/07/2016

Publicado em: 13/12/2016



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APA:

Pereira, M. C., & Lustosa, F. H. C. (2016). Reflexões sobre a Pedagogia Paulo Freire com os alunos de Pedagogia da Terra. Rev. Bras. Educ. Camp., 1(2), 299-317.


ABNT:

PEREIRA, M. C.,; LUSTOSA, F. H. C. Reflexões sobre a Pedagogia Paulo Freire com os alunos de Pedagogia da Terra. Rev. Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 1, n. 2, p. 299-317, 2016.



Rev. Bras. Educ. Camp.

Tocantinópolis

v. 1

n. 2

p. 299-317

jul./dez.

2016

ISSN: 2525-4863


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