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necessárias as seguintes mudanças nas
práticas educativas:
1. A realização do princípio da
igualdade de oportunidades: A
educação intercultural requer que se
trate nas instituições educativas os
grupos populares não como cidadãos
de segunda categoria, mas que se
reconheça seu papel ativo na
elaboração, escolha e atuação das
estratégias educativas. Além disso, é
preciso repensar as funções, os
conteúdos e os métodos da escola, de
modo a se superar o seu caráter
monocultural.
2. A reelaboração dos livros didáticos,
adoção de técnicas e de instrumentos
multimediais. A educação
intercultural requer profundas
transformações no modo de educar.
A prática educativa é estimulada a se
tornar sempre mais interdisciplinar e
multimediais. De modo particular,
dever-se-á utilizar as técnicas e as
metodologias ativas, do jogo à
dramatização. Mas principalmente os
livros didáticos deverão sofrer
profundas mudanças. Estes são
escritos geralmente na perspectiva da
cultura oficial e hegemônica, e não
para alunos pertencentes a “muitas
culturas”, diferentes entre si,
justamente no modo de interpretar
fatos, eventos, modelos de
comportamento, ideias, valores. E
talvez sejam usados justamente por
aqueles alunos cujas culturas são
representadas e julgadas, a partir da
cultura hegemônica, de modo
preconceituoso e discriminatório.
3. A formação e a requalificação dos
educadores são talvez o problema
decisivo, do qual depende o sucesso
ou o fracasso da proposta
intercultural. O que está em jogo na
formação dos educadores é a
superação da perspectiva
monocultural e etnocêntrica que
configura os modos tradicionais e
consolidados de educar, a
mentalidade pessoal, os modos de se
relacionar com os outros, de atuar nas
situações concretas.
No contexto educacional brasileiro, a
implementação dessas mudanças pode ser
vista como um grande desafio, uma vez
que o monoculturalismo prevalece nas
instituições de ensino e pesquisa. No
entanto, começam a surgir propostas
educacionais enraizadas nos movimentos
sociais que dialogam com a educação
intercultural, como a da Educação do
Campo, discutida a seguir.
A Educação do Campo e a formação de
educadores
Como apontado por Freitas (2011), a
Educação do Campo é fruto da luta de
movimentos sociais empreendida no Brasil
a partir da primeira metade do século XX,
período em que houve o início da
industrialização, da urbanização e do
consequente êxodo rural. Os agentes
sociais envolvidos na Educação do Campo
reivindicavam, além da reforma agrária, o
direito a uma educação pública de
qualidade no contexto rural brasileiro, que,
ainda hoje, é caracterizado por contrastes,
precariedade e desigualdades sociais e
educacionais. De um lado, há um modelo
de desenvolvimento do campo que
privilegia os proprietários de grandes
extensões de terra, a monocultura e o
agronegócio voltado para a produção de