Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
ARTIGO/ARTICLE/ARTÍCULO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n1p204
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
p. 204-222
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
204
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Retratos contemporâneos da Educação do Campo:
movimentos investigativos no Vale do Jiquiriçá-BA
Mônica de Almeida Santos
1
, Alcione de Almeida Santos
2
, Maria Célia Santana Orrico
3
, Mariana Martins de
Meireles
4
1
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB. Centro de Formação de Professores - CFP. Avenida
Nestor de Melo Pita, 535, Centro, Amargosa - BA. Brasil. monicaalmeida13@gmail.com.
2
Universidade Federal
do Recôncavo da Bahia - UFRB.
3
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB.
4
Universidade Federal
do Recôncavo da Bahia - UFRB.
RESUMO. Esse artigo é resultado de uma pesquisa realizada no
povoado do Serrote, zona rural do município de Elísio Medrado-
Bahia, no âmbito dos estudos efetivados pelo Observatório em
Educação do Vale do Jiquiriçá (OBSERVALE/UFRB), que tem
como finalidade ampliar estudos e promover debates sobre a
Educação do Campo no Território do Vale do Jiquiriçá. As
análises que resultam nesse texto decorrem da pesquisa:
“Retratos da Educação do Campo: Cenários Contemporâneos”,
realizada com 12 escolas do campo e 12 professores e
representantes do poder público. A investigação ancorou-se
metodologicamente em uma pesquisa de abordagem qualitativa,
através do uso de entrevistas semiestruturadas e da observação
do contexto escolar. Neste artigo, especificamente, utilizamos os
dados de uma das escolas investigadas, tendo em vista uma
análise mais apurada de relatos de duas colaboradoras e de
dados recolhidos na pesquisa de campo. O estudo revelou a
presença de um modelo urbanocêntrico de educação que se
distancia dos princípios e concepções que pautam o movimento
por uma Educação do Campo no Brasil, revelando a
predominância de uma educação orientada por um currículo
homogêneo e descolado dos contextos dos estudantes,
desvelando assim, retratos de uma Educação Rural, ainda que
estejamos em tempos de luta por uma Educação do Campo.
Palavras-chave: Educação do Campo, Classes Multisseriadas,
Formação de Professores.
Santos, M. A., Santos, A. A., Orrico, M. C. S., & Meireles, M. M. (2018). Retratos contemporâneos da Educação do Campo:
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Contemporary Peasant Education Pictures: Investigative
Movements in the Jiquiriçá Valley-BA
ABSTRACT. This article is the result of a survey carried out in
the village of Serrote, a rural area in the municipality of Elísio
Medrado-Bahia, in the framework of studies carried out by the
Jiquiriçá Valley Observatory in Education
(OBSERVALE/UFRB), whose purpose is to expand studies and
promote debates on Peasant Education in the Jiquiriçá Valley
Territory. The analyzes that result in this text derive from the
research: Peasant Education Pictures: Contemporary
Scenarios”, carried out with 12 rural schools and 12 teachers and
representatives of the public power. The research was anchored
methodologically in a qualitative approach research, through the
use of semi-structured interviews and the observation of the
school context. In this article, specifically, we used data from
one of the schools investigated, aiming at a more accurate
analysis of reports from two collaborators and data collected in
the research. The study revealed the presence of an urban-
centric model of education that distances itself from the
principles and conceptions that guide the movement for a
Peasant Education in Brazil, revealing the predominance of an
education oriented by a homogeneous curriculum and detached
from the contexts of the students, revealing thus, portraits of a
Rural Education, although, we are in times of struggle for a
Peasant Education.
Keywords: Peasant Education, Multi-series Class, Teacher
Education.
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Contemporáneo retratos de Educación Rural:
Movimientos de Investigación en Valle Jiquiriçá-BA
RESUMEN. Este artículo es el resultado de una investigación
realizada en la ciudad de Serrote, municipio rural de Elísio
Medrado-Bahía, en los estudios efectuados por el Centro de
Educación Jiquiriçá Valley (OBSERVALE / UFRB), que tiene
como objetivo ampliar los estudios y promover debates en
Educación en el Campo en el Territorio Jiquiriçá Valle. Las
análisis que dan lugar a este texto son el resultado de la
investigación: “Retratos Educación en el Campo: Escenarios
Contemporáneos", realizado con 12 escuelas en el campo y 12
profesores y representantes del gobierno. La investigación
metodológicamente apoyada en una investigación cualitativa, a
través del uso de entrevistas y observación del contexto escolar.
En este artículo, en concreto, se utilizan los datos de una de las
escuelas, con el fin un análisis más detallado de dos
colaboradores y los informes de los datos recogidos en la
investigación de campo. El estudio reveló la presencia de un
modelo de educación urbano céntrico que distancia de los
principios y conceptos que guían el movimiento de Educación
en el Campo en Brasil, que revela el predominio de una
educación guiada por un plan de estudios y los hipsters
homogénea de los contextos de los estudiantes, presentación por
lo tanto retratos de una Educación Rural, sin embargo, estamos
en tiempos de lucha por una Educación en el Campo.
Palabras clave: Educación en el Campo, Clase Multiseraria,
Formación de Profesores.
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Introdução: os nascedouros desses
escritos...
O presente artigo é resultado de uma
pesquisa de campo realizada no povoado
do Serrote, zona rural do município de
Elísio Medrado-Bahia, no âmbito dos
estudos efetivados pelo Observatório em
Educação do Vale do Jiquiriçá
(OBSERVALE), vinculado à Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB),
que tem como finalidade ampliar estudos e
promover debates sobre a Educação do
Campo no Território do Vale do Jiquiriçá
i
.
As análises apresentadas decorrem
da pesquisa: “Retratos da Educação do
Campo: Cenários Contemporâneos”, que
buscou analisar cenários contemporâneos
da Educação do Campo no Território Vale
do Jiquiriçá-BA e, mais especificamente,
nos municípios de Amargosa, Mutuípe e
Elísio Medrado. A referida pesquisa foi
realizada com 12 escolas do campo e 12
professores e representantes do poder
público dos respectivos municípios.
A investigação ancorou-se
metodologicamente em uma pesquisa de
abordagem qualitativa, através do uso de
entrevistas semiestruturadas e da
observação do contexto escolar. Os dados
recolhidos através de pesquisa de campo
constituem-se como um importante acervo
de narrativas orais dos colaboradores e dos
contextos investigados.
Nesse viés, vale destacar que o
estudo aborda especificamente os
resultados da pesquisa que foi
desenvolvida na Secretaria de Educação de
Elísio Medrado e em uma escola do campo
do Serrote, de modo que estiveram
envolvidas na investigação a coordenadora
das escolas do campo e uma das
professoras que atuam nesse contexto.
A Educação ofertada em contextos
campesinos, historicamente, sempre foi
negligenciada e tratada com inferioridade e
descaso pelos governantes, pela elite
brasileira e pelas políticas públicas,
enquanto que o espaço urbano sempre foi
apresentado como padrão de superioridade
e modernidade que deveria ser seguido e
adotado, inclusive, no que diz respeito às
propostas educacionais.
Nesse sentido, nota-se que no cenário
brasileiro, a educação do campo tem se
caracterizado como um espaço de
precariedade por descasos, especialmente
pela ausência de políticas públicas para as
populações que residem” (Pinheiro,
2011, p. 1). Todavia, apesar da trajetória de
negação e ausência, nos últimos anos
surgiram movimentos sociais que
impulsionaram a construção de um projeto
de desenvolvimento social e educacional,
convocando a participação dos povos do
campo, valorizando, desse modo, suas
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mais diversas formas de vida e seus
anseios.
Nessa perspectiva, dentre os
objetivos desses movimentos, destaca-se a
busca por uma educação de qualidade, de
modo que as próprias origens da Educação
do Campo são marcadas por uma série de
lutas e desafios protagonizados pelos
movimentos sociais, que iniciam com a
luta pela terra e posteriormente com a luta
por uma educação de qualidade, desta vez,
com face campesina.
Sabemos que embora inúmeros
avanços já tenham sido alcançados, ainda
muitas dificuldades e desafios que
merecem destaques e visibilidades no
contexto da luta por uma Educação do
Campo. Tomando esse cenário
emblemático de avanços e retrocessos,
nosso trabalho de pesquisa orientou-se a
partir do seguinte problema: Que retratos
constituem a Educação do Campo no
Território do Vale do Jiquiriçá- BA,
considerando a conjuntura desse território
de identidade?”.
Para tanto, buscamos descrever
aspectos do cotidiano escolar vivenciados
por estudantes e professores de escolas do
campo; identificar elementos das práticas
pedagógicas desenvolvidas e as condições
de trabalho docente; analisar propostas de
Educação do Campo desenvolvidas pelo
município em estudo, bem como os
materiais que regulam o trabalho docente;
investigar os contextos não escolares,
como associações, cooperativas,
organizações e movimentos sociais
presentes; e pesquisar sobre o fechamento
de escolas do campo, suas causas e
implicações.
No decorrer deste trabalho, por
questões de sigilo e ética da pesquisa,
optou-se pela utilização de nomes fictícios
para os colaboradores da pesquisa, visando
preservar suas identidades. Vale lembrar
que os nomes fictícios foram escolhidos
pelos participantes, sendo assim, o nome
da professora será Margarida e o da
coordenadora será Eliane.
Os princípios teóricos que orientam
este estudo pautam-se nas discussões e
reflexões tecidas sobre Educação do
Campo no Brasil, tansversalizando
questões importantes no âmbito de sua
trajetória política, social e educacional.
Para tanto, utilizamos os trabalhos de
Caldart (2002; 2004), Fernandes (2012),
Pires (2012), Ribeiro (2012), dentre outros
autores que problematizam questões
importantes no âmbito da Educação do
Campo, entendida como uma realidade
contemporânea que se constitui como um
direito dos povos do campo, uma dívida
histórica e social brasileira.
Em suma, tendo em vista uma
melhor sistematização dos elementos a
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serem discorridos, o artigo encontra-se
estruturado em cinco seções, sendo que a
primeira delas constitui-se por essa
introdução. A segunda delas, intitulada
“Dimensões Históricas e Políticas da
Educação do Campo: Transitando entre as
(Im)possibilidades”, tece discussões sobre
o contexto histórico e social de
consolidação da Educação do Campo no
Brasil, evidenciando as dificuldades e os
desafios existentes nesse processo. A
terceira, “Percursos Metodológicos:
Desvelando Caminhos”, apresenta as
abordagens metodológicas utilizadas e os
instrumentos empregados para a realização
do trabalho. A quarta, Experiências de
Educação do Campo: Relatos das
Colaboradoras”, traz os resultados e
discussões da pesquisa realizada, com
vistas a apresentar dados importantes desse
estudo. E por fim, a quinta,
Considerações Finais: (In)conclusões”,
seção que expõe as principais evidências
resultantes do trabalho de pesquisa.
Dimensões históricas e políticas da
Educação do Campo: transitando entre
as (Im)possibilidades
A Educação do Campo refere-se a
um contexto educacional que tem suas
origens marcadas pela representatividade
das lutas dos movimentos sociais
camponeses, que buscam o direito por uma
educação pensada especificamente para a
realidade do Campo, levando em
consideração as culturas e os costumes da
sua população. Dessa forma, dentre os
diversos movimentos sociais camponeses
existentes, destaca-se o protagonismo
desempenhado pelo Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),
que foi fundamental para a conquista de
diversos avanços ao longo dos anos.
Nessa conjuntura, é pertinente
lembrar que ainda na atualidade tais
movimentos são fundamentais para o
alcance dos objetivos educacionais e
sociais existentes. A Educação do Campo
constitui-se como um paradigma em
construção, caracterizada por englobar
todos os espaços campesinos. Assim
sendo, o contexto educacional precisa levar
em consideração as especificidades dessa
população, preocupando-se com suas
singularidades e particularidades
históricas, sociais, culturais, políticas e
econômicas que são transversalizadas, no
contexto brasileiro, por dimensões ligadas
à questão agrária e à luta pela terra.
Nessa perspectiva, conforme as
Diretrizes Operacionais para a Educação
Básica nas Escolas do Campo
ii
vêm
destacando,
A educação do campo ... tem um
significado que incorpora os espaços
da floresta, da pecuária, das minas e
da agricultura, mas os ultrapassa ao
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acolher em si os espaços pesqueiros,
caiçaras, ribeirinhos e extrativistas. O
campo, nesse sentido, mais do que
um perímetro não urbano, é um
campo de possibilidades que
dinamizam a ligação dos seres
humanos com a própria produção das
condições da existência social e com
as realizações da sociedade humana
(Brasil, 2002, p. 1).
Nesse sentido, as diretrizes defendem
uma educação que leve em consideração
todos os sujeitos em seus modos de vida e
de existência humana, ultrapassando os
limites físicos do espaço, mas apropriando
também todo um contexto de
heterogeneidades existentes. Dessa forma,
apontam o campo como um meio
fundamental de possibilidades e de
relações das pessoas com a sua própria
produção histórica e cultural. Nessa
perspectiva, um dos maiores objetivos da
Educação do Campo é a busca pela
emancipação humana, proporcionando aos
sujeitos se tornarem protagonistas da sua
própria história.
Nesse viés, é importante destacar a
diferença conceitual existente entre a
Educação do Campo e a Educação Rural.
Durante muito tempo a nomenclatura
utilizada para se referir aos processos
educacionais nos espaços camponeses era a
Educação Rural, termo esse que foi
registrado pela primeira vez durante o
Primeiro Congresso de Agricultura do
Nordeste Brasileiro
iii
.
Essa época foi marcada pela
existência de um grande movimento
migratório das pessoas que moravam no
campo e que iam viver na cidade em busca
de melhores condições de vida. Assim, o
objetivo do mencionado evento era evitar a
migração e manter a população no campo,
de modo que a Educação Rural
“privilegiava o estado de dominação das
elites agrárias sobre os(as)
trabalhadores(as), principalmente para
estabelecer a harmonia e a ordem nas
cidades e elevar a produtividade do
campo” (Pires, 2012, p. 81).
Nesse período, surge o Ruralismo
Pedagógico, um movimento educacional
caracterizado pelo ideal de fixação da
população rural no campo, buscando evitar
a migração de um grande número de
pessoas para os centros urbanos. É nessa
perspectiva que Pires (2012, p. 82) ressalta
que:
O ruralismo pedagógico foi reforçado
pela ideologia do colonialismo, a
qual se pautava na defesa das
virtudes do campo e da vida
campesina para esconder a
preocupação com o seu esvaziamento
populacional, o enfraquecimento
social e político de patriarcalismo e a
forte oposição, por parte dos
agroexportadores, ao movimento
progressista urbano. Ao lado disso, o
ruralismo teve outros apoios como o
de alguns segmentos das elites
urbanas, que apregoavam a fixação
do homem/mulher no campo como
forma de evitar a explosão de
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problemas sociais nas cidades (Pires,
2012, p. 82).
Frente a isso, podemos perceber que
a existência do Ruralismo Pedagógico é
marcada por uma série de ideologias da
elite dominante e obteve grande
repercussão na sociedade, visto que trouxe
consequências para a forma com que os
processos educativos aconteciam. Isso
enfatiza mais uma vez que a educação
direcionada para as áreas rurais vai se
constituindo a partir dos interesses do
Estado brasileiro e essa realidade é
evidente nos mais diferentes aspectos
associados à educação voltada ao campo.
Neste ponto, reiteramos que as
diferenças conceituais entre a Educação
Rural e a Educação do Campo tornam-se
visíveis, pois enquanto a Educação Rural
refere-se a “uma educação na mesma
modalidade da que é oferecida às
populações que residem e trabalham nas
áreas urbanas, não havendo ... nenhuma
tentativa de adequar a escola rural às
características dos camponeses” (Ribeiro,
2012, p. 295), a Educação do Campo se
refere a uma educação pensada
especificamente para os sujeitos do campo,
levando em consideração as suas
pluralidades.
Ainda nessa vertente, ao analisar as
origens da expressão Educação do Campo,
percebe-se que ela é marcada pela I
Conferência Nacional por uma Educação
Básica do Campo, um evento que foi
realizado em 1998 na cidade de Luziânia
(Goiás) e que reuniu professores e
movimentos sociais para discutir sobre a
educação que era ofertada nas áreas rurais.
A partir desse evento, é consolidada a
expressão “Educação Básica do Campo” e,
segundo Caldart (2004, p. 1), “o momento
do batismo coletivo de um novo jeito de
lutar e de pensar a educação para o povo
brasileiro que trabalha e vive no e do
campo”, pois busca-se uma educação que
respeite as especificidades do campo, sem
inferiorizá-las. Isso, inclusive, fica em
evidência nos próprios objetivos do evento,
quando se afirma que é de:
Ajudar a recolocar o rural, e a
educação que a ele se vincula, na
agenda política do Brasil. Todos que
participamos na promoção desse
evento, partilhamos da convicção de
que é possível, e necessário,
pensar/implementar um projeto de
desenvolvimento para o Brasil que
inclua a milhões de pessoas que
atualmente vivem no campo, e de que
a educação, além de um direito, faz
parte dessa estratégia de inclusão
(Brasil, 1998, p. 5).
Além disso, em 2002 aconteceu
outro evento muito marcante em Brasília: o
Seminário Nacional por uma Educação do
Campo. É nesse evento que a expressão
“Educação do Campo” ganha força e
consolida-se, impulsionando as reflexões e
discussões sociais e educacionais acerca da
temática.
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Mediante a isso, é importante frisar a
fundamental importância que os
movimentos sociais desempenham para
cada um dos marcos e dos avanços
referentes à Educação do Campo. Assim,
movimentos como os Centros Populares de
Cultura (CPC), os Sindicatos, as
Organizações não-governamentais
(ONGs), a Via Campesina, o Movimento
de Mulheres Camponesas (MMC), o
Movimento dos Atingidos pelas Barragens
(MAB), além de outros, são fundamentais
para as conquistas alcançadas. Nesse
contexto, destaca-se o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),
articulando a luta pela terra com a luta pela
educação.
O MST é um movimento
socioterritorial que reúne em suas
bases diferentes categorias de
camponeses pobres como parceiros,
meeiros, posseiros, minifundiários e
trabalhadores assalariados chamados
sem-terra e também diversos
lutadores sociais para desenvolver as
lutas pela terra, pela Reforma agrária
e por mudanças na agricultura
brasileira. (Fernandes, 2012, p. 498).
Vale ressaltar ainda que, inclusive na
contemporaneidade, tais movimentos
continuam possuindo imensa importância,
pois ainda existem muitos desafios a serem
enfrentados, sendo possível perceber a
existência de uma série de descasos que
envolvem a Educação do Campo,
principalmente no que se refere à estrutura
das escolas, materiais didáticos
disponíveis, condições de trabalho dos
professores, dentre outros fatores. Nesse
sentido, um dos aspectos que mais tem
chamado à atenção na atualidade é o
fechamento das escolas do Campo, fato
que traz implicações e consequências para
toda a população camponesa.
Percursos metodológicos: desvelando
caminhos
No que se refere aos princípios
metodológicos, esta investigação se insere
no campo das pesquisas qualitativas, por
considerar dimensões subjetivas e
realidades que não podem ser quantificadas
no decurso da investigação, bem como no
tratamento dos dados. Nesse sentido,
corroboramos com Minayo (2001) quando
afirma que a pesquisa qualitativa trabalha
com o universo de significados, motivos,
aspirações, crenças, valores e atitudes, o
que corresponde a um espaço mais
profundo das relações, dos processos e dos
fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis
mensuráveis.
Segundo Chizzotti (2003, p. 221), o
termo qualitativo “implica uma partilha
densa com pessoas, fatos e locais que
constituem objetos de pesquisa, para
extrair desse convívio os significados
visíveis e latentes que somente são
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perceptíveis a uma atenção sensível”. Isso
demonstra a amplitude conferida pelo
contexto pesquisado e a importância de
que todos esses elementos sejam
evidenciados.
Nessa perspectiva, realizamos uma
pesquisa de campo que possibilitou uma
maior aproximação com os fenômenos
estudados. Sob esse prisma, convém
destacar que a pesquisa de campo permite
pesquisar na prática os elementos
envolvidos no estudo, num contexto em
que há um encontro entre o pesquisador e o
campo empírico da sua investigação.
Desse modo, as informações colhidas
por meio de uma ida a campo o
extremamente valiosas para a construção
do conhecimento, pois revelam fatos e
detalhes que enriquecem grandemente o
desenvolvimento do trabalho. Com base
nisso, de acordo com as palavras de
Gonçalves (2001, p. 67),
É o tipo de pesquisa que pretende
buscar a informação diretamente com
a população pesquisada. A pesquisa
de campo é aquela que exige do
pesquisador um encontro mais direto.
Nesse caso, o pesquisador precisa ir
ao espaço onde o fenômeno ocorre,
ou ocorreu e reunir um conjunto de
informações a serem documentadas
(Gonçalves, 2001, p. 67).
Por meio disso, é possível perceber
que a realização da pesquisa de campo
constituiu-se um indispensável elemento
da pesquisa, sendo fundamental para a
busca dos objetivos propostos. Portanto,
cada uma das informações colhidas
empiricamente foi fundamental para o
processo da pesquisa e para os seus
resultados.
A pesquisa em questão foi realizada
durante o mês de Junho de 2016 na
Secretaria de Educação de Elísio Medrado-
BA e em uma escola da rede municipal
situada no povoado Serrote, zona rural
desse mesmo município. Sendo assim,
nesta investigação buscamos compreender
o movimento da Educação do Campo no
Vale do Jiquiriçá-BA e, mais
especificamente, no munícipio de Elísio
Medrado, através da construção de
inventários da realidade e de retratos
singulares dos contextos investigados.
Para tanto, utilizamos como
instrumento de coleta de dados a entrevista
semiestruturada, que foi realizada tanto
com a coordenadora das escolas do campo
da região quanto com uma professora que
leciona em uma das turmas multisseriadas
dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
A escolha por este instrumento de pesquisa
se deu pela possibilidade de aproximação
com os sujeitos e devido à sua flexibilidade
no decorrer do trabalho, uma vez que
organizamos um roteiro de perguntas que
permitiu a inserção de outras questões ao
longo do diálogo.
Compreende-se a entrevista
semiestruturada como uma entrevista na qual
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as perguntas principais são pré-definidas e
organizadas através de um guia/roteiro, de
modo que tais perguntas estão diretamente
relacionadas aos objetivos traçados na
investigação. Contudo, além dessas questões
iniciais, novas indagações podem surgir no
decorrer da conversa, o que permite uma
abordagem mais consistente e
contextualizada acerca da temática.
Para Manzini (1990/1991, p. 154),
“esse tipo de entrevista pode fazer emergir
informações de forma mais livre e as
respostas não estão condicionadas a uma
padronização de alternativas”. Neste estudo,
as entrevistas foram agendas previamente
com as colaboradoras, gravadas em áudio,
transcritas, posteriormente categorizadas e
analisadas.
No que se refere à importância da
entrevista, Marconi e Lakatos (2007, p.
197) apontam que:
A entrevista é um encontro entre
duas pessoas, a fim de que uma delas
obtenha informações a respeito de
determinado assunto, mediante uma
conversação de natureza profissional.
É um procedimento utilizado na
investigação social, para a coleta de
dados e para ajudar no diagnóstico ou
no tratamento de um problema social
(Marconi & Lakatos, 2007, p. 197).
Diante do exposto, podemos
perceber a complexidade envolvida na
realização das entrevistas e a fundamental
relevância que elas possuem. A partir da
sua realização é possível colher dados e
informações que contribuem para a
compreensão de uma série de elementos do
contexto investigado, de modo que a
utilização desse instrumento se mostrou
imprescindível neste trabalho.
Tendo em vista esses elementos, o
uso da entrevista possibilitou evidenciar e
aprofundar representações sobre as
experiências e as realidades educativas dos
sujeitos, bem como entender os diferentes
mecanismos e os processos históricos
relativos à educação em seus diferentes
tempos e espaços na região investigada.
Devido a isso, o trabalho com as
entrevistas contribuiu na compreensão
acerca da história local, principalmente no
que se refere ao cotidiano vivenciado pelas
participantes da pesquisa.
Nesse viés, as perguntas da entrevista
realizada com a coordenadora tratavam
basicamente de questões acerca de
aspectos que evidenciam a forma com que
a Educação do Campo é conduzida no
município. Neste ponto, durante o diálogo,
buscamos conhecer a proposta de
Educação do Campo do município e
quanto tempo ela foi implementada;
investigar se o município oferece alguma
formação específica ou continuada para os
professores do campo; identificar se existe
alguma parceria entre a secretaria e alguma
organização social; e colher dados sobre a
quantidade de escolas do campo existentes
Santos, M. A., Santos, A. A., Orrico, M. C. S., & Meireles, M. M. (2018). Retratos contemporâneos da Educação do Campo:
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no município, incluindo quantas delas
foram fechadas e quais os motivos do
fechamento.
as questões da entrevista realizada
com a professora abordavam aspectos
relacionados ao seu cotidiano escolar, às
características das suas práticas
pedagógicas, a sua relação com os alunos e
com a comunidade e a sua concepção de
Educação do Campo. Além disso, buscou-
se trazer reflexões sobre o fechamento das
escolas do campo e sobre as suas
condições de trabalho, no que se refere a
salário, carga horária, materiais didáticos,
dentre outros aspectos.
O município de Elísio Medrado se
localiza no Recôncavo da Bahia, a cerca de
240 quilômetros da capital Salvador, com
uma área total de aproximadamente 100
km²; onde se encontra uma população
estimada em 7.947 habitantes e uma
densidade demográfica de 41,6 hab./ km²,
(IBGE, 2010). Sua população é
predominantemente rural, isso explica o
fato da sua economia ser baseada
principalmente na agricultura familiar. A
economia do município gira em torno da
agricultura, principalmente através do
cultivo da mandioca, laranja, feijão e
outros produtos agrícolas.
A comunidade do Serrote possuiu
uma cooperativa, mas no momento de
realização do estudo encontrava-se
desativada. Convém frisar que a
comunidade do Serrote teve várias
escolas, no entanto, atualmente a única que
está em funcionamento é a escola onde
essa pesquisa foi realizada.
A instituição escolar onde realizamos
a pesquisa apresenta uma estrutura física
razoável, possui duas salas de aula, uma
cozinha, uma secretaria e dois banheiros.
Não possui área de recreação, o único local
disponível para as crianças brincarem é
uma área no exterior da escola, próxima à
estrada e sem proteção nenhuma. Pelo que
foi possível perceber, as crianças utilizam
o espaço da própria sala de aula para
brincarem. É importante lembrar que nessa
instituição as classes são multisseriadas,
sendo que há duas turmas, uma para
atender as crianças do G4, G5 e ano, e a
outra turma o 3°, o 4° e 5° anos.
Experiências de Educação do Campo:
relatos das colaboradoras
A partir da entrevista realizada com a
coordenadora das escolas do campo do
município pesquisado, foi possível
constatar que apesar de as escolas no
perímetro rural serem registradas como
Educação do Campo, o que ocorre é um
ensino urbanocêntrico, no qual se utiliza o
mesmo currículo das escolas urbanas para
educar os alunos que vivem no campo, não
considerando assim, as especificidades
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dessas localidades e dos sujeitos que ali
vivem e estudam. Neste ponto, quando
questionada em relação ao currículo
escolar e se existe uma proposta especifica
de Educação do Campo no município, a
coordenadora respondeu que:
Não, a proposta pedagógica do
município é uma, voltada para
todas as escolas do município, não
tem uma proposta especifica
procampo não. (Eliane, entrevista,
2016).
Com base nessa assertiva, podemos
constatar que isso é algo muito sério, pois
foge totalmente dos princípios da
Educação do Campo, que prioriza que os
indivíduos tenham acesso à educação no
seu local de origem e que considere suas
culturas, ou seja, uma educação que seja no
e do campo. Nesse sentido, Caldart (2002,
p. 149) defende uma educação que seja:
No: o povo tem direito a ser educado
no lugar onde vive; Do: o povo tem
direito a uma educação pensada
desde o seu lugar e com a sua
participação, vinculada a sua cultura
e as suas necessidades humanas e
sociais.
Além disso, outro ponto importante a
ser destacado é o fato de que as classes
multisseriadas também constituem-se
como um elemento marcante da Educação
do Campo e, ao analisar especificamente a
realidade educacional do município de
Elísio Medrado, foi possível identificar que
todas as escolas que estão em
funcionamento atualmente são classes
multisseriadas. A multisseriação se
caracteriza por tratar-se de um ensino em
que o mesmo professor leciona em uma
turma composta por alunos de diferentes
idades e diferentes séries. Nessa
conjuntura, durante a entrevista com a
professora, ela nos afirma que:
Então... eu acho muito importante
essa escola estar em funcionamento
aqui na comunidade. Muitas pessoas
falam assim “Ah a classe é
multisseriada, muito trabalho,
trabalhoso de mais trabalhar com
várias séries juntas”. Realmente, é
muito trabalhoso sim, mas a gente
sabe que não tem como formar uma
turma no campo só com uma série só,
por que a gente tem o que? Vamos
supor três de segundo, três de
terceiro, um G5... Então como é que
vai formar uma turma específica pra
cada série? Então é por isso que
acontece as multisseriadas.
(Margarida, entrevista, 2016).
Dessa forma, podemos perceber
que a professora apresenta uma série de
argumentos pelos quais a existência da
multisseriação se configura como um
elemento de extrema importância para a
Educação do Campo. Realmente, muitas
vezes, as classes multisseriadas são vistas
como inferiores e negativas, devido ao fato
de geralmente serem escolas com poucos
recursos e estruturas precárias. Nesse
mesmo sentido, “essas situações expressam
a precariedade das condições existenciais
em que se encontram as escolas
multisseriadas e o conjunto de professores
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e estudantes que vivenciam a educação
nesse espaço socioterritorial”. (Barros et
al., 2010, p. 27).
Sob esse prisma, vale destacar a
importância de políticas públicas voltadas
para superar a existência dessa
inferiorização para com as turmas
multisseriadas, pois é evidente que tais
classes são importantes para a formação
dos alunos e, em muitos casos, são sua
única opção para se ter acesso ao estudo.
Nessa perspectiva, é muito importante que
haja investimentos em diversos fatores,
visando à valorização das classes
multisseriadas. Dentre esses fatores, está a
melhoria da infraestrutura das escolas, o
investimento em materiais didáticos e,
sobretudo, uma formação adequada de
professores que considere essa realidade.
Dessa forma, a professora Margarida
ressalta em outro trecho da entrevista que é
importante que:
Prepare bem os professores que for
trabalhar na escola do campo, pra que
realmente o aluno tenha um ensino
de qualidade, que o foco maior ali é o
aluno. (Margarida, entrevista, 2016).
Esses relatos nos revelaram
condições singulares de seu trabalho em
classes multisseriadas, demarcando
concepções, posicionamentos e práticas
que atravessam um discurso de valorização
da escola do campo, bem como de seus
sujeitos. Portanto, corroborando com essas
afirmativas:
As escolas multisseriadas, para
atingirem o padrão de qualidade
definido em nível nacional,
necessitam de professores com
formação pedagógica, inicial e
continuada, instalações físicas e
equipamentos adequados, materiais
didáticos apropriados e supervisão
pedagógica permanente (Brasil,
2008, p. 3).
Além disso, durante as entrevistas,
um elemento muito importante discutido
refere-se ao fechamento das escolas do
campo. No município pesquisado, segundo
a coordenadora Eliane, nos últimos três
anos foram fechadas no mínimo quatro
escolas e ela ainda acredita que novas
escolas serão fechadas em breve. Um dos
fatores relacionados a isso é a nucleação
escolar, que consiste em um processo de
transferência dos alunos das escolas
desativadas para centros maiores. Assim,
segundo Eliane, o fechamento das escolas
é provocado pela falta de alunos, como
podemos observar nas palavras da mesma,
quando questionada sobre o assunto:
É, foram fechadas, me parece...em
dúvida... três ou quatro, foram
fechadas por falta de aluno, porque
são determinadas localidades que não
vai surgindo crianças e vai ficando
cinco, quatro, três alunos, não tem
como funcionar escola em uma
localidade com essa quantidade de
aluno porque gera despesas, né?
vai fechando por falta mesmo de
alunos. Agora mesmo aconteceu de
reabrir uma que antes não tinha
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aluno, mais fizeram, o pessoal da
comunidade fizeram movimento e tal
e foi surgindo casos de novas
crianças e aí já teve como reabrir.
Mas foi fechada umas 4 escolas nos
últimos 3 anos. (Eliane, entrevista,
2016).
Nesse sentido, podemos perceber nas
falas da Coordenadora das escolas do
campo, implicitamente, como os interesses
econômicos estão presentes e influenciam
diretamente a educação. O processo de
nucleação das escolas é uma alternativa
das prefeituras para reduzir gastos com
funcionários, com professores e com a
manutenção das escolas em
funcionamento. Assim, ao invés de pagar
vários funcionários e gastar com a
manutenção de escolas, a opção mais
viável para esse modelo educacional
enfrentado pelo Brasil é a transposição dos
alunos e a efetivação constante da
nucleação.
Nesse mesmo contexto, ao
questioná-la sobre o que acontece com os
alunos quando a escola é fechada, ela
afirma que eles são remanejados para a
zona urbana, tem transporte”. Isso nos
evidencia o quanto o fechamento dessas
escolas traz consequências para os alunos,
que eles têm que sair da comunidade em
que vivem, sendo que muitas vezes os
transportes são inadequados e estão em
péssimas condições, de modo que põem
suas vidas em risco. Ainda sobre o
fechamento dessas escolas, a Margarida
destaca que:
Eu não concordo com o fechamento
das escolas do campo, por conta do...
eu falo assim, a criança mora aqui,
passa em frente à escola que fica
pertinho da sua casa e tem que
estudar na sede, pra desmanchar o
multisseriado né, geralmente é por
causa disso que as escolas do campo
estão fechando. Eu não concordo
não. (Margarida, entrevista, 2016).
Em síntese, um ponto crucial a
destacar diz respeito à concepção de
Educação do Campo que a professora e a
coordenadora entrevistadas possuem e
quais os significados que elas atribuem às
escolas do campo. Sendo assim, a
coordenadora nos expõe que:
Ah, as escolas do campo é assim,
uma coisa maravilhosa ... Então eu
acho que é assim muito louvável a
localidade que tem uma escola ali
perto para os alunos ficarem na sua
comunidade, todo mundo ali
entrosados, envolvidos, isso é bem
melhor do que tá se locomovendo pra
zona urbana, né? (Eliane, entrevista,
2016).
Nesse mesmo sentido, percebe-se a
grande importância atribuída à Educação
do Campo pela professora. Assim, ao falar
sobre isso, ela retoma a existência de um
processo histórico na comunidade, onde os
alunos que residiam, tinham que sair
para estudar longe. Tais fatos, realmente,
demonstram a importância que as escolas
do campo possuem. Portanto, nas suas
palavras:
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Muita importância! É tanto que teve
uma época que as crianças tinham
que sair daqui e ir pra uma escola
mais adiante. Teve pais que nem quis
né, por conta de que o filho estudasse
próximo à casa deles né, próximo de
casa, bem melhor, no caso deles que
são crianças que têm quatro, cinco
anos, ter que se deslocar daqui, pegar
transporte e ir pra outra escola longe
da sua casa né. Então, eu acho muito
importante essa escola estar em
funcionamento aqui na comunidade.
(Margarida, entrevista, 2016).
Em face disso, observa-se a
fundamental relevância atribuída pela
professora às escolas do campo, bem como
os sentidos que essas escolas representam
para os sujeitos, para que os mesmos
tenham acesso à educação em seu próprio
local de origem. Dessa forma, após as
entrevistas com a professora e com a
coordenadora, é possível conhecer diversos
aspectos da realidade educacional
vivenciada pelos povos do campo no
município de Elísio Medrado,
estabelecendo relações com todo um
processo histórico e social de
inferiorização dos sujeitos residentes no
campo brasileiro.
Considerações finais: (In)conclusões
Historicamente, a Educação do
Campo vem enfrentando uma série de
desafios e dificuldades. Nesse processo,
sabe-se a relevância que os movimentos
sociais desempenham, entretanto, sabemos
que ainda muito a avançar e que os
desafios não param. Dessa forma, o
trabalho de investigar a realidade
educacional do campo caracteriza-se como
um momento relevante para a
(re)construção de atividades, reunindo
aprendizagens e experiências.
Desse modo, ressaltamos que a
pesquisa, “Retratos da Educação do
Campo: Cenários Contemporâneos”,
revelou que a Educação do Campo na
cidade de Elísio Medrado e, mais
especificamente, no povoado do Serrote,
integra uma realidade brasileira e baiana,
que transita entre o descaso e a valorização
da educação para os povos do campo.
Dessa forma, se por um lado o estudo
revelou a importância da Educação do
Campo para as participantes da pesquisa,
por outro, observa-se que na prática
predomina a existência de uma educação
urbanocêntrica, que apresenta um currículo
homogêneo, descolado dos contextos dos
estudantes.
O estudo evidenciou ainda que,
embora o município em estudo possua um
projeto educacional registrado na secretaria
de educação com a nomenclatura
“Educação do Campo”, identifica-se que
não uma organização curricular
específica para o campo, mas sim, a
adaptação de um modelo, distanciando-se
dos princípios e das concepções que
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pautam o movimento por uma Educação
do Campo no Brasil.
Esta pesquisa revelou também uma
expressividade no fechamento das escolas
do campo no município de Elísio
Medrado-BA, fenômeno que ocorre
também no cenário nacional. O
fechamento dessas escolas tem acarretado
implicações diversas nas comunidades e
nas vidas dos sujeitos do campo, questões
que serão investigadas com profundidade
em pesquisas futuras. Os critérios e
justificativas para o fechamento advêm de
um discurso econômico do poder público
desprovido de uma análise mais apurada
no que tange as dimensões sociais e
educacionais.
Concluindo, ressaltamos a
importância desse estudo para o
diagnóstico de contextos específicos, o que
nos convoca para a ampliação e
aprofundamento de questões evidenciadas
no mesmo, no que se refere à Educação do
campo. Ainda que o contexto investigado
apresente movimentos de avanço na
materialização da Educação do Campo,
identificamos na contemporaneidade a
predominância de retratos de uma
educação rural, por isso, ‘nosso tempo é de
urgências’, sigamos!
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Janeiro, São Paulo: Escola Politécnica de
Saúde Joaquim Venâncio. Expressão
Popular.
i
O Território de Identidade Vale do Jiquiriçá
localiza-se no centro sul da Bahia, composto por 20
municípios: Amargosa, Brejões, Cravolândia, Elísio
Medrado, Irajuba, Itaquara, Itiruçu, Jaguaquara,
Jiquiriçá, Lafaiete Coutinho, Laje, Lajedo do
Tabocal, Maracás, Milagres, Mutuípe, Nova
Itarana, Planaltino, Santa Inês, São Miguel das
Matas e Ubaíra.
ii
As Diretrizes Operacionais para a Educação
Básica nas Escolas do Campo, promulgada em
2001 e instituída através da resolução 1, de 3 de
abril de 2002, trata-se de um documento oficial que
estabelece diretrizes, normas e princípios para o
atendimento educacional das escolas básicas do
campo. É relevante ressaltar que a aprovação dessas
diretrizes representa um avanço muito importante
para a educação, tendo em vista sua contribuição na
perspectiva legal e prática para a efetivação da
Educação do Campo.
iii
O Primeiro Congresso de Agricultura do Nordeste
Brasileiro foi um evento realizado em Recife PE,
em 1923, que reuniu várias pessoas para tratar
acerca das questões agrárias camponesas e do
trabalho no campo. A proposta do evento era criar
meios para reverter a migração existente do campo
para a cidade, visando estimular a inclusão da
população nas atividades de agricultura.
Recebido em: 28/02/2017
Aprovado em: 17/03/2017
Publicado em: 30/03/2018
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Santos, M. A., Santos, A. A., Orrico, M. C. S., &
Meireles, M. M. (2018). Retratos contemporâneos da
Educação do Campo: movimentos investigativos no
Vale do Jiquiriçá-BA. Rev. Bras. Educ. Camp., 3(1),
204-222.
ABNT:
SANTOS, M. A.; SANTOS, A. A.; ORRICO, M. C.
S.; MEIRELES, M. M. Retratos contemporâneos da
Educação do Campo: movimentos investigativos no
Vale do Jiquiriçá-BA. Rev. Bras. Educ. Camp.,
Tocantinópolis, v. 3, n. 1, p. 204-222, 2018.
ORCID
Mônica de Almeida Santos
http://orcid.org/0000-0001-7144-1020
Santos, M. A., Santos, A. A., Orrico, M. C. S., & Meireles, M. M. (2018). Retratos contemporâneos da Educação do Campo:
movimentos investigativos no Vale do Jiquiriçá-BA...
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http://orcid.org/0000-0002-0356-4309
Maria Célia Santana Orrico
http://orcid.org/0000-0002-3677-9293
Mariana Martins de Meireles
http://orcid.org/0000-0003-3288-3023
Todas as quatro autoras foram igualmente
responsáveis pela construção de todas as etapas do
trabalho, desde a elaboração, análise, interpretação
dos dados, escrita e revisão do conteúdo do
manuscrito, até a aprovação da versão final a ser
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