Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
ARTIGO/ARTICLE/ARTÍCULO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e3328
Tocantinópolis/Brasil
v. 5
e3328
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2020
ISSN: 2525-4863
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Trabalhando as relações de gênero e as histórias das
mulheres nas práticas docentes
i
Janine Corrêa Gomes
1
,
Graziela Rinaldi da Rosa
2
1, 2
Universidade Federal de Rio Grande - FURG. Instituto de Educação. Avenida Marechal Floriano Peixoto, 2236, Centro, o
Lourenço do Sul - RS. Brasil.
Autora para correspondência/Author for correspondence: janinegomessls@gmail.com.
RESUMO. A ideia de realizar o I e II Seminários sobre
Mulheres do Campo e da Cidade de São Lourenço do Sul/Rio
Grande do Sul, no ano de 2015 e 2016, surgiu da necessidade
local de se pensar políticas públicas para mulheres do campo e
da cidade de São Lourenço do Sul. Nesse sentido buscou-se
pensar a diversidade e as especificidades de mulheres e de
grupos de mulheres, pomeranas, agricultoras, pescadoras,
ribeirinhas, negras, quilombolas e mulheres trans, e outras,
existentes no nosso município. No I Seminário, realizado no
Campus FURG/SLS, proporcionou-se um amplo debate com a
comunidade acadêmica e comunidade lourenciana, sobre
questões relacionadas à saúde das mulheres, trabalho, violência
contra as mulheres, direitos humanos e principalmente direitos à
Educação. Sendo assim, neste primeiro evento foram discutidas
questões relacionadas especificamente a mulheres do campo e
da cidade. No II Seminário, proporcionaram-se discutir
preconceitos e racismos, vivenciados por mulheres pomeranas,
negras, quilombolas, agricultoras, indígenas, ribeirinhas e trans.
Neste seminário buscou-se a realização de um evento que
discutisse com a comunidade acadêmica do Campus FURG/SLS
e com a comunidade lourenciana, pensar o preconceito entre
nosotras”, o empoderamento e o fortalecimento ente nós
mulheres, e grupos de mulheres da cidade de São Lourenço do
Sul e região. O pensar preconceitos, inclusive da mulher com a
mulher. Os dois eventos buscaram destacar um olhar mais
amplo para as questões de gênero, feminismo, direitos, violência
e educação. Construindo e contribuindo para que estas mulheres,
independente de raça ou etnia, tenham visão da importância e
beleza enquanto mulher, abrindo um campo para o
empoderamento e para trocas de saberes.
Palavras-chave: Direitos Humanos, Relações de Gênero,
Educação, Mulheres do Campo e da Cidade de São Lourenço do
Sul.
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Working the relations of gender and the women history at
the teaching practices
ABSTRACT. The idea of performing the First and the Second
Seminars on Countryside and City Women of São Lourenço do
Sul/Rio Grande do Sul, in 2015 and 2016, arises from a local
need to think about public policies for rural and urban women.
In this sense it has been tried to think of the diversity and the
specificities of women and women's groups, existing in the
municipality. In the First Seminar, held at the FURG/SLS
Campus, it was provided a broad debate with an academic
community and Lourenciana community, on issues related to
women’s health, work, violence against women, human rights
and especially Education rights. So, in this first event, issues
related specifically to countryside and city women were
discussed. In the Second Seminar, it was possible to discuss
prejudices and racisms, experienced by Pomeranian, black,
quilombola, farmer, indigenous, riverine and transsexual
women. In this seminar, it was aimed to hold an event that
discussed with the academic community of the FURG/SLS
Campus and with the Lourenciana Community, to think about
the prejudice among us, empowerment and strengthening among
us women, and women's groups in the city of São Lourenço do
Sul and region. The thinking about prejudices, including the
woman to woman. Both events sought to highlight a broader
look at gender, feminism, rights, violence and education issues.
Building and contributing to these women, regardless of race or
ethnicity, to have a vision of importance and beauty as women,
Opening a field for empowerment and for exchanges of more
knowledge.
Keywords: Human Rights, Gender Relations, Education,
Countryside and City Women of São Lourenço do Sul.
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Trabajo de las relaciones género y las historias y las
historias de maestras en la práctica
RESUMEN. La idea de realización de la I y II Seminarios de la
Mujer del campo y la ciudad de São Lourenço do Sul/Rio
Grande do Sul, en 2015 y 2016, surgió de la necesidad del
pensar acerca de las políticas públicas para las mujeres en las
zonas rurales y urbanas de o Lourenço do Sul. En este
sentido, tratamos de pensar en la diversidad y las características
específicas de las mujeres y de los grupos de mujeres,
pomeranas, agricultores, pescadoras, negras, y mujeres trans, y
otros existentes en nuestro municipio. En el primer seminario,
que tuvo lugar en el Campus FURG/SLS, ha proporcionado un
amplio debate con la comunidad académica y la comunidad
lourenciana en temas relacionados con la salud de las mujeres, el
trabajo, la violencia contra la mujer, los derechos humanos y en
especial la educación en derechos. Este primer evento se
discutio cuestiones relacionadas específicamente con las
mujeres rurales y de la ciudad. En el II Seminario, se discutio lo
tema de los prejuicios y el racismo, con las pomeranas, las
mujeres negras, agricultoras, indígenas, ribereñas y trans. En
este seminario se trató de llevar a cabo un evento para discutir
con la comunidad académica del Campus FURG/SLS y la
comunidad lourenciana los perjuicios entre "nosotras", lo
empoderamiento y fortalecimiento de las mujeres, y grupos de
mujeres de la ciudad de São Lourenço do Sul y la región.
Pensando los prejuicios, incluyendo mujer con mujer. Ambos
eventos destacaran una mirada más amplia a las cuestiones de
género, feminismos, derechos, violencia y educación.
Construyendo contribuyndo para que estas mujeres, sin importar
la raza o el origen étnico, teniendo en vista la importancia y la
belleza como mujer, y así ampliando un campo para la
potenciación y el intercambio de conocimiento.
Palabras clave: Derechos Humanos, Relaciones de Género,
Educación, Las Mujeres Rurales y la Ciudad de São Lourenço
do Sul.
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Introdução
Esse artigo visa refletir acerca de
atividades desenvolvidas na formação
docente, realizadas durante práticas
educativas comunitárias do Curso de
Licenciatura em Educação do Campo, da
Universidade Federal de Rio
Grande/FURG-RS. Iremos apresentar
algumas atividades de extensão, que foram
motivadas pela presença de estudantes
pomeranas
ii
, quilombolas, indígenas,
ribeirinhas, pecuaristas, agricultoras
familiares, agricultoras familiares
agroecológicas, benzedeiras, mulheres da
cadeia produtiva da pesca, mulheres de
terreiro, entre outras. O Seminário das
Mulheres do Campo e da Cidade de São
Lourenço do Sul, I e II, foram criados com
o desejo de contribuir no empoderamento
das mulheres, realizando ações que
possibilitam a escuta de mulheres de povos
tradicionais e contribuir com as mulheres
acadêmicas da Universidade de Rio
Grande/Campus São Lourenço do Sul, e
com a comunidade lourenciana, do campo
e cidade, possibilitando espaços para
debates de opiniões sobre os diferentes
assuntos ligados às leis como, Maria da
Penha e direitos trabalhistas das mulheres,
violência, abuso, preconceito, saúde e
educação das mulheres, ecofeminismo,
mulheres e guardiãs das sementes, dentre
outros.
Acredita-se que a Universidade pode
contribuir na proposição de novas políticas
públicas para as mulheres do campo, das
águas, florestas e cidades, bem como
contribuir na problematização das
violências, e para a superação de
problemas que as mulheres enfrentam na
sociedade, contribuindo para solucionar e
denunciar os mesmos.
Em diálogo com os Movimentos
Sociais do Campo e cidade é possível uma
ampla participação da comunidade e
debate, envolvendo diferentes setores
como: delegacia civil, postos de saúde,
prefeitura, escolas, cooperativas,
sindicatos. Esses encontros são espaços de
estudos, fortalecimento da luta, diálogo,
compreensão e entendimento das/com as
mulheres perante a nossa sociedade atual,
compartilhando saberes e fazeres, através
de diálogos e debates.
Ivone Gebara (2000) nos alerta que o
sistema patriarcal e machista ainda tenta
conservar a lógica de que mulheres o
menos dignas de direitos do que os
homens, tendo que em algumas sociedades
garantir direitos básicos como o da escolha
e de opinião. A sabedoria humana parece
entrar em conflito de poderes entre os
sexos e então se torna competição,
violência, negação da vida e deu próprio
significado. Para Gebara (2000), é
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exatamente isto que uma análise de Gênero
nos revela, a saber, o poder sobre o saber
ou o poder sobre a sabedoria reconhecida é
um poder e um privilégio masculino. As
mulheres são intrusas, usurpadoras de
alguma coisa que não lhes pertence. Elas
fazem mal desejando o saber e, como
resposta a este mal, tenta-se restaurar a
harmonia social em forma de castigo, de
silêncio, de tortura ou de morte. Mantêm-
se os papeis sociais reconhecidos por um
tipo de organização social. (Gebara, 2000,
p. 81).
Depois do I Seminário, o evento
passou a fazer parte do calendário fixo de
eventos do campus São Lourenço do
Sul/FURG, garantindo novas
possibilidades e espaços para mais
diálogos e compreensão das comunidades
acerca da necessidade de problematizar as
relações de gênero, especialmente
envolvendo as mulheres do campo, das
águas, florestas e cidades.
As Mulheres do Campo, das águas,
florestas e cidades como sujeitas da
Educação do Campo
Construir uma educação do campo que
dialoga com os/as diferentes protagonistas
do campo implica contribuir para a
autonomia e emancipação das mulheres, e
para seu empoderamento.
Empoderamento é o mecanismo pelo
qual as pessoas, organizações, as
comunidades, tomam controle de
seus próprios assuntos, de sua própria
vida, de seu destino, tomam
consciência da sua habilidade e
competência para produzir, criar e
gerir. (Costa, 2008, p. 7).
Em um primeiro momento, o
Seminário das Mulheres do Campo e da
Cidade de São Lourenço do Sul teve o
objetivo de contribuir no empoderamento
das mulheres frente seus silenciamentos,
buscando o resgate histórico dessas
mulheres, e pensar com as mulheres
políticas públicas. Buscou-se dialogar com
a diversidade de povos tradicionais locais,
abrindo um amplo debate com a população
lourenciana e acadêmicas da Universidade
de Rio Grande/Campus São Lourenço do
Sul, abordando junto à comunidade
questões relacionadas à saúde das
mulheres, trabalho, violência, abuso,
direitos humanos e principalmente direitos
à educação para todas.
Tais práticas possibilitaram discutir
acerca das demandas locais das mulheres
do campo e da Cidade de São Lourenço do
Sul/RS e região, apontando novas
diretrizes e necessidades dessa população,
ainda pouco escutada e visibilizada.
Os encontros contribuíram também
para dar visibilidade as ões e projetos
das Mulheres Quilombolas; do grupo
Blumen Hause (grupo de mulheres
floristas); grupo Green rose (grupo de
mulheres floristas); Mulheres de Negócio;
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Pescadoras; Grupos de Mulheres Negras;
Pomeranas; Indígenas; Agricultoras;
Ribeirinhas; Trans, entre outras. Foram
criados espaços onde elas mesmas passam
a divulgar seus trabalhos e ideias,
valorizando o protagonismo desses grupos
de mulheres. Assim, se faz urgente criar
uma rede que visa discutir questões como
saúde, educação, trabalho, leis e renda,
visando o empoderamento feminino.
O pensar a diversidade e as
especificidades das mulheres do campo e
da cidade garante a dissociabilidade entre
ensino, pesquisa e extensão sobre o tema
Feminismos, Gênero e Estudos de
mulheres do Campo, contribuindo
especialmente com impacto na formação
do/a estudante, e na geração de novos
conhecimentos acerca dos estudos de
gênero, numa perspectiva feminista,
possibilitando a relação entre Universidade
e Sociedade, garantindo que os estudos na
Educação do Campo tenham impacto
social e dialoguem com os conhecimentos,
a vida e história das mulheres.
No I Seminário, foi trabalhada a Lei
Maria da Penha, com debates acerca dos
direitos das mulheres do campo e cidade,
feminicídio, e foi apresentado às mulheres
como funciona a Delegacia da cidade de
São Lourenço, como tem trabalhado com
as questões das diferentes violências
(física, psicológica, patrimonial, entre
outras). Foram informados telefones úteis
para que denúncias em caso de emergência
fossem realizadas. Foi possível dialogar
com as questões sobre o medo e das
consequências de uma denúncia, a
violência silenciosa, violência às mulheres
do campo, violência sexual e muitas vezes
psicológica, a saúde mental das vítimas e
suas consequências. As mulheres falaram
sobre o medo e, muitas vezes, o pânico ao
fazer uma denúncia e de suas
consequências.
Como destacou a Secretária de
Políticas para as Mulheres, Eleonora
Menicucci, de que não podemos conviver
de forma nenhuma com a magnitude do
crescimento dos assassinatos de mulheres,
devemos lutar contra o feminicidio”. Tema
bastante abordado e questionado por
mulheres e alguns homens presentes nas
atividades. Ainda dentro deste debate, foi
destacada a importância de termos uma
delegacia (posto) preparada para atender a
população do campo, e as mulheres
falaram sobre a necessidade de mais
preparo da brigada militar para tratar sobre
o tema e quanto ao atendimento às vítimas
de violência e a obtenção de cursos de
aperfeiçoamento mais constantes. Foi
apontada a necessidade de termos no
município um conselho das mulheres, e
uma delegacia especializada para atender
as mulheres.
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Sabe-se que a Constituição Federal
de 1988 foi um marco na conquista dos
direitos das mulheres. Este instrumento
expressa a conquista fundamental da
igualdade de direitos e de deveres entre
homens e mulheres (Art. 5, I), até então,
inexistente no ordenamento jurídico
brasileiro. A nova constituição,
denominada Constituição Cidadã,
aprofunda e cria novos direitos para os
sujeitos, e novas obrigações do Estado para
com os indivíduos e a coletividade.
(CFEMEA, 2006, p. 12).
Em diálogo com a educação popular,
os movimentos sociais do campo e cidades,
e numa perspectiva emancipatória, é
possível uma formação docente que
dialoga com os sujeitos e sujeitas do
campo. Para tanto, precisamos que as
práticas educativas e comunitárias que
realizamos nos cursos de Licenciaturas em
Educação do Campo garantam a
participação e o protagonismo dos povos.
Os seminários contam com diferentes
painéis, tais como, por exemplo o painel
sobre a saúde das mulheres do campo e da
cidade, onde foram abordadas as políticas
públicas em saúde existentes em nosso
município, cidade e interior. Experiências
foram relatadas e compartilhadas,
garantindo que fecundos temas fossem
debatidos, abordando dúvidas e
questionamentos quanto à saúde das
mulheres do campo, e os problemas mais
comuns que as quilombolas, as indígenas e
outras enfrentam, além de ter sido
problematizado o acesso ao trabalho, o
parto humanizado, tratamento médico e
dentre outros temas.
No painel, “Mulheres em
Movimento”, foi garantida a fala de
mulheres do campo. Essas mulheres nunca
tinham participado e atuado em um evento
onde todas (pomeranas, quilombolas,
florestas, mulheres da cidade, agricultoras)
pudessem trabalhar suas pautas comuns.
Esse painel reforçou a ideia de que “em
todas as sociedades conhecidas, as
mulheres detêm parcelas de poder, que lhes
permite meter cunhas na supremacia
masculina e, assim, cavar-gerar espaços
nos interstícios da falocracia”. (Saffiot,
1992, p. 184). Este painel foi formado por
diferentes mulheres, das diferentes etnias e
idades, e das diferentes atuações de áreas,
(quilombolas, pomerana³, pescadoras,
floristas, ativistas, presidente de
associação, dentre outras). O painel
contribuiu para dar visibilidade e
incentivar as participantes a
compartilharem mais momentos como
esses, que as mulheres podem e devem
atuar nas diferentes áreas e de que as
mulheres não são frágeis e fracas como a
sociedade machista-patriarcal considera,
muitas vezes.
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Nossos cursos de Licenciaturas em
Educação do Campo possuem um público
diverso e que muitas vezes não se sentem
protagonistas em suas próprias
comunidades. A formação docente nessa
área tem dois aspectos importantes a
trabalhar, um com base em conteúdos de
área específica, e outro que diz respeito à
formação de lideranças.
A perspectiva freirana é uma
perspectiva que dialoga com as
epistemologias feministas, visto que ambas
mantêm a estreita relação “ação e
reflexão”, a concepção de uma “educação
como prática de liberdade”, uma educação
que tem o diálogo em sua centralidade, e a
concepção de que não há educação neutra,
mas sim, descompromissada e
descomprometida como nos ensinou Freire
na sua prática de educação popular.
Nossos cursos de Licenciatura em
Educação do Campo precisam garantir a
articulação da teoria e prática, e isso
implica que saibamos dialogar com esses
povos tradicionais e os movimentos
sociais. Trata-se de uma “Pedagogia do
Movimento”, onde o movimento é um
sujeito pedagógico, como nos
problematizou Caldart (2012). Además,
como nos ensinou Caldart (2012),
precisamos ver o Movimento dos
Trabalhadores Rurais sem Terra - MST
como sujeito pedagógico, o que significa
trazer duas dimensões importantes para a
dimensão da pedagogia, que por sua vez
também podem ser vistas como
componentes do movimento sociocultural
maior em que se insere a formação dos
sem-terra. Para Caldart (2012), é também
na pedagogia, que podemos identificar os
sinais dessa cultura com forte dimensão de
projeto.
Nesse sentido, precisamos vivenciar
práticas que dialogam com os movimentos
sociais do campo em nossos cursos de
Licenciatura em Educação do Campo.
Precisamos de atividades na formação
docente que contribuam na construção da
identidade social e política desses
sujeitos/sujeitas do campo.
Mas, quando se trata de afirmar que o
MST forma sujeitos, isso nos remete
a pensar nesse sujeito, no singular,
como constituído de diversos
sujeitos, no plural. Porque daí
podemos falar nos Sem Terra como
sendo as mulheres Sem Terra, as
crianças Sem Terra, ou os Sem Terra
de origens étnicas e culturais
diferentes; ou podemos falar dos Sem
Terra acampados e dos Sem Terra
assentados, e assim por diante ...
identidades diversas que se
combinam na formação dessa
identidade social mais ampla.
(Caldart, 2012, p. 38).
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Imagem 1 - Lideranças comunitárias que são presidentas de associações quilombolas; educadoras; floristas,
pescadoras, representantes do movimento negro local e da associação de mulheres negras de São Lourenço do
Sul; lideranças local pomerana e quilombola.
Fonte: Acervo do Coletivo Feminista Dandaras (2015).
A arte e o artesanato como ferramentas
metodológicas
As diferentes formas de expressão
artística podem contribuir no
empoderamento de sujeitos/sujeitas e ainda
no fortalecimento de suas identidades, pois
a arte ajuda a denunciar as violências
sofridas e anunciar as vozes silenciadas
historicamente. Nessa perspectiva, as
práticas educativas e as metodologias de
ensino podem ser diversas,
especificamente no Curso de Licenciatura
em Educação do Campo da Universidade
Federal de Rio Grande/FURG, temos
realizado rodas de diálogos, cine-debates,
painéis com povos tradicionais e
movimentos sociais. Tivemos várias
oficinas, como a do Teatro do Oprimido da
Universidade Federal de Pelotas-UFPEL,
que através da arte e cultura, mostra a
opressão, a violência, o preconceito e as
injustiças com cena teatral, permitindo aos
participantes refletir e participar, expondo
suas opiniões e dúvidas através da arte,
possibilitando que as pessoas que
participam se expressem e debatam sobre
as opressões cotidianas em cenas
reproduzidas, desenvolvendo ações para
superar os assuntos abordados.
O cine Debate motivado pelo filme
“Trabalhadoras domésticas: novas leis e
direitos conquistados” problematiza a
realidade das empregadas domésticas.
Após o filme houve um debate sobre as
leis trabalhistas das empregadas
domésticas e os direitos das mulheres.
Na oficina de turbantes foi
trabalhada a identidade, ancestralidade e o
empoderamento de mulheres negras, e suas
trocas de saberes através da história do uso
do turbante. Através dos lenços, de cores
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lisas ou estampadas, de suas diferentes
amarrações, estas mulheres carregam
consigo a força e lutas de sua
ancestralidade. A Oficina de Turbantes
teve uma grande procura de participantes,
independente de sua etnia.
Imagem 2 - Oficina de Turbantes.
Fonte: Acervo do Coletivo Feminista Dandaras (2015).
A oficina de Bonecas Negras foi
criada com o intuito de difundir a
identidade dos povos tradicionais
quilombolas, através do trabalho artesanal
de uma estudante quilombola, contribuindo
no fortalecimento da cultura quilombola,
do trabalho artesanal quilombola,
motivando novas fontes de renda e a
valorização dos saberes populares.
Imagem 3 - Oficina de bonecas negras.
Fonte: Acervo do Coletivo Feminista Dandaras (2015).
As feiras comunitárias são espaços
de ricas trocas, nelas as mulheres da
comunidade em geral, como as artesãs,
tiveram a oportunidade de expor seus
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trabalhos e arte, podendo comercializar
seus trabalhos artesanais, dando
visibilidade ao trabalho feminino e suas
diferentes técnicas, saberes, jeitos e modos
de fazer. Houve uma variedade de
trabalhos expostos, reconhecendo o
trabalho das artesãs locais.
Imagem 4 - Feira solidária.
Fonte: Acervo do Coletivo Feminista Dandaras (2015).
Outro exemplo que a arte aparece
como ferramenta pedagógica-metodológica
na Educação do Campo foi a “Mostra de
disco de vinil e livros de artistas e
escritoras mulheres”, que ocorreu em uma
das feiras comunitárias.
Nossas comunidades, mesmo quando
possuem associações não possuem salas de
cinema, teatro ou espaços culturais. Nesse
sentido os cines debates têm contribuído
para a formação docente. Um exemplo foi
o debate a partir do curta metragem Cores
e Botas, realizado na sede comunitária da
Equipe do Redução de Danos. Foram
abordadas e debatidas questões sobre o
preconceito, racismo e a exclusão das
mulheres negras desde sua infância.
Homens e mulheres participaram, mas
foram elas que trouxeram relatos e
experiências vividas e comentaram o
quanto ainda sofrem e precisam lutar
contra o preconceito e o racismo.
A mostra de Dança Afro e mostra
fotográfica com a colaboração de uma
fotógrafa da cidade e de uma aluna do
Curso de Licenciatura em Educação do
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Campo também deram visibilidade aos
saberes das mulheres estudantes do curso
de Licenciatura em Educação do Campo da
FURG.
O envolvimento da comunidade
acadêmica do campus FURG/SLS e
comunidade lourenciana tem aumentado.
Tais práticas educativas motivaram novas
possibilidades de diálogos, com um olhar
mais amplo para as questões de gênero e
feministas no município (cidade e campo)
de São Lourenço do Sul.
Ainda cabe destacar que a formação
do Coletivo Feminista Dandaras/FURG
iii
,
no Campus São Lourenço do Sul,
potencializou tais práticas e garantiu mais
um espaço para diálogos, debates e
aprendizagens com nossas mulheres
acadêmicas, mostrando para cada uma
destas sua importância e suas contribuições
para com a sociedade. Sendo assim:
Quem, melhor que os oprimidos, se
encontrará preparado para entender o
significado terrível de uma sociedade
opressora? Quem sentirá, melhor que
eles, os efeitos da opressão? Quem,
mais que eles, para ir compreendendo
a necessidade da libertação?
Libertação a que não chegarão pelo
acaso, mas pela práxis de sua busca;
pelo conhecimento e reconhecimento
da necessidade de lutar por ela. Luta
que, pela finalidade que lhe deram os
oprimidos, será um ato de amor, com
o qual se oporão ao desamor contido
na violência dos opressores, até
mesmo quando esta se revista da
falsa generosidade referida. (Freire,
1984, p. 32).
Em março de 2016, com um espaço
mais amplo e com mais atrações,
aconteceu o II Seminário das Mulheres.
Nele buscamos pensar o preconceito, o
empoderamento e o fortalecimento entre
nós mulheres e grupos de mulheres
acadêmicas do Campus São Lourenço da
Universidade Federal de Rio Grande, da
cidade de São Lourenço do Sul e região.
O evento garantiu um amplo debate
com a comunidade acadêmica do campus
da FURG/SLS e comunidade regional,
diferentes assuntos, como: leis, direitos,
educação, preconceitos, racismo e
violências contra a mulher (mulher
pomerana, mulher negra, mulher
quilombola, mulher trans, mulher
agricultora, mulher indígena, ribeirinhas).
Os temas foram sugeridos pela própria
comunidade, e foram trabalhados temas
que discutissem preconceitos, inclusive da
mulher com a mulher e o da mulher com
filhos/as homossexuais.
O II seminário contou com a
participação do Coletivo Feminista
Dandaras/FURG, criado a partir do I
evento, que além de ajudar na organização,
trouxe a oficina “Arte do Stencil”, que veio
com o intuito de empoderamento e luta
para com as mulheres do campo e cidade
de São Lourenço do Sul.
O Painel intitulado Preconceitos,
Racismo e violências teve na mesa a
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mulher pomerana, mulher negra, mulher
quilombola, mulher trans e negra, mulher
agricultora, mulher indígena, ribeirinha.
Foram compartilhados saberes de mulheres
indígenas, pomeranas, quilombolas,
agricultoras agroecolóticas e não
agroecológicas, mulheres negras,
ribeirinhas e trans, garantindo a
visibilidade das mesmas e seu
protagonismo.
As lutas de mulheres contra o
preconceito, o racismo e as violências, que
a cada dia, apesar das lutas feministas
permanecem em nossas sociedades
marcadas pelo patriarcalismo e
androcentrismo. As mulheres indígenas,
como foi debatido no evento, ainda
continuam suas lutas contra o preconceito,
não somente por ser indígena, mas por
também ser mulher.
As indígenas falaram o quanto é
grande a violência contra as mulheres
indígenas. Mas a luta continua e jamais vai
acabar, como relatou a mulher indígena,
Pietra Dolamita, presente na mesa-
redonda.
Sabemos que, segundo a
Organização das Nações Unidas (ONU),
uma a cada três mulheres indígenas é
vítima de estupro. “As mulheres
representam a transmissão viva das
tradições e o cuidado com a e terra. E a
mulher quem repassa a cultura através do
ensino aos seus filhos e quem luta pela
segurança de sua tribo. Por esta razão,
merece atenção e cuidado”, diz a
presidente da Copai, Sania Barbiere.
A violência tem sido um dos temas
mais abordados, mas não somente a
violência física e sexual, mas a violência
psicológica, doméstica, patrimonial e
familiar. Para Ana Lara Camargo de
Castro, promotora de Justiça da vara de
Violência Doméstica e Familiar, “as
mulheres indígenas, carregam a herança
histórica de agressões veladas. Sofrem
preconceitos por serem mulheres e por
serem indígenas”.
as mulheres quilombolas falam
das lutas diárias que enfrentam nas cidades
e em suas comunidades. Relatam que
lutam por mais educação, saúde e melhoria
de vida. Hoje estão presente nas
universidades, mas estão em condições
desiguais, devido à realidade social das
mesmas. Mulheres guerreiras, donas de si,
que lutam para serem vistas muito mais do
que apenas quilombolas, mais sim como
mulheres quilombolas. Mulheres que
trabalham e contribuem para a sociedade e
que merecem respeito. Estas mulheres
lutam contra a violência doméstica, contra
o preconceito étnico-racial em suas
comunidades e por mais saúde para suas
companheiras de luta. Apesar dos avanços
para com os grupos mais vulneráveis da
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sociedade, é retratada a força e a luta das
mulheres quilombolas por reconhecimento,
e principalmente diante da opressão,
discriminação e por direitos em suas
comunidades quilombolas.
A trajetória de luta do movimento
negro feminista e de mulheres
quilombolas, tanto de nossa cidade como
de outras cidades e regiões, por sua vez,
também é longa, lenta e grande, porém a
luta continua e por mais que os avanços
caminhem a passos lentos.
Por óbvio, falar da mulher
quilombola e do seu papel na
sociedade, não se restringe ao
reconhecimento da luta das mulheres
negras, porém, o empoderamento
destas perpassa as referências
históricas, na medida em que
constituem uma trajetória de luta e
contraposição dos espaços de
invisibilidade, opressão e
desigualdade. É nesse sentido que as
identidades se sobrepõem, se
entrecruzam e se acumulam,
viabilizando a análise por uma
perspectiva interseccionalizada.
(Deus, 2011, p. 110).
As mulheres pomeranas e
agricultoras estão na luta por mais direitos
e melhorias para com suas famílias. As
mulheres pomeranas e agricultoras
trabalham e lutam por suas terras tanto
quanto os homens, e ainda precisam dar
conta das atividades domésticas (que no
campo ainda são destinadas, na maioria das
vezes, às mulheres). As pomeranas
reivindicam e lutam por igualdade de
gênero e por melhorias para com suas
comunidades.
O empoderamento das mulheres
agricultoras pomeranas está a cada dia
crescendo. Estas mulheres ajudam a
combater a fome e a pobreza através da
produção agrícola, junto a seus maridos e
familiares. Elas se fortalecem a cada dia,
com seu trabalho e com o comércio de seus
artesanatos, de seus produtos agrícolas
plantados e colhidos pelas suas mãos.
Mulheres que buscam respeito, igualdade e
dignidade. Segundo Sachs:
... a mulher tem um papel importante
na preservação dos direitos culturais
e naturais de seu povo/de sua
comunidade, pois ela contribui para o
ecodesenvolvimento e para uma
gestão eficiente de tais recursos,
principalmente diante da necessidade
dessas comunidades de se
autossustentar economicamente no
cenário local e mundial. (Sachs,
2000, p. 325).
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Imagem 5 - Painel “Preconceitos, Racismo e violências” com a participação de um representante quilombola,
indígena, pomerana e mulher trans.
Fonte: Acervo do Coletivo Feminista Dandaras (2016).
O uso de Místicas e dinâmicas na
Educação do Campo, especialmente na
formação docente, é necessário. As
dinâmicas proporcionam reflexões pessoais
acerca das violências sofridas pelas
mulheres: pomeranas, quilombolas,
agricultoras familiares, mulheres de
movimentos sociais e sindicais, estudantes,
artesãs, pescadoras, professoras
universitárias, advogadas, indígenas, entre
outras. Dinâmicas que proporcionaram
socializar histórias de vida umas com as
outras, pensar e compartilhar significativos
momentos, abrindo espaços para se pensar
em um futuro diferente para cada história
relatada. Uma dinâmica que vivenciamos
na formação docente e que teve uma
grande participação de todas presentes.
Momento de muita emoção, comoção e
ajuda de todas foi “Qual preconceito não te
cabe?”.
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Imagem 6 - Dinâmica “Qual o preconceito que não te cabe?”.
Fonte: Acervo do Coletivo Feminista Dandaras (2016).
Os coletivos do campus FURG/SLS,
participação, empoderamento e (RE)
existências!
O evento teve a participação dos
Coletivos, Dandaras/FURG, Coletivo
Pomerano/FURG e o Núcleo de Estudos
Afro-brasileiro e Indígena/FURG- Campus
São Lourenço do Sul. Os coletivos fizeram
parte da organização e juntas e unidas
fizeram um belo evento. Os coletivos ainda
proporcionaram oficinas nas quais
trabalharam o empoderamento, racismo e
os preconceitos em diferentes técnicas.
Pois acreditamos que através da arte e do
artesanato podemos trabalhar junto a estas
mulheres diferentes temas como os
relacionados a gênero e feminismo. E
através das oficinas que trabalhamos,
mobilizamos e divulgamos ações para com
as mulheres de nossa cidade. As oficinas
de stencil pelo Coletivo Feminista
trabalham o feminismo e gênero através
das gravuras e palavras de cunho feminista.
O NEABI trabalha o preconceito e o
racismo através das bonecas negras. O
pomerano traz a cultura, tradição e a beleza
através das plantas medicinas. Assim, os
coletivos vão trabalhando junto com a
comunidade e estudantes.
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Imagem 7 - Coletivo Dandaras/FURG e a “Arte do Stencil como forma de empoderamento.
Fonte: Acervo do Coletivo Feminista Dandaras (2016).
O Coletivo Dandaras, no II
Seminário das Mulheres do Campo e da
cidade de São Lourenço do Sul, realizou
uma oficina com o único intuito de discutir
Preconceitos, Racismo e vivências de
mulheres pomeranas, mulheres negras,
mulheres quilombolas, mulheres trans,
mulheres agricultoras, mulheres indígenas
e mulheres ribeirinhas. Nesse seminário,
buscamos problematizar o preconceito, o
empoderamento e o fortalecimento ente
nós mulheres, e grupos de mulheres
acadêmicas do Campus São Lourenço da
Universidade Federal de Rio Grande, da
cidade de São Lourenço do Sul e região.
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Imagem 8 - Núcleo de Estudos Afro-brasileiro e Indígena-NEABI/FURG, com “Descontruindo preconceitos”.
Fonte: Acervo do Coletivo Feminista Dandaras (2016).
Imagem 9 - Quilombola Adriana da Silva Ferreira.
Fonte: Acervo do Coletivo Feminista Dandaras (2016).
O Núcleo de Estudos Afro-brasileiro
e Indígena/NEABI-FURG/ Campus São
Lourenço do Sul através da oficina
“Desconstruindo preconceitos” trabalha e
contribui com o resgate da cultura e o
fortalecimento da identidade quilombola.
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A oficineira ainda ensina as mulheres que,
com a confecção das bonecas, estas
mulheres podem obter uma renda extra
com a venda destas.
Todas as oficinas oferecidas tiveram
uma grande participação da comunidade
presente no evento. Além das oficinas
oferecidas pelos coletivos, tivemos ainda a
oficina de maquiagem, que trabalhou a
autoestima da mulher e sua beleza interior.
Pois a beleza não é somente a visual.
Tivemos a oficina do Teatro do
Oprimido/UFPEL, que mais uma vez
trabalhou a arte e a cultura, como mostra
da opressão, violência e preconceitos
através do teatro.
Com tais práticas educativas e
comunitárias as/os participantes tiveram a
oportunidade de refletir e expor opiniões
através das cenas reproduzidas no
momento. Como disse Gebara (2008),
seguimos em luta no cotidiano ordinário,
onde o dia a dia das mulheres é tramada e
invisibilizada!
Imagem 10 - Mostra de Dança Afro.
Fonte: Acervo do Coletivo Feminista Dandaras (2016).
Considerações finais
Como podemos ver, tais práticas
contribuíram para que nós mulheres
possamos trabalhar junto à universidade e
comunidade as relações de gênero,
educação, trabalho, feminismos e direitos
humanos das mulheres.
Vimos através dessas práticas que
podemos contribuir com espaços para que
as mulheres do campo, das águas, florestas
e cidades percebam a sua importância
enquanto mulheres, e como mulheres de
povos tradicionais. A Educação do Campo
deve se comprometer com os diferentes
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sujeitos e sujeitas, tendo um olhar mais
amplo para as relações de gênero nesses
espaços e as lutas por Direitos Humanos. O
evento foi criado para oportunizar as trocas
de saberes e vivências desses povos
tradicionais com os/as professores/as em
formação.
São estas mulheres guerreiras,
quilombolas, indígenas, ribeirinhas,
pomeranas, negras, trans, independente de
idade, raça ou etnia, mulheres de luta, que
nos trazem ânimo para cada vez mais
adentrar aos estudos e pesquisas da área de
gênero e feminismos. É através das lutas
diárias destas mulheres e dos estudos
feministas que vamos aprendendo e
conhecendo a história e vida de cada uma.
A universidade deve contribuir com
ações que sirvam para melhorar a vida de
cada uma destas mulheres e fazer a
diferença na vida delas. Trata de uma
educação comprometida com os sujeitos e
as sujeitas do campo e contribuir para o
empoderamento feminino, orientar estas
mulheres sobre seus direitos, pois, toda
mulher do campo ou da cidade, indígena,
quilombola, pescadora, ribeirinha,
pomerana, negra, independente de etnia,
têm o direito de terem (re) conhecidos seus
fazeres e saberes.
Contudo, acreditamos que através de
práticas educativas escolares e
comunitárias como essas, nós mulheres
unimos forças para lutarmos por nosotras,
mostrando para a comunidade e sociedade
atual o quanto são emergentes e
necessárias nossas lutas feministas,
fortalecendo assim, as epistemologias do
campo e os povos do campo.
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Movimento Sem Terra. São Paulo:
Expressão Popular.
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Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra.
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IV Semana do Índio. Recuperado de
http://oab-
ms.jusbrasil.com.br/noticias/100481115/pr
econceito-e-violencia-contra-mulheres-
indigenas-sao-pautas-da-iv-semana-do-
indio
Sachs, I. (2000). Caminhos para o
desenvolvimento sustentável. Rio de
Janeiro: Garamond.
Saffioti, H. (1992). Rearticulando Gênero
e Classe Social. In Costa, A. O., &
Bruschini, C. (Orgs.). Uma Questão de
Gênero (pp. 183-215). Rio de Janeiro:
Rosa dos Tempos; São Paulo: Fund. Carlos
Chagas.
i
Os Seminários das Mulheres foram apresentados
no X Encontro Internacional Fórum Paulo Freire,
Santiago do Chile, em setembro de 2016. Nesse
sentido, esse texto foi parcialmente apresentado
nesse evento.
ii
Povo alemão originário da Pomerânia, na região
do Mar Báltico, entre as atuais Alemanha e
Polônia. A língua original desse povo é
o pomerano, mas, desde o século XIX,
o alemão também passou a ser usado na
Pomerânia.
iii
Segue o link para mais informações sobre o
Coletivo: http://bit.ly/coletivodandaras
Informações do artigo / Article Information
Recebido em : 28/02/2017
Aprovado em: 19/03/2017
Publicado em: 31/03/2020
Received on February 28th, 2017
Accepted on March 19th, 2017
Published on March, 31th, 2020
Contribuições no artigo: As autoras foram as
responsáveis por todas as etapas e resultados da
pesquisa, a saber: elaboração, análise e interpretação dos
dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito
e; aprovação da versão final publicada.
Author Contributions: The author were responsible for
the designing, delineating, analyzing and interpreting the
data, production of the manuscript, critical revision of the
content and approval of the final version published.
Conflitos de interesse: As autoras declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Janine Corrêa Gomes
http://orcid.org/0000-0002-6447-9634
Graziela Rinaldi da Rosa
http://orcid.org/0000-0002-0347-2949
Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Gomes, J. C., & Rosa, G. R. (2020). Trabalhando as
relações de gênero e as histórias das mulheres nas
práticas docentes. Rev. Bras. Educ. Camp., 5, e3328.
http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e3328
ABNT
GOMES, J. C.; ROSA, G. R. Trabalhando as relações de
gênero e as histórias das mulheres nas práticas docentes.
Rev. Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 5, e3328,
2020. http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e3328