Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
ARTIGO/ARTICLE/ARTÍCULO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p433
Tocantinópolis
v. 3
n. 2
p. 433-450
mai./ago.
2018
ISSN: 2525-4863
433
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A Educação Física como componente curricular de uma
escola do campo do município Jitaúna/Bahia
Silvano da Conceição
1
, Poliana Freitas Brito
2
1
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB. Centro Interdisciplinar de Pesquisa Agroambiental - CIPAM. Avenida
José Moreira Sobrinho, s/n, Jequiezinho. Jequié - BA. Brasil.
2
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB
Autor para correspondência/Author for correspondence: silconceicao5@gmail.com
RESUMEN. O presente artigo foi elaborado a partir de um
estudo de caso realizado na Escola Municipal Pedro Virgínio,
localizada no distrito de Santa Terezinha, zona rural do
município de Jitaúna/BA (município localizado a 383 km de
Salvador), na qual se buscou analisar as dificuldades para o
desenvolvimento da disciplina de Educação Física, oferecida
para as turmas do sexto ao nono ano do ensino fundamental.
Para a coleta de dados foi utilizada a observação das aulas e a
aplicação de um questionário semiestruturado. O estudo
evidenciou que embora a legislação sobre educação do campo
tenha avançado em vários aspectos a escola em questão
permaneceu à margem das ações do poder público e essa
situação tem prejudicado o desenvolvimento de todas as
disciplinas do currículo escolar, não apenas da educação física.
Diante disso, a letargia do poder público tem dificultado a
construção de uma escola do campo de qualidade, que trabalhe
temáticas e conteúdos que respeite, valorize e fortaleça a cultura
e a identidade da população do campo.
Palavras chave: Escola, Educação Básica, Educação do
Campo, Educação Física.
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The Physical Education as curricular component of a
school of the countryside of the Municipal District
Jitaúna/Bahia
ABSTRACT. This article was elaborated from a case study
carried out at the Pedro Virgínio Municipal School, located in
the district of Santa Terezinha, rural area of the municipality of
Jitaúna/BA (municipality located 383 km from Salvador).
Difficulties for the development of the discipline of Physical
Education, offered for the classes of the sixth to ninth year of
elementary school. For the data collection was used the
observation of the classes and the application of a semi-
structured questionnaire. The study showed that although the
field education legislation has advanced in several respects the
school in question remained on the fringes of public power and
this situation has hampered the development of all disciplines of
the school curriculum, not just physical education. Roughly
speaking, the lethargy of public power has made it difficult to
build a quality school that works on themes and content that
respect, value and strengthen the culture and identity of the rural
population.
Keywords: School, Basic Education, Rural Education, Physical
Education.
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La Educación Física como componente curricular de una
Escuela del Campo del Municipio Jitaúna/Bahia
RESUMEN. El presente artículo fue elaborado a partir de un
estudio de caso realizado en la Escuela Municipal Pedro
Virgínio, ubicada en el distrito de Santa Terezinha, zona rural
del municipio de Jitaúna/BA (municipio ubicado a 383 km de
Salvador), en la cual se buscó analizar las Dificultades para el
desarrollo de la disciplina de Educación Física, ofrecida para las
clases del sexto al noveno año de la enseñanza fundamental.
Para la recolección de datos se utilizó la observación de las
clases y la aplicación de un cuestionario semiestructurado. El
estudio evidenció que aunque la legislación sobre educación del
campo ha avanzado en varios aspectos la escuela en cuestión
permaneció al margen de las acciones del poder público y esa
situación ha perjudicado el desarrollo de todas las disciplinas del
currículo escolar, no sólo de la educación física. En gran
manera, el letargo del poder público ha dificultado la
construcción de una escuela del campo de calidad, que trabaje
temáticas y contenidos que respete, valorice y fortalezca la
cultura y la identidad de la población del campo.
Palabras clave: Escuela, Educación Básica, Educación del
Campo, Educación Física.
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Introdução
O termo Educação Rural foi muito
utilizado até 1988, porém, a partir de 2002,
com a aprovação da Resolução CNE/CEB
Nº. 01 de 03 de abril (as Diretrizes
Operacionais da Educação do Campo)
passou-se a utilizar o termo Educação do
Campo. Assim, a Educação do campo é
uma discussão recente que surgiu uma
década, sendo que essa também é a
contraposição à Educação Rural. Essa foi
marcada por uma cultura dita como
inferior em relação aos centros urbanos e
pelos estereótipos feitos as identidades dos
povos do meio rural.
Segunda Silva e Costa (2006), a
Educação Rural era apenas vista como
espaço físico sem proposta de mudança
dentro das demandas de uma sociedade
capitalista; a Educação do Campo
concebe o campo como lugar de lutas
sociais por uma educação que reafirme a
identidade do campo.
No Brasil atual temos um conjunto
de Leis, Decretos e Diretrizes que
reconhecem a importância de
desenvolvermos uma Educação do Campo
que respeite as especificidades das pessoas
que vivem no campo. Porém, é preciso
destacar que a legislação não garante, por
si só, a melhoria desejada para as escolas
localizadas no meio rural. Além dos
investimentos em infraestrutura, transporte
e alimentação, é necessário que as
universidades promovam, no espaço
acadêmico e em seus currículos, discussões
sobre a temática do campo.
De acordo com o Art. 15 das
Diretrizes Curriculares Nacionais da
Educação Básica a educação física passou
a ser um dos componentes curriculares
obrigatórios da educação básica, devendo a
mesma estar integrada na proposta político
pedagógica das escolas. Em vista disso,
este estudo refletiu sobre a ação
pedagógica da disciplina de educação
física ressaltando o quão é importante a sua
aproximação com a Educação do Campo,
no sentido de colaborar com a formação de
cidadãos críticos e conscientes do seu valor
na sociedade, além de fomentar práticas
corporais que valorizem a cultura corporal
dos campesinos e a sua identidade.
No desenrolar do texto buscamos
analisar as ações pedagógicas que são
priorizadas no currículo de Educação
Física da Escola Municipal Pedro Virgínio,
situada no distrito de Santa Terezinha no
município de Jitaúna/BA, para assegurar o
aprendizado dos alunos campesinos. A
referida escola está anexada ao Colégio
Estadual Valmir Oliveira Gomes, sendo a
única escola localizada no meio rural de
Jitaúna/BA que trabalha com a proposta de
Educação do Campo.
O objetivo geral da pesquisa foi o de
analisar as ações pedagógicas que foram
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priorizadas pela docente no
desenvolvimento da disciplina de educação
física. Nessa perspectiva optou-se pela
metodologia de cunho qualitativo, com a
aplicação de questionário semiestruturado
junto à professora da disciplina de
educação física da escola supracitada, além
do acompanhamento e observação de
algumas aulas durante o ano de 2015. O
questionário semiestruturado possuía um
total de 19 questões, sendo oito questões
fechadas e onze abertas.
O texto está organizado em duas
partes, sendo que na primeira é apresentada
uma discussão sobre o ensino da disciplina
de educação física nas escolas do campo,
com destaque para as contribuições da
dessa no que tange ao desenvolvimento
integral dos discentes. Já na segunda parte
são apresentadas ao leitor algumas
estratégias utilizadas pela professora da
disciplina de educação física frente às
inúmeras dificuldades que lhe são impostas
no cotidiano, para o desenvolvimento do
seu trabalho na Escola Municipal Pedro
Virgínio.
O ensino da disciplina de educação física
na escola do campo
A obrigatoriedade da disciplina de
Educação Física na Educação Básica é
garantida pela Lei 9394/96 LDB, que no
artigo 26 afirma que as disciplinas do eixo
obrigatório do currículo devem se adequar
às características de cada região e,
especificamente no § do referido artigo,
dispõe que a Educação Física faz parte do
componente curricular da Educação
Básica.
Art. 26º. Os currículos do ensino
fundamental e médio devem ter uma
base nacional comum, a ser
complementada, em cada sistema de
ensino e estabelecimento escolar, por
uma parte diversificada, exigida pelas
características regionais e locais da
sociedade, da cultura, da economia e
da clientela.
§ 3º. A educação física, integrada à
proposta pedagógica da escola, é
componente curricular obrigatório da
educação básica. (Brasil, 1996).
Nesse contexto, a Educação Física
deve se adequar a Educação do Campo a
perceber que esse espaço também é
produtor de culturas por meio da
identidade dos sujeitos que vivem no
campo. Em vista disso, a educação deve
exercer um papel preponderante no sentido
de legitimar a necessidade de uma política
pública concernente com a Educação do
Campo.
Embora essa Lei represente um
marco para a Educação Física, isso não é
suficiente para garantir o acesso da
disciplina para todos, pois segundo
Taffarel (2008), a Educação Física
enquanto uma dimensão da educação,
constituída como bem cultural, na qual foi
socialmente construída, não se faz presente
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para aproximadamente 70% da população
nordestina. Portanto, será possível
garantir esse direito por meio de lutas, cuja
principal meta seja a reivindicação no
âmbito educacional, ao consolidar
transformações profundas no campo da
Educação Física.
A Educação Física atua na
perspectiva da reflexão sobre a cultura
corporal. É responsável pela ação
pedagógica e social, ao fomentar nos
alunos a construção de movimentos
embasados na interpretação e compreensão
das práticas corporais vivenciadas.
Destarte, a Educação Física fortalece o
compromisso político e pedagógico na
conjuntura educacional do campo,
portanto, se faz necessária como
componente curricular para a conquista de
uma educação de qualidade. A este
respeito, Souza (2008) explica que para
conquistar uma educação do campo de
qualidade, na qual atenda toda população
campesina sem distinção socioeconômica é
necessária que essa luta faça parte das
reivindicações dos movimentos sociais.
Diante dos movimentos existentes no
Brasil o MST é o de maior proeminência,
pois exige do Estado iniciativas para a
educação pública, visando melhorias na
formação de profissionais para atuar nas
escolas do campo e promover a construção
de políticas públicas para a educação do
campo. Molina (2012) robustece a
afirmação de Souza (2008), ratificando:
A pressão e o processo organizativo
desencadeado pela ação social de
reivindicação da garantia de seus
direitos pelos camponeses têm
obrigado diferentes níveis de governo
a criarem espaços institucionais para
o desenvolvimento de ações públicas
que deem conta das demandas
educacionais do campo. Essas
instâncias governamentais tendem a
excluir a materialidade dos conflitos
presentes no campo, revelando uma
compreensão do conflito carregada
de um imaginário negativo, temido e
que necessariamente deve ser
eliminado. (Molina, 2012, p. 592).
Essas reivindicações devem
continuar presentes como pauta dos
movimentos sociais, com o intuito de
aventar a construção de políticas públicas
de Educação do Campo. Visto que ainda
existem poucas escolas localizadas nos
meios rurais, nas quais geralmente é
imposto um modelo de educação com
características urbanas. Segundo Souza
(2008), os movimentos sociais devem
indagar o protótipo de educação rural e
propor uma Educação do Campo que
comungue com políticas e práticas
pedagógicas inerentes aos trabalhadores do
campo.
Diante da complexidade que envolve
o campo torna-se difícil a organização
teórico-metodológica da Educação Física
devido a gama de especificidades existente
no campo, porém, é fundamental que
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exista uma aproximação da Educação
Física com a Educação do Campo para que
ocorra um aprendizado significativo para
os alunos campesinos.
A Educação Física engloba vários
aspectos do movimento corporal humano,
os quais podem ser concebidos por meio
das abordagens: biomecânica, fisiológica,
técnica, sociológica, política, biológica,
psicomotora, filosófica, psicológica,
antropológica e histórica, a fim de
fomentar novos conhecimentos para o
processo de ensino e aprendizagem da
Educação Física.
Dessa maneira, tanto o professor
quanto o aluno exercem papeis
fundamentais nesse processo,
possibilitando uma visão crítica deixando
os alunos cônscios da importância do
ensino da disciplina de Educação Física na
Educação do Campo (Ventorim &
Locatelli, 2009). De acordo com
Albuquerque et al. (2007), a cultura
corporal pode ser compreendida como “a
cultura feita pelo corpo”, em que é
consumida ao ser praticada. Dessa forma,
entendemos por cultura corporal todo
movimento do corpo que transmite
reflexão, prazer e alegria. Nesse sentido,
Ventorim e Locatelli (2009) afirmam que:
Entende-se, então, que, para a
materialização da organização do
processo pedagógico da Educação
Física, pressupõe-se uma nova
concepção do espaço de aula. Este
espaço representa o “espaço de
ação”, de movimento, de diálogo e de
manifestação e expressão da
magnitude das conquistas do homem
em sua existência, que estão
configuradas na forma de saber
escolar/movimento corporal humano.
O momento de
transmissão/apropriação do
conhecimento se constitui na
problematização e compreensão das
relações estabelecidas entre o homem
e a natureza, na luta pela sua
emancipação histórica. Estudar as
manifestações do movimento
corporal humano possibilitaria, dessa
forma, a vivência e a prática das
relações humanas nas dimensões
cultural e social. Entendemos a aula
de Educação Física como espaço
organizado para o estudo com e sobre
o movimento corporal humano.
(Ventorim & Locatelli, 2009, p. 7).
Nessa perspectiva, a disciplina de
Educação Física transcende os aspectos da
técnica, mecânica e passa a abranger
conteúdos que priorizam a cultura corporal
dos movimentos, ao valorizar a cultura
local das distintas comunidades,
principalmente as campesinas. Seguindo
esse itinerário a disciplina estaria
atendendo exatamente o que está indicado
no Art. 28 da LDB de 1996:
Na oferta de educação básica para a
população rural, os sistemas de
ensino promoverão as adaptações
necessárias à sua adequação às
peculiaridades da vida rural e de cada
região, especialmente:
I conteúdos curriculares e
metodologias apropriadas às reais
necessidades e interesses dos alunos
da zona rural;
II organização escolar própria,
incluindo adequação do calendário
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escolar às fases do ciclo agrícola e às
condições climáticas;
III adequação à natureza do
trabalho na zona rural.
O referente artigo aponta que os
sistemas de ensino são responsáveis por
preparar as escolas para o desenvolvimento
de uma educação que atenda às
necessidades dos(as) discentes dessas
regiões, ou seja, conteúdos curriculares e
metodologias apropriadas deverão ser
adotados para atender às peculiaridades da
vida rural, de modo a atender as reais
necessidades e interesses desse público.
ainda a preocupação com relação ao
calendário escolar que deverá ser
elaborado levando-se em consideração as
fases do ciclo agrícola e as condições
climáticas. Por fim, mas não menos
importante, é destacada a atenção que
deverá ser dada à natureza do trabalho na
agricultura e por extensão na zona rural.
Cabe ainda ser destacado que o
domínio dos conhecimentos e
metodologias acerca da disciplina de
Educação Física são elementos
fundamentais para que o(a) professor(a)
tome consciência de que não é apenas o
livro didático que lhe ajudará a encarar e
solucionar as problemáticas encontradas na
sala de aula. Ou seja, a reelaboração dos
conhecimentos adquiridos, as experiências
cotidianas e a sua sensibilidade enquanto
docente é que darão suporte para a
resolução dos problemas encontrados na
efetiva aplicação do que está proposto no
Art. 28 da LDB de 1996 (Coletivo de
Autores, 1992
i
).
Dessa maneira, os conteúdos também
podem surgir da problematização da
experiência de vida dos alunos
campesinos, bem como do diálogo entre a
turma, no qual o professor não pode ser
superior aos alunos, deve manter uma
relação de igualdade entre ambos, para
fomentar a emancipação política,
econômica, cultural e social do homem do
campo.
A educação brasileira durante muitos
anos nos meios rurais manteve os alunos
“engessados” sem uma visão crítica sobre
a disciplina de Educação Física, a qual
quando ofertada para a população
campesina funcionava apenas como uma
maneira de diversão, cujo elemento mais
utilizado é o famoso “baba”, no qual o
professor entrega a bola aos alunos
deixando-os à vontade sem discutir ou
problematizar o jogo, priorizando a
diversão ao contrário do aprendizado. No
entanto, essa realidade se faz presente tanto
no campo quanto na cidade.
É sabido que a realidade do campo
possui peculiaridades e especificidades,
tais quais devem ser priorizadas. Nesse
sentido, o professor de Educação Física em
suas aulas deve partir do pressuposto da
realidade de quem vive no campo e lida
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com a terra, ao levar em consideração que
o cotidiano e as necessidades dos sujeitos
do campo são distintos da realidade dos
sujeitos que vivem nas cidades. Dessa
forma, para o campesino mais relevante
que dispor de uma escola próxima a eles é
ter no Projeto Político Pedagógico da
escola propostas que supram as demandas
do campesinato.
Ao romper com o antigo paradigma
de educação rural, a concepção de
Educação do Campo introduz um novo
modelo de educação na conjuntura
educacional brasileira. A partir do
momento no qual o homem do campo sai
do estado de sujeito passivo e torna-se um
sujeito ativo capaz de ressignificar o
próprio aprendizado, adentrando num
mundo concreto, econômico e social. Em
vista disso, a escola deve ser como uma
mola propulsora para a luta dos
campesinos, ao instigar a aquisição do
saber e reavaliar a realidade social dos
alunos. Portanto, o papel primordial da
escola é propiciar meios para que a
educação sirva de emancipação dos alunos
e que estes se tornem indivíduos críticos
frente à realidade que o cercam.
A disciplina de educação física numa
escola do campo de Jitaúna/Bahia
O presente artigo foi elaborado a
partir de uma pesquisa desenvolvida na
Escola Municipal Pedro Virgínio,
localizada no distrito de Santa Terezinha,
zona rural do município de Jitaúna BA,
cuja é anexo do Colégio Estadual Valmir
Oliveira Gomes, sendo a única escola do
município que trabalha com a proposta de
Educação do Campo.
De acordo com o Censo Escolar de
2016 a Escola Municipal Pedro Virgínio
oferece: Ensino Fundamental I (99
discentes), Ensino Fundamental II (76
discentes) e EJA (27 discentes). A
disciplina de Educação Física é oferecida
para todas as turmas, porém, a escola
possui apenas uma professora encarregada
para lecionar a referida disciplina. Em vista
disso, a pesquisa utilizou como
instrumento para análise de dados as
observações das aulas e um questionário
semiestruturado com 19 questões aplicado
com a professora de Educação Física.
A professora possui Licenciatura em
Educação Física e Especialização em
Mídias e Tecnologias na Educação.
Leciona entre 6 a 9 anos, sendo que na
Escola Municipal Pedro Virgínio trabalha
apenas um ano e considera o ambiente
de trabalho da escola agradável.
É sabido que a Educação do Campo
possui especificidades relacionadas ao
campo de atuação pedagógica, por isso,
fez-se necessário questionar se durante a
formação acadêmica da professora foi
disponibilizada alguma disciplina na grade
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curricular do curso que desse suporte para
atuar nas escolas do campo. A resposta da
professora foi não”, o que não provocou
surpresa, pois ao analisar o currículo das
vinte a duas licenciaturas da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia
ii
(UESB),
notamos que apenas nos cursos de
Pedagogia (um em cada campus) a
disciplina Educação do Campo tem sido
oferecida. Essa quantidade indica que
menos de 14% das licenciaturas da UESB
se preocupam em preparar seus egressos
pra atuarem nas escolas do campo ou nas
escolas rurais da região, o que reflete um
enorme descaso da instituição frente aos
desafios que os egressos dessas
licenciaturas terão que enfrentar caso
venham a atuar nessas escolas. Ao analisar
o currículo da licenciatura em Educação
Física, do campus de Jequié, notamos que
o prejuízo é ainda maior, pois a nova grade
curricular dessa licenciatura, em vigor a
partir de agosto de 2013, não possui sequer
uma disciplina que trabalhe a temática da
educação do campo. Ou seja, o momento
da reformulação curricular acabou não
sendo usado para que o curso pudesse
atender essa necessidade. Nesse sentido, o
contato dos estudantes dessa licenciatura,
assim como de tantas outras da instituição,
com a temática da educação do campo
tende a ficar refém da sensibilidade de um
ou outro docente.
Com relação à infraestrutura foi
perguntado à professora se a Escola Pedro
Virgínio dispõe de estrutura adequada para
ministrar as aulas de Educação Física, a
docente respondeu que “não”, ao dispor a
seguinte afirmação:
A Escola Pedro Virgínio não oferece
espaço adequado para a realização da
prática da disciplina Educação Física.
As aulas são realizadas na rua e
dentro da própria sala de aula.
(Professora de Educação Física).
No Guia de Orientações
Operacionais (Resolução CD/FNDE 32
de agosto de 2013) está exposto que:
As escolas localizadas no campo de
maneira geral funcionam em prédios
pequenos e muitas vezes em
condições inadequadas de ventilação,
iluminação, cobertura e piso. O
mobiliário escolar desses
estabelecimentos de ensino
carteiras, mesas, quadro de giz,
armários, estantes, etc. , muitas
vezes são inapropriados ou não dá
condições adequadas ao trabalho dos
professores e ao desenvolvimento das
atividades educativas com os
estudantes. (Brasil, 2013, p. 1).
Diante da situação emergencial
relacionada à estrutura das escolas do
campo o Ministério da Educação (MEC)
dispôs recursos financeiros por meio do
Programa Dinheiro Direto na Escola
(PDDE), do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE). A
verba é repassada para escolas localizadas
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no campo com o intuito de suprir as
despesas com a manutenção, conservação e
pequenos reparos em suas instalações,
podendo também adquirir móveis
adequados para a escola. O capital também
deverá ser investido para fomentar a
realização de práticas pedagógicas que
visem melhorias para a Educação do
Campo (Brasil, 2013).
Embora exista o PDDE os alunos
campesinos ainda sofrem com a péssima
infraestrutura das escolas do campo. De
acordo com o Censo Escolar de 2009,
realizado pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (INEP), foi divulgado que 90%
das escolas do campo não possuem
biblioteca, um pouco mais de 8% das
escolas têm disponível laboratório de
informática e aproximadamente 1% das
escolas possuem energia elétrica. Essa é a
cruel realidade da maioria das escolas do
campo no Brasil que historicamente foi
relegada (Brasil, 2009).
Durante as observações das aulas
ficou explícito que a falta de estrutura da
escola impossibilita aulas práticas
adequadas, uma vez que geralmente elas
acontecem na rua ou na própria sala de
aula, cujo espaço é limitado.
As escolas do campo possuem
especificidades que precisam ser
respeitadas, e quando se trata da Educação
Física na Educação do Campo não é
diferente. Por isso, houve a necessidade de
questionar quais ações pedagógicas são
priorizadas no currículo de Educação
Física para assegurar o aprendizado do
aluno. A professora respondeu:
Trabalhar com a teoria e prática na
mesma sintonia no contexto rural é
um pouco dificultoso, mas isso não
impede que seja feita a realização de
projeto de esportes, pois utilizamos o
espaço da cidade, como o ginásio de
esportes.
A luz dos estudos de Rezer (2007)
relacionado com a prática pedagógica da
Educação Física e os elementos didático-
metodológicos, o autor afirma que existe
uma carência de produções que contribuam
com possibilidades de conteúdos
significativos para os professores com
relação ao trato pedagógico da Educação
Física. Seguindo o mesmo viés, foi
questionado de que maneira é possível
planejar a ação pedagógica da Educação
Física no contexto campesino, e a
professora destacou o improviso como
instrumento pedagógico, ao afirmar que,
São feitos projetos, aulas de campo e
para a realização dessas atividades
contamos com o improviso, pois a
falta de material e estrutura é
gritante. (Professora de Educação
Física).
É notório que um dos problemas que
interfere na ação pedagógica da Educação
Física é a falta de estrutura da Escola
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Municipal Pedro Virginio, pois foi
apontado pela docente como algo
gritante. A passagem a seguir traz uma
reflexão sobre como fomentar um ensino
de qualidade da disciplina de Educação
Física na Educação do Campo.
Garantir ensino de qualidade na
Educação Física do campo requer nos
comprometermos com a
diversificação e aprofundamento dos
conteúdos, levando os alunos a
conhecerem as várias produções
sistematizadas na Educação Física,
assim como, o desenvolvimento
destes conteúdos no cenário cultural
(suas transformações, história,
mitificações, etc.). Importante
também é considerar as experiências
produzidas pelos sujeitos do campo,
promovendo o diálogo entre saberes
locais e saberes sistematizados, na
perspectiva de ampliar aquilo que é
próprio e de autoria desses sujeitos.
(Ventorim & Locatelli, 2009, p. 8).
Nesse sentido, é fundamental que
ocorra um diálogo entre a Educação Física
e a Educação do Campo, pois o movimento
corporal é imanente ao ser humano, o qual
tornou-se uma das especificidades da
Educação Física. Com isso, é essencial
respeitar e valorizar a cultura corporal dos
campesinos com o intuito de produzir
ações transformadoras, nas quais reflitam
de forma crítica as demandas do contexto
rural.
Diante do entrave de ensinar no
campo em escolas com uma infraestrutura
inadequada tornou-se relevante questionar
quais são as maiores dificuldades
encontradas para ensinar Educação Física
na Escola Municipal Pedro Virgínio? A
professora respondeu:
Como foi citado nas questões
anteriores à falta de estrutura e a falta
de material são as maiores
dificuldades para a realização das
aulas de Educação Física. (Professora
de Educação Física).
A resposta da professora apenas
ratifica tudo que já foi exposto sobre as
condições precárias referentes à
infraestrutura da escola pesquisada.
Corroborando com a afirmação da docente
os estudos elaborados por Marin et al,
(2010) indicam que a falta de espaço físico
adequado, a falta de material didático, o
difícil acesso ao local de trabalho e a baixa
remuneração são apontados pelos docentes
pesquisados como as principais
dificuldades para a atuação pedagógica da
Educação Física. Esses problemas devem-
se a escassez de políticas educacionais
destinadas a Educação do Campo, ao
corroborar o descaso do Estado com a
população campesina.
Mediante as dificuldades apontadas
relacionadas à escola referida nesse estudo,
foi questionada a docente como essas
dificuldades interferem no seu trabalho? A
professora afirmou que,
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Essas dificuldades enfrentadas pelos
alunos e por mim como professora da
disciplina desmotivam, entristece,
mas por outro lado, isso faz com que
nossa imaginação e vontade de
praticar nossas aulas se tornem cada
vez mais forte. (Professora de
Educação Física).
Conforme o relato da professora as
dificuldades encontradas se tornam
preponderantes para a desmotivação do ato
de ensinar, porém a mesma deixa explícita
que por meio da dificuldade a imaginação
é aflorada. É notório que o maior problema
destacado pela professora para ministrar as
aulas de Educação Física é realmente a
falta de infraestrutura da escola, na qual foi
apontada na referente pesquisa em mais de
uma resposta, o que deixa evidente o quão
se torna agravante o problema exposto. No
entanto, além de condições adequadas para
o ensino da Educação física também é
necessário à oferta de formação continuada
específica para os profissionais que atuam
nas escolas do campo. A passagem a seguir
esclarece bem essa questão.
... a objetivação de mudanças na ação
pedagógica da Educação Física no
contexto rural mais do que melhoria
das estruturas físicas e materiais
implica, necessariamente, formação
acadêmica que leve em conta a
especificidade rural, formação
continuada dos professores, produção
de conhecimento sobre a temática, a
fim de que também possa contribuir
para o desenvolvimento do meio
rural. (Marin, et al., 2010, p. 13).
A luz do estudo de Marin et al.,
(2010), é relatado que os professores
pesquisados apontam a formação
continuada ser uma das principais
necessidades para a superação das
dificuldades encontradas referente ao
desenvolvimento da disciplina de
Educação Física nas escolas pertencente ao
meio rural.
Conforme Molina (2012) apenas a
garantia de direitos formais no que tange a
população do campo não é suficiente para
assegurar um ensino de qualidade aos
campesinos. Diante disso, é necessário que
o Estado adote uma conduta
intervencionista, com o intuito de
promover políticas específicas, além de
oferecer formação continuada aos
professores, a fim de minorar as
incomensuráveis perdas, as quais os
sujeitos do campo sofreram ao longo da
história no que se refere à educação.
Portanto, uma alternativa capaz de
melhorar o ensino nas escolas do campo é
a oferta de formação continuada aos
professores que lecionam no campo e
acreditam que os campesinos não podem
de maneira alguma ser privados do direito
a educação.
Ao saber das dificuldades que
interferem no trabalho docente foi
necessário questionar como essas mesmas
dificuldades interferem no aprendizado dos
alunos. A professora esboçou mais uma
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vez sobre a falta de estrutura adequada da
escola, ao dizer que,
A falta de uma quadra poliesportiva é
um fator extremamente negativo,
pois os alunos aprendem as regras
dos esportes na teoria, mas não
possuem uma quadra para praticar o
que aprenderam. (Professora de
Educação Física).
Novamente a professora aponta o
problema da infraestrutura como um
agrave, porém, dessa vez é concernente ao
aprendizado dos alunos. Obviamente a
precária infraestrutura da escola torna-se o
principal obstáculo para o
desenvolvimento da qualidade da
disciplina de Educação Física na Educação
do Campo, tendo em vista que um
ambiente com condições favoráveis
possibilita um melhor aprendizado, assim
como a falta de estrutura adequada não
atende as necessidades dos campesinos.
Por conseguinte, a estrutura física da
escola influencia diretamente na ação
pedagógica da disciplina durante as aulas.
Quando questionada sobre os
procedimentos metodológicos utilizados
diante das dificuldades encontradas nas
aulas a professora respondeu:
Após as aulas teóricas de Educação
Física eu realizo sempre a
visualização do conteúdo com vídeos
e fotos que a prática para a fixação
de regras de futebol, vôlei, handebol
na rua é um tanto inadequado.
(Professora de Educação Física).
A desmotivação relacionada às aulas
práticas está explícita nas palavras da
professora. A precarização das escolas do
campo ocorre em detrimento à priorização
das escolas urbanas por parte dos
governantes das cidades, os quais se
esquecem das necessidades do
campesinato. Em relação à inadequação
das aulas práticas serem realizadas na rua
concordamos com a professora, pois a
segurança dos alunos é posta em risco
devido o contato direto com os veículos de
transporte. O fato de o distrito ser pequeno
e haver pouco movimento dos carros
ameniza a situação, porém, a prática de
atividades na rua continua a ser
inadequada. Em vista disso, os
procedimentos metodológicos adotados são
limitados devido ao espaço das aulas
práticas serem inapropriados.
Diante das especificidades existentes
no campo foi questionado que tipos de
atividades são priorizados sem causar
prejuízos aos alunos que vivem num
contexto tão plural, tão diverso como o
meio rural:
Utilizo o ambiente a meu favor,
promovo caminhadas, maratona,
passeio ciclístico pelas vias do
distrito já que o movimento de carros
é quase inexistente, portanto se torna
seguro e divertido realizar essas
atividades e junto à prática ensino
conteúdo como atletismo. (Professora
de Educação Física).
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Mesmo com todas as limitações já
apontadas pela professora nas questões
anteriores, notamos que a mesma consegue
utilizar as dificuldades encontradas a seu
favor, ao promover atividades adequadas
ao ambiente que dispõe, ou seja, de alguma
maneira a docente usa sua criatividade para
desenvolver os conteúdos da disciplina de
educação física.
A inerência das práticas corporais
com a Educação Física introduz um
compromisso político pedagógico da
disciplina na conjuntura educacional do
campo. Devido ao fato dos sujeitos do
campo estar constantemente em
movimento é necessária uma intervenção
pedagógica e social capaz de fomentar uma
cultura corporal por meio das práticas
corporais proporcionadas pela escola do
campo adequada aos campesinos.
Para Ventorim e Locatelli (2009) a
perspectiva de apresentar fundamentos que
possam orientar a organização teórica e
metodológica da disciplina de educação
física na educação do campo pode se tornar
uma tarefa complexa diante das diferentes
e singulares formas de expressão das
práticas educativas no campo,
especialmente quando se tomam como
referência os espaços e tempos em que
acontecem, os conhecimentos a serem
transmitidos/construídos, as abordagens
metodológicas de ensino, a formação
docente, as condições objetivas e
estruturais, enfim, um conjunto de
elementos que fundamentam os processos
educativos.
Ao findar o questionário foi
perguntado à docente quais as
contribuições da disciplina de Educação
Física para os alunos campesinos. A seguir
a professora esboçou suas considerações:
A disciplina de Educação Física é de
fundamental importância, pois ela
não trata apenas sobre os aspectos e a
prática dos mesmos. Ela leva aos
campesinos conhecimentos como os
benefícios que a prática de atividade
física pode trazer a vida do indivíduo,
na prevenção e no tratamento de
doenças. (Professora de Educação
Física).
Relacionado à importância da
disciplina de Educação Física para os
alunos campesinos a professora indicou um
elemento novo, o qual não foi mencionado
nas questões anteriores que foi os
benefícios que a prática de atividade física
proporciona a saúde bem como na
prevenção de doenças e no tratamento das
mesmas. Destarte, a professora na sua
afirmação evidencia que a Educação Física
também se configura como uma área do
conhecimento que incentiva a promoção da
saúde.
Nesse sentido, por meio das práticas
corporais é possível estabelecer um diálogo
entre a Educação Física e a Educação do
Campo. Por conseguinte, a disciplina
referida ressalta a importância que ocupa
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entre os sujeitos do campo, ao viabilizar
atividades possíveis e significativas para
esse espaço, a fim de atender as
necessidades da população campesina.
Considerações finais
O legado da educação no contexto
rural é representado pelo modelo
importado da educação urbana que apenas
contribui com o paradigma da reprodução
social. Durante muitas décadas o ensino
ofertado para a população do campo era
cunhado como educação rural, no qual não
estabelecia uma relação com a realidade e
as necessidades dos campesinos. Em meio
a tantas reivindicações por parte dos
movimentos sociais, principalmente do
MST, eclodiu uma nova proposta de
educação intitulada de Educação do
Campo, ao primar por um ensino de
qualidade, respeitando e valorizando a
cultura e identidade da população do
campo.
Em vista da singularidade presente
na educação do campo vale ressaltar que
entre as principais dificuldades apontadas
ao longo desse texto que interferem no
ensino e, consequentemente, na
aprendizagem dos alunos, destacamos a
falta de material didático para ser utilizado
nas aulas e a precária infraestrutura da
escola pesquisada, especialmente no que
concerne a disciplina de Educação Física
com relação às aulas práticas, pois a escola
em questão não possui sequer espaço
adequado para o desenvolvimento das
aulas, expondo os alunos a riscos
completamente desnecessários. Para além
do avanço da legislação que trata do tema
(leis, decretos e resoluções) o que ainda é
fica muito evidente é um forte descaso do
poder público com a Educação do Campo,
não apenas com o desenvolvimento da
disciplina de educação física. Outro
aspecto notado durante a fase da pesquisa
de campo na escola é que ainda existe uma
defasagem na construção do Projeto
Político Pedagógico no que diz respeito
aos conteúdos que devam ser trabalhados
na escola e essa responsabilidade recai
diretamente nos ombros daqueles que
efetivamente pensam a escola em questão
(diretores, coordenação pedagógica e
professores), que preferem continuar
aplicando o modelo importado das escolas
urbanas.
Embora seja difícil ensinar Educação
Física na escola aqui destacada notamos
que a tarefa não chega a ser impossível.
Porém, é necessário construir
procedimentos metodológicos e materiais
pedagógicos que levem em consideração as
características do campo e para as pessoas
que vivem, com o intuito de valorizar a
cultura e a identidade da população do
campo. Pois isso tende a favorecer a ação
pedagógica de todas as disciplinas
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presentes no currículo, não apenas da
Educação Física.
Por fim, gostaríamos de destacar que
é essencial que as universidades (públicas
e privadas) promovam nos currículos de
suas licenciaturas a inserção de disciplinas
ou temáticas específicas da realidade do
campo, para que os futuros educadores
disponham das ferramentas necessárias
para a promoção de uma educação de
qualidade nas escolas do campo.
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os/simposio2009/327.pdf
i
Coletivo de Autores é a denominação dada aos
seis autores do livro Metodologia do Ensino de
Educação Física, publicado em 1992, pela editora
Cortez. Nesta obra não é possível identificar qual
autor(a) elaborou cada capítulo que compõe a obra
citada. Este livro se tornou uma referência
importante no campo da produção do conhecimento
em Educação Física, configurando-se como leitura
imprescindível aos que atuam com a Educação
Física escolar. Link pra acessar a referida obra:
https://fefd.ufg.br/up/73/o/Texto_49_-
_Coletivo_de_Autores_-
_Metodologia_de_Ensino_da_Ed._Fsica.pdf
ii
As licenciaturas da UESB estão assim
distribuídas em cada campus: 10 em Vitória da
Conquista, 8 em Jequié e 4 em Itapetinga. A
pesquisa aqui apresentada esteve sediada no Centro
Interdisciplinar de Pesquisa Agroambiental
(CIPAM), localizado no campus de Jequié.
Informações do artigo / Article Information
Recebido em : 02/06/2017
Aprovado em: 13/06/2017
Publicado em: 07/05/2018
Received on June 02nd, 2017
Accepted on June 13th, 2017
Published on May 7th 2018
Contribuições no artigo: Os autores declaram que o
artigo é resultado da produção dos próprios autores em
questão, tendo os mesmos desenvolvidos as seguintes
atividades: elaboração, análise, interpretação dos dados,
escrita, leitura e revisão de conteúdo do mesmo. Os
autores declaram ainda que foram os responsáveis pela
aprovação da versão final a ser publicada.
Author Contributions: The authors were responsible for
the designing, delineating, analyzing and interpreting the
data, production of the manuscript, critical revision of the
content and approval of the final version to be published.
Conflitos de interesse: Os autores declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Silvano da Conceição
http://orcid.org/0000-0002-3577-2268
Poliana Freitas Brito
http://orcid.org/0000-0002-1137-7984
Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Conceição, S., & Brito, P. F. (2018). A Educação Física
como componente curricular de uma escola do campo do
município Jitaúna/Bahia. Rev. Bras. Educ. Camp., 3(2),
434-450. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2018v3n2p433
ABNT
Conceição, S.; Brito, P. F. A Educação Física como
componente curricular de uma escola do campo do
município Jitaúna/Bahia. Rev. Bras. Educ. Camp.,
Tocantinópolis, v. 3, n. 2, mai./ago., p. 434-450, 2018.
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2018v3n2p433