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para ninguém, né, mas eu ajudei eles
a chegar em cima do lote, né, que é o
sonho de cada um, tem uns que
dizem que ganharam o lote, o lote
não se ganha o lote se conquista com
o maior sacrifício (João, 50 anos).
A experiência do “tempo do
acampamento”
A adesão ao MST traz, num primeiro
instante, a vivência do acampamento, e
este período é caracterizado pelos/as
trabalhadores/as como uma experiência
particular, denominado por Shimidt (1992)
como “o tempo do acampamento”, o qual
também pode ser definido como uma etapa
de mobilização permanente do processo
que envolve a conquista do lote, [e]
constitui-se basicamente no tempo de
vivências coletivas que caracteriza o
processo de formação da identidade “Sem
Terra”.
A relação entre as trajetórias sociais
não é mecânica, na medida em que
diversas variáveis interferem na
forma como diferentes vivências são
significativas. As experiências
históricas não são sempre atualizadas
da mesma forma, passando pela
mediação do contexto que está sendo
vivido (Shimidt, 1992, p. 163).
Trazidas sob a forma de memórias,
as referências dos camponeses do
assentamento Padre Réus são ligeiramente
identificadas como difíceis, ou seja, como
um período de enfrentamento de
dificuldades, no qual “se aprende a dar
valor às coisas” – essas coisas entendidas
como elementares à sobrevivência, como
um lugar para dormir ou ter do que comer.
Caracterizam-se por um período em que,
segundo a Júlia (28 anos), não se comia
carne e que os grãos de feijão eram
contados para cada família.
Os/As assentados/as passaram pelo
menos por dois momentos de
acampamento: o primeiro foi o ponto de
encontro e formação do assentamento no
município de Piratini, que, de acordo com
o Paulo (65 anos), lá eles contribuíram na
ação de ocupação da Fazenda Rubira, a
qual, anos depois, foi transformada em um
assentamento rural; o segundo momento,
refere-se a quando partiram em marcha até
Viamão, onde se estabeleceram e
permaneceram até a conquista da terra.
Lá é uma escola, por causa do
pessoal, ia muito pessoal de vocês lá,
da faculdade, muitas pessoas de
outros países também, para aprender,
ver como é que é a situação, não é
muito fácil, só que tem que dizer que
vou acampar e ficar, naquela época
tinha que resolver o problema com a
polícia, porque sempre foi assim, só
que agora está melhor, porque antes a
polícia chegava lá e batia, sabe, hoje
tem negociação, tem o Marcon, esse
deputado, sabe, eles chegam na
frente, sabe, várias vezes a polícia
chegou e nós ia apanhá, eles chegam
na frente, negociamos na hora e
mandam a polícia parar. Levemos
dezesseis tiros uma vez lá em
Piratini. Teve ocupação da fazenda
Rubira, que hoje é assentamento. No