Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
ARTIGO/ARTICLE/ARTÍCULO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n1p223
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
p. 223-244
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
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As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias
Jocyléia Santana dos Santos
1
, Samara Caldas Franco
2
1
Universidade Federal do Tocantins - UFT. Programa de Pós-Graduação em Educação. Avenida NS 15 ACLNO
14 Plano Diretor Sul. Palmas - TO. Brasil. jocyleiasantana@gmail.com.
2
Universidade Federal do Tocantins -
UFT.
RESUMO. A pesquisa investiga quais as dificuldades
enfrentadas pelos educadores e os educandos que vivenciam a
realidade das classes multisseriadas nas escolas da área rural do
município de Arraias-TO. A metodologia utilizada foi a
proposta pela história oral que consiste na realização de
entrevista com os sujeitos envolvidos. Neste caso, foram
entrevistados professores e alunos que vivem no contexto das
classes multisseriadas no município mencionado. Cerca de 1,3
milhões de alunos estudam em classes multisseriadas do campo
no Brasil. A partir do depoimento de professores e alunos,
alguns aspectos ganham destaque: falta de formação específica
para o docente atuar na multisseriação, questão que afeta a
qualidade do ensino; ausência de um currículo voltado também
para a realidade do campo, e a falta de infraestrutura física.
Estas condições implicam em resultados negativos para a
modalidade de Educação no Campo. É necessário construir uma
visão positiva do campo, pensar em uma formação inicial e
continuada que reverta a visão negativa que se tem do campo
com políticas de formação sintonizadas com a dinâmica social
específica, onde está implícita a afirmação de direitos à terra, à
cultura e identidade e à educação.
Palavras-chave: Educação no Campo, Classe Multisseriada,
Formação de Professores, História Oral.
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The multiseries in Campo de Arraias TO: memories
ABSTRACT. The research investigates the difficulties faced by
educators and learners who experience the reality of the
multisite classes in rural schools in the municipality of Arraias-
TO. The methodology used was the one proposed by the oral
history that consists in the accomplishment of an interview with
the subjects involved. In this case, we interviewed teachers and
students who live in the context of the multi-series classes in the
mentioned municipality. About 1.3 million students study in
multisite countryside classes in Brazil. From the testimony of
teachers and students, some aspects are highlighted: lack of
specific training for the teacher to work in the multiseriate, an
issue that affects the quality of teaching; absence of a
curriculum also focused on the reality of the countryside, and
the lack of physical infrastructure. These conditions imply
negative results for the education modality in the Rural
Education. It is necessary to construct a positive vision of the
field, to think of an initial and continuous formation that
reverses the negative view that has of the field with policies of
formation tuned to the specific social dynamic, where the
affirmation of rights to the land, the culture and identity and
education.
Keywords: Countryside School, Multisserial Class, Teacher
Training.
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Las multiserias en el Campo de Arraias- TO: memories
RESUMEN. La investigación investiga cuáles son las
dificultades enfrentadas por los educadores y los educandos que
vivencian la realidad de las clases multiserias en las escuelas del
área rural del municipio de Arraias-TO. La metodología
utilizada fue la propuesta por la historia oral que consiste en la
realización de entrevista con los sujetos involucrados. En este
caso, fueron entrevistados profesores y alumnos que viven
contexto de las clases multiserias en el municipio mencionado.
Cerca de 1,3 millones de alumnos estudian en clases
multiseriales del campo en Brasil. A partir del testimonio de
profesores y alumnos, algunos aspectos ganan destaque: falta de
formación específica para el docente actuar en la multiserción,
cuestión que afecta la calidad de la enseñanza; la ausencia de un
currículo volcado también para la realidad del campo, y la falta
de infraestructura física. Estas condiciones implican en
resultados negativos para la modalidad de Educación en el
Campo. Es necesario construir una visión positiva del campo,
pensar en una formación inicial y continuada que revierta la
visión negativa que se tiene del campo con políticas de
formación sintonizadas con la dinámica social específica, donde
está implícita la afirmación de derechos a la tierra, a la cultura y
identidad y educación.
Palabras clave: Educación en el Campo, Clase Multiserial,
Formación de Profesores, Historia Oral.
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Introdução
Este artigo é resultado de estudo feito
para a disciplina História, Memória e
Educação (HME) do Mestrado em
Educação da Universidade Federal do
Tocantins, focado nas escolas rurais com
classes multisseriadas, localizadas no
município de Arraias, sudeste do Estado do
Tocantins. A disciplina mencionada
propiciou o embasamento teórico para a
metodologia utilizada, a história oral. Em
conformidade com os procedimentos da
área, confeccionou-se um roteiro de
entrevistas pré-estabelecido, ouviram-se
professores e discentes no que diz respeito
as suas trajetórias e percepções sobre o
contexto em que vivem e atuam.
Transcreveram-se as falas, e, em seguida,
obteve-se a autorização para a publicação
dos nomes dos entrevistados após a
assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE).
Diante disso, identificaram-se as
dificuldades enfrentadas pelos educadores
e os educandos que vivenciam a realidade
das classes multisseriadas nas escolas da
área rural do município de Arraias-TO. Na
HME fez-se um projeto para a construção
do artigo com um cronograma explicitando
tempo para fundamentação teórica,
entrevistas e finalização da pesquisa. Num
período de seis meses, realizou-se pesquisa
bibliográfica e pesquisa de campo e a
consecução do artigo como um exercício
final da disciplina HME com a
metodologia de historia oral (HO).
Utilizou-se principalmente Verena Alberti,
que tem um manual sobre a história oral
onde conceitua que a HO “... não é um fim
em si mesma, e sim um meio de
conhecimento. Seu emprego se justifica
no contexto de uma investigação
científica” (Alberti, 2004, p. 29).
Na pesquisa de campo, primeiro
buscou-se entender o que era a
multisseriação, na perspectiva de Hage
(2010) seria uma reunião de estudantes de
várias séries e níveis em uma mesma sala
de aula, independente do número de
professores responsáveis pela turma.
Embora possa acontecer de uma escola ou
turma ser multisseriada e ter mais de um
professor, no meio rural, contam com
apenas um professor como responsável
pela condução do trabalho pedagógico,
sendo, portanto, unidocente.
Quando se pretende uma educação
de qualidade, é preciso que se pense em
escolas com educador inserido na
realidade, estrutura e condições adequadas
para ministrar aulas e remuneração justa,
além de formação geral e holística, para
multisseriação. A prática educativa deve
despertar a consciência dos sujeitos de
modo que estes consigam associar sua
realidade a outras realidades, construindo
assim um novo saber, novas relações.
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A pesquisa permitiu inferir que a
realidade das escolas rurais multisseriadas
do município não se faz diferente das
outras escolas rurais brasileiras. As
deficiências, principalmente em relação à
estrutura física, se perpetuam. Observou-se
que, a Educação no Campo tem tido
sucesso e conta com boa vontade e
profissionalidade dos professores em
oferecer um ensino de qualidade aos
alunos.
Educação multisseriada em escolas do
campo: breve abordagem teórica
As classes multisseriadas são uma
realidade na Educação do Campo no Brasil
quase dois séculos. Trata-se da
junção de várias séries numa mesma sala e
na maioria das vezes com apenas um (a)
professor (a).
Segundo Piza e Sena (2001), as
escolas multisseriadas o, historicamente,
consideradas como de segunda categoria e,
o que é pior, sem alternativa de melhoria;
por isso, os educadores e os gestores
optaram por esquecê-las, esperando que
desapareçam como consequência natural
do processo de desenvolvimento das
sociedades. Porém, o desaparecimento
natural não existe na história, trata-se,
sempre, de funções sociais que cumprem
ou deixam de cumprir para desaparecerem
ou para recriarem. Por essa razão, apesar
de todas as mazelas e das políticas de
substituição promulgadas desde a década
de 1980, as escolas multisseriadas vêm
resistindo e adentraram o século XXI. Esse
fato, no entanto, não se faz presente
frequentemente nas pesquisas em história
da educação.
Se, no seu nascedouro, as escolas
multisseriadas atendiam tanto à população
periférica quanto a rural, atualmente elas se
concentram somente na zona rural.
Menezes e Santos (2002, p. 2), ao
desenvolverem o verbete Escolas
Multisseriadas, no Dicionário Interativo da
Educação Brasileira, escrevem que
“acredita-se que a educação no campo
esteja relegada a segundo plano, limitando-
se ao ensino das primeiras letras”,
afirmando também que estas escolas se
constituem predominantemente de classes
multisseriadas.
Esta realidade está presente na
trajetória educacional brasileira desde o
período Imperial, quando além de atender
as cidades, principalmente as periferias
passaram a atender as escolas rurais da
época nesta modalidade. A partir da
República, o ensino seriado foi implantado
nas escolas urbanas, mas o modelo
multisseriado de ensino permaneceu em
vigor no campo.
É preciso entender que as escolas
multisseriadas não podem ser consideradas
como escolas isoladas, pois se trata de um
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ambiente que pode ser rico e
potencializador. No entanto, em vez disso,
se apresentam escolas com pouca ou
nenhuma estrutura física, contribuindo para
o desânimo e a evasão escolar.
A inexistência de formação
especifica aos professores da
multisseriação faz com que o ensino
urbano seja implantado no currículo dessas
escolas dificultando mais ainda a prática
dos educadores dessas classes. Dessa
forma, os professores culpam o fracasso do
ensino dessas escolas à multisseriação.
De acordo com Barros et al. (2010),
as escolas multisseriadas são responsáveis
pela iniciação escolar da maioria dos
sujeitos que vivem no campo, por isso,
torna-se tão urgente sua inclusão nas
agendas de discussões da educação
brasileira, para que sejam previstos
investimentos para enfrentar seus desafios.
O ensino desenvolvido nessas classes
é prejudicado, na maioria das vezes, pelo
fato de as escolas não oferecerem uma
estrutura física apropriada. Na verdade, em
vez de escolas, com prédio próprio, são
residências de apenas um cômodo ou dois,
no máximo, em contraste com a estrutura
das escolas urbanas. carência de
equipamentos e mobiliários, livros com
conteúdos voltados para a realidade rural.
Outra questão é que os professores, além
de ministrarem aulas em várias séries, se
sentem sobrecarregados por ter que
assumir outras funções, tais como:
faxineiro, merendeiro, secretário, etc.
Os docentes também se sentem
desconfortáveis por ter que mudar
constantemente de escola e os alunos pela
troca diária de professores, por conta da
relação de trabalho com o ente municipal,
baseada na contratação temporária, e não
em concurso público.
Barros et al. (2010) também aponta
outras dificuldades enfrentadas pelos
professores de classes multisseriadas, uma
delas, a organização do processo
pedagógico das escolas. Os profissionais,
por trabalharem em várias séries ao mesmo
tempo, têm que elaborar planos de aula
separados para cada série. Assim os
professores se sentem perdidos, sem
qualquer espaço para realização completa
de seus trabalhos, e o tempo se torna pouco
para trabalhar com tanta série reunida.
Apesar deste contexto,
aparentemente negativo, a educação
multisseriada é considerada positiva,
educação que ajuda na formação humana,
valoriza a identidade campesina e que não
pode ser esquecida tanto pelo poder
público quanto pelos próprios sujeitos que
vivem essa realidade de perto.
Hage (2004) tem inúmeros trabalhos
sobre escolas multisseriadas e defende que,
Ao atender os estudantes em seu
próprio lugar, em sua própria
comunidade, as classes
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multisseriadas podem contribuir
enormemente com o processo de
permanência dos sujeitos do campo
no campo e para com a valorização
da identidade cultural dos mesmos
(Hage, 2004, p. 4).
As escolas com classes
multisseriadas, segundo o autor
supramencionado, podem ser consideradas
como uma boa alternativa para a Educação
do Campo. Portanto, é necessário que os
professores dessas escolas tenham
formação, para que o seu trabalho tenha
mais qualidade e bons resultados. De igual
modo, a estrutura física da escola deve ser
adequada para que haja um melhor
aproveitamento e que o projeto político
pedagógico esteja de acordo também com
suas necessidades.
Educação do Campo: perspectivas
teóricas
uma negatividade do espaço
rural, o campo é visto nas palavras de
Arroyo (2007) como o lugar do atraso, o
outro lugar. A cidade por sua vez, é o
espaço civilizatório por excelência, de
convívio, sociabilidade e socialização, da
expressão da dinâmica política, cultural e
educativa, destaca o autor.
O campo é lugar de trabalho duro, de
luta diária, cheio de riquezas culturais, de
crenças fortíssimas, de histórias de vida
que são apagadas pela desconstrução da
cultura camponesa no momento em que ela
é vista como o quintal ou a extensão da
cidade. Por ser visto dessa forma, tudo o
que vai para as escolas do campo, é o que
sobra das escolas da cidade. É como se o
rural não necessitasse de coisas boas, a
educação basta apenas acontecer, sem se
preocupar com que tipo de ensino está
sendo ofertado neste setor ou que tipo de
material será usado para que a educação
aconteça.
Nesse modelo de educação “a
formulação de políticas educativas e
públicas, em geral, pensa na cidade e nos
cidadãos urbanos como o protótipo de
sujeitos de direitos” (Arroyo, 2007, 158).
Firma-se nesse sentido a concepção de que
a cidade é o modelo a ser seguido, como se
o campo não tivesse sua própria
identidade, prevalecendo o paradigma de
que a educação tanto na cidade quanto no
campo deve seguir os mesmos modelos, ou
seja, essas duas dimensões sociais possuem
as mesmas necessidades, os mesmos
costumes, o mesmo modo de vida.
Nota-se assim que, de modo geral, as
políticas públicas para a Educação do
Campo na contemporaneidade estão ainda
muito próximas das vivenciadas
políticas de “educação rural” e do
“ruralismo pedagógico” do que representar
algo de novo, mais progressista.
Principalmente porque a formação
profissional dos agricultores para que se
mantenham inseridos na produção como
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camponeses, avança pouco, permanecendo
a quase totalidade das experiências de
Educação do Campo apenas enquanto
formas de se ganhar tempo até que o êxodo
rural proclamado se complete, em acordo
com a uniformização e padronização
fomentadas pelo modelo de
desenvolvimento adotado em nosso País,
centrado no agronegócio e no
neoliberalismo.
Fernandes (2006, citado por
Gonsaga, 2009) faz um paralelo entre
Educação do Campo e educação rural,
concluindo que esta se diferencia daquela
pelo fato de estar inserida nos princípios do
paradigma do capitalismo agrário, tendo
como ideal de educação o trabalhador do
campo como mero executor de tarefas, não
assumindo, portanto, o papel de
protagonista neste processo, mas sim de
subalterno aos interesses do capital.
A Educação do Campo vem sendo
construída pelos movimentos
camponeses a partir do princípio da
autonomia dos territórios materiais e
imateriais ... Para a Educação do
Campo desenvolvimento e educação
tornaram-se indissociáveis. Para a
Educação Rural, desenvolvimento é
apenas um tema a ser estudado.
Compreendendo o Campo como um
território, a Educação precisa ser
pensada para o seu desenvolvimento.
Compreendendo o Rural como uma
relação social do campo, a Educação
é pensada como forma de inserção no
modelo de desenvolvimento
predominante, no caso, o
agronegócio (Fernandes, 2006, citado
por Gonsaga, 2009, p. 52).
Quando se fala de Educação do
Campo, fala-se de uma educação própria
do homem do campo, pensada pelo/com
homem do campo, intercaladas aos
movimentos sociais do campo que lutam
incansavelmente por uma educação de
qualidade neste local.
Daí a importância de se valorizar e
enaltecer o trabalho, a cultura, as relações
sociais, a convivência do homem do campo
no currículo educacional do campo, uma
vez que estes são princípios educativos. O
trabalho é parte do processo educativo na
vida de um sujeito do campo, porquanto,
deve ser entrelaçado no processo de
ensino-aprendizagem, para que o educando
se sinta integrado nesse processo, dando-
lhe autonomia dentro da sala de aula e no
seu convívio social.
Toda a desconstrução do espaço rural
colocando a cidade como o melhor lugar
para se viver faz com que o campo seja
esquecido pelos órgãos públicos. Não
atendimento de saúde, saneamento básico e
a educação, por sua vez, quando existe não
é de boa qualidade.
Arroyo e Fernandes (1999) alertam
que é preciso ter outro olhar sobre o
educando, é necessário que o educador
valorize o que este estudante traz de
importante, suas experiências, histórias e
lutas. Já Fernandes afirma que o campo é:
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... lugar de vida, onde as pessoas
podem morar. Trabalhar, estudar com
dignidade de quem tem o seu lugar, a
sua identidade cultural. O campo não
é o lugar da produção
agropecuária e agroindustrial, do
latifúndio e da grilagem de terras. O
campo é espaço e território dos
camponeses e dos quilombolas. É no
campo que estão às florestas, onde
vivem as diversas nações indígenas.
Por tudo isso, o campo é lugar de
vida e, sobretudo de educação.
(Fernandes, 2004, p. 137).
a necessidade de pensar
currículos das escolas rurais elaborados de
acordo com a realidade do aluno,
valorizando identidades e costumes
regionais. Considerando este aspecto, o
estudo buscou identificar e compreender as
dificuldades enfrentadas pelos educadores
e educandos que vivenciam a realidade das
classes multisseriadas nas escolas da área
rural do município de Arraias-TO. Para
tanto, foram entrevistados professores e
alunos.
Apesar das representações negativas
e dos estereótipos que têm recaído sobre as
escolas de turmas multisseriadas, seus
professores e seus alunos, outros olhares
parecem apontar para uma nova visão
sobre estas escolas, em que aquilo que até
então foi enxergado como um problema
pode agora ser entendido como solução e
elas passam a ser consideradas, inclusive,
como uma “escola portadora de futuro”
(Amiguinho, 2007).
Trabalhos produzidos recentemente,
a exemplo de Pinho (2004), Hage (2005),
Antunes-Rocha e Hage (2010), Moura e
Santos (2012), Souza (2014), Souza e
Santos (2014), Sousa (2015), têm
demonstrado que nas escolas de turmas
multisseriadas, apesar das condições
precárias, do escasso material, da formação
que poderíamos considerar insuficiente de
seus professores, “nascem pistas para se
pensar alternativas curriculares que
consideram a diferença como possibilidade
de aprendizagem” (Pinho, 2004, p. 3), pois,
em muitas delas acontece um trabalho de
qualidade, com aprendizagem significativa
por parte dos alunos.
Ao longo do estudo, verificou-se que
o município de Arraias não possui o que se
considera uma educação do campo, mas,
sim, uma educação rural. Para se
caracterizar uma educação do campo, deve
ser pensada e organizada pelos povos do
campo e atender aos anseios dos
camponeses.
Por enquanto, a educação rural se
configura uma educação na área rural, por
não ser próprio das comunidades rurais,
não ser pensada a partir delas, por elas, e
com elas, desconsidera o contexto e, assim,
transporta o modelo da cidade para o
campo. É uma educação que existe no
campo, mas é pensada por outros agentes,
no caso do município, organizada pela
Secretaria Municipal de Educação.
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A Educação no Campo na visão de
professores e alunos
Analisar, a partir das memórias
docentes, as práticas pedagógicas
empreendidas pelos professores de turmas
multisseriadas, com vistas a extrair
repertórios e táticas que demonstrem o
contexto da multissérie é o objetivo desta
seção do artigo.
Rememora-se que este artigo é um
exercício da disciplina História, Memória e
Educação realizada no segundo semestre
do ano de 2014. Simultaneamente, neste
mesmo período os campi da Universidade
Federal do Tocantins (UFT) em Arraias e
Tocantinópolis passaram a oferecer vagas
para cursos regulares de Licenciatura em
Educação do Campo. Dois projetos da
Universidade foram aprovados dentro de
um edital que contemplou 40 instituições
de ensino em todo o país - o Programa de
Apoio à Formação Superior em
Licenciatura em Educação do Campo
(Pronacampo), iniciativa do Ministério da
Educação (MEC), por intermédio da
Secretaria de Educação Superior (SESU),
Secretaria de Educação Profissional e
Tecnológica (SETEC) e da Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização,
Diversidade e Inclusão (SECADI).
(Carrara, 2012)
Segundo dados do Programa
Nacional de Educação na Reforma Agrária
PRONERA (Brasil, 2004), no que se
refere à educação entre os assentados, a
Região Norte tem 390.752 famílias
assentadas. Apresenta um índice médio de
pessoas não alfabetizadas de 14,74%;
44,89% têm nível de escolaridade de a
série e apenas 27,41% cursaram o nível
fundamental completo. 6,72% têm o ensino
médio incompleto; 4,99% completaram o
ensino médio e menos de 1% completou
algum curso de nível superior ou está
cursando (Brasil, 2004). Já a pesquisa
realizada pelo Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária INCRA
(PRONERA-TO) em 2010, nos projetos de
assentamentos, constatou-se que dos 100%
dos assentados/as, 44% tinham 18 anos,
sendo que destes 12,3% frequentavam a
escola, 87,7% estavam fora da escola e
21,18% tinham escolaridade do 5º até ao 9º
ano e apenas 7,6% concluíram o ensino
médio (Brasil, 2017). Nesse sentido, o
índice de escolaridade no Estado do
Tocantins é baixo, e as políticas públicas
educacionais têm ocorrido de forma
descontinuada e, muitas vezes, não
atendem a perspectiva dos jovens
camponeses, por não considerar o lugar, a
cultura e a forma de produção do campo
como elementos essenciais à educação.
Diante desta demanda, o Campus de
Arraias desenvolveu um Grupo de Estudos
e Pesquisas em Educação do Campo onde
se articulou ações de Ensino, Pesquisa e
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Extensão na área da Educação do Campo e
foi contemplado com o projeto intitulado:
“A Educação do Campo em foco: uma
análise interdisciplinar da realidade das
escolas rurais no Sudoeste do Tocantins”,
aprovado em 2010/ CAPES/MEC.
No período de 2011 a 2013, a
Universidade Federal do Tocantins, mais
especificamente, o Campus de Arraias,
apresentou o Projeto Político Pedagógico
para o Curso de Licenciatura em Educação
do Campo, que se destinou à formação
inicial de 120 (cento e vinte) discentes
oriundos da área rural, por ano, para
atuarem nas escolas do campo situadas em
contextos socioculturais diversificados.
Nesse projeto, as justificativas e as
diretrizes curriculares organizativas para o
desenvolvimento do Curso eram para o
atendimento das políticas públicas para a
Educação do Campo, bem como solucionar
as proposições dos Movimentos Sociais e
Sindicais, Fórum Estadual de Educação do
Campo e das secretarias estaduais e
municipais de educação.
A história oral, metodologia utilizada
nesta pesquisa, consiste em realizar
entrevistas gravadas com pessoas que
testemunham acontecimentos, conjunturas,
instituições, modos de vida ou outros
aspectos da história da educação. É uma
prática de apreensão de narrativas feitas
através do uso de meios eletrônicos e
destinadas a recolher testemunhos,
promover análises de processos cio-
educacionais do presente e facilitar o
conhecimento do meio imediato (Santos &
Azevedo, 2017).
Os depoimentos destacam a
diversidade de metodologia, o desempenho
profissional e o contexto escolar. Roteiro: -
Como se constituíram professores de
turmas multisseriadas? Que formação
possuem? Em que condições exercem a
docência? Que práticas empreendem?
Como organizam o espaço-tempo em sala
de aula num contexto pedagógico marcado
pela pluralidade? Como se relacionam com
alunos, pais, docentes, Secretaria
Municipal de Educação e comunidade?
Que modos de fazer caracterizam a
docência nestes espaços? Que lembranças
do fazer pedagógico lhe marcaram ao
longo desta trajetória?
A opção pela história oral
possibilitou conhecer os docentes e
discentes como sujeitos e como se veem
dentro dessa história. Tramas de
experiências e valores, de saberes, de
formas e de recursos que passamos a
relatar.
Compreendendo os desafios em
trabalhar com classes multisseriadas
Sobre a pergunta: como organizam o
espaço-tempo em sala de aula num
contexto pedagógico marcado pela
pluralidade? a professora Rocha destacou
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que necessidade de dedicação especial
para cada aluno, principalmente na fase de
alfabetização. O tempo para trabalhar com
várias séries reunidas é um dos desafios
mais difíceis de enfrentar, segundo os
professores entrevistados. O período é
considerado curto e o número de alunos,
em contrapartida, é grande. Veja o que
dizem os entrevistados:
O desafio é o tempo, porque você
tem que ter tempo para cada aluno, o
tempo eu acho meio que corrido, por
mais que seja pouco aluno. Mas você
tem que ter o tempo é a base, né?!
A alfabetização é a base porque tem
que ser trabalhado perfeito, é como
se você construísse uma casa né,
então a alfabetização pra mim é a
base, então assim o tempo é pouco,
eu acho pouco, não é como na cidade
os meninos aqui não tem uma creche
né, ... vão diretamente pra escola,
que, tudo que eu posso fazer né, é
sanar essa dificuldade, eu faço. Então
é assim o tempo que eu acho pouco,
para mim, eu tenho que ter tempo
para todos, então o tempo eu acho
pouco, porque quando to ensinando
no primeiro ano o segundo tia... o
terceiro tia... Então assim o tempo
pra mim eu acho pouco. (Rocha,
2014).
Como foi citado anteriormente, o
período de 2011 a 2013 foi de
reivindicações para a implantação da
Licenciatura em Educação do Campo em
Arraias. A maioria dos alunos do entorno
do Campus da UFT do referido município
faz o curso de Pedagogia ou Matemática.
Uma parte dos docentes
entrevistados terminou pouco tempo a
própria formação e o contato que teve com
sala de aula foi pequeno. Segundo Hage
(2010), o total desconhecimento do
contexto da multisseriação, a falta de
compreensão mais abrangente desse
processo, muitos professores e professoras
das escolas com turmas multisseriadas
organizam o seu trabalho pedagógico sob a
lógica da seriação, desenvolvendo suas
atividades educativas referenciados por
uma visão de “ajuntamento” de várias
séries, que os obriga a elaborar tantos
planos de ensino e estratégias de avaliação
diferenciadas quanto forem às séries com
as quais trabalham, envolvendo estudantes
da pré-escola e Ensino Fundamental
concomitantemente.
Olha, é um desafio muito grande
porque, eu particularmente que
recém-saído da faculdade e também
não imaginava que eu poderia
trabalhar com sala de aula, enfrentei
o seguinte: porque trabalhar com
multisseriada é muita turma junta ali,
é muito... os alunos que vivem a
realidade local ... eles são muito
deficientes, em questão
principalmente de leitura, de escrita,
quer dizer escrever e interpretar, ler,
escrever e tudo. Então o desafio é
você lidar no meu caso que trabalho
com quatro séries, lidar com quatro
séries ao mesmo tempo, porque é
complicado e ao mesmo tempo em
que você tem que cuidar do
comportamento do aluno você tem
que cuidar também do exercício que
você tem que passar pra ele, tem que
ter o cuidado até da linguagem que
você deve transmitir a eles, por que
de repente eles também não
raciocinam né, esses são os principais
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desafios pra trabalhar com escola
multisseriada que estou
encontrando”. (Santos, 2014).
Além disso, é preciso entender e
articular o ensino nas salas multisseriadas
e, segundo os relatos dos professores, não
houve nenhuma preparação prévia para
esta realidade.
É bem difícil, sabe por quê? Por que
assim como eu trabalhei com uma
turma só que não multisseriada, então
se torna bem mais fácil pra você
acompanhar aquele aluno que tem
dificuldade, entendeu? E na sala
multisseriada isso se torna bem
mais difícil porque até pro reforço é
difícil porque você tem alunos com
dificuldades quase todas as turmas,
entendeu? ...então você tem que dar
uma atenção bem maior pra aquele
aluno, e na sala mesmo assim no
normal de sala de aula você não tem
isso, por que toda hora um chama de
um lado outro chama, entendeu?
Então acaba tirando a concentração
daquele que esta com dificuldade,
então com isso tem que levar pro
reforço então pra hora do recreio
chama aquele aluno e senta pra tentar
sanar as dúvidas deles, entendeu? E
contar com o apoio da família que é o
que eu sempre corro atrás (Silveira,
2014).
Apesar das dificuldades, os docentes
enxergam aspectos positivos também, no
cotidiano das salas multisseriadas, que
serão apresentados a seguir.
Os aspectos positivos na multisseriação
A presença da escola na comunidade
rural é o principal motivo para os docentes
entrevistados considerarem positiva a
classe multisseriada. Eles destacaram ainda
o fato de que os alunos valorizam muito ter
um professor perto de casa, portanto, têm
prazer em ir à escola. Isso serve de
inspiração e incentivo para manutenção,
investimento e a valorização da escola do
campo e, principalmente, a valorização do
professor.
O bom ... é quando você trabalha...
por exemplo, ... com os alunos do
terceiro ano, o segundo ano uma série
adiantada o outro ta ali, então assim
às vezes quando você... ta lá na frente
ah eu vi isso no terceiro ano,
quando eu tava falando no terceiro
ano, falou sobre isso. Então isso é
bom acaba acompanhado algo da
outra turma também (Rocha, 2014).
O ensino multisseriado representa
um aliado da aprendizagem, no contexto
dialógico, pois valoriza a diversidade e a
heterogeneidade. Por outro lado,
grandes dificuldades para a contratação e
permanência de professores.
Olha o bom é porque as crianças vêm
mesmo assim com aquele
empolgamento de estudar, porque
aqui pra achar professor não é fácil,
inclusive aqui veio comigo a
segunda pessoa, a outra menina veio
não ficou, ficou três dias só. Então
assim, eles têm empolgamento de vir
porque tem um professor ele
valor, os alunos dão valor no
professor. (Santos, 2014)
De bom é por que é nosso meio por
isso, a gente gosta de fazer, trabalhar
com a turma, a gente trabalha de
pouquinho a pouquinho pra ver o
crescimento de cada aluno, isso dá
prazer (Silveira, 2014).
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Nota-se que os elementos
caracterizados como bons fundamentam-se
no prazer que os professores têm em
ensinar e, mais ainda, ver o aluno
aprendendo. Daí percebe-se que o ensino-
aprendizagem está acontecendo. O aluno
fica feliz por ter escola e o professor fica
feliz por desenvolver sua função de modo
que o aluno consegue aprender.
Como se constrói a organização e o
planejamento para as classes
multisseriadas
Os docentes seguem o planejamento
orientado elaborado juntamente com a
Secretaria Municipal de Educação de
Arraias (TO). A partir deste planejamento,
elaboram o plano diário de aulas. Todos os
professores seguem o planejamento
orientado, mas aqueles que estudaram em
uma classe multisseriada têm mais
facilidade para lidar com tal realidade.
Os planos de aula são feitos
diariamente por alguns professores, outros
preferem fazê-lo semanalmente. Para cada
série é feito um plano de aula. Nota-se pelo
que os professores disseram que isso torna
ainda mais difícil a prática docente, pois
tem que desenvolver vários planos em uma
única turma. É um professor sozinho para
orientar toda a turma.
Para desenvolver os conteúdos,
utilizam a seguinte metodologia: trabalha-
se com o ano, logo após com o 2º,
depois o 3º e assim sucessivamente.
Eu estipulo o tempo, quando eu estou
explicando para o primeiro ano, o
segundo respondendo a atividade
rodada, eu sento um pouquinho com
eles, explico, pego o trabalho e assim
sucessivamente, quando eu
termino do primeiro ano eu já vou
pro terceiro, dando um tempo pro
segundo. Dessa forma que é
trabalhado (Rocha, 2014).
Cada um é um, agora esse mês
passado que eu deixei o do primeiro
ano junto com o do segundo porque
tinha um menino e uma menina
assim quase igual do segundo, eu
peguei e deixei junto, fiz a
separação assim, fiz junto e coloquei
primeiro e segundo, na hora que
vou trabalhar lá aí faço a diferença, aí
divido no quadro igual divido uma
parte e já ponho primeiro, mas eu
ponho do quarto pra cima, mas é
divisão, aí os separo (Silveira, 2014).
Uma das docentes exemplifica como
separa os temas por disciplina:
Por exemplo, Língua portuguesa, um
dia eu trabalho com Língua
portuguesa, eu peço pra todos os
alunos, aí eles pegam... Normalmente
eu começo mesmo é com leitura,
eles fazem a leitura prévia, enquanto
o quinto ano fazendo a leitura eu
estou me direcionando para o terceiro
ano, depois que eu termino a
atividade do terceiro ano quando eles
estão copiando eu vou pro segundo
ano (Santos, 2014).
Outra professora afirma que, além de
ministrar as aulas, exerce outras funções
junto aos alunos. Torna-se mãe, psicóloga,
inclusive, merendeira, quando a
funcionária falta. São professores, mas
fazem praticamente todas as funções
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dentro da escola. O trabalho docente nas
escolas com turmas multisseriadas se
configura pela sobrecarga de atividades,
instabilidade no emprego e angústias
relacionadas à organização do trabalho
pedagógico. Nessas escolas, um único
professor atua em múltiplas séries
concomitantemente, reunindo estudantes
da pré-escola e dos anos iniciais do ensino
fundamental em uma mesma sala de aula;
sendo obrigado a assumir outras funções,
além da docência, ficando responsável pela
confecção e distribuição da merenda,
limpeza da escola, realização da matrícula
e demais atividades de secretaria e de
gestão (Hage, 2010).
Sobre a formação dos professores que
trabalham com classes multisseriadas
Um dos problemas relatados pelos
professores se refere à organização da aula
e à falta de formação específica para a
multisseriação. O que se percebe é que a
maioria dos professores não sabe como
deve ser ministrado o ensino nessas
classes. O possível fracasso é atribuído ao
modelo adotado, no entanto, se os
professores tivessem uma preparação
prévia adequada, poderiam contornar as
dificuldades, compreendendo aspectos e
desafios, para preparar atividades e um
planejamento enriquecedor para aplicar em
sala de aula.
A formação inicial do docente tem
um caráter mais geral e, ao longo da
atuação, os professores fazem cursos de
aperfeiçoamento da prática, sem foco
específico para trabalhar em uma escola de
classe multisseriada. Observa-se que a
implantação do modelo seriado dentro da
classe multisseriada e pelo que se percebe
isto compromete o processo de ensino-
aprendizagem. Tanto o professor tem
dificuldade em ensinar quanto o aluno tem
em aprender.
Se os professores não possuem essa
capacitação, como que eles aprenderam a
trabalhar com esse modelo de ensino? A
partir deste questionamento os professores
dão detalhes que permitem compreender
como aprenderam a ensinar em uma classe
multisseriada.
Olha, eu acho que já veio desde o
tempo de estudo por que eu saí de
uma sala multisseriada né, eu estudei
nesta mesma sala, então assim isso
vem desde ... do tempo de estudo.
Mas formação mesmo voltada pra
multisseriação na formação
continuada e planejamento (Rocha,
2014).
O fato de ter estudado em uma classe
multisseriada contribui para a atuação do
professor porque se trata de uma realidade
já experienciada.
Bom, eu já estudei em classe
multisseriada quando eu morava na
Lagoa da Pedra, eu estudei assim,
questão de vivência, então eu aprendi
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dessa forma, não que tenha
específico uma formação pra
trabalhar né, numa classe
multisseriada (Santos, 2014).
Eu dou conta pelo menos um pouco
pelo fato de ter estudado numa classe
multisseriada, mas formação
especifica para multisseriada nunca
tive (Silveira, 2014).
O número de Licenciaturas em
Educação no Campo cresceu
consideravelmente na última década e hoje
passa de quatro dezenas. Instituições pelo
país acreditam na proposta e participam
desse processo de implantação; entre elas
podemos citar a Universidade Federal do
Tocantins, que oferta a Licenciatura em
dois de seus campi: Arraias e
Tocantinópolis. Os cursos desses campi
foram criados a partir da iniciativa de um
coletivo de educadores que, em resposta ao
Edital Chamada Pública 2, da SECADI,
de 3 de agosto de 2012, propuseram-se a
formular os Projetos Político-Pedagógicos
(PPP) do Curso (Brasil, 2014).
A presença da comunidade e sua
identificação com a UFT foi um fator
essencial na construção da proposta
educacional que valorize o seu território e
os saberes do seu povo. Neste sentido, foi
preciso ampliar e fortalecer ainda mais esta
articulação, esta proximidade e este
diálogo entre UFT-comunidade, professor-
aluno-pais-comunidade, não nos
momentos de integração e de festividades,
mas também no planejamento das
atividades e nas tomadas de decisões
presentes no Projeto Político-Pedagógico
do curso.
É necessário construir uma visão
positiva do campo, pensar em uma
formação inicial e continuada que reverta a
visão negativa que se tem do campo,
destaca Arroyo (2007), e complementa
afirmando a necessidade de implantação de
políticas de formação sintonizadas com a
dinâmica social do campo, onde está
implícita a afirmação de direitos à terra, à
cultura e identidade e à educação.
Classes multisseriadas na visão dos
estudantes
A multissérie pode ser compreendida
como uma organização que possibilita o
desenvolvimento de um processo
educativo diferente, em que os alunos de
faixas etárias e experiências diversas
podem participar e criar formas coletivas
de organização do conhecimento até com
maior maturidade quando comparadas à
metodologia seriada. Isto é, por se
caracterizarem pela diversidade e por
serem heterogêneas, as classes
multisseriadas permitem usar esse aspecto
de modo positivo, buscando, na interação e
na construção de relações das diferenças, a
possibilidade de uma cooperação dentro do
espaço escolar, com aprendizagens
significativas. Para tanto, o professor
precisa organizar-se de maneira a não
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centralizar a aprendizagem em si e
acreditar que a troca entre os alunos
também favorece a aprendizagem.
Morin (2001) explica que a
complexidade está presente em cada ser e
em sua interação social e reafirma que, por
mais que se busque a homogeneidade por
níveis de aprendizagem, a diversidade
estará presente. Nesse sentido, a troca de
experiências e a valorização do sujeito e de
sua cultura são desconsideradas no
processo pedagógico, uma vez que a
separação em classes homogêneas vem
reforçar os privilégios daqueles que têm
melhores condições. Mesmo assim, por
mais que se busque a homogeneidade, em
sua essência, isso não é possível.
No entanto, além dos docentes, é
preciso analisar também o contexto da
educação na perspectiva do estudante.
Alunos relataram suas dificuldades em
sala, o que é confirmado no relato dos
professores.
Às vezes eu preciso da ajuda da
professora e ela tá ocupada ensinando
meus outros colegas de outra série,
eu deixo pra mesmo, é muito ruim
(Andrade, 2014).
O aluno não percebe que até mesmo
no ensino seriado a professora não tem
tempo para atender a todos os alunos
individualmente. Não sendo apenas uma
exceção do ensino multisseriado. O
comportamento dos alunos é afetado.
Enquanto a professora ensina um aluno, o
outro fica disperso.
Assim, eu estudo no primeiro ano e
quando às vezes a professora
ensinando o segundo ano eu não
consigo prestar atenção nas minhas
tarefas porque fico escutando a
professora ensinando meus outros
colegas, todo mundo junto (Souza,
2014).
O ‘todo mundo junto’ nem sempre
agrada. Os alunos buscam um atendimento
especial nem sempre possibilitado por este
tipo de ensino-aprendizagem, pois Não, é
muita série junta, às vezes não entendo as
tarefas(Andrade, 2014).
Na perspectiva de Hage (2005), a
multissérie oportuniza o apoio mútuo e a
aprendizagem compartilhada, a partir da
convivência mais próxima estabelecida
entre estudantes de várias séries na mesma
sala de aula, o que em determinados
aspectos é considerado salutar. Outro aluno
faz uma ressalva, dizendo que gosta “mais
ou menos, eu gosto mais é porque estudo
na roça, perto do meu pai e minha e”
(Souza, 2014).
Eles também idealizam a escola que
gostariam que fosse implantada no campo.
“Que fosse igual da cidade, grandona, e
cada um na sua sala, né”? (Andrade, 2014).
O depoimento é confirmado por outro
estudante, ao dizer como gostaria que fosse
a sua escola: “igual daqui de Arraias para
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ter mais espaço pra gente brincar” (Souza,
2014).
O desejo é ter espaço próprio e
separado nas salas de aula. E a falta desta
estrutura adequada acaba contribuindo para
a evasão escolar.
Considerações finais
A educação ultrapassa as barreiras da
sala de aula e o mundo interior da criança
porque abrange as relações sociais, o
convívio, a interação e o mundo. E todo
esse aparato deve ser contemplado no
processo ensino-aprendizagem
favorecendo a discussão da temática
proposta neste estudo: uma educação de
qualidade.
Nas palavras de Barros et al. (2010):
Essa situação advém de uma
compreensão universalizante de
currículo, orientada por uma
perspectiva homogeneizadora, que
sobrevaloriza uma concepção
mercadológica e urbanocêntrica de
vida e de desenvolvimento e que
desvaloriza os saberes, os modos de
vida, os valores e concepções das
populações que vivem e são do
campo, diminuindo sua autoestima e
descaracterizando suas identidades.
(Barros et al., 2010, p. 28).
A implantação de políticas públicas, a
construção de uma nova proposta
pedagógica, a elaboração de um currículo
que contemple as relações sociais dos
sujeitos do campo nas palavras de Moraes
et al. (2010):
... implica ouvir os sujeitos do campo
e aprender com suas experiências de
vida, trabalho, de convivência e de
educação; oportunizá-los o acesso à
informação, à ciência e às tecnologia,
sem hierarquizar os conhecimentos,
valores, ritmos de aprendizagem.
Implica também realizar uma escuta
sensível ao que os professores e
estudantes vêm realizando no
cotidiano da escola... Enfim, repensar
as práticas e formular novas
propostas sintonizadas com a
realidade dos sujeitos do campo, ou
seja, do lugar dos sujeitos do campo,
sem apartá-los do mundo global, do
contexto urbano, com os quais o
território do campo interage
continuamente, constituindo-se em
sua identidade/subjetividade, a partir
dessa interação (Moraes et al., 2010,
p. 407).
Para conhecer as necessidades das
comunidades que vivem no campo, é
necessário dar-lhes voz, inserir-se no seu
meio. Não basta somente criar escolas no
campo e ter professores nessas escolas. É
preciso mais: que professores e alunos
carecem de condições estruturais
adequadas para estudar e se manter no
campo, em seu lugar de sobrevivência.
Uma escola rural, parafraseando
Marinho (2008, p. 64), “... sem estrutura,
como garantias de estabilidade, prédio
próprio, residência para os professores,
campo de ensaios e de experimentação e
com docentes inexperientes, não pode
oferecer esperança de transformação do
indivíduo ....
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A Educação do Campo está longe de
se tornar prioridade nas agendas públicas,
principalmente, no que diz respeito às
políticas de desenvolvimento rural
sustentável. A cada dia, novos agentes
surgem engajados nessa luta. Percebe-se,
então, que o campo já não está mais
sozinho, que possui voz ativa mediada pelo
ingresso de novos sujeitos que perceberam
a necessidade de fortalecer o discurso e as
ações em favor dos povos do campo.
Nesta luta conhecer o campo é
indispensável para a transformação do
mesmo, inserir-se no contexto, na vida do
camponês, conhecer a escola, o aluno, o
professor e toda a realidade faz-se refletir
sobre a dignidade humana, sobre a
importância da educação na vida de um
sujeito. É necessário perceber o valor que
estes possuem, que merecem atenção,
benefícios, que favoreça uma vida melhor,
respeito, valorização. E muito mais que
isso, o compromisso dos órgãos
responsáveis pelo desenvolvimento e
crescimento de fazer valer todos esses
direitos.
É visto que os professores do meio
rural no município de Arraias são
comprometidos com a educação. Não se
pode falar que estão nestas escolas por
causa do salário que recebem. a
necessidade de uma maior valorização
financeira, sendo necessário um esforço
maior para a permanência desses
professores no meio rural com um salário
mais digno.
Percebeu-se ainda a carência dos
povos do campo em atendimento e em
informação. Falta dignidade a esses povos,
falta lazer, comodidade, respeito. Uma
educação de qualidade é uma realidade
para um futuro muito distante, falta muito.
O meio rural no município está realmente
esquecido. O “sertanejo” arraiano,
expressão utilizada pela população local,
referindo-se ao homem que vive no sertão
(campo), necessita urgentemente de
atendimento em todos os aspectos no que
diz respeito à condição de vida humana.
Conscientes da realidade do sistema
educacional brasileiro, embora o modelo
de multissérie permaneça sendo alvo de
debates e muitas divergências,
especialmente quanto a sua eficiência no
processo de ensino-aprendizagem e em
função das especificidades e dificuldades
que o envolvem é preciso considerar que,
as escolas multisseriadas ainda encontram-
se presentes em todas as regiões do Brasil
e revelam-se como protagonistas na
garantia do direito ao acesso à Educação
para grande parte das crianças e
trabalhadores do campo e, portanto, é
preciso tratá-las como aliadas e estimular o
desenvolvimento de estudos e de pesquisas
que colaborem para a oferta de uma
educação de qualidade.
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Utilizar as entrevistas como
instrumento de pesquisa permitiu-nos
extrair uma importante quantidade de
dados e informações que deram maiores
subsídios à pesquisa. Foi possível perceber
mais claramente como os professores e
alunos enxergam a realidade em que estão
inseridos e identificar, por conseguinte, os
desafios urgentes que precisam ser
alcançados para garantir educação
integradora e de qualidade para centenas
de estudantes que vivem distantes das
zonas urbanas no Tocantins, e no Brasil.
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Silveira, A. G. (2014) Entrevista
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Recebido em: 30/06/2017
Aprovado em: 30/07/2017
Publicado em: 03/05/2018
Como citar este artigo / How to cite this article /
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APA:
Santos, J. S., & Franco, S. C (2018). As
multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias.
Rev. Bras. Educ. Camp., 3(1), 223-244.
ABNT:
SANTOS, J. S.; FRANCO, S. C.; As multisséries
no Campo de Arraias-TO: memórias. Rev. Bras.
Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 3, n. 1, p. 223-
244, 2018.
ORCID
Jocyléia Santana dos Santos
http://orcid.org/0000-0003-2335-121X
Samara Caldas Franco
http://orcid.org/0000-0003-0268-2589
Declaramos para os devidos fins que Samara
Caldas Franco confeccionou o artigo na disciplina
História, Memória e Educação. A professora
Jocyléia Santana dos Santos foi responsável pela
análise e interpretação dos dados e revisão do
conteúdo para versão final a ser publicada.