Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
ARTIGO/ARTICLE/ARTÍCULO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p596
Tocantinópolis
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Oficina de tinta de terra: contextualizando pigmentos na
disciplina de História da Química na LEdoC/UFMA
i
Meubles Borges Junior
1
, Matheus Casimiro Soares Ferreira
2
, Carolina Pereira Aranha
3
1
Universidade Federal do Maranhão - UFMA. Coordenação da Licenciatura em Educação do Campo. Avenida João Alberto s/n,
Bambu, Campus III. Bacabal - MA. Brasil.
2
Universidade Federal do Maranhão - UFMA.
3
Universidade Federal do Maranhão
UFMA.
Autor para correspondência/Author for correspondence: meublesbjr@gmail.com
RESUMO. Além de ser uma técnica ambientalmente saudável e
de baixo custo, a produção de tinta de terra pode ser facilitadora
no processo de ensino-aprendizagem em ciências. Este trabalho
apresenta um relato vivenciado na disciplina História da
Química, em um curso de Licenciatura em Educação do Campo
da Universidade Federal do Maranhão (UFMA-Bacabal), na
qual a temática central “a química dos pigmentos” foi trabalhada
de forma contextualizada. A contextualização do conteúdo se
deu perpassando as três categorias do processo de
contextualização (exemplificação pontual e caráter
motivacional; estratégia de ensino-aprendizado; formação de
cidadão crítico na tomada de decisões), culminando com o
desenvolvimento de uma consciência crítico-reflexiva na
perspectiva CTSA. Como procedimentos metodológicos
utilizou-se: aula expositiva; leitura e interpretação de artigos
científicos; debates; oficina de Tinta de Terra; pintura e
exposição dos artefatos cerâmicos; e avaliação. Neste contexto a
oficina de tinta de terra ganha destaque, pois trouxe contextos
científicos, tecnológicos e sociais, o que contribuiu para a
valorização e o resgate de fatos e experiências do cotidiano, ao
discutir e vivenciar o significado de sustentabilidade, com
tecnologia ambientalmente saudável e técnica de baixo custo,
portanto, ampliando o potencial do processo de ensino-
aprendizagem.
Palavras chave: Ensino de Ciências, História da Química,
Sustentabilidade, Ensino Contextualizado, Educação do Campo.
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Workshop of Land Ink: contextualizing pigments in the
discipline of History of Chemistry in LEdoC/UFMA
ABSTRACT. In addition to being an environmentally healthy
and inexpensive technique, the production of land ink can be a
facilitator in the teaching-learning process in science. This work
presents an experience in the History of Chemistry, in a course
in Licentiate in Rural Education, Federal University of
Maranhão (UFMA-Bacabal), in which the central theme "the
chemistry of pigments" was worked in a contextualized way.
The contextualization of the content was carried out through the
three categories of the contextualization process (punctual
exemplification and motivational character, teaching-learning
strategy, formation of critical citizen in decision-making),
culminating in the development of a critical-reflective
consciousness in the CTSA perspective. As methodological
procedures were used: expository class; reading and
interpretation of scientific articles; debates; land ink office;
painting and exposition of ceramic artifacts; and evaluation. In
this context, the land ink workshop gains featured because it
brought scientific, technological and social contexts,
contributing to the valorization and recovery of facts and
experiences of everyday life, discussing and experiencing the
meaning of sustainability, with technology and technique
environmentally healthy and low thus increasing the potential of
the teaching-learning process.
Keywords: Science Teaching, History of Chemistry,
Sustainability, Contextualized Teaching, Education of
Countryside.
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Taller de tinta de tierra: contextualizando pigmentos en la
disciplina de Historia de la Química en la LEdoC/UFMA
RESUMEN. Además de ser una técnica ambientalmente sana y
de bajo costo, la producción de tinta de tierra puede ser
facilitadora en el proceso de enseñanza-aprendizaje en ciencias.
Este trabajo presenta un relato vivenciado en la disciplina
Historia de la Química, en un curso de Licenciatura en
Educación del Campo de la Universidad Federal de Maranhão
(UFMA-Bacabal), en la cual la temática central "la química de
los pigmentos" fue trabajada de forma contextualizada. La
contextualización del contenido se dio traspasando las tres
categorías del proceso de contextualización (ejemplificación
puntual y carácter motivacional, estrategia de enseñanza-
aprendizaje, formación de ciudadano crítico en la toma de
decisiones), culminando con el desarrollo de una conciencia
crítico-reflexiva en la perspectiva CTSA. Como procedimientos
metodológicos se utilizó: clase expositiva; lectura e
interpretación de artículos científicos; debates; taller de pintura
de tierra; pintura y exposición de los artefactos cerámicos; y
evaluación. En este contexto el taller de pintura de tierra gana
destaque pues trajo contextos científicos, tecnológicos y
sociales, contribuyendo a la valorización y el rescate de hechos
y experiencias de lo cotidiano, discutiendo y vivenciando el
significado de sustentabilidad, con tecnología ambientalmente
saludable y técnica de bajo costo, ampliando el potencial del
proceso de enseñanza-aprendizaje.
Palabras clave: Enseñanza de Ciencias, Historia de La
Química, Sostenibilidad, Sostenibilidad, Enseñanza
Contextualizada, Educación del Campo.
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Introdução
As Licenciaturas em Educação do
Campo devem possibilitar novas
estratégias de seleção de conteúdos,
aproximando-os tanto quanto possível da
realidade. Segundo Molina (2014, p. 17) o
conhecimento científico deve ser colocado
“a serviço da vida, da transformação das
condições de profunda desigualdade e
injustiça vigente no campo brasileiro”. Por
se tratar de um Curso de Licenciatura em
Educação do Campo, é necessário ter em
mente que:
... a Educação do Campo faz o
diálogo com a teoria pedagógica
desde a realidade particular dos
camponeses, mas preocupada com
a educação do conjunto da
população trabalhadora do campo,
e, mais amplamente, com a
formação humana. E, sobretudo,
trata de construir uma educação
do povo do campo e não apenas
com ele, nem muito menos para
ele. (Caldart, 2004, p. 18).
Deve-se interrogar, portanto, como a
disciplina História da Química, na
LEdoC/UFMA pode contribuir nesse
processo. Partindo-se da temática dos
pigmentos na história da química, surgiu a
ideia da realização de uma oficina de tinta
de terra, vinculando a história da química
dos pigmentos às questões de ciência,
tecnologia, sociedade, ambiente e saúde,
como forma de se trabalhar a prática
pedagógica no processo de ensino-
aprendizagem, ao viabilizar a
contextualização do ensino na Licenciatura
em Educação do Campo.
Um dos grandes desafios do ensino
de química é estabelecer uma relação entre
o que se ensina e o cotidiano dos alunos,
uma vez que os conceitos que eles trazem
para a sala de aula advêm principalmente
da leitura e da vivência de mundo. A
ausência deste vínculo pode gerar apatia e
distanciamento entre alunos e professores.
Segundo Santos e Schnetzler (1997),
a inter-relação do conhecimento químico
com o contexto social deve permear o
ensino de química. Liso, Guadix e Torres
(2002) destacam que poucos trabalhos
estudam as relações entre os
conhecimentos científicos e os aspectos da
vida de um cidadão. Tal necessidade surgiu
em um contexto pedagógico baseado na
transmissão de resultados, conceitos e
conteúdos pouco contextualizados e
voltado para a formação de cientistas
(Fourez, 1997). E uma das formas de
romper com essa prática pedagógica é
trabalhar conteúdos de forma
contextualizada e funcional.
Pereira e Kiil (2015) demonstram
que, de maneira geral, os documentos
oficiais e a literatura da área (Lopes, 2002;
Santos, 2007; Wartha; Silva & Berjano,
2013) apontam que o ensino deve ser
planejado e executado de forma
contextualizado. No entanto, na maioria
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das vezes, o ensino de ciências é
trabalhado de forma dogmática e
descontextualizado, fazendo com que o
processo de ensino-aprendizagem não
contribua para a formação de cidadãos com
capacidade de tomada de decisões (Santos,
2007). Nessa perspectiva, Wartha, Silva e
Berjano (2013) consideram que é visível a
intencionalidade da construção e da
interação de um contexto de estudo que
ultrapasse o universo conceitual, ou seja,
que trate também de possíveis implicações
políticas, econômicas, sociais e ambientais.
Este artigo se destaca por apresentar
uma proposta para facilitar o processo de
ensino-aprendizagem em ciências, ao
abordar a contextualização, de acordo com
Kato e Kawasaki (2011); Favila e Adaime
(2013); Silva e Marcondes (2010); Wartha,
Silva e Berjano (2013); Santos (2007);
Silva (2007), em seus três aspectos:
exemplificação pontual de fatos do
cotidiano e de caráter motivacional;
estratégia de ensino-aprendizado do estudo
científico de situações, fatos ou
fenômenos; e estudo de questões sociais
para formação de cidadão crítico na
tomada de decisões.
Neste sentido, este trabalho objetivou
compreender e vivenciar o processo de
ensino-aprendizagem na disciplina de
História da Química com a temática dos
pigmentos por meio de uma oficina de
produção de tinta de terra e pintura de
artefatos de cerâmica, no curso de
Licenciatura em Educação do Campo com
habilitação em Ciências da
Natureza/Matemática da Universidade
Federal do Maranhão (UFMA-Bacabal).
As técnicas de produção de
pigmentos remontam desde os homens
primitivos, destinando-se para fins
estéticos e ritualísticos. No início
envolviam o uso de minerais de diferentes
cores como o carvão e a argila. Esses
minerais depois de moídos eram dispersos
em cola (gema ou clara de ovo, goma-
arábica, cal virgem, entre outros). Apesar
da técnica simples ser utilizada na
obtenção dos pigmentos, desenhos em
cavernas resistem à ação do tempo mais
de 15.000 anos. Carvalho et al. (2009, p. 3)
destacam que na evolução da humanidade:
Os nossos ancestrais perceberam que
certos produtos, por exemplo, o
sangue, uma vez espalhados nas
rochas deixavam marcas que não
desapareciam. Estes materiais
começaram a ser utilizados para
transmitir informações. Com a
necessidade de aumentar a
durabilidade das pinturas e
diversificar as cores, as chamadas
pinturas rupestres passaram a utilizar
óxidos naturais, abundantes como os
ocres e os vermelhos.
Atualmente, as tintas são compostas
basicamente por quatro elementos:
pigmentos, resinas, solventes e aditivos. As
tintas à base de solvente podem conter
chumbo em sua composição, advindas dos
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pigmentos e aditivos, o que representa um
risco de contaminação a seres humanos e
ao meio ambiente. A deterioração da tinta
com o tempo ocasiona a sua dispersão no
meio ambiente, o que pode causar a
contaminação do solo e a poeira doméstica.
Assim, o chumbo pode ser assimilado por
inalação ou ingestão, especialmente por
crianças.
Durante a oficina procurou-se
discutir e vivenciar o significado de
sustentabilidade com técnica
ambientalmente sustentável e de baixo
custo e tecnologia ambientalmente
saudável; o processo de ensino-
aprendizagem na perspectiva CTSA
(Ciência, Tecnologia, Sociedade e
Ambiente) como forma de
contextualização capaz de gerar a
construção de uma capacidade de tomada
de decisões na sociedade; o processo
alquímico da produção de tinta de terra e a
capacidade de criação humana por meio da
arte na pintura de artefatos de cerâmica
como fator motivador e de interiorização
do conhecimento.
Metodologia
Durante a disciplina de História da
Química oferecida a 48 alunos do quarto
período do curso de Licenciatura em
Educação do Campo com habilitação em
Ciências da Natureza/Matemática (UFMA-
Bacabal), no ano de 2016, essa temática foi
trabalhada de forma contextualizada ao
englobar: contaminação por chumbo;
educação em saúde; educação ambiental;
tecnologias ambientalmente saudáveis e de
baixo custo, sustentabilidade, e produção
de tinta na pré-história. Para tanto,
utilizou-se como procedimentos
metodológicos aulas expositivas com a
utilização de quadro, pincel, data show e
computador; leitura e interpretação de
artigos científicos; debates; realização de
uma oficina de produção da tinta de terra; e
pintura e exposição dos artefatos
cerâmicos, finalizando o processo com a
avaliação da oficina.
A contextualização da temática
química dos pigmentos se deu por meio da
produção da tinta de terra e dos debates
sobre contaminação por chumbo, educação
em saúde, educação ambiental e
sustentabilidade perpassando pelas três
categorias do processo de contextualização
(Kato & Kawasaki, 2011; Favila &
Adaime, 2013; Silva & Marcondes, 2010;
Wartha; Silva & Berjano, 2013; Santos,
2007; Silva, 2007): Categoria 1-
exemplificação pontual de fatos do
cotidiano e de caráter motivacional;
Categoria 2- estratégia de ensino-
aprendizado do estudo científico de
situações, fatos ou fenômenos; e Categoria
3- estudo de questões sociais para
formação de cidadão crítico na tomada de
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decisões (Silva, 2007; Favila & Adaime,
2013). Essas três formas de
contextualização assumem funções e
direcionamentos diferenciados em relação
ao tipo de pessoa que se deseja formar.
Durante a realização da oficina os
materiais necessários à produção da tinta
de terra foram exibidos e realizou-se a
demonstração da forma de preparo dela. O
procedimento adotado para a produção da
tinta de terra foi baseado em Carvalho et
al. (2009), segundo o qual o material
necessário para a produção de 18 litros de
tinta de terra consiste em: colher de pau;
latas ou baldes de aproximadamente 8
litros; peneiras; balança de 10 kg; canecas;
pinceis (fino, médio e grosso); rolos de
ou de espuma; liquidificador industrial;
terra, água e cola branca; enxadas ou
enxadão; cavadeira; pá; sacos ou latas para
coletar a terra; latas ou baldes de 18 litros;
vasilhas com medidas em litros; saco
branco alvejado; 8 (oito) kg ou 2 (dois)
galões de terra; 4 (quatro) kg de cola
branca; 8 litros de água.
De posse do material necessário e da
realizada discussão teórica, passou-se
para a parte prática que se consistiu na
produção da tinta de terra (Figuras 1 e 2) e
pintura e exposição dos artefatos
cerâmicos. Após a produção da tinta de
terra e a distribuição da mesma para todos
os participantes, foi disponibilizada uma
telha e pincéis para que eles pudessem
expressar sua criatividade por meio da
pintura, ao relembrar nossos ancestrais
quando iniciaram as pinturas nas cavernas.
Figura 1 Montagem do liquidificador para o início do preparo da Tinta de Terra.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2016.
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Figura 2 Adicionando água para a o preparo e homogeneização da Tinta de Terra.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2016.
O processo de avaliação da oficina
deu-se em duas etapas. Na primeira etapa
foram distribuídos questionários com cinco
questões abertas e fechadas para avaliar o
interesse e a opinião dos alunos quanto à
atividade desenvolvida, assim como a
oficina em si (a técnica), considerando os
aspectos tecnológicos, ou seja, se além de
ser uma tecnologia ambientalmente
saudável e de baixo custo a mesma pode
ser facilmente utilizada num processo de
ensino-aprendizagem não formal em
educação ambiental, independente de
escolaridade. No segundo momento
estabeleceu-se uma roda de diálogo para se
obter informações da contribuição da
oficina no processo de ensino-
aprendizagem, sistematizadas na discussão
como complemento dos dados qualitativos
do questionário.
O questionário foi organizado com
questões abertas e fechadas, pois segundo
Gil (2008), nas questões abertas são
solicitados aos indivíduos respondentes as
suas próprias opiniões e respostas, ao
mesmo tempo em que possibilita maior
liberdade de resposta. Também conhecidas
como não limitadas ou livres, as perguntas
do tipo abertas garantem mais liberdade de
respostas, ao utilizar as linguagens próprias
dos respondentes, além de possibilitarem
investigações mais precisas e abertas
(Marconi & Lakatos, 2003). Além disso, as
perguntas fechadas deste questionário
permitiram explorar os dados de forma
quantitativa.
Com a obtenção dos dados, foi
desenvolvida uma abordagem que envolve
os métodos de procedimento: descritivos
por meio de registros fotográficos e
observação participante ocorridos durante
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a execução da oficina; quantitativos por
meio da tabulação e obtenção da razão
centesimal da aprovação ou não da prática
pedagógica utilizada por meio da oficina
de Tinta de Terra, em Excel; e qualitativos
por meio da digitalização em Word da
interpretação das justificativas das
perguntas do questionário e da roda de
diálogo.
Resultados e Discussão
Inicialmente destaca-se que apenas
aproximadamente 8% (4 alunos) dos
alunos conheciam a técnica de produção de
tinta de terra utilizada em suas
comunidades. Esses alunos contribuíram
com seus depoimentos sobre as vantagens
e benefícios dessa técnica, com relação à
sustentabilidade social, econômica e
ambiental, o que favoreceu e auxiliou no
aprofundamento das discussões sobre
tecnologias de baixo custo e
ambientalmente saudáveis. A esse respeito,
isto é, a aproximação entre o mundo vivido
pelos sujeitos sociais e o mundo da escola,
Freire (2002) sinaliza que é necessário ao
educador conhecer as visões de mundo dos
alunos e enfrentá-las em sua totalidade,
para assim construir uma mudança de
atitude neles. Freire (2007) destaca a
relevância de se transcender a consciência
ingênua, ou seja, um profissional crítico
reconhece que a realidade é mutável, pois é
indagador, investigador e, acima de tudo,
acredita no diálogo e alimenta-se dele.
Portanto, reconhecer e conhecer os sujeitos
para o qual o ensino é pensado torna-se de
extrema importância quando defendemos
uma perspectiva educacional na qual o
professor é comprometido com as
transformações sociais.
Salienta-se o desconhecimento de
todos os participantes sobre o perigo da
contaminação por chumbo com as tintas
industrializadas. Essa informação obtida
nas discussões teóricas deixa claro a
importância de se conhecer os sujeitos para
o qual o ensino é pensado. Dessa forma, a
implementação do ensino crítico e
reflexivo, considerando a contextualização
como forma de abordagem metodológica
no processo de ensino-aprendizagem,
contribui para a valorização dos fatos e
experiências do cotidiano dos alunos.
No que se refere à primeira pergunta
“Você pintaria sua casa com tinta de terra?
Justifique”, 100% aprovaram a tecnologia,
ou seja, a tinta de terra (o produto) com
todas as implicações (culturais,
econômicas e ambientais), considerando na
justificativa que essa tecnologia, além de
viabilizar a pintura de suas residências,
diminui consideravelmente os gastos
financeiros se comparado à utilização da
tinta industrializada. Ao considerar a
utilização da cola feita a partir do polvilho
de mandioca nas comunidades rurais, estas
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comunidades garantem a sustentabilidade
econômica, uma vez que teriam 100% do
material necessário para a produção da
tinta, disponível em suas propriedades.
Além da redução dos gastos
financeiros, os alunos destacaram que esta
tecnologia elimina os impactos à saúde
humana e minimiza os impactos ao meio
ambiente, ao considerar que nenhum dos
ingredientes necessários apresenta
toxicidade e, que por menor que sejam,
toda atividade humana causa impacto ao
meio ambiente. Portanto, considera-se que
os alunos conseguiram compreender a
visão de Pisani (2005), um dos autores
utilizados para trabalhar o tema das
tecnologias de baixo impacto ambiental, no
qual afirma que esse tipo de tecnologia
desempenha função importante para o
desenvolvimento sustentável, sendo
indiscutível a busca por tecnologias
sustentáveis, para que haja diminuição dos
impactos negativos gerados pelas
atividades humanas ao meio ambiente.
Destaca-se, com relação à saúde
humana e ambiental, que os alunos em sua
totalidade (100%), justificaram que o
material utilizado para a tinta de terra (terra
e água) é encontrado facilmente em suas
comunidades, pois são retirados da própria
natureza, isentos de materiais tóxicos e que
podem ser descartados de volta no
ambiente, ao se reintegrarem nele. Tendo
em vista que a água e os solos nas
comunidades rurais do Maranhão,
destinados à agricultura familiar, assim
como a cola branca utilizada não possuem
o potencial de contaminação por chumbo
como as tintas imobiliárias e de uso infantil
e escolar, vernizes e materiais similares
(Brasil, 2015; Bentlin, Pozebon & Depoi,
2009; Pimenta & Vital, 1994), a Tinta de
Terra produzida garantiria um ambiente
saudável, livre do principal contaminante
das tintas: o chumbo.
Mesmo após o Brasil ter fixado o
limite máximo de 0,06% de chumbo na
fabricação de tintas imobiliárias e de uso
infantil e escolar, vernizes e materiais
similares, através da lei 11.762, de de
agosto de 2008 (Brasil, 2008) a diminuição
da utilização de tintas que contenham
chumbo é necessária, pois segundo Brasil
(2015, p. 5) “não existe um nível
conhecido de exposição ao chumbo que
seja considerado seguro”. Destaca-se ainda
que:
Envenenamento por chumbo na
infância pode ter impactos na saúde
ao longo da vida, incluindo:
dificuldades de aprendizagem,
anemia e distúrbios em habilidades
de coordenação, visual, espacial e de
idioma. Assim, foi estabelecida a
Aliança Global para a Eliminação da
Tinta com Chumbo (GAELP), uma
iniciativa da Organização Mundial da
Saúde (OMS) e do Programa das
Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA), cujo objetivo é
evitar a exposição de crianças a tintas
contendo chumbo e minimizar a
exposição de pintores e outros
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usuários a este produto (Brasil, 2015,
p. 5).
Dessa forma, a produção e utilização
da tinta de terra torna-se uma alternativa
econômica e ambientalmente viável, pois a
mesma utiliza em sua produção materiais
ecologicamente corretos, de fácil acesso e
de baixo custo, ao assumir um importante
papel no desenvolvimento sustentável, na
divulgação de tecnologias de baixo custo e
ambientalmente saudáveis. Além disso,
contribui com a melhoria da qualidade de
vida, no que se refere ao aspecto da saúde,
por não utilizar em sua composição metais
pesados ou quaisquer outros elementos
tóxicos. Nesse sentido, Jabbour (2010, p.
592) destaca que a disseminação de
tecnologias como essa desempenha papel
fundamental, ao afirmar que “atribuem
grande relevância às necessidades de
transformações tecnológicas, que
condicionariam, por conseguinte, as
melhorias nas atuais condições
ambientais”. Ao considerar a Tinta de
Terra como uma das inovações
tecnológicas ambientalmente saudáveis”,
termo adotado por Barbieri (1997),
observamos que essa tecnologia atende aos
critérios da Agenda 21, quando diz que:
As tecnologias ambientalmente
saudáveis protegem o meio ambiente,
são menos poluentes, usam todos os
recursos de forma mais sustentável,
reciclam mais seus resíduos e
produtos e tratam os dejetos residuais
de uma maneira mais aceitável que as
tecnologias que vieram substituir
(ONU, 1995, p. 409).
Ao utilizar de materiais simples que
não degradam o meio ambiente e os
ecossistemas naturais, a Tinta de Terra
assume e pode ser considerada como uma
excelente alternativa tecnológica para a
construção dos vieses elaborados pelos
documentos institucionais pensados pela
ONU. Contribui ainda para a preservação e
reafirmação de uma cultura socialmente
construída das comunidades rurais, que é a
produção artesanal do barreado, resgatando
nossa ancestralidade. Nesse contexto,
resgatou-se a História da Química num
retorno aos nossos ancestrais primitivos,
contextualizando a questão tecnológica,
social, ambiental e política, levantando o
questionamento sobre que tecnologia
queremos e quem decide as tecnologias
que atualmente utilizamos. Esse resgate foi
realizado inicialmente em sala de aula,
quando foi trabalhada a produção de tinta
na pré-história e a temática da química dos
pigmentos. Diante disso, foi possível
destacar que a cnica empregada na
oficina de produção de tinta de terra foi um
avanço tecnológico das tintas utilizadas nas
chamadas pinturas rupestres, quando o
homem primitivo passou a utilizar os
óxidos naturais, que são os pigmentos
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presentes na terra utilizada para preparar a
tinta.
Chamamos a atenção para o fato de
que o ensino de forma contextualizada
originou-se oficialmente no Movimento
Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS),
em decorrência do crescente
desenvolvimento da ciência e da
tecnologia, na década de setenta (Favila &
Adaime, 2013). Portanto, a oficina de Tinta
de Terra trouxe para a Licenciatura em
Educação do Campo contextos científicos,
tecnológicos e sociais, ao resgatar e
contribuir para a valorização dos fatos e
experiências do cotidiano, ampliando o
potencial de aprendizagem dos alunos.
Pode-se dizer que a centralidade objetivada
nos currículos CTS é a construção de uma
capacidade de tomada de decisões na
sociedade pelos alunos (Santos, 2007).
Ao considerar que a oficina de Tinta
de Terra incorporou uma perspectiva de
reflexão sobre as consequências ambientais
da produção de tintas, ela passou também a
incorporar as implicações ambientais na
cadeia das inter-relações CTS, ao ser
referida como CTSA. Segundo Santos
(2007), a denominação CTSA deve ser
utilizada quando a perspectiva de reflexão
na abordagem CTS enfatizar a perspectiva
ambiental.
Na segunda pergunta “Você teve
dificuldade em entender como se faz a
Tinta de Terra? Justifique.”, observou-se
que o processo de ensino-aprendizagem
empregado na realização da oficina teve
bons resultados. A maioria dos
participantes (83%) disseram não terem
tido dificuldades em realizar todo o
processo de fabricação da Tinta de Terra,
em parte pela facilidade da técnica e em
parte pelo fator motivador dos materiais
utilizados fazerem parte de seu dia-a-dia,
de sua realidade.
As dificuldades encontradas pelos
participantes, de modo geral,
predominaram no início da oficina, porém,
solucionada no decorrer dela, como pode
ser observado na fala do aluno 3: “Sim. É
um pouco, mas à medida que a oficina foi
se desenvolvendo, ligeiro eu aprendi,
principalmente porque os aspectos do
nosso cotidiano foram valorizados”.
Além de ser uma tecnologia
ambientalmente saudável e de baixo custo,
a Tinta de Terra pode ser facilitadora no
processo de ensino-aprendizagem em
ciências, uma vez que a partir dela, pode
ser realizada uma abordagem de ensino
contextualizado. Segundo Pereira e Kiil
(2015), de maneira geral, os documentos
oficiais e a literatura sobre o processo de
contextualização apontam que o ensino
deve ser planejado e executado de forma
contextualizado. Nesse sentido, sendo esta
tecnologia composta por elementos que
fazem parte do cotidiano e da realidade dos
alunos, desde sua composição ao modo de
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produção, pode ser utilizada para se
trabalhar o conhecimento científico
vinculado ao conhecimento concreto
advindo da realidade dos educandos.
Observou-se que a prática
pedagógica aplicada no processo de
ensino-aprendizagem da disciplina de
História da Química apresentada aqui,
conseguiu contextualizar o seu conteúdo ao
perpassar as três categorias do processo de
contextualização: Categoria 1- Já que os
materiais utilizados fazem parte da
realidade do dia-a-dia dos educandos, esse
reconhecimento atua como um elemento
motivacional para despertar o interesse na
aprendizagem do conteúdo trabalhado;
Categoria 2- Por relacionar as cores dos
solos com os pigmentos naturais contidos
neles, como, por exemplo, os óxidos de
ferro, além da produção de cola a partir do
polvilho da mandioca; Categoria 3- Ao
discutirmos que tecnologias questionamos,
porque utilizamos determinadas
tecnologias e quem decide que tecnologias
serão implantadas pelas políticas públicas,
ao apontar para a formação de um cidadão
crítico capaz de tomar decisões nas
situações em que se encontre em sua
realidade.
Essa prática culminou ainda com o
desenvolvimento crítico dos alunos na
perspectiva CTSA (Ciência, Tecnologia,
Sociedade e Ambiente). Quando
perguntamos “Você indicaria a Tinta de
Terra para outras pessoas da sua
comunidade? Justifique.”, observou-se que
houve novamente 100% de aprovação
pelos participantes. Dessa forma, ficou
evidente que a contextualização do tema
em estudo atuou no processo de
conscientização das questões ambientais e
tecnológicas, pois além de concordarem
com a utilização, afirmaram em ser
multiplicadores de uma técnica que não
acarreta impactos negativos ao meio
ambiente e à saúde humana e ambiental,
validando assim esta prática pedagógica no
processo de ensino-aprendizagem. Além
disso, ficou comprovada a importância da
contextualização do ensino não para
formarmos cidadãos críticos e reflexivos,
mas também para tornarmos o processo de
ensino-aprendizagem capaz de dar
respostas concretas na difusão, produção e
adoção de tecnologias e técnicas que
incorporam o conceito de sustentabilidade
ambiental, social e econômica, a partir do
conteúdo trabalhado em sala de aula.
Na quarta pergunta “Após esta
oficina você se sente capacitado a preparar
a Tinta de Terra? Justifique” e na quinta
pergunta “Após esta oficina você se sente
capacitado a ensinar a outras pessoas a
preparar a Tinta de Terra? Justifique”, 92%
(44 discentes) dos participantes da oficina
disseram que poderiam preparar a Tinta de
Terra e ensinar a outras pessoas sem
dificuldades. Essa afirmativa de mais de
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90% dos alunos leva-nos a crer que o
processo empregado na oficina enquanto
metodologia e desenvolvimento de todos
os momentos do processo de ensino-
aprendizagem foi adequado. Essa
facilidade dos alunos de se sentirem
capacitados e capazes de capacitarem
outras pessoas com esta oficina, ao
considerar todos os aspectos envolvidos da
contextualização, deve-se principalmente
ao fato dela resgatar e aperfeiçoa técnicas
artesanais, ao revelar que o mundo da
ciência e da tecnologia pode conduzir à
sustentabilidade das comunidades rurais e
ser acessível independentemente do nível
sociocultural e de escolarização.
Quanto ao processo de criação
artística utilizado como instrumento lúdico,
percebeu-se a presença de aspectos
histórico-culturais em suas manifestações
artísticas. Em todas as pinturas o reino
vegetal estava sempre muito presente, além
de outros aspectos da natureza como o sol,
a lua e a arquitetura das casas do meio
rural do Maranhão (Figuras 3, 4, 5 e 6).
Figura 3 Momento lúdico da oficina de Tinta de Terra em que uma aluna está pintando uma
telha de cerâmica.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2016.
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Figura 4 Momento lúdico da oficina de Tinta de Terra, trabalho artístico finalizado
apresentado por uma aluna com o tema flores.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2016.
Figura 5 Momento lúdico da oficina de Tinta de Terra, trabalho artístico finalizado
apresentado por um aluno destacando as flores do campo.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2016.
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Figura 6 Momento lúdico da oficina de Tinta de Terra, trabalho artístico finalizado
apresentado por uma aluna destacando a comunidade rural.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2016.
Nas rodas de diálogo, esse momento
lúdico foi expresso como um processo de
contato consigo mesmo, que podemos
expressar como “nosso eu interior”, ao ser
constatado na fala a seguir “Senti como se
minha alma estivesse se manifestando
nessa pintura. Foi muito lindo” (Aluna 22).
As expressões artísticas, assim como
os jogos e brincadeiras em geral, são
essenciais para construção da subjetividade
do ser humano, de forma que o processo
ensino-aprendizagem lhe seja significativo,
prazeroso e transformador. Huizinga
(2014) destaca o lúdico como campo da
“ilusão” e da “simulação”, que apresenta
uma conotação de prazer, de algo que se
realiza sem conflitos e com finalidade.
Nesse sentido, a ludicidade se relaciona
com o sentimento, uma atitude do sujeito
envolvido na ação, é um fazer humano
mais amplo, é um estado de prazer, pelo
total envolvimento na ação. Assim, surge a
sensação de plenitude que acompanha as
coisas significativas e verdadeiras. Froebel
(2001) foi o primeiro educador a justificar
o lúdico no processo educativo voltado à
sensibilidade, ao compreender o lúdico
com uma visão pedagógica, baseado na
utilização de materiais didáticos que
atendessem a natureza humana. Dessa
forma, a arte como fazer lúdico cumpre
esse papel, ao envolver o aluno na ação
com sensação de plenitude, ao auxiliar no
processo de ensino-aprendizagem.
Esta experiência pedagógica
expandiu-se para além da sala de aula indo
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ao encontro das comunidades rurais nas
quais os participantes da oficina moram,
como forma de gerar sustentabilidade
ambiental, social e econômica. Como fruto
desta experiência, foi escrito e
desenvolvido um projeto de extensão
abordando a temática da química dos
pigmentos, desenvolvido de agosto/2016 a
fevereiro/2017.
Considerações Finais
A oficina de produção de Tinta de
Terra trouxe para a Licenciatura em
Educação do Campo contextos científicos,
tecnológicos, sociais e ambientais, ao
resgatar e contribuir para a valorização dos
fatos e experiências do cotidiano,
ampliando o potencial de aprendizagem
dos alunos. Os alunos conseguiram
compreender, ao discutir e vivenciar, que
tecnologias ambientalmente saudáveis e de
baixo custo desempenham função
importante para o desenvolvimento
sustentável, ao observarem que essas
tecnologias minimizam os impactos
negativos gerados pelas atividades
humanas ao meio ambiente em função dos
materiais utilizados.
As práticas pedagógicas utilizadas
atuaram como facilitadoras do processo de
ensino-aprendizagem na disciplina de
História da Química, uma vez que a partir
dessas práticas, pôde ser realizada uma
abordagem de ensino contextualizado que
se deu perpassando as três categorias do
processo de contextualização, culminando
com o desenvolvimento de uma
consciência crítico-reflexiva na perspectiva
CTSA.
A partir do processo de ensino-
aprendizagem capaz de contemplar
discussões sobre os aspectos sociais,
políticos, econômicos, tecnológicos,
sociais e ambientais é que a
contextualização do ensino na disciplina da
História da Química pôde abranger
princípios norteadores de uma formação
vinculada à cidadania, ao mesmo tempo
em que utilizou o conhecimento científico
e criou condições de intervenções mais
conscientes no meio rural do Estado do
Maranhão. Destarte, é possível conceber
que com essa forma de educar,
principalmente nas Ciências Naturais,
uma apropriação da ciência como algo que
é resultado de uma produção histórica da
humanidade e que não é algo distante,
como pensávamos ser.
a produção artística pedagógica
desempenhou um papel fundamental no
processo de ensino-aprendizagem, pois
nesse contato com a arte novas ideias e
sentimentos puderam ser despertados,
dando a cada participante subsídios para
enriquecer seu aprendizado, ao integrar
ciência, tecnologia, ambiente, arte, cultura
e sociedade.
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Desde as primeiras pinturas nas
cavernas realizadas com pigmentos
naturais até a tradicional técnica do
barreado utilizada em meados do século
passado nas comunidades rurais, esse
conhecimento tem passado por uma fase de
esquecimento e desvalorização devido ao
forte apelo do marketing do setor
industrial. Entretanto, apesar do avanço
tecnológico ter facilitado à aquisição de
tintas sintéticas com a produção em larga
escala, sua composição e produção deixa
um passivo ambiental. Nesse sentido, a
oficina de tinta de terra resgata a ciência e
a tecnologia como resultado de uma
produção histórica da humanidade e
acessível a todos.
Procedeu-se assim ao processo de
desmistificação do conhecimento científico
como algo complexo e da tecnologia como
algo restrito aos cientistas e aos setores
industriais, ao adotar a reflexão crítica com
a ciência, a tecnologia, a sociedade, o
ambiente e a saúde, de forma
interdisciplinar e contextualizada, no
ensino da História da Química com a
Oficina de Tinta de Terra ao abordar os
pigmentos.
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Informações do artigo / Article Information
Recebido em : 04/07/2017
Aprovado em: 07/08/2017
Publicado em: 27/07/2018
Received on July 4th, 2017
Accepted on August 07th, 2017
Published on July 27
th
2018
Contribuições no artigo: Os autores foram os
responsáveis por todas as etapas e resultados da
pesquisa, a saber: elaboração, análise e interpretação dos
dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito
e; aprovação da versão final a ser publicada.
Author Contributions: The authors were responsible for
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Conflitos de interesse: Os autores declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Meubles Borges Junior
http://orcid.org/0000-0002-5356-4526
Matheus Casimiro Soares Ferreira
http://orcid.org/0000-0002-2648-3448
Carolina Pereira Aranha
http://orcid.org/0000-0002-2619-7660
Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Borges Junior, M., Ferreira, M. C. S., & Aranha. C. P.
(2018). Oficina de tinta de terra: contextualizando
pigmentos na disciplina de História da Química na
LEDOC/UFMA. Rev. Bras. Educ. Camp., 3(2), 596-615.
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2018v3n2p596
ABNT
BORGES JUNIOR, M.; FERREIRA, M. C. S.; ARANHA. C.
P. Oficina de tinta de terra: contextualizando pigmentos na
disciplina de História da Química na LEDOC/UFMA. Rev.
Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 3, n. 2, mai./ago.,
p. 596-615, 2018. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2018v3n2p596